sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Book: Gilmar Masiero: Brazilian Socio-Economic: Dynamics Contexts and Contemporary Realities (Springer)

Um recente livro do grande estudioso Gilmar Masiero:

Brazilian Socio-Economic Dynamics

Contexts and Contemporary Realities

  • Book
  • © 2025

https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-031-87685-1

Overview

  • Presents original research on Brazil's structural problems and how to manage them
  • Explores Brazilian dynamics from both a socio-economic and a business management perspective
  • Includes contemporary research on recent events, such as the Covid-19 pandemic and climatic challenges.

Part of the book series: Contributions to Economics (CE)

About this book

This book presents a detailed study of Brazil's structural problems and offers suggestions  for managing them. It is organized  into two parts. The first part provides a foundation in Brazilian socio-economic dynamics, discussing regional diversity, economic inequalities, access to education, and global commodity supplies from the country's agribusiness. The second part describes contemporary realities in the business and management sector, such as entrepreneurship, small businesses, and incubators, the country's financial system, its international presence, and its present and future challenges. The need for academic literature to support discussions on Brazilian issues is also addressed. The original research presented here may be helpful as a supplementary text in instructional settings.


Table of contents (6 chapters)

  1. Brazilian Socio-economic Dynamics

  2. Brazilian Contemporary Realities





O Direito e a Força - Sérgio Moreira Lima (O Estado de S. Paulo)

O Direito e a Força
Sérgio Moreira Lima*
O Estado de S. Paulo, 1/08/2025

        As decisões anunciadas pelo Presidente Trump representam atentado injustificado e sem precedentes contra o Brasil, que construiu um legado de paz e segurança nas Américas com diálogo e cooperação. Reconhecido por sua contribuição ao multilateralismo e a ordem internacional baseada em normas, o Brasil não merece a sanção. Ela agride o Estado, o direito, a democracia e a amizade entre os povos das Américas. A maior ironia é que ela se dirige a um parceiro com o qual os EUA compartilharam momentos decisivos da História e que tem contribuído para o progresso e a estabilidade na região.
        Os EUA foram o primeiro a reconhecer, em 1824, a independência do Brasil. A decisão revestiu-se de simbolismo: a chamada doutrina Monroe foi anunciada em 1823. E já, em agosto de 1822, D. Pedro, príncipe regente, e José Bonifácio, Ministro do Reino e chanceler, enviaram carta a Monroe com vistas ao estabelecimento de relações diplomáticas. Apesar do legado ambíguo de proteção e ingerência do monroísmo, o Patriarca da Independência inaugurou relação de confiança mútua com os EUA.
        Na II Conferência de Paz da Haia (1907), o Brasil resgatou o princípio da igualdade soberana dos Estados, que, mais tarde, serviu de pilar para criação da ONU. Ao negociar com dez países vizinhos as fronteiras, o Brasil, de Rio Branco, erigiu, no início do século XX, no Hemisfério Ocidental, um marco ao Direito Internacional, que responde pela ausência de conflitos bélicos entre os países sul-americanos.
    A Aliança não escrita com os EUA contribuiu para esse processo. Historicamente, o Brasil logrou permear o unilateralismo de Monroe com princípios e valores que ajudaram a moldar o Pan-americanismo. Foi o único país da América Latina beligerante nas duas Guerras Mundiais. O encontro de Roosevelt com Vargas em Natal, em 1943, estabeleceu uma aliança que fez a diferença em termos logísticos e estratégicos. A participação do Brasil contribuiu para o equacionamento de fase crucial do conflito. Roosevelt via com simpatia a ideia de inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, mas faleceu. Como arquiteto do multilateralismo econômico, os EUA contaram ainda com o Brasil na criação do GATT/OMC, que ajudou a substituir a lógica da guerra pela ordem internacional baseada em regras, como fator de cooperação e prosperidade.
        Em sua inusitada carta, Trump já havia feito tábula rasa de mais de dois séculos de relação bilateral que influiu nos princípios consagrados nos sistemas da ONU, da OEA e da OMC. A nota de resposta emitida pelo Presidente do Brasil revelou correção, objetividade e temperança. A atitude de Trump não é aquela que se espera de um dirigente dos EUA. Seus aspectos políticos ferem o Direito Internacional de maneira inaceitável. A própria guerra de tarifas revela protecionismo sem precedente em sua escala. Põe em risco o que levou séculos para construir: o multilateralismo, a ordem internacional e a arquitetura da governança.
        Intimidar parceiros e aliados compromete o livre comércio, que tantos benefícios trouxe à economia americana. Ele é parte de uma liberdade mais ampla que inspira a humanidade no curso da História. Uma das bases do sistema multilateral de comércio é o princípio da nação mais favorecida (NMF). Todo membro da OMC deve tratar de forma igual os demais. Trump repudia a cláusula NMF e abre a porta para um comércio de relações seletivas, baseado em preferências unilaterais. Se todos seguirem esse caminho, o comércio baseado em regras desaparecerá com prejuízo geral, especialmente para os países mais vulneráveis. Aplicar tarifas retaliatórias aumenta a probabilidade de guerra comercial global.
        O bem mais importante nas relações internacionais é a confiança mútua. Um ganho material imediato pode representar perda futura incomensurável. A liderança exercida pelos EUA no século XX foi fundada em princípios e valores que motivaram as demais nações. Luta pela liberdade, autodeterminação dos povos, descolonização, direitos humanos, democracia foram bandeiras que mobilizaram e firmaram a ideia de Ocidente. É preciso não esquecer o resultado trágico na Europa da supremacia e da lógica do conflito. Durante duas décadas, o Brasil viveu sob regime militar que violou direitos e liberdades fundamentais. A Constituição de 1988 é marco na identidade do povo brasileiro. Consagra o equilíbrio entre os poderes do Estado, o mecanismo de freios e contrapesos para evitar abuso de autoridade.
        Tarifas de 50% sobre produtos exportados pelo Brasil, a partir de 6 de agosto, inviabilizam o comércio. Trata-se de ato de protecionismo que compromete o Direito e a parceria entre os dois países. O anúncio anterior já determinara a suspensão de encomendas e enorme prejuízo a brasileiros e americanos. Dado o tempo exíguo, as circunstâncias inesperadas, e os danos imediatos às partes, o rumo mais sensato é estender o prazo e aprofundar o diálogo para a solução da disputa. As tarifas elevam inflação e desemprego e reduzem renda. Para cada dólar exportado pelo Brasil, a indústria dos EUA gera 43 dólares. Diálogo e bom senso devem prevalecer para honrar a histórica amizade entre os dois povos, que tanto fazem para o progresso das Américas.

