O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Alberto da Costa e Silva: um intelectual integro, e completo...

Vejam este video do do programa Espaço Aberto Literatura:
Alberto da Costa e Silva completa 80 anos e lança nova edição de seu livro
(A Enxada e a Lança: a África antes dos portugueses).

http://g1.globo.com/videos/globo-news/espaco-aberto-literatura/v/alberto-da-costa-e-silva-completa-80-anos-e-lanca-nova-edicao-de-seu-livro/1509113/#/Todos

Um intelectual de primeira grandeza, aliás o maior africanista brasileiro.
Um prazer de ver, um prazer de ouvir...

Paulo Roberto de Almeida

Eu quero enriquecer com causa...

Na verdade, não tenho de fato a intenção de ficar rico, podem acreditar. Só quero ter dinheiro suficiente para, nesta ordem: 1) comprar livros; 2) viajar; 3) ir a restaurantes europeus (o que implica o número 2); 4) se sobrar algum juntar os meus livros em alguma biblioteca organizada (as minhas duas atuais estão um caos) e poder ficar lendo numa rede, com serviços adequados.

Ponto. Mas, digo enriquecer com causa porque o ministro da Justiça (!!!???) disse que não é pecado enriquecer com causa, só sem causa.
Pois bem: já que o ministro que enriqueceu com causa deve estar sem tempo, agora, para continuar enriquecendo, com ou sem causa, por causa de seus muitos afazeres e preocupações atuais, eu gostaria que, se ele pudesse claro, ele me passasse alguns de seus clientes de sua fabulosa consultoria, que lhe garantiram pelos menos DEZ MILHÕES DE REAIS (repito, em dólares fica mais fácil de entender: US$ 6 milhões de dólares e uns quebrados, que podem ficar com vocês) em apenas dois meses, para que eu também pudesse ficar um pouquinho rico com causa, e pudesse assim continuar a comprar livros e frequentar restaurantes europeus...
Acho que não custa nada a ele: eu costumo dar bons conselhos, e aposto que conheço mais história e economia do que o ministro com causa (ou sem...).
Paulo Roberto de Almeida

Ministro da Justiça reafirma que PF não vai investigar Palocci
Folha Online, 23/05/2011

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reafirmou nesta segunda-feira que a Polícia Federal não está investigando o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e sua empresa de consultoria, a Projeto.

Reportagem da Folha relevou no sábado que o faturamento da consultoria de Palocci superou os R$ 10 milhões em novembro e dezembro de 2010.

Cardozo não comentou ainda sobre a existência de um relatório investigando Palocci do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que estaria na Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF em São Paulo desde fevereiro.

“Qualquer um desse auditório pode ter o nome citado por essa delegacia”, afirmou o ministro, em evento com policiais federais em São Paulo.

O ministro afirmou que não poderia comentar sobre o relatório porque isso significaria uma quebra de sigilo.

Não é a primeira vez que Cardozo sai em defesa de Palocci. Na sexta-feira, ele disse que “há muita fumaça e poucos fatos apresentados” em relação aos ataques da oposição direcionados ao ministro-chefe da Casa Civil.

Sobre a variação de patrimônio apresentada por Palocci nos últimos anos e o faturamento de sua empresa de consultoria, Cardozo afirmou que “o enriquecimento com causa não é punível no sistema brasileiro, o que é punível é enriquecer sem causa”.

Na semana passada, os partidos de oposição começaram coletar assinaturas para instalar uma CPI no Congresso.

Inconvenient Truths About 'Renewable' Energy - Matt Ridley (WSJ)

MIND & MATTER
Inconvenient Truths About 'Renewable' Energy
By MATT RIDLEY
The Wall Street Journal, 23/05/2011

What does the word "renewable" mean?

Last week the Intergovernmental Panel on Climate Change released a thousand-page report on the future of renewable energy, which it defined as solar, hydro, wind, tidal, wave, geothermal and biomass. These energy sources, said the IPCC, generate about 13.8% of our energy and, if encouraged to grow, could eventually displace most fossil fuel use.

It turns out that the great majority of this energy, 10.2% out of the 13.8% share, comes from biomass, mainly wood (often transformed into charcoal) and dung. Most of the rest is hydro; less than 0.5% of the world's energy comes from wind, tide, wave, solar and geothermal put together. Wood and dung are indeed renewable, in the sense that they reappear as fast as you use them. Or do they? It depends on how fast you use them.

One of the greatest threats to rain forests is the cutting of wood for fuel by impoverished people. Haiti meets about 60% of its energy needs with charcoal produced from forests. Even bakeries, laundries, sugar refineries and rum distilleries run on the stuff. Full marks to renewable Haiti, the harbinger of a sustainable future! Or maybe not: Haiti has felled 98% of its tree cover and counting; it's an ecological disaster compared with its fossil-fuel burning neighbor, the Dominican Republic, whose forest cover is 41% and stable. Haitians are now burning tree roots to make charcoal.

You can likewise question the green and clean credentials of other renewables. The wind may never stop blowing, but the wind industry depends on steel, concrete and rare-earth metals (for the turbine magnets), none of which are renewable. Wind generates 0.2% of the world's energy at present. Assuming that energy needs double in coming decades, we would have to build 100 times as many wind farms as we have today just to get to a paltry 10% from wind. We'd run out of non-renewable places to put them.

You may think I'm splitting hairs. Iron ore for making steel is unlikely to run out any time soon. True, but you can say the same about fossil fuels. The hydrocarbons in the earth's crust amount to more than 500,000 exajoules of energy. (This includes methane clathrates—gas on the ocean floor in solid, ice-like form—which may or may not be accessible as fuel someday.) The whole planet uses about 500 exajoules a year, so there may be a millennium's worth of hydrocarbons left at current rates.

Contrast that with blue whales, cod and passenger pigeons, all of which plainly renew themselves by breeding. But exploiting them caused their populations to collapse or disappear in just a few short decades. It's a startling fact that such "renewable" resources keep running short, while no non-renewable resource has yet run out: not oil, gold, uranium or phosphate. The stone age did not end for lack of stone (a remark often attributed to the former Saudi oil minister Sheikh Ahmed Zaki Yamani).

Guano, a key contributor to 19th-century farming, was renewable fertilizer, made from seabird dung harvested off Peruvian and Namibian islands, but it soon ran out. Modern synthetