domingo, 2 de novembro de 2025

Horrific details of Russian torture methods revealed in new UN report on human rights - Hannah Broughton (The Express)

Será que Putin criou uma nova Inquisição?
Seria ele um Torquemada nuclear?
Confesso que eu gostaria de ler a declaração da delegação do Brasil em Genebra, quando o assunto for levado a discussão no Conselho de Direitos Humanos. Haverá alguma nota de horror do Itamaraty a respeito desses métodos que já conhecemos durante a ditadura militar?
Paulo Roberto de Almeida

Horrific details of Russian torture methods revealed in new UN report on human rights
A chilling new report unveils echoes of Soviet-era torture methods still in use by Russia today, including one nicknamed "call to Putin".
By Hannah Broughton
The Express, Sep 29, 2025

Horrific details of Russian torture methods are being revealed through a new report set to be presented to the UN Human Rights Council.
Methods of torture used by Russia today are reportedly very similar to those used during the Soviet era, and include beatings, electric shocks, needles under fingernails, psychological pressure, and threats.
One particular method used on Ukrainian soldiers and civilians involves electrocuting them on the genitals and feet with a military telephone, the new report claims.

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The device, nicknamed “tapik”, uses wires from the Soviet TA-57 field telephone, which are connected to parts of the body such as the ears, fingers, and genitals, which can then be electricuted with a painful shock.
The army telephone is said to generate up to 80 volts of electricity, which would deliver a gut-wrenching pain to the torture victim.
The report describes the method, which will be presented to the UN on October 15. In the Russian army, it is known as a “call to Putin” or a “call to Lenin.”

According to UN special rapporteur on torture, Dr Alice Jill Edwards, told the Telegraph, “the scale is really off the charts about how many people who are detained are subjected to some form of degrading or inhumane treatment”.

She says that Russia’s actions in Ukraine were “showing us the worst of humanity”.
UN High Commissioner for Human Rights Volker Türk said: “Our report lays bare the human rights violations inflicted on civilian detainees. People have been arbitrarily picked off the streets in occupied territory, charged under shifting legal bases and held for days, weeks, months, and even years, often with limited contact with their families.”

“It is essential that the human rights of civilian detainees, who have been severely impacted by this terrible conflict, are prioritised in any peace talks.”

The alleged horrendous treatment by Russia includes sexual and physical abuse, including gang rapes, electric shocks, and beatings to genitals, beatings while nude, stab wounds to genital areas, threats of castration, burning of nipples of males, and the use of stun guns to the genital region.

Edwards says that Russia’s leader, Vladimir Putin, stands personally responsible for these “crimes against humanity”, and that the torture is “part of Russian war tactics and policy”.
She told the Telegraph, “At no time have I seen directives from the hierarchy for Russian soldiers and others to stop torturing. That’s what I’ve asked for. Those directives do not exist. It’s not only on an individual level; this is widespread and systematic, amounting to war crimes and crimes against humanity.
She continued, “It is the level of the state; it’s Putin himself and [foreign minister Sergei] Lavrov who have responsibility for these types of policies. The Russian state itself will be held accountable. Torture remains part of, in my view, Russian war tactics and war policy.”

As well as torture by Russians, Edwards has also investigated some allegations of Ukrainian troops inflicting torture, saying that “those also need to be well-documented, and perpetrators brought to account”.

https://www.the-express.com/news/world-news/185381/horrific-details-russian-torture-methods-un-report-ukraine-war?utm_medium=Social&utm_source=Facebook&fbclid=IwZnRzaAN0tkdleHRuA2FlbQIxMQABHk3XiqIESgdUco910o3xwWbR14WGlL4muppZjkQG06XIO9Uincc-mNXvv3ot_aem_9NRgrY9gAVc7HTjA9KZjDw#Echobox=1761667002

Mercosul: a visão dos primeiros vinte anos e as perspectivas futuras: Prefácio PRA e livro sobre o Mercosul em 2012

 Devo participar, na próxima sexta-feira 7/11, de um seminário organizado pelo Prof. Antonio Carlos Lessa (IREL-UnB) sobre temas correntes da atualidade internacional, como já anunciei aqui mesmo. Constato agora, que além do Prof. Carlos Pio, velho amigo, estará presente ao evento a Profa. Erica Resende, co-organizadora de um livro sobre o Mercosul para o qual fui honrado em preparar um prefácio, como registro abaixo.