*Embaixador de carreira, serviu na Missão junto à ONU em Nova York e nas Embaixadas em Washington, Londres, Tel Aviv e Camberra. Atualmente é advogado e Presidente do Conselho da Sociedade Brasileira de Direito Internacional.


Introdução do livro Interpretações do Brasil: uma nova história da pensamento político brasileiro - Christian Lynch, Diogo Cunha (FGV Editora)

 Introdução do livro Interpretações do Brasil: uma nova história da pensamento político brasileiro

Por Christian Lynch (IESP/UERJ) &

Diogo Cunha (UFPE)

Este livro oferece uma nova abordagem da história do pensamento político brasileiro, destinada especialmente a estudantes de graduação em ciência política, ciências sociais e história que estão sendo apresentados aos grandes pensadores do país. Embora tenhamos priorizado esse público-alvo, estudantes de pós-graduação, pesquisadores experientes e entusiastas da nossa tradição intelectual também encontrarão grande valor neste trabalho. O impulso para esse empreendimento veio da constatação da falta de uma obra que fosse simultaneamente ampla em termos temporais e profunda em sua análise. Em outras palavras, buscávamos um texto que oferecesse mais do que meros perfis introdutórios e resumos superficiais das obras principais dos pensadores brasileiros. Dessa forma, solicitamos às autoras e aos autores de cada capítulo que se esforçassem para reconstruir a trajetória de cada pensador em análise e, a partir da contextualização de suas obras políticas, explicar e explorar em detalhes os principais conceitos mobilizados. O resultado são capítulos densos e acessíveis ao mesmo tempo, que servem como uma excelente porta de entrada ou suporte para quem deseja se aprofundar nesse estudo.

O pensamento político brasileiro deve ser compreendido como uma interseção complexa de influências europeias e americanas adaptadas às idiossincrasias históricas e culturais do Brasil. A tradição jurídica e o constitucionalismo desempenham um papel central em sua formação, moldada por confrontos e adaptações entre modelos exógenos e realidades endógenas, resultando em um ideário autóctone que busca equilibrar a modernidade com as peculiaridades nacionais. Esse arcabouço intelectual pode referir-se tanto ao conjunto de ideologias que compõem a cultura política brasileira quanto aos clássicos da teoria política nacional, escritos antes da institucionalização universitária na década de 1970.

