segunda-feira, 28 de julho de 2025

Mauricio David nos convida a deixar o celular e a internet de lado e mergulhar na leitura de bons livros

De acordo, mas se não fosse a internet e o e-mail não teria recebido estas boas sugestões:

Deixe o celular de lado: 10 livros para mergulhar nas férias

domingo, 6 de julho de 2025


Seleção de livros para impulsionar a mente e descansar das telas

As férias são um convite ao descanso, e também à boa leitura.

Nesta seleção, reunimos 10 títulos para jovens leitores que querem aproveitar o tempo livre longe das telas e perto de boas ideias. Aqui, você confere a lista completa.

De clássicos da literatura mundial a livros que ajudam a entender melhor o mundo, a lista tem obras que despertam a imaginação e instigam o pensamento.


A descoberta do Novo Mundo
Autor: Mary Del Priore | Páginas: 110

Como teriam sido os primeiros anos após o descobrimento do Brasil, ou – como se chamava na época – Terra de Santa Cruz? Apresentando as peripécias dos protagonistas Paulo e Pedro, a renomada historiadora Mary Del Priore proporciona ao leitor não apenas uma viagem através dos olhos de jovens europeus que embarcam rumo ao desconhecido, mas também uma jornada pela história do Brasil no período inicial de sua colonização.


Oliver Twist
Autor: Charles Dickens | Páginas: 536

A sorte não sorri ao pequeno Oliver Twist. Havendo ficado órfão assim que nasceu, foi criado em um asilo sem receber qualquer carinho. Aos nove anos, já sabe o que é passar fome, sofrer maus tratos e trabalhar de sol a sol em uma fábrica. Decide, pois, fugir para Londres, buscando uma vida um pouco mais fácil. A grande cidade, no entanto, é repleta de perigos e de delinquência. Em mais uma de suas obras inesquecíveis, Dickens, a partir da trajetória do jovem Oliver, denuncia as dificuldades e penúrias que se abatem sobre os pobres de uma sociedade recentemente industrializada, sem, contudo, privar o leitor de notas de humor e esperança.


Eugénie Grandet
Autor: Honoré de Balzac | Páginas: 200

Publicado no fim de 1833, é o primeiro dos grandes livros de Balzac e, de acordo com muitos, também sua obra-prima. É expressivo o modo como Balzac inaugura em Eugénie Grandet a descrição de costumes, atores e espaços da vida provinciana. No centro da narrativa está o avaro Félix Grandet, antigo tanoeiro e ex-prefeito da cidade, que acumula fortuna considerável graças ao dote de casamento e à especulação financeira em tempos de instabilidade econômica, tornando-se uma das pessoas mais ricas e influentes da cidade de Saumur. Já Eugénie, sua filha, recebe visitas frequentes de pretendentes que apenas desejam sua fortuna, até que surge seu primo Charles, um jovem dandy parisiense. Rapaz refinado da capital, ele desperta o interesse da inocente Eugénie. O relacionamento dos dois jovens, entretanto, sofre interdições e percalços que afetam o destino da jovem Grandet.


O falecido Mattia Pascal
Autor: Luigi Pirandello | Páginas: 262

O falecido Mattia Pascal é um romance em que Luigi Pirandello explora os mistérios de identidade. Nele se conta a história de um homem que, cansado da sua vida de arquivista e do casamento, decide viajar até Monte Carlo, onde a sorte lhe permite obter no cassino uma enorme fortuna. É no regresso a casa que toma conhecimento de que, por engano, foi considerado morto. Decide começar uma nova vida com fortuna e outro nome, pensando assim libertar-se de compromissos e obrigações.


Macunaíma: O herói sem nenhum caráter
Autor: Mário de Andrade | Páginas: 188

Em Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, Mário de Andrade radicaliza o uso literário da linguagem oral e popular que já havia utilizado em seus livros anteriores e mistura folclore, lendas, mitos e manifestações religiosas de vários recantos do Brasil, como se fizessem parte de uma unidade nacional. Macunaíma, que ora é índio negro ora é branco, até hoje é considerado símbolo do brasileiro em vários sentidos: o do malandro esperto, amoral, que sempre consegue o que quer, e o do povo perdido diante de suas múltiplas identidades. Nas palavras do próprio autor, “Macunaíma vive por si, porém possui um caráter que é justamente o de não ter caráter”.


Contos
Autor: Guy de Maupassant | Páginas: 152

Guy de Maupassant é mais que um contador de histórias para leitura de entretenimento. Em seus contos, encontramos retratada em pinceladas rápidas e precisas a vida burguesa da época, com seus tipos e suas situações descritos em flagrantes certeiros. O retrato não é nada otimista; pelo contrário, pode-se entrever nas narrativas a crítica severa à moral de aparências da sociedade burguesa.