Como creio que esse prefácio ainda possui certo valor substantivo (uma vez que o Mercosul não fez praticamente progresso algum, desde 2012), permito-me postar novamente este registro e depois o próprio Prefácio. (PRA, 2/11/2025)

2420. “Mercosul: a visão dos primeiros vinte anos e as perspectivas futuras”, Brasília, 23 agosto 2012, 6 p. Prefácio ao livro Mercosul: 21 anos: Maturidade ou Imaturidade?; Organização: Erica Simone Almeida Resende (UFRRJ) e Maria Izabel Mallman (Puc-RS). (Curitiba: Editora Appris, 2013, 350 p.; ISBN: 978-85-8192-111-2; p. 5-12); disponível no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/11/mercosul-21-anos-prefacio-uma-obra.html). Relação de Publicados n. 1079.

Mercosul: a visão dos primeiros vinte anos e as perspectivas futuras

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor de Economia Política no
Centro Universitário de Brasília (Uniceub)
In: Erica Simone Almeida Resende e Maria Izabel Mallman (org.):
Mercosul: 21 anos: Maturidade ou Imaturidade?
(Curitiba: Editora Appris, 2012, 350 p.; ISBN: 978-85-8192-111-2; p. 5-12). Relação de Publicados n. 1079.


O Mercosul atingiu, ao que parece, a sua maioridade – convencionalmente fixada aos 21 anos – em meio ao que constitui, possivelmente, a sua mais grave crise, passadas duas décadas de sua criação e implementação progressiva, a partir de 1991. A crise, para todos aqueles que seguem os assuntos correntes do bloco do Cone Sul, foi constituída pela “suspensão” da participação do Paraguai de suas reuniões formais e pela “admissão plena” da Venezuela no que parece constituir uma “união aduaneira em implementação”, segundo a designação usualmente empregada para caracterizar o grupo. Ambas medidas foram adotadas na reunião de cúpula ocorrida em Mendoza, em junho de 2012, na ausência de qualquer delegação – técnica, ministerial ou presidencial – do Paraguai, a despeito do fato de que os principais instrumentos constitutivos do Mercosul, e até o Protocolo de Ushuaia sobre a cláusula democrática do bloco, sempre explicitaram a necessidade de consenso, ou da presença plena de todos os membros, para quaisquer decisões a serem adotadas formalmente pelo grupo. Ora, não foi exatamente isso que ocorreu na reunião de Mendoza (a três membros), ou nos encontros subsequentes entre os membros “remanescentes”, em presença da Venezuela (que não tinha ratificado nenhum dos instrumentos relevantes do bloco até essa data, a despeito de compromisso firmado por meio de seu protocolo de acesso em 2006).
Na verdade, a crise do Mercosul data de pelo menos uma década atrás, quando os mecanismos de liberalização comercial intra-bloco e de coordenação das medidas de política comercial, em relação a terceiras partes, foram sendo erodidos pela inadimplência dos países membros em relação aos dispositivos principais da zona de livre comércio – que deveria vigorar desde 1995 – e da união aduaneira, que deveria ter realizado as derradeiras convergências das exceções nacionais admitidas anteriormente nos cinco ou seis anos decorridos desde sua institucionalização pelo Protocolo de Ouro Preto de 1994, ou seja, ao início deste milênio. Essa crise apenas formalmente pode ser atribuída à crise cambial e financeira vivida pelo Brasil em 1999 – e que redundou na mudança de seu regime cambial de um sistema de bandas para um de flutuação – uma vez que a Argentina, prisioneira de seu regime cambial de livre conversibilidade e de rigidez na paridade com o dólar, estabelecido em 1991, já vinha enfrentando sérios desequilíbrios nos intercâmbios comerciais dentro e fora do bloco e, de forma geral, na sua conta de transações correntes. O Brasil, justamente, era possivelmente um dos poucos países com os quais a Argentina conseguia ainda realizar um superávit bilateral, em grande medida em função do comércio administrado no petróleo, no trigo e no setor automotivo, e tinha revelado, desde antes, notável tolerância em relação aos sucessivos descumprimentos argentinos com respeito ao livre comércio intra-bloco.
O Mercosul tinha alcançado, então (ou seja, em 1998), o máximo de comércio intra-bloco desde sua criação em formato quadrilateral em 1991 – embora este formato derivasse inteiramente do esquema bilateral Brasil-Argentina em curso desde meados da década anterior, consolidado no Tratado de Integração de 1988, cujas cláusulas de liberalização comercial e de constituição de um mercado comum foram reformuladas e aceleradas na Ata de Buenos Aires, de 1990 –, em patamares de intercâmbio não restabelecidos até bem adentrada a primeira década do milênio, mas já numa situação de erosão institucional, e de não cumprimento de suas regras comerciais básicas, da qual ele ainda parece não ter se recuperado. Ao adentrar em sua segunda década, o Mercosul parecia ter perdido o estímulo inicial para avançar a fases mais exigentes do desejado objetivo do mercado comum, estabelecido em seus instrumentos constitutivos.