Por seu caráter “periférico”, o pensamento político brasileiro apresenta menor grau de generalização e maior sentido prático nas reflexões. A centralidade da retórica, da oratória e do argumento de autoridade é notável, assim como a tendência dos autores de se apresentarem como pioneiros da modernidade e a orientação prospectiva da política brasileira.

A principal manifestação do “fantasma da condição periférica” expressa-se na per sistente crença de que a produção intelectual do país é inferior à dos países “cêntricos”, principalmente aqueles situados na Europa e os Estados Unidos. Essa percepção de inferioridade, internalizada pelas elites intelectuais brasileiras ao longo dos séculos XIX e XX, resulta na recorrente desqualificação da produção nacional como mera “aplicação”, “cópia” ou “deformação” das ideias e teorias elaboradas no centro. Consequentemente, o estudo do pensamento político brasileiro frequentemente foi relegado a uma posição subalterna, visto como desprovido de originalidade e relevância fora das fronteiras nacionais.

Os autores analisados demonstram como essa percepção se manifestou em diferentes contextos e perspectivas ideológicas. Por exemplo, a preferência pelo termo “pensa mento” em detrimento de “teoria” para designar a produção intelectual brasileira reflete essa ideia de inferioridade. Enquanto a “teoria” era associada à produção intelectual universalizante dos países centrais, o “pensamento” era visto como uma produção de caráter local, pragmático, voltado para a resolução de problemas específicos da realidade brasileira. Essa classificação dicotômica deixa transparecer a relação assimétrica entre periferia e centro, reforçando uma noção de hierarquia na produção do conhecimento.

A filosofia da história do século XIX, com sua visão linear e teleológica do progresso, contribuiu para consolidar a imagem de um Brasil “atrasado”, ainda em processo de formação, desprovido de um “povo” e de uma “cultura”, no sentido pleno dessas palavras. Mesmo durante o período marcado pela ascensão do nacionalismo, a partir da década de 1930, a sombra da “condição periférica” continuou a pairar sobre o pensamento político brasileiro. Embora reconhecessem a importância de estudar a realidade nacional, muitos partiam do pressuposto de que as “leis gerais da evolução dos povos” haviam sido elaboradas nos países centrais. A superação da condição periférica, nesse contexto, passaria pela elaboração de um projeto nacional capaz de, a partir da compreensão das “singularidades” brasileiras, conduzir o país a um patamar de desenvolvimento similar ao dos países centrais.

O pensamento político brasileiro, em sua essência, pode ser compreendido de duas maneiras principais: uma abordagem abrangente e uma interpretação mais específica. Em um sentido amplo, ele abarca o conjunto completo de escritos ideológicos – liberais, conservadores, socialistas – que moldaram e representam a cultura política brasileira. Tal perspectiva reconhece que o pensamento político brasileiro é profundamente influenciado pela posição do país na periferia do cenário global, em contraste com os centros estabelecidos de poder e civilização. Nessa visão, destaca-se a importância do estilo de escrita “periférico”, caracterizado por um menor grau de generalização e uma ênfase em abordar os desafios práticos e imediatos enfrentados pelo Brasil.

Em contraste, a definição mais restrita de pensamento político brasileiro concentra–se em um grupo seleto de obras consideradas “clássicas” devido à sua profundidade, sistematização e impacto duradouro. Essas obras, frequentemente produzidas por figuras proeminentes da “velha” ciência política brasileira, que antecedeu a institucionalização acadêmica formal da disciplina, representam um núcleo fundamental do nosso pensamento.

Neste livro, o que se pretende é apresentar uma visão o mais completa e abrangente possível do pensamento político brasileiro, focando principalmente o horizonte do Brasil como comunidade imaginada. Os autores elencados como objetos de estudo compõem uma lista ilustrativa, embora não exaustiva, de figuras que pertencem a essa categoria: José Bonifácio, Evaristo da Veiga, José de Alencar, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Alberto Torres, Oliveira Viana, Gilberto Freyre, Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Holanda, Guerreiro Ramos, Celso Furtado, Florestan Fernandes, entre outros.