Histórias extraordinárias
Autor: Edgar Allan Poe | Páginas: 264

Nos últimos dois séculos, o nome de Edgar Allan Poe se tornou sinônimo de histórias de mistério, seja o suspense, sejam as narrativas de teor sobrenatural, chegando a flertar com a ficção científica. Altamente inventivo, Poe perscrutou as fronteiras entre a lucidez e a insanidade. Saborosa porta de entrada para a obra do grande mestre da narrativa breve, este livro traz catorze de seus mais célebres textos.


O inconsciente explicado ao meu neto
Autor: Élisabeth Roudinesco | Páginas: 120

“O que é, exatamente, o inconsciente? Ele se parece com um iceberg. [...] Imagine por um instante esse belo objeto inerte, com uma parte mergulhada na profundeza do oceano, enquanto a outra fica acima da superfície da água. As duas partes são diferentes: aquela invisível é mais importante do que a visível, e também mais perigosa, porque permanece encoberta. Todos os navegadores sabem disso. Eles temem muito mais o que está escondido do que o que está visível.” Star Wars, Titanic, o imaginário de contos e lendas, o sonho, o comportamento dos animais: é mergulhando no universo mental dos adolescentes de hoje que a mais conhecida especialista francesa em história da psicanálise confere substância a um elemento que, embora invisível, é determinante para nossa vida.


A política explicada aos nossos filhos
Autor: Myriam Revault d'Allones | Páginas: 94

Por que precisamos de chefes? Por que obedecemos? Por que as sociedades não têm, todas, o mesmo regime político? Por que desconfiamos tanto da política? Ao abordar essas questões tão atuais, o diálogo presente neste livro procura explicar, de maneira acessível para todos os públicos, os rudimentos da política, mostrando que a democracia, que hoje pode parecer bastante frágil e mesmo decepcionante, precisa ser retomada e inventada constantemente, e que a responsabilidade de mantê-la viva é nossa.


Darwin e a evolução explicada aos nossos netos
Autor: Pascal Picq | Páginas: 152

A evolução não se contenta em mostrar como era a vida dos seus fósseis mais famosos que se tornam heróis de cinema, como os dinossauros e os mamutes. Na realidade, ela não é um conto ou um mito, mas sim uma crônica fascinante produzida pela ciência que narra a história da vida no nosso planeta. Foram grandes pesquisadores, como Darwin e Lamarck, que nos ensinaram por que há espécies que desaparecem, que se diferenciam ou que são bastante semelhantes. Nesta obra, Pascal Picq explica, em um diálogo animado com um estudante, as principais ideias dessa aventura científica. Muitas vezes distorcida e questionada por fundamentalismos, a evolução não é a "lei do mais forte". Sem ela, no entanto, nós não estaríamos aqui. Se nós não a compreendermos, é a vida das gerações futuras que colocaremos em perigo.


"Corte Europeia condena Rússia por atrocidades na Ucrânia" - Rodrigo Craveiro Correio Braziliense

Post de Paulo Roberto de Almeida


Estou imaginando que com esta decisão, de uma Corte de justiça respeitável, o Itamaraty vai finalmente soltar uma nota elogiando a conclusão a que chegou a Corte Europeia de Direitos Humanos em face de tão flagrantes provas de desrespeito ao Direito Internacional. Uma nota firma e condenatória das ações da Rússia, como sempre fez em casos semelhantes e como faz frequentemente em face dos crimes israelenses em Gaza e na Cisjordânia. Nada menos do que isto.

Paulo Roberto de Almeida


"Corte Europeia condena Rússia por atrocidades na Ucrânia" 


https://www.correiobraziliense.com.br/.../7196155-corte...


Corte Europeia condena Rússia por atrocidades na Ucrânia

Tribunal de direitos humanos sediado em Estrasburgo, na França, conclui que as forças de Vladimir Putin cometeram abusos e violações flagrantes e sem precedentes. Papa Leão XIV oferece Vaticano para sediar diálogo entre Kiev e Moscou


Por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense, 10/07/2025

https://www.correiobraziliense.com.br/.../7196155-corte...


Vadim Yevdokimenko, 23 anos, perdeu o pai em 3 de março de 2022, em uma fábrica de vidros na cidade de Bucha, a noroeste de Kiev, capital da Ucrânia. "Os soldados russos o sequestraram e trancaram-no com cinco pessoas em uma garagem e o fuzilaram. Em seguida, atearam fogo aos restos mortais dele, pois queriam escondê-los", contou ao Correio. Ele soube da morte do pai da pior forma: por meio de um vídeo que acessou na internet mostrando moradores de Bucha torturados e assassinados. "Os bastardos que mataram meu pai merecem o fim doloroso", disse. 