Em resumo, as rupturas comerciais e cambiais demarcadas pela crise brasileira de 1999 e pela crise geral da economia argentina de 2001 romperam um movimento ascensional de integração seguido na década anterior e são, provavelmente, muito mais graves do que a pretensa “ruptura democrática” ocorrida no Paraguai, em junho de 2012, seguida da “ruptura institucional” que foi a admissão irregular da Venezuela no seguimento da sanção unilateral imposta pelos três outros membros plenos ao Estado guarani. Mais graves porque a “ruptura democrática” supostamente ocorrida no Paraguai será, provavelmente, superada pela realização de novas eleições em abril de 2013, ao passo que a inadimplência registrada em relação aos dispositivos básicos do Mercosul, em sua feitura comercial e econômica, não parece perto de ser superada pela adesão de todos os membros, e principalmente pela Venezuela, às regras essenciais do bloco no futuro previsível. A dinâmica integracionista perdida entre 1999 e 2001 não está perto de ter sido recuperada desde então; ao contrário: como ilustrado na velha canção de roda, o que era vidro se quebrou. O Mercosul certamente não foi feito de aço...
Estaria o Mercosul, nessas condições, destinado ao fracasso e a seu eventual desaparecimento? Provavelmente não, inclusive porque construções burocráticas desse porte, sustentadas politicamente, raramente vão à falência ou desaparecem, podendo, no máximo, subsistir em meio à indiferença geral e ao total descompromisso com seu mandato original, ainda que continuando a drenar recursos e energias de seus membros por um bom tempo antes de sua decadência efetiva. Mas este não é certamente o caso do Mercosul, que deve subsistir como um importante foro de coordenação política dos países membros, ainda que suas promessas comercialistas originais tenham sido gradativamente abandonadas em favor de uma configuração de natureza essencialmente política a partir das posses respectivas do presidente Lula, no Brasil, e de Nestor Kirchner, na Argentina, em 2003. Se algo deve ocorrer a partir da admissão formal da Venezuela, se ela for de fato confirmada institucionalmente e na prática, será, na verdade, um reforço ainda maior de seus componentes políticos, em detrimento de seus fundamentos econômicos, ou especificamente comerciais.
Essa evolução certamente não corresponde aos objetivos originais do Mercosul, embora ele deva continuar representando um importante processo de integração no contexto regional que é o seu – ou seja, o da América do Sul – e mantenha, do ponto de vista do relacionamento externo, excelentes oportunidades de investimentos diretos estrangeiros, dadas a dimensão de seu mercado, os recursos naturais existentes, as fontes de energia disponíveis (agora reforçadas pela “adesão” da Venezuela) e outros fatores atraentes do ponto de vista dos empresários locais e de terceiros países. Esse desvio de objetivos e, possivelmente, essa mudança de perfil institucional não devem obstar a que o Mercosul continue a ser um dos mais importantes blocos econômicos (e políticos, sublinhe-se) do hemisfério sul, o que provavelmente é mais devido à soma conjunta de suas potencialidades reais (ou seja, dos países membros, em especial do Brasil) do que propriamente em função da excelência de sua organização interna ou adequação às normas do sistema multilaterais de comércio.
Em outros termos, a despeito das frustrações ocorridas em sua trajetória econômica e comercial, e dos fracassos relativos no acabamento de seus objetivos institucionais, o Mercosul deve continuar a ser um espaço econômico de relativa magnitude material, e de grande importância política, não apenas para seus membros efetivos, mas também para a região, como um todo, e possivelmente também no âmbito hemisférico e no contexto do sistema multilateral de comércio, a despeito do enorme peso representado pelo Nafta nesta parte do planeta, e pelos vínculos de seus membros, em especial os EUA, com a maior parte dos países latino-americanos (os quais estão, inclusive, ligados ao hemisfério setentrional por acordos de liberalização comercial bem mais abrangentes e ambiciosos do que, até agora, os esquemas mantidos pelos países do Mercosul e pela quase inexpressiva Comunidade Andina de Nações). Não obstante os percalços, portanto, o Mercosul deverá continuar exercendo certa força gravitacional em seu imediato entorno regional, bem como alguma atração do ponto de vista do comércio, dos investimentos e de projetos conjuntos de cooperação com ampla gama de parceiros externos, a começar pela União Europeia e outros protagonistas mundiais, a começar pela China e os emergentes da Ásia e das demais regiões.
As evidências acima, de puro realismo político e de grande relevância econômica, justificam plenamente, portanto, a oportunidade da publicação do presente livro como um balanço oportuno e uma avaliação ponderada, em torno dos sucessos e das frustrações do Mercosul, ao iniciar-se a terceira década de sua existência. Os capítulos constantes desta obra – sobre o desenvolvimento do Mercosul, suas vicissitudes comerciais, sua dimensão securitária (ou seja, de defesa), a representação parlamentar, o funcionamento de seu sistema de solução de controvérsias, as questões de direitos humanos e institucional, sua importância para o Brasil e para a região, além de diversos outros temas paralelos –contribuem para uma visão ampla, embora diversificada metodologicamente, do itinerário do bloco e de seu potencial integrador, em sua dimensão própria e para o continente como um todo.