Esses autores não apenas analisaram a realidade brasileira, mas também moldaram a maneira como o país se compreende. Suas “interpretações do Brasil” transcenderam os limites da academia, influenciando debates políticos, movimentos sociais e a própria identidade nacional. E, embora eles frequentemente tenham se embasado em ideologias existentes, suas obras não são redutíveis a rótulos ideológicos simples. Além disso, a maioria delas tinha entre seus objetivos, implícitos ou explícitos, influenciar ativamente o discurso e os processos políticos no Brasil.

Essa dupla abordagem – abrangente e específica – é essencial para entender a evolução e a dinâmica do cenário político e intelectual do país, oferecendo uma com preensão mais rica e nuançada a seu respeito. Mas, para entender completamente o pensamento político brasileiro em um sentido estrito, é essencial situá-lo dentro de seu contexto histórico e intelectual. Seu desenvolvimento, desde a Independência até a atualidade, pode ser compreendido com a análise de três períodos distintos, cada um com suas características e abordagens próprias.

De 1822 a 1889, durante o Império, a política era vista como uma “arte de governar”, exigindo a sabedoria de estadistas ilustrados que buscavam inspiração em modelos estrangeiros, adaptando-os à realidade brasileira. Enquanto os liberais defendiam princípios universais e imutáveis, os conservadores priorizavam a flexibilidade e a adaptação às circunstâncias específicas do Brasil. O debate entre liberais e conservadores foi marcado pela tentativa de encontrar um equilíbrio entre os ideais iluministas e a singularidade da sociedade brasileira, culminando em um pensamento político que buscava conciliar a modernidade com a tradição.

O segundo período, que se estendeu de 1889 a 1930, marcou a República e a ascensão de uma perspectiva “científica” da política, influenciada pelo positivismo e pelo evolucionismo. Muitos intelectuais buscavam uma “política científica”, baseada na observação e na análise crítica, citando autores estrangeiros. Outros defendiam uma ciência política pragmática, atenta às particularidades do contexto brasileiro. Esse período foi caracterizado pela tentativa de aplicar teorias científicas ao governo, na busca de um progresso racional e ordenado, em contraste com o empirismo e o pragmatismo do período imperial.

Em 1930, iniciou-se o terceiro período, marcado por uma crítica ao formalismo jurídico e à dependência em relação a modelos estrangeiros. Intelectuais comprometidos com o ideário nacionalista defenderam uma ciência política pragmática, com foco na transformação da realidade nacional, utilizando a sociologia como ferramenta de análise. Após a Segunda Guerra, o nacionalismo passou a falar a linguagem do desenvolvimento, buscando formular uma teoria que respondesse aos desafios do Brasil. O marxismo também ganhou espaço, analisando as contradições sociais e as relações de poder no país. Esse período é caracterizado pelo empenho em se criar uma ciência política brasileira apta a interpretar e transformar a sociedade nacional a partir de suas próprias bases.

Apesar da influência de diferentes correntes, o pensamento político brasileiro sempre buscou uma identidade, capaz de articular ideias universais à realidade específica do país. Novas vozes e perspectivas continuam a enriquecer e desafiar as interpretações tradicionais, garantindo que a produção intelectual brasileira permaneça dinâmica.

Do ponto de vista metodológico, é fundamental considerar o contexto histórico e evitar a aplicação anacrônica de conceitos contemporâneos. É preciso reconhecer que a interpretação do Brasil é sempre influenciada pelo sujeito que a realiza, e a busca por uma resposta definitiva é um desafio constante. Também é crucial evitar o eurocentrismo, reconhecendo o valor autônomo, a originalidade, a capacidade de inovação – em suma, a relevância – da produção intelectual brasileira, que reflete as especificidades da experiência nacional.

A dicotomia entre “idealismo” e “realismo” é frequentemente utilizada para analisar o pensamento político brasileiro. No entanto, essa classificação pode ser simplista e obscurecer a riqueza e diversidade de perspectivas presentes na história do país. O idealismo, frequentemente associado a autores liberais, é criticado por sua suposta desconexão com a realidade. Por outro lado, o realismo, frequentemente associado a autores conservadores ou nacionalistas, é valorizado por sua atenção às condições específicas do Brasil. Porém, é importante analisar as nuances e as diferentes formas como os autores lidaram com a relação entre ideias e realidade.