No mesmo dia, Yevhen Kizilov, 49 anos, estava no exílio, quando as forças de Moscou invadiram a casa da família, também em Bucha, levaram o pai dele, Valeriy Kizilov, 69, ao jardim e o executaram com um tiro na cabeça. Nesta quarta-feira (9/7), Vadim, Yevhen e milhares de outros ucranianos tiveram um vislumbre de justiça. A Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo (França), concluiu que, desde 2014, a Rússia comete abusos flagrantes e sem precedentes na Ucrânia. 

A Rússia é acusada de execuções de "civis e militares ucranianos fora de combate", "tortura", "deslocamentos injustificados de civis" e até mesmo "destruição, saques e expropriações", disse o presidente do organismo, Mattias Guyomar. A decisão da Corte determina que o governo de Vladimir Putin "deve liberar imediatamente, e devolver de maneira segura, todas as pessoas que, no território ucraniano ocupado pelas forças russas ou sob controle russo, foram privadas de liberdade (...) e que estão presas".

Em seu julgamento, o tribunal cita evidências de uso de violência sexual disseminada e sistemática, acompanhada de atos de tortura, como espancamento, choques elétricos e estrangulamento. "Em nenhum dos conflitos anteriormente submetidos ao tribunal houve uma condenação tão universal do 'flagrante' desrespeito do Estado demandado aos fundamentos da ordem jurídica internacional estabelecida após a Segunda Guerra Mundial", afirma a decisão. A instância também concluiu que a Rússia foi a responsável pela derrubada, em julho de 2014, de um avião da companhia aérea Malaysia Airlines, matando 298 pessoas. A aeronave havia decolado de Amsterdão em direção a Kuala Lumpur, quando foi derrubada por um míssil no leste da Ucrânia.

Yevhen considera a condenação, por parte da Corte Europeia de Direitos Humanos, um marco histórico. "Ninguém esquecerá os crimes da Rússia. Eles entrarão para a história da humanidade. Além disso, este veredicto constitui uma confirmação jurídica internacional do sofrimento das vítimas da agressão russa, uma das quais sou eu", observou. O jornalista ucraniano acredita que a decisão firmará a base para o pedido dele por indenização contra a Rússia. "O tribunal estabeleceu um precedente legal que simplificará significativamente a prova de culpa de Moscou no meu caso", acrescentou.

Horas antes de o tribunal proferir a decisão, as forças russas realizaram o maior bombardeio com drones e mísseis em 1.232 dias de guerra. Durante a madrugada, o Exército russo lançou 728 drones e 13 mísseis contra quatro regiões da Ucrânia, incluindo a capital, Kiev. Ao menos 711 drones foram interceptadas e sete mísseis, destruídos, segundo a Força Aérea ucraniana. Os ataques deixaram oito civis mortos e ocorrem depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que Putin é "inútil" e "fala muita besteira" e anunciar a retomada de ajuda militar para Kiev. 

Sanções

Em visita à Itália, onde se reuniu com o papa Leão XIV e com o presidente italiano, Sergio Mattarella, o líder da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tornou a cobrar "sanções rigorosas" contra a Rússia e, especialmente, contra o setor petrolífero de sua economia. "Todos os que querem a paz devem agir", declarou, ao lembrar que o petróleo russo "tem alimentado a máquina de guerra de Moscou por mais de três anos". Kiev tem insistido que somente o fortalecimento das sanções pode acelerar o fim da guerra.

No encontro com Leão XIV, na residência de verão de Castelgandolfo, Zelensky ouviu do pontífice a oferta de colocar o Vaticano como sede para um diálogo com Moscou.

Lista de violações

Os principais crimes apontados pela Corte Europeia de Direitos Humanos

Ataques militares indiscriminados;

Tortura e uso de estupro como arma de guerra;

Execuções sumárias de civis e militares;

Detenções arbitrárias e ilegais de civis;

Intimidação e perseguição a grupos religiosos;

Deslocamentos forçados e transferência de civis;

Destruição, saques e expropriação de propriedades;

Supressão do idioma ucraniano nas escolas;

Transferência de crianças para a Rússia e, em muitos casos, adoção.

Maksym Yakovlyev, chefe do Departamento de Relações Internacionais e diretor da Escola de Análise Política da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla.