Como esperado, ou inevitável, em toda e qualquer compilação coletiva de estudos individuais, a metodologia e as abordagens adotadas podem divergir entre si, e mesmo as perspectivas analíticas não exibem, necessariamente, unidade conceitual ou uniformidade de propósitos. Estas características não impedem, contudo, o fato de ser esta obra um compêndio útil e oportuno para uma visão abrangente quanto aos fundamentos históricos, o itinerário prático e o funcionamento operacional do bloco mais importante da América do Sul, quiçá do hemisfério sul. Os organizadores lograram realizar um equilíbrio satisfatório entre os temas mais gerais, e conceituais, da primeira parte, e aqueles mais voltados para os aspectos práticos, na segunda parte, a qual transcende, inclusive, o contexto puramente nacional para tecer considerações sobre o contexto regional e as implicações do Mercosul para o desempenho da integração latino-americana, de modo mais amplo. Apropriadamente, a obra se conclui com as interrogações suscetíveis de serem feitas em torno do futuro do Mercosul nos próximos vinte anos, uma perspectiva agora tornada mais aleatória, em função das desventuras do Paraguai e das incertezas legítimas associadas ao ingresso da Venezuela bolivariana no bloco.
No conjunto, os textos aqui compilados oferecem um vasto panorama sobre o Mercosul, em todos os seus estados e em várias de suas dimensões. Particularmente importantes são os capítulos que tratam dos fatos objetivos relativos ao Mercosul, seja no plano comercial, seja no âmbito de seu impacto sobre a diplomacia brasileira ou o funcionamento do sistema de solução de controvérsias. Embora os capítulos conceituais, ou mais especulativos, sejam igualmente relevantes, qualquer empreendimento político coletivo – como é o processo de integração do Mercosul – sempre oferece a possibilidade de interpretações diversas quanto aos seus elementos inerentemente deixados ao arbítrio das decisões políticas (e de sua consideração por acadêmicos trabalhando nesses temas).
Pode-se aderir, por exemplo, à interpretação de que o Mercosul em sua primeira fase era excessivamente comercialista – ou neoliberal, como pretendem alguns – e que sua “correção” de natureza mais política, ou “social” na segunda, ou terceira, fase (ou seja, pós crise dos anos 1999-2002) era não apenas desejável como também necessária. Mas deve-se reconhecer que o que realmente faz diferença, em qualquer processo, são os resultados práticos, ou efetivos, como aumento ou diminuição de comércio, melhoria das condições de produtividade interna e de competitividade externa, criação de mais riqueza e prosperidade para as pessoas comuns (ou seja, mais emprego, maiores salários, e aumento da disponibilidade de bens e serviços de qualidade e a preços convidativos). No caso em espécie, não há como não reconhecer uma transformação do Mercosul e sua passagem de uma vertente econômica e comercial da primeira década – que é, finalmente, a essência do que estava escrito nos seus tratados constitutivos – para suas inclinações mais políticas e sociais da segunda década, sem que se disponha, ainda, de um balanço objetivo quanto aos méritos respectivos de uma e outra abordagem para fins dos objetivos originais do esquema de integração.
O presente livro ajuda a ver mais claro o que foi de fato relevante no Mercosul, nas suas diversas dimensões, nestas duas primeiras décadas e contribui para a construção de uma avaliação ponderada do que foi possível alcançar, ou não, no período decorrido desde sua fundação. Na verdade, a grande pergunta a ser feita, após concluir a leitura deste livro, sobretudo de seus capítulos descritivos e de avaliação, é a de saber se, ao cabo destas primeiras duas décadas, a região meridional e o continente sul-americano encontram-se, atualmente, mais ou menos integrados, em melhores condições sociais e de bem-estar, comparativamente ao quadro anterior, e se o processo de integração contribui, positiva ou negativamente para o atual estado de coisas. Provavelmente vai se descobrir que os laços comerciais, os investimentos recíprocos e os fluxos de serviços e de pessoas se intensificaram e se diversificaram, ao longo do período, mas é também visível que os processos de integração, ou seus projetos institucionais, não caminharam, exatamente, para uma convergência de propósitos ou homogeneidade de procedimentos. Parece claro, por exemplo, que entre a metodologia econômica do Mercosul e a abordagem fundamentalmente política da Alba existem enormes diferenças de visão e de intenções.
O futuro de médio prazo – ou seja, ultrapassada a situação corrente de estagnação, ou longa recessão, nos países desenvolvidos – dirá se o Mercosul continuará como uma grande promessa de integração comercial, caminhando no sentido de seu aprofundamento econômico e reforço institucional, ou se ele vai tornar-se irrelevante, como outros experimentos latino-americanos do passado, que figuram apenas, nos registros históricos, como os precedentes dos processos atuais. Uma visão abrangente do passado recente pode ajudar a ver mais claro nas possibilidades futuras: este livro é um bom começo para esse empreendimento. Tenham bom proveito em sua leitura, como eu tive ao preparar este prefácio.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, agosto de 2012
Blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/11/mercosul-21-anos-prefacio-uma-obra.html

Lula e o comércio internacional - Rolf Kuntz (Estadão)

ESTADÃO
Opinião

Lula entre Jacarta e a luta pelo voto
Num quadro de polarização política, a disputa eleitoral do próximo ano poderá ser mais dura e mais custosa, do que talvez se calcule neste momento

Por Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo, 26/10/2025 | 03h00

O mundo terá de recuar milênios, voltando talvez à fase inicial do comércio entre gregos e fenícios, para ficar ao gosto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guiado em assuntos internacionais por ideias singularíssimas, ele consegue misturar no mesmo discurso a defesa do multilateralismo e a pregação do comércio com moedas emitidas pelos parceiros — ou até sem moedas, como se fazia na aurora da civilização mediterrânea. Essa arenga foi retomada em Jacarta, em cerimônia com o presidente indonésio Prabowo Subianto, na reunião de líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).

Com o fortalecimento da União Europeia e com a crescente importância comercial da China, talvez o sistema de pagamentos evolua para novas formas de operação e para a consolidação de novas moedas de uso global. Mas essas transformações, normalmente complexas, podem ser lentas, envolvem a combinação de interesses variados e muito dificilmente — talvez nunca — se resolverão no interior de grupos como o Brics.

Diverso e formado por países com interesses nem sempre convergentes, o Brics, inicialmente Bric, nasceu como sigla inventada em 2001 pelo economista britânico Jim O’Neill, do Goldman Sachs, para indicar quatro países com grande potencial de crescimento – Brasil, Rússia, Índia e China. O ministro brasileiro Guido Mantega decidiu levar a sério a ideia de um grupo. Os governos dos três outros países simplesmente aceitaram a iniciativa e também concordaram, mais tarde, com a admissão de um quinto participante, a África do Sul. Do nome inglês South Africa veio a letra “s” no final da sigla.

O grupo cresceu, com a adesão de vários países convidados, incluídas nações árabes produtoras de petróleo, e seu associado mais influente é obviamente a China, embora o mais barulhento seja o Brasil. O conjunto pouco tem feito para tornar a ordem global mais cooperativa e mais equitativa. Tem servido principalmente como palanque antiamericano e como afirmação de um poder paralelo ao do capitalismo tradicional, aquele representado principalmente por Estados Unidos, Europa Ocidental e, de modo mais discreto, pelo Japão. O velho capitalismo continua poderoso, seus padrões comerciais se mantêm predominantes e acumular dólares é ainda um objetivo normal na maior parte do mundo avançado, emergente e em desenvolvimento.

Qualquer viajante pode, é claro, desembarcar na Europa com reais, pesos argentinos ou rúpias indonésias, mas só poderá circular, consumir ou investir depois de converter seu dinheiro na moeda local, aceitando uma taxa de câmbio talvez pouco atraente. A mesma limitação ocorrerá se for utilizado um cartão de crédito. Essa restrição dificilmente será eliminada por meio de protestos contra os padrões monetários dominantes.

Além do mais, nem no Brasil a oposição do presidente Lula ao predomínio da moeda americana tem produzido efeitos. Com resultados positivos no intercâmbio internacional, o País detinha no início de outubro reservas avaliadas em US$ 357 bilhões. No mês anterior, correspondiam a US$ 350,8 bilhões. Neste século, o País tem mantido um razoável padrão de segurança cambial, com benefícios dificilmente avaliáveis por quem nunca viveu tempos de crise nas contas externas. Crises desse tipo ainda têm ocorrido, de forma recorrente, na economia argentina, embora o país seja importante exportador de matérias-primas e ocupe uma posição destacada no mercado internacional da carne.

O presidente Lula enfrentou a fase final de uma crise desse tipo em seu primeiro mandato. Conseguiu superá-la sem dificuldades muito grandes porque havia herdado uma situação fiscal e monetária razoável, muito diferente das condições vividas no Brasil nos anos 1980 e em parte da década seguinte.

Na primeira metade do atual mandato, foi mantido um quadro fiscal favorável, graças à gestão prudente das finanças públicas. As contas do poder federal pioraram recentemente, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem procurado evitar uma evolução desastrosa nos próximos anos. O interesse do presidente Lula nas eleições programadas para 2026 tem complicado a ação preventiva do ministro.

A tentação da gastança e das bondades fiscais tende a crescer quando se aproximam eleições. Como o presidente Lula anunciou a intenção de concorrer mais uma vez no próximo ano, parece razoável — sem antecipar um julgamento — dar atenção especial, a partir de agora, ao tratamento das contas públicas. A prudência do ministro Haddad pode ser insuficiente para os cuidados fiscais, se a competição eleitoral afetar a condução do governo e prejudicar a gestão financeira. Vale a pena, também, dar atenção às possíveis tentativas partidárias de influenciar as ações do poder federal.

Num quadro de polarização política, a disputa eleitoral do próximo ano poderá ser mais dura e mais custosa, do que talvez se calcule neste momento. Quem já está no poder, no entanto, parte normalmente de uma situação vantajosa. Isso pode tornar menos necessária uma gastança especial.

O que é uma tirania? Não é difícil entender... - Paulo Roberto de Almeida

O que é uma tirania? Não é difícil entender... 

O conceito de tirania pode causar medo em certas pessoas. No entanto, a compreensão do que seja uma tirania é relativamente simples, para os que desejam apreender a raíz do fenômeno. Por isso mesmo, permito-me repostar uma antiga reflexão a esse respeito, aqui mesmo colocanda, em intenção daqueles mais dubitativos:

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Definições simples: a de uma tirania, por exemplo

Paulo Roberto de Almeida


A diferença entre um governo normal e uma tirania é quando o chefe de governo ignora completamente os órgãos de Estado para mandar e desmandar a seu bel prazer, ou quando decide, por exemplo, massacrar o seu próprio povo, ou outros povos, sem nenhum objetivo concreto, a não ser por puro terror e desejo de vingança pessoal.
Putin é exatamente isso e só isso.
Lula ainda não percebeu?
O que mais seria preciso ocorrer, nessas categorias indignas de qualquer postura civilizada, para que ele e o seu assessor para assuntos internacionais se convençam de que eles estão justamente apoiando um criminoso de guerra, um violador do Direito Internacional, um monstro depravado e sedento de sangue?
O BRICS e o tal de Sul Global ainda não estão convencidos disso?
Onde está a consciência moral, ou simplesmente ética, desses mandatários?

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28/06/2023
Postagem original:
https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/06/definicoes-simples-de-uma-tirania-por.html


Diplomatas Escritores Imortais, João Almino (organizador); lançamento dia 18/11, na ABL

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL) - FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO (FUNAG) apresentam o livro que será lançado na ABL, dia 18 de novembro de 2025:

Diplomatas Escritores Imortais
João Almino (organizador)

Apresentação:
Embaixador Raphael Azeredo, Presidente da Fundação Alexandre de Gusmão
Merval Pereira, Presidente da Academia Brasileira de Letras

1. Introdução: O Itamaraty e a Academia Brasileira de Letras
João Almino

2. Barão do Rio Branco (20/04/1845, Rio de Janeiro; 10/12/1912, Rio de Janeiro)
Luís Claudio Villafañe Gomes Santos

3.Rui Barbosa (5/11/1849, Salvador; 1/03/1923, Petrópolis)
Arno Wehling

4. Joaquim Nabuco (Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo) (19/08/1849, Recife; 17/01/1910, Washington)
Leslie Bethell

5.Aluísio Azevedo (14/04/1857, São Luís; 21/01/1913, Buenos Aires)
Orna Levin

6.Domício da Gama (23/10/1862, Maricá, RJ; 8/11/1925, Rio de Janeiro)
Tereza Cristina França

7. Manuel de Oliveira Lima (25/12/1867, Recife; 24/03/1928, Washington)
Paulo Roberto de Almeida

8. José Pereira da Graça Aranha (21/06/1868, São Luís; 26/01/1931, Rio de Janeiro)
Leonêncio Nossa

9. Carlos Magalhães de Azeredo (7/09/1872, Rio de Janeiro; 4/11/1963, Roma)
Gilberto Araújo

10. João Neves da Fontoura (16/11/1887, Cachoeira do Sul; 31/03/1963, Rio de Janeiro)
Alexandre Morelli

11. Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto (12/03/1898, Santos, SP; 30/05/1963, Paris)
Elvia Bezerra

12. Afonso Arinos de Melo Franco (27/11/1905, Belo Horizonte; 27/08/1990, Rio de Janeiro
Rubens Ricupero

13. João Guimarães Rosa (27/06/1908, Cordisburgo, MG; 19/11/1967, Rio de Janeiro)
Heloisa Vilhena

14. Antonio Houaiss (15/10/1915, Rio de Janeiro; 7/03/1999, Rio de Janeiro)
José Carlos Azeredo

15. Sergio Corrêa da Costa (19/02/1919, Rio de Janeiro; 29/09/2005, Rio de Janeiro)
Rogério Farias

16. João Cabral de Melo Neto (9/01/1920, Recife; 9/10/1999, Rio de Janeiro)
Antonio Carlos Secchin

17. Alberto da Costa e Silva (12/05/1931, São Paulo; 26/11/2023, Rio de Janeiro)
Lilia Schwarcz

18. Sergio Paulo Rouanet (23/02/1934, Rio de Janeiro; 3/07/2022, Rio de Janeiro)
João Almino

19. José Guilherme Merquior (22/04/1941, Rio de Janeiro; 7/01/1991)
João Cezar de Castro Rocha

Brasília: Funag; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2025.

 


Convite: dossiê “Política Externa, Crise do Multilateralismo e Novos Desafios da Ordem Global” - Revista Neiba

Transmito informação recebida de organizadores de um número especial da revista Neiba:

“É com enorme alegria que compartilho que está aberta a chamada de artigos para o dossiê “Política Externa, Crise do Multilateralismo e Novos Desafios da Ordem Global”, a ser publicado em 2026 na Revista Neiba, Cadernos Argentina-Brasil. 📢 
Tenho o privilégio de coordenar essa edição ao lado de Larissa Rosevics (IRID/UFRJ) e Patricia Nasser de Carvalho (UFMG), colegas que admiro profundamente e com quem compartilho o interesse por compreender as transformações em curso na política internacional e seus impactos sobre a política externa dos Estados.
Vivemos um momento de fragmentação crescente da ordem global, em que o protecionismo, as tensões geopolíticas e a crise de legitimidade das instituições multilaterais desafiam as estratégias tradicionais de inserção internacional. Nesse contexto, o dossiê busca reunir contribuições originais, teóricas e empíricas, que analisem como países e coalizões, especialmente do Sul Global, têm respondido a esses novos desafios.

São bem-vindos artigos que abordem temas como:
 🌍 A guerra comercial e suas repercussões sobre a política externa e o comércio internacional;
 🏛️ As crises e reformas do sistema multilateral;
 🤝 As estratégias de países emergentes e as relações Sul-Sul;
 📈 As respostas institucionais e comparativas às novas dinâmicas globais.
O objetivo é ampliar o debate sobre os desafios e as oportunidades da atuação internacional dos Estados em um cenário de reconfiguração das regras do jogo global.
🗓️ O prazo para submissões vai até 23 de março de 2026, diretamente pelo portal da revista

 As diretrizes completas estão disponíveis neste link: https://lnkd.in/dYXhU2Ye

Será um prazer receber trabalhos que dialoguem com essas questões e contribuam para esse debate tão urgente sobre a política externa e o futuro da ordem internacional. 🌐💬
Fernanda Nucci”

sábado, 1 de novembro de 2025

Um retorno (forçado) aos anos 1990? - Paulo Roberto de Almeida

Um retorno (forçado) aos anos 1990?

Lembro perfeitamente da queda do muro de Berlim (outubro de 1989), do golpe contra Gorbachev em Moscou (agosto de 1990) e do fim da União Soviética (em dezembro do mesmo ano). 1991 foi a implosão final no que restava de socialismo no mundo (o que sobrou, Cuba e Coreia do Norte, não tinha a menor importância). 

Estávamos entre Genebra e Montevidéu, mas seguíamos tudo pela CNN internacional, pela qual também seguimos a Operação Tempestade no Deserto e a primeira guerra do Golfo, no início de 1991 (estávamos então viajando entre a Argentina e o Chile). Foi quando constatei o imenso atraso da Argentina nas suas províncias do interior (o que lembrava o Brasil dos anos 1960, ou a Iugoslávia ainda do início dos anos 1980, quando se tinha de pedir a uma telefonista para fazer uma simples ligação internacional, e esperar por algum tempo).

Acompanhei a longa agonia da Rússia nos anos 1990, com imagens de aposentados buscando algo de valor nos lixos de Moscou, se não era uma simplesmente comida. A outrora poderosa Rússia tinha um PIB inferior ao Brasil, e o Ocidente tinha de vir em ajuda para amenizar a transição do socialismo ao capitalismo, que foi feita com muita corrupção e preservação dos oligarcas do velho regime.

Pano sobre as duas décadas seguintes, de lenta e deformada reconstrução, e chegamos à terceira década do século XXI, quando um neoczar empreende a reconquista dos antigos impérios czarista e soviético, tentando “fazer girar para trás a roda da História”, como diria Marx.

Convencido de que força é poder, ele avança sobre os vizinhos, como faziam os déspotas dos anos 1930. Nunca se conformou com a “maior tragédia do século XX”, que tinha sido, para ele, a “dissolução da URSS”.

Ele não aprendeu as lições da História.

A dissolução do império soviético não se deu por nenhuma ofensiva da Otan ou dos paises ocidentais, ao contrário: estes estavam até ajudando os países socialistas, concedendo empréstimos (que nunca foram pagos) e faciltando à cooperação no âmbito da CSCE, a Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (que virou uma organização, com sede em Viena), da OCDE, da UE e da própria Otan. A UE criou o BERD, que passou a financiar a transição. A maior parte dos antigos satélites e “incorporados” ao império (como os balticos) aproveitou o maná e transitou com êxito para a UE e sistemas democráticos de mercado.

Ficaram de fora a Bielorrussia, a Ucrânia e a própria Rússia (não contando as satrapias soviéticas da Ásia central).

Putin, a partir de 2000, tratou de retomar ao sistema conhecido e repressivo da cleptocracia guiada e comandada por ex-kgbistas, como ele, e novos plutocratas bilionários saídos do Ancien Régime soviético.

Parecia que funcionaria, mas a ambição expansionista fez o que se observa agora: Putin conduz seu regime opressivo de volta aos anos 1990. A ironia é que os motivos são os mesmos: economia de guerra.

Nos anos 1980, a URSS fez tilt, deu dois suspiros e depois morreu, em parte devido ao keynesianismo militar produzido por Reagan com seu programa de Guerra nas Estrelas, que a economia soviética não conseguiu acompanhar.

Agora é a economia de guerra a que o Putin obrigou o país com sua guerra de agressão à Ucrânia, que ele esperava “liquidar” em poucas semanas (com base nas informações equivocadas dos novos kgbistas, seus comparsas do FSB e dos generais corruptos). Ele conseguiu liquidar alguns bilionários dissidentes, mas não com a vontade indômita do povo ucraniano e a de seu líder.

Já levou a Rússia aos anos 1990, mas vai conseguir afundá-la ainda mais, pois não sabe mais o que fazer.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1/11/2025


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