Podem ser identificados três principais modelos de história intelectual que influenciaram a interpretação do pensamento político brasileiro: o liberal, o nacionalista e o marxista. É preciso reconhecer seus efeitos e suas diferentes abordagens, evitando a adesão acrítica a um único ponto de vista. A análise do pensamento político brasileiro deve combinar o rigor textual com a contextualização. Ou seja, as ideias dos autores devem ser compreendidas em seus próprios termos textuais, mas também considerando as condições históricas, as relações de poder e os debates que influenciaram suas obras.

A influência do contexto é particularmente evidente na forma como os intelectuais do país se apropriaram de conceitos estrangeiros. Esse processo não pode ser reduzido a uma simples importação de ideias. Pelo contrário: é um campo dinâmico e criativo, no qual conceitos universais são reinterpretados e transformados à luz das experiências e desafios locais. Essa adaptação e inovação é o que pode conferir ao pensamento brasileiro sua originalidade e relevância.

***

O termo “nova história”, que figura no subtítulo desta obra, não é mero artifício retórico, mas sim uma escolha que se justifica plenamente. Cada capítulo foi meticulosamente redigido por especialistas nos pensadores em análise; autores cujos extensos registros de publicações sobre seus temas abrangem desde teses de doutorado até artigos em revistas acadêmicas de renome, além de capítulos de livros relevantes. Desse modo, cada texto desta coletânea reflete um profundo amadurecimento reflexivo em relação ao seu objeto, embasado em um diálogo contínuo com as mais recentes contribuições da teoria política, tanto nacional quanto internacional. As reflexões aqui apresentadas fundamentam-se em referenciais teóricos sofisticados, como a história dos conceitos alemã de Reinhart Koselleck, o contextualismo da escola de Cambridge, a abordagem francesa do político, bem como os estudos recentes sobre linguagem política, história das circulações e transferências culturais. O resultado são releituras extraordinariamente sugestivas e instigantes dos clássicos do pensamento político brasileiro.

Qualquer obra que se proponha a oferecer uma história do pensamento político é, inevitavelmente, incompleta. Nenhuma é capaz de abranger toda a produção intelectual gerada ao longo de um extenso período em um determinado país, e esta não é uma exceção. Toda seleção é desafiadora. Por que Evaristo da Veiga, e não Hipólito da Costa? Visconde do Uruguai, e não Bernardo Pereira de Vasconcelos? Alberto Sales, e não Campos Sales? Gilberto Freyre, e não Gilberto Amado? Miguel Reale, e não Plínio Salgado? Nelson Werneck Sodré, e não Caio Prado Júnior? Florestan Fernandes, e não Octávio Ianni? A lista poderia continuar. É inegável que, nessas escolhas, há uma dimensão subjetiva considerável. No entanto, dentro das limitações de cada período, guiamo-nos por critérios de representatividade histórica e teórica em cada uma das cinco fases em que dividimos o século e meio que vai da Independência ao início da Nova República.

Optamos por não nos estender aos pensadores contemporâneos, na medida em que nenhum ainda se sagrou “clássico”. Além disso, diferentemente das décadas que precederam a Constituição de 1988, quando predominava a preocupação com a questão nacional, novos temas emergiram na virada do século XX, como o feminismo, o racismo e a identidade de gênero. Isso não significa que não seja possível elaborar uma “história do tempo presente” do pensamento político, mas sim que tal empreitada exigiria um enfoque distinto, a ser desenvolvido em um volume separado.

Assim, a primeira fase, intitulada “A construção do Estado nacional”, abrange a primeira metade do século XIX e inclui estudos sobre figuras como José Bonifácio, marquês de Caravelas, frei Caneca, Evaristo da Veiga e visconde do Uruguai. A segunda fase, “A emergência da sociedade nacional”, situa-se entre o final do século XIX e o início do século XX, com análises dedicadas a Tavares Bastos, José de Alencar, Joaquim Nabuco, Alberto Sales e Rui Barbosa. A terceira fase, “A reestruturação do Estado nacional: nacionalismo e autoritarismo”, aborda a primeira metade do século XX, período marcado pelo florescimento do pensamento autoritário, com estudos sobre Alberto Torres, Oliveira Viana, Gilberto Freyre, Azevedo Amaral e Otávio de Faria. Na quarta fase, “A transição para a sociedade de massas (1): o experimento democrático”, adentramos um momento de mudanças significativas após o ciclo autoritário encerrado em 1945, com análises de figuras como Sérgio Buarque de Holanda, Afonso Arinos de Melo Franco, Guerreiro Ramos, Nelson Werneck Sodré e Celso Furtado. Por fim, a seção “Transição para a sociedade de massas (2): o regime militar” examina autores cujas obras, ao menos em parte, foram produzidas durante o regime militar e estão, portanto, intrinsecamente ligadas ao autoritarismo da segunda metade do século XX. Essa seção inclui estudos sobre João Camilo de Oliveira Torres, Miguel Reale, Raymundo Faoro, Florestan Fernandes e Wanderley Guilherme dos Santos.