"Nós, ucranianos, sofremos todos os tipos de torturas e terror da Rússia. Moscou viola, de forma contúnua, os direitos humanos. Insistimos em que os crimes russos devem ser punidos. Considero bom que haja um reconhecimento legal do fato de que os russos cometeram crimes. Mas, também, espero que eles sejam punidos por tais violações." 

Maksym Yakovlyev, chefe do Departamento de Relações Internacionais e diretor da Escola de Análise Política da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla

"A decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos envia um claro sinal à comunidade internacional sobre a natureza criminosa das ações da Rússia. Além disso, para as vítimas da agressão russa, como eu, a decisão tem enorme significado psicológico e moral. Isso significa que o nosso sofrimento foi reconhecido e confirmado por uma instituição internacional autorizada."

Yevhen Kizilov, 49 anos, jornalista ucraniano cujo pai foi executado à queima-roupa em Bucha.

 

correiobraziliense.com.br

Corte Europeia condena Rússia por atrocidades na Ucrânia

Tribunal de direitos humanos sediado em Estrasburgo, na França, conclui que as forças de Vladimir Putin cometeram abusos e violações flagrantes e sem precedentes. Papa Leão XIV oferece Vaticano para sediar diálogo entre Kiev e Moscou

 

 

A navegação venturosa: Ensaios sobre Celso Furtado - Francisco de Oliveira

... Num Brasil e num Nordeste plagados de patrimonialismos, Furtado

entrou como um cavaleiro da razão montado no Rocinante, de uma

aguda inteligência plasmada para desvendar os enigmas de uma socie-

dade que se ergueu pela desigualdade e se alimenta dela. Alto e austero,

seco de carnes, semblante talhado a foice, como certos tipos do sertão,

o cavaleiro da razão é um Quixote que do alto de sua loucura combate

incansavelmente os moinhos satânicos do capitalismo predador e de

suas classes-abutres...

... Tanto a versão cepalino-furtadiana quanto a marxista de Amin-Emanuel

não contemplaram a possibilidade teórica, que se deu na prática, da estrutu-

ração da divisão internacional do trabalho sob o capitalismo industrial. Em

primeiro lugar, não perceberam o fato inegável de que o estabelecimento

de colônias é, em si mesmo, um ato de rapina, de saque, parte do amplo

processo de acumulação primitiva que, tanto nos futuros países centrais

quanto nas suas colônias, está fundando o capitalismo. Em segundo lugar,

tanto a fragilidade da teoria monetária em sua versão cepalino-furtadiana

como a da versão marxista Amin-Emanuel não conseguiram desvendar o

mistério da “troca desigual”: esta não se dá porque exista desequilíbrio na

relação de trocas, senão porque é a hegemonia do capital financeiro dos

países centrais sobre a produção da “periferia”, como é o caso da América

Latina, que estrutura o próprio sistema de preços internacional, fazendo

com que a moeda nos países dependentes expresse menos o valor da

hora de trabalho e mais sua função na circulação interna do excedente

e sua relação – a taxa cambial – com a moeda hegemônica...

 

 

A NAVEGAÇÃO VENTUROSA

 

 

A navegação venturosa - Ensaios sobre Celso Furtado

Francisco de Oliveira

 

Copyright © Francisco de Oliveira, 2003

 

 

1a

edição: setembro de 2003

Tiragem: 3.000 exemplares

 

SUMÁRIO

 

Apresentação............................................................................ 7

Nota da edição........................................................................ 9

A NAVEGAÇÃO VENTUROSA..................................................... 11

1. O teórico do subdesenvolvimento........................................... 11

2. O demiurgo do Brasil ............................................................. 18

3. Novos exercícios de demiurgia: a questão Nordeste ................ 21

4. Reformas antes que tarde........................................................ 24

5. O desenvolvimentismo e seu espelho: o estagnacionismo........ 27

6. Reformas sem reformadores.................................................... 30

7. Da economia para a filosofia ................................................... 32

8. A economia política de Celso Furtado .................................... 34

CELSO FURTADO E O PENSAMENTO

ECONÔMICO BRASILEIRO......................................................... 39

RETRATO DE FAMÍLIA................................................................ 55

VIAGEM AO OLHO DO FURACÃO: Celso Furtado e o desafio

do pensamento autoritário brasileiro..................................................... 59

Introdução.................................................................................. 59

Estado, organização e Poder Coordenador

 

no pensamento autoritário clássico......................................... 66

A modernidade das questões propostas

pelo pensamento autoritário................................................... 72

Do autoritarismo à “navegação venturosa”:

a resposta de Celso Furtado.................................................... 76

 

FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL: gênese, importância e influ-

ências teóricas.................................................................................... 83

 

Estrutura e conteúdos do livro.................................................... 86

CELEBRAÇÃO DA DERROTA E SAUDADE DO FUTURO ....... 103

SUBDESENVOLVIMENTO: fênix ou extinção?............................ 109

Uma elaboração original........................................................... 109

Redefinindo o subdesenvolvimento .......................................... 111

Qual é o novo enigma: subdesenvolvimento globalizado? ......... 114

UM REPUBLICANO EXEMPLAR ............................................... 117

LUCIDEZ INCANSÁVEL ............................................................ 123

Causas da pobreza .................................................................... 124

Chave weberiana....................................................................... 125

Os sertões................................................................................... 127

BIBLIOGRAFIA.......................................................................... 129

Obras de Celso Furtado............................................................ 129

Obras sobre Celso Furtado ....................................................... 137

Resumo biográfico.................................................................... 140

 

APRESENTAÇÃO

 

Este livro não necessita de dedicatória, pois ela está explicitamente

declarada. Reúne um conjunto de artigos que escrevi sobre Celso Fur-

tado, a começar pelo primeiro deles, uma introdução que fiz – da qual

roubei o título para este livro – a uma antologia do que eu considerava,

à época, seus melhores textos, com exclusão, evidentemente, dos seus

clássicos livros. A ordem dos artigos e ensaios é simplesmente cronoló-

gica, na seqüência em que os escrevi e que foram publicados. Não há

qualquer outra organização. É simples como pão, e espero que os leitores

o encontrem gostoso como pão.

Minha geração e as que se sucederam devem quase tudo a Celso

Furtado, dos pontos de vista da formação, da interpretação do Brasil,

da posição sobre as grandes questões nacionais e de sua inflexível, incor-

ruptível e antifarisaica paixão republicana. Houve um pequeno intermezzo

em que a contribuição de Furtado foi escanteada como superada pelos

ideólogos do neoliberalismo, mas a economia e a política brasileira pa-

garam um alto preço por esse descaso. Hoje, as questões propostas por

Furtado voltam em toda a sua atualidade dramática.

No meu caso e no de milhões de meus, e seus conterrâneos, deve-

mos-lhe também essa paixão tranqüila e racional – pode haver melhor

paradoxo? – pelo Nordeste. Gostaria que todos os brasileiros também

lhe devessem essa paixão e tenho certeza de que sua obra e sua ímpar

figura de homem público e intelectual ajudou a desfazer preconceitos

que antes se nutriam contra os nordestinos, embora essa não seja, ainda,

a regra geral.

Não cabe comentar cada um dos artigos e ensaios, nem apontar ao

leitor suas razões. Neles procurei ressaltar o melhor da contribuição in-

telectual de Celso Furtado, o que inclui, necessariamente, discordâncias,

na maior parte dos casos pontuais, e uma ou outra divergência maior.

Assim deve ser o “diálogo sobre as grandezas” de Furtado, sem subser-

viências, diante de um dos grandes intelectuais brasileiros de todos os

tempos, e um republicano exemplar, como ressaltei em um dos artigos.

Num Brasil e num Nordeste plagados de patrimonialismos, Furtado

entrou como um cavaleiro da razão montado no Rocinante, de uma

aguda inteligência plasmada para desvendar os enigmas de uma socie-

dade que se ergueu pela desigualdade e se alimenta dela. Alto e austero,

seco de carnes, semblante talhado a foice, como certos tipos do sertão,

o cavaleiro da razão é um Quixote que do alto de sua loucura combate

incansavelmente os moinhos satânicos do capitalismo predador e de

suas classes-abutres.

Ao olhar para trás e contemplar o passado, é bom ver que, ao lado

do Anjo da História de Klee e Benjamin, não houve apenas acumulação

de desastres; ergue-se outro que dá sentido à vida e talvez por isso não

é menos nostálgico e trágico: o de que fomos também testemunhas de

uma criação que dignificou nosso tempo. É para testemunhar que este

livro se oferece a Celso Furtado e aos leitores.

 

Francisco de Oliveira

São Paulo, inverno de 2003

 

Nota da edição

 

Para facilitar a consulta dos leitores às obras de Celso Furtado, incluí-

mos no final deste volume as referências bibliográficas completas dos

livros de sua autoria (limitadas às edições brasileiras ou em língua por-

tuguesa), bem como uma seleção de ensaios, artigos, teses e entrevistas

 

publicados. O leitor também encontrará nesse anexo referências a uma

grande quantidade de textos sobre o economista e sua obra, lançados

no Brasil e no exterior.

As notas de rodapé numeradas são do autor; as notas indicadas com

asterisco são da editora e nelas, sempre que possível, acrescentamos

referências sobre as obras citadas por Francisco de Oliveira ao longo

de seus ensaios. As excessões restringem-se aos livros de Celso Furtado,

cuja bibliografia encontra-se a partir da página 129 deste volume.

 

A NAVEGAÇÃO VENTUROSA*

 

1. O teórico do subdesenvolvimento

 

A vasta, abrangente e diversificada obra intelectual de Celso Furtado

representa um marco na história e na produção das ciências sociais em

escala mundial. Nenhum outro autor contribuiu tanto para constituir as

economias e sociedades subdesenvolvidas em objeto específico de estudo.

Para ser rigoroso, é preciso dizer que Raúl Prebisch, criador da Comissão

Econômica para a América Latina (Cepal) e mentor daquela brilhante

equipe de que Furtado foi um dos mais eminentes membros, é, de certa

forma, no famoso relatório da Cepal de 1949, seu predecessor mais

importante. Mas Prebisch jamais alcançou a dimensão de Furtado como

cientista social, tendo-se restringido ao que se convencionou chamar “ciência

econômica”, e não podendo, pela sua condição de burocrata internacional,

empreender sequer a crítica de sua própria produção.

 

No vácuo da produção marxista, que desde Lenin, com O desenvolvi-

mento do capitalismo na Rússia ** – rigorosamente um estudo da forma-

 

* Introdução à obra Economia. (Coleção Grandes Cientistas Sociais – Celso Furtado)

São Paulo, Ática, 1983.

** Vladimir I. Lenin. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: o processo de formação

do mercado interno para a grande indústria. São Paulo, Abril Cultural, 1982 (Série

Os Economistas).

 

12 Francisco de Oliveira

 

ção de uma economia subdesenvolvida –, parou e ficou repetindo velhas

arengas, Furtado emerge nos anos 1950, a partir dos estudos da Cepal,

inaugurando o que veio a ser chamado “método histórico-estrutural”,

adequado para explicar a formação dessas economias e sociedades no

sistema capitalista para além da dominação colonial. O nome dado ao

tipo de análise, menos que um método, é simultaneamente uma denúncia

da falência do método neoclássico, a-histórico, então soberano na análise

econômica, e um reconhecimento da necessidade de historicizá-la. O vigor

 

de sua contribuição reside precisamente na tentativa de descobrir a especi-

ficidade da formação dessas economias e sociedades subdesenvolvidas. Sua

 

marca característica é o abandono do clichê do colonialismo em que havia

naufragado a teorização marxista depois do brilhante e definitivo estudo desse

autor – abertura de caminhos teóricos – lido como “aplicação” da teoria

marxista e paradoxalmente um dos menos conhecidos e estudados trabalhos

 

desse tema. Por outro lado, a teorização furtadiana recusa também o ve-

lho e surrado esquema da divisão internacional do trabalho comandada

 

pelas “vantagens comparativas”, de inspiração ricardiana e malbaratamento

neoclássico e marginalista.

O esquema teórico furtadiano explica as economias e as sociedades

 

subdesenvolvidas mediante uma inversão da teoria das vantagens compa-

rativas. Estas convertem-se numa espécie de “desvantagens reiterativas”: é

 

a partir da história da América Latina – cuja inserção na divisão interna-

cional do trabalho do capitalismo mercantil em expansão na Europa dos

 

séculos XVI e XVII funda as diversas economias latino-americanas – que

se produz a teorização. A especialização dos países da América Latina na

produção de bens primários converte-se em desvantagem na medida em que

os países centrais do sistema capitalista passam a ser predominantemente

produtores e exportadores de manufaturados. Por meio da desigualdade

 

na relação de trocas do comércio internacional, instaura-se um mecanis-

mo de sucção do excedente econômico latino-americano por parte das

 

economias dos países centrais, que é ao mesmo tempo a reiteração, para

os primeiros, da condição de produtores de bens primários.

Essa ligação-reiteração dos setores agroexportadores das economias

latino-americanas depende, sempre, da demanda dos países centrais.

 

Internamente, o setor exportador é o setor “moderno”, que se comporta

dinamicamente quando assim o favorece a demanda externa, mas que pela

contínua deterioração dos termos de intercâmbio vê roubada uma parte

substancial do excedente que produz. Essa ligação-roubo não dá ao setor

exportador um papel interno transformador das estruturas econômicas

e sociais. Ele se faz “moderno” em si mesmo, mas não se faz “moderno”

 

para o outro setor, o “atrasado”, representado pela larga produção agrí-

cola de subsistência, que na vulgarização da teoria foi depois assimilado

 

à agricultura em geral. O setor exportador é especializado na produção

de algumas poucas mercadorias primárias, que tanto podem ser o café,

a carne ou o trigo, ou na produção mineral (caso, sobretudo, do Chile).

E tanto ele quanto as cidades devem ser alimentados pela agricultura de

subsistência, o setor “atrasado” da economia, que tem dinâmica própria,

infensa ao que se passa no setor “moderno”, exportador. Está de pé o

“dual-estruturalismo”.

A tese cepalino-furtadiana da dualidade distingue-se da constatação

geral e histórica do “desenvolvimento desigual e combinado” da tradição

marxista (Lenin e Trotski) precisamente porque para Furtado e a Cepal

o desenvolvimento é desigual – tanto pelas diferenças de grau e ritmo

de desenvolvimento quanto pelas diferenças qualitativas entre setores

que se desconhecem entre si –, mas não é combinado. Os dois setores

não têm relações articuladas: o setor “atrasado” é apenas um obstáculo

ao crescimento do setor “moderno”, principalmente porque, por um

lado, não cria mercado interno e, por outro, não atende aos requisitos

da demanda de alimentos. Nem sequer a clássica função de “exército de

reserva” o “atrasado” cumpre em relação ao “moderno”: seria de supor

que os excedentes populacionais produzidos pela lei interna de população

 

do setor “atrasado” contribuíssem para, aumentando a oferta de mão-

de-obra no setor “moderno”, rebaixar os salários reais, o que lhe realçaria

 

as funções na acumulação do “moderno”. Mas a tese dual-estruturalista

postula que o atraso do “atrasado”, ao elevar os preços dos alimentos,

 

contribui para elevar os salários do “moderno” e, por essa razão, conver-

te-se em obstáculo à expansão do “moderno”.

 

Dessa “contradição sem negação” entre o “moderno” e o “atrasado”

A navegação venturosa 13

 

14 Francisco de Oliveira

 

nasce uma das mais importantes teses cepalino-furtadianas: a da inflação

estrutural, que é, por sua vez, uma das contribuições mais notáveis ao

pensamento econômico. Esta, a inflação, é estrutural num duplo sentido:

em primeiro lugar, a contínua deterioração dos preços de intercâmbio

entre as economias centrais e as economias latino-americanas obriga estas

 

a aumentarem constantemente a produção em volume físico para com-

pensar a queda dos preços internacionais das mercadorias que exportam;

 

em segundo lugar, a inelasticidade da oferta agrícola de alimentos pro-

duzidos pelo “atrasado” – uma conclusão fundada num aspecto peculiar

 

à economia chilena, o qual ocorre conjunturalmente em alguns outros

países latino-americanos – eleva os preços e instaura uma corrida entre

preços e salários no setor “moderno”.

 

O remédio – a teorização cepalino-furtadiana faz-se em função da pro-

posição de políticas – para sair do círculo vicioso do subdesenvolvimento

 

é industrializar-se. Utilizando-se de um vasto e eclético arsenal, que vai

 

desde um protecionismo à List – não o compositor-virtuose, mas o dou-

trinador da cartelização alemã do século XIX – até Lord Keynes – cujo

 

multiplicador do emprego explica como a industrialização gera maior

quantidade e diversidade de empregos e, por isso, eleva a renda, pondo em

ação um mecanismo realimentador –, a proposição de Furtado e da Cepal

converte-se na mais poderosa ideologia industrialista e, ao contrário do

destino de muitas ideologias, influencia e determina políticas concretas,

agendas de ação dos vários governos latino-americanos. Com a proposta

de industrialização, Furtado pretende solucionar todos os problemas: por

um lado, corta o nó górdio da relação que deteriora continuamente os

preços de intercâmbio, pois supõe – uma de suas falhas – que, se os países

latino-americanos passassem agora a exportar produtos manufaturados

 

em vez de bens primários, a relação de intercâmbio se modificaria favo-

ravelmente a eles; por outro, põe fim à inflação estrutural que advém da

 

insuficiência dinâmica do setor externo, derivada precisamente da relação

de intercâmbio desfavorável. Diante do problema da oposição entre o

“moderno” e o “atrasado”, que enfraquece o mercado interno e gera

uma inflação de custos e preços desfavorável à expansão do “moderno”

(que será agora a indústria), propõe-se a reforma agrária: ela é o elemento

 

viabilizador da industrialização, pois, ao mesmo tempo que cria mercado

interno, aumenta a oferta de alimentos, desbloqueando a acumulação por

impedir o aumento dos salários nominais.

 

O dual-estruturalismo não é de modo nenhum uma teorização vul-

gar. Sua força residiu, sobretudo, em apontar a emergência de processos

 

que não eram perceptíveis nem importantes para as outras vertentes

teóricas. A dualidade “atrasado-moderno” escapa, por exemplo, tanto à

a-historicidade do método neoclássico quanto ao mecanicismo das

“etapas” e dos modos de produção seqüenciais próprios do stalinismo

convertido em oráculo do marxismo. Mas ele também – inclusive porque

teoriza contemporaneamente os próprios processos que percebe – mascara os

novos interesses de classe que se põem agora como “interesses da Nação”. O

protecionismo à List vem tarde demais: as burguesias e seus interesses,

funcionando como estruturadores de Estados nacionais, são também

uma construção dos séculos XVIII e XIX.

 

Tendo em conta sua raiz keynesiana, decorrente não apenas da utili-

zação das contas nacionais, o esquema cepalino-furtadiano já demonstra,

pelo menos, uma primeira inconsistência teórica. Dificilmente se poderia

esperar igual agregação de valor entre a produção de bens primários e a

produção de bens manufaturados. E é essa agregação diferenciada que

funda, na aparência, essa “troca desigual”. Do ponto de vista de sua for-

malização, um exame mais acurado levaria a não postular essa aparência,

pois a base da teoria da contabilidade social repousa exatamente sobre

a noção de valor agregado, e não seria de esperar que economias com

divisões sociais do trabalho tão desiguais produzissem o mesmo valor

agregado; os preços internacionais e a relação de trocas deles decorrentes

são, em parte, um fenômeno diretamente derivado dessa diferenciação

da divisão social do trabalho e da agregação de valor por ela produzida.

A versão marxista, que desde logo não é a que postulam Furtado

e a Cepal, a “troca desigual” de Samir Amin e Arghiri Emanuel, é ainda

mais contraditória. Esses teóricos deveriam voltar a Marx, pois ele é ex-

plícito: o comércio internacional, ou, em outras palavras, a estruturação

pelo capitalismo industrial de uma divisão internacional do trabalho, não

se dá mediante troca desigual de valores. A famosa comparação entre o valor

produzido por um artesão chinês e o que resulta do emprego da força de

trabalho de um operário inglês é suficientemente clara a respeito.

Tanto a versão cepalino-furtadiana quanto a marxista de Amin-Emanuel

não contemplaram a possibilidade teórica, que se deu na prática, da estrutu-

ração da divisão internacional do trabalho sob o capitalismo industrial. Em

primeiro lugar, não perceberam o fato inegável de que o estabelecimento

de colônias é, em si mesmo, um ato de rapina, de saque, parte do amplo

processo de acumulação primitiva que, tanto nos futuros países centrais

quanto nas suas colônias, está fundando o capitalismo. Em segundo lugar,

tanto a fragilidade da teoria monetária em sua versão cepalino-furtadiana

como a da versão marxista Amin-Emanuel não conseguiram desvendar o

mistério da “troca desigual”: esta não se dá porque exista desequilíbrio na

relação de trocas, senão porque é a hegemonia do capital financeiro dos

países centrais sobre a produção da “periferia”, como é o caso da América

Latina, que estrutura o próprio sistema de preços internacional, fazendo

com que a moeda nos países dependentes expresse menos o valor da

hora de trabalho e mais sua função na circulação interna do excedente

e sua relação – a taxa cambial – com a moeda hegemônica. Logo, tentar

medir pelos preços a relação desigual entre as produções centrais e as

das “periferias” não apenas não permite entender a questão como não

faz nenhum sentido. Aqui, uma vez mais, o fetiche do dinheiro tornou

opaco o processo real. E vale lembrar que o caminho aberto por Lenin

com a teoria do imperialismo fornecia, pelo menos, as pistas teóricas iniciais para o aprofundamento da questão. Que a versão cepalino-furtadiana não incorporasse essas pistas é, até certo ponto, compreensível, mas que as chamadas versões marxistas da “troca desigual” também não as tenham incorporado é simplesmente lamentável. Neste caso, a teoria do imperialismo deu um passo atrás, tornando-se uma versão pobre que não desvendou os mecanismos reais, voltando, monocordiamente, aos

chavões do colonialismo e do neocolonialismo.

 

A rigor, por não ter incorporado a teorização de Marx sobre a inter-

nacionalização do capital, Furtado e a Cepal vão perceber algum tempo depois que a industrialização preconizada foi realizada na grande maioria dos países latino-americanos por meio de associações com o capital. 


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