Esperamos oferecer, assim, um estudo minucioso da história do pensamento político brasileiro, tanto em sua amplitude histórica quanto em sua profundidade conceitual. Ao contemplar desde os primórdios da construção do Estado nacional até os desafios enfrentados durante o regime militar e os contemporâneos processos de democratização, buscamos não apenas desvelar as complexidades intrínsecas desse pensamento, mas também explorar as sutilezas e implicações das diversas abordagens sobre uma ampla gama de temas. Estes abrangem desde a formação e o papel do Estado, a questão da identidade nacional, as dinâmicas das relações sociais em uma nação periférica, passando por questões como liberdade, igualdade e democracia, até a legitimidade, participação e funcionamento das instituições democráticas. Assim, almejamos que nossa obra, além de proporcionar uma visão abrangente do desenvolvimento do pensamento político no Brasil, ofereça ferramentas analíticas para a compreensão dos desafios democráticos que a sociedade brasileira enfrenta na contemporaneidade.


Os vários tarifaços de Trump - BBCNews

Which countries have made a deal with Trump?

BBC News, August 2, 2025


We are expecting White House Press Secretary Karoline Leavitt's briefing at 13:00 EDT (18:00BST), which will also likely focus heavily on tariffs - in addition to developments in Gaza.

Before that here's a look at the countries and regions that have inked trade deals with the Trump administration ahead of the midnight deadline:

United Kingdom - After reaching a deal in March, the tariff rate for UK exports will be set at 10%. Britain is allowed to export 100,000 cars to the US at a 10% tariff rate, as opposed to the 25% rate announced in March.

European Union - A tariff rate of 15% will be imposed on most goods - this is half the rate of the 30% rate that had previously been threatened

Japan - A tariff rate of 15% will be imposed on all Japanese goods, lower than the 25% that had been threatened

Philippines - Exports from the Philippines will be taxed at 19%, down from 20%

China - In late May, the US announced it would be reducing the tariff rate imposed on China to 30%, down from 145%

Vietnam - Before striking a deal, the US announced a 46% tariff rate, it's now down to 20%

Indonesia: On 15 July, a deal was made to bring the tariff down from 32% to 19%

South Korea: Tariff rate after the agreement

As Mexico and the US publicly discuss pausing the higher tariffs and working together to possibly reach a deal in the next three months, we turn for a moment to another country where Trump has taken a far different tack, Brazil.


The country's ambassador to the UK, Antonio Patriota, just called US plans to raise tariffs on goods from his country to 50% “a significant blow."

Speaking to BBC Newshour, he went on to say that the “current hostility demonstrated by the US government” is “self-defeating, counterproductive, illegal and very unwise”.

President Trump recently confirmed the US would dramatically increase the tariffs in retaliation over the prosecution of his ally, former Brazilian President Jair Bolsonaro.

“Brazil is a country without enemies… I am confident that wisdom will prevail in the long run. But, if we are in for a bumpy ride, you can expect Brazil to hold up its dignity," the ambassador says.

As Mexico and the US publicly discuss pausing the higher tariffs and working together to possibly reach a deal in the next three months, we turn for a moment to another country where Trump has taken a far different tack, Brazil.

The country's ambassador to the UK, Antonio Patriota, just called US plans to raise tariffs on goods from his country to 50% “a significant blow."

Speaking to BBC Newshour, he went on to say that the “current hostility demonstrated by the US government” is “self-defeating, counterproductive, illegal and very unwise”.

President Trump recently confirmed the US would dramatically increase the tariffs in retaliation over the prosecution of his ally, former Brazilian President Jair Bolsonaro.

“Brazil is a country without enemies… I am confident that wisdom will prevail in the long run. But, if we are in for a bumpy ride, you can expect Brazil to hold up its dignity," the ambassador says.

Mexico's Sheinbaum says 90 days will be used to build a long-term deal

Mexican President Claudia Sheinbaum just posted on X, speaking positively about her conversation with Trump and saying they will use the 90 day extension to come to a deal.

"We had a very good call with US President Donald Trump. We avoided the tariff increase announced for tomorrow and achieved 90 days to build a long-term agreement based on dialogue," she writes.

More tariff revenue for the US government

The Budget Lab at Yale University estimates that, as of 28 July 2025, the average effective tariff rate imposed by the US on goods imports stood at 18.2%, the highest since 1934.

That was up from 2.4% in 2024, before Donald Trump returned to office.

That significant increase means the US government's tariff revenues have shot up.

Official US data shows that in June 2025 tariff revenues were $28bn, triple the monthly revenues seen in 2024.


quinta-feira, 31 de julho de 2025

O Magnitsky Imperador Trump - Miguel Gustavo de Paiva Torres (Contexto, Alagoas)

 O Magnitsky Imperador Trump

Miguel Gustavo de Paiva Torres
Embaixador

Lei Global Magnitsky foi promulgada em 2012 por Barack Obama com o intuito de combater a corrupção e gravíssimos atentados aos direitos humanos, internalizando, nos Estados Unidos, punições severas a ditadores sanguinários que buscavam em território norte-americano refúgio para seus patrimônios móveis e imóveis, produtos de saques bilionários contra o seu próprio povo e nação.

Desde a gestão de Jimmy Carter, o governo e as instituições norte-americanas vinham empreendendo uma cruzada universal contra violações absurdas de direitos humanos em países considerados ainda bárbaros, sanguinários e genocidas.

Nascido com palavras mortas de uma Constituição que pregava a igualdade de todos, a república norte-americana teve sua infância e adolescência marcada por guerras civis, pelo massacre continuado de negros e batalhas urbanas das máfias ao longo de todo o seu território.

dinheiro foi colocado como valor máximo e supremo da nação. Com ele, o poder político e a indústria das armas dizimaram os povos originários, avançando para o Oeste, e seguiu em suas fragatas impondo a bandeira estrelada às ilhas e aos continentes em todo o globo.

Tinham começado em sua fronteira, massacrando miseráveis mexicanos e se apoderando de enorme fatia do México, incluindo metade da Califórnia, onde se deu a Corrida do Ouro.

Mas a retórica da constituição, da república civilizada e dos direitos humanos prosseguiu como se história não houvesse. O que valeria seriam as narrativas a serem construídas.

Com a descolonização europeia no pós-guerra, os Estados Unidos, com os seus novos barões do dinheiro e do poder, ocuparam o planeta, começando pela Europa e, no final dos anos 80, conseguiram derrubar o muro de Berlim e o agonizante império soviético do Leste. Apoiaram todas as espécies de ditaduras sanguinárias mundo afora, desde que estivessem dispostas a rezar por sua cartilha de produção de riqueza para os cofres dos seus bancos privados e Tesouro Nacional. Ninguém pode negar essa face dos Estados Unidos.

O que é engraçado, risível, cínico e hipócrita é que eles insistem na oficialização dessa narrativa de guardiões dos direitos humanos universais como uma “nova história”, inaugurada, agora no século XXI, pelo eleito presidente Donald Trump, já conhecido nos meios políticos internacionais como Imperador do Mundo.

Profeta do caos e do fim dos tempos, viu na Lei Global Magnitsky a oportunidade de misturar Chiclete com Banana: Nicolau Maduro, Al Qaeda, Talibãs e o juiz da Suprema Corte Brasileira, Alexandre de Moraes, como perversos criminosos, corruptos e demolidores dos direitos humanos.

É sério. Trata-se de entregar o Brasil, via CIA e Agência de Segurança Nacional, à família Bolsonaro, gente disposta a servir aos Estados Unidos da América e a Israel. Isso sem gastar munição, poupadas para possíveis enfrentamentos com Putin, XI Jin Ping e Kim Yong, além das demais potências nucleares.

Dono de cassinos falidos propositalmente para não pagar fornecedores e trabalhadores, o Imperador odeia a Justiça em qualquer parte do mundo, principalmente no seu terreiro, onde livrou-se da prisão aos 45 minutos do segundo tempo, elegendo-se “democraticamente” com o empurrão final da ambiciosa juventude das “big techs” e amparado pelo obsoleto instituto legal do “Foro Privilegiado”.

Stephen Kotkin on China

 Stephen Kotkin is a legendary historian, currently at Hoover, previously at Princeton. Best known for his Stalin biographies, his other works include Uncivil Society, Magnetic Mountain, and Armageddon Averted.

Transcript here with all the books referenced: https://www.chinatalk....

Our discussion on China is far-ranging yet in-depth — we manage to pack in:

The two dominant subjects taught at the CCP’s Central Party School;

Kotkin’s assessment of the main threat to Communism — what “Communism with a human face” means, and why Gorbachev’s reforms ultimately destroyed Communism in the USSR;

Why the CCP fears color revolutions more than, say, NATO expansion — and why Xi snapped on Hong Kong in 2020;

The twin components of Marxism-Leninism: anti-capitalism + anti-imperialism;

And an understanding of Lenin’s “commanding heights,” and what China’s commanding heights are today;

The case for optimism about US-China relations, despite — or because of — the recent ratcheting up of tensions;

Why Kotkin believes a US-China Cold War is both good and necessary;

How the US can get on the diplomatic “front foot”;

Making sense of Reagan’s foreign policy — how he was both a “movement conservative” and a “dealmaking conservative.”

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Consequências da Lei Magnitski para o juiz Alexandre Moraes e para o Brasil - Vitelio Brustolin

 Transcrevo de postagem de Vitelio Brustolin no Linkedin:


“ Consequências da aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes

Conversei sobre o tema com a Paula Valdez, na BandNews TV. Segue um resumo: 

1. Congelamento de ativos nos EUA

Qualquer bem financeiro, bancário, imobiliário ou empresarial que Moraes possua nos EUA será congelado imediatamente. Isso vale mesmo para investimentos indiretos (por exemplo, em fundos internacionais que operem em Wall Street). Ele não poderá movimentar contas, vender propriedades ou acessar rendimentos em dólar que transitem por instituições americanas - mesmo se estiverem sediadas fora dos EUA (como bancos suíços ou brasileiros que usem o sistema financeiro dos EUA para liquidação). 

2. Proibição de entrada nos EUA

Moraes perde o direito de entrar nos EUA, seja como turista, palestrante, acadêmico ou para reuniões diplomáticas. Mesmo que tente viajar por países intermediários (como México ou Panamá), poderá ser impedido de embarcar devido ao sistema de alertas automáticos da Customs and Border Protection (CBP). Isso também pode afetar membros próximos da família, caso seus nomes sejam associados nas listas de sanções (algo possível por "associação de risco"). 

3. Impossibilidade de operar com bancos e empresas ligadas aos EUA

Cartões de crédito internacionais como Visa, Mastercard e American Express poderão ser bloqueados. Bancos internacionais - mesmo fora dos EUA - podem encerrar relações com Moraes por medo de penalidades secundárias (o chamado over-compliance). Serviços como PayPal, Amazon, Airbnb, Uber, Booking.com, Apple e Google Pay normalmente bloqueiam usuários sancionados ou associados a eles.

4. Restrições indiretas em viagens internacionais

Países aliados dos EUA (como União Europeia, Canadá, Reino Unido, Austrália, Japão) muitas vezes seguem automaticamente as listas de sanções unilaterais americanas. Assim, ele poderá ter visto negado, entrada recusada ou monitoramento adicional em viagens internacionais - mesmo sem sanção formal desses países. 

5. Risco de bloqueios financeiros e reputacionais no Brasil

Bancos brasileiros com operações internacionais (como Itaú, Bradesco, BTG, Santander) podem relutar em manter contas em nome de Moraes. Ele pode ser considerado "cliente de risco" pelas normas internacionais de compliance (KYC/AML), afetando sua capacidade de abrir ou manter contas bancárias. 

6. Consequências reputacionais e jurídicas

Moraes pode ter sua imagem internacional manchada, sendo visto como um violador de direitos humanos - independentemente de sentença judicial. Ele pode ser impedido de participar de eventos internacionais, como fóruns jurídicos, conferências da ONU, da OCDE, ou da OEA. Universidades e editoras internacionais podem recusar colaborações acadêmicas, convites ou traduções de obras jurídicas de sua autoria.”

Assista aqui: https://lnkd.in/dPuMy-9j 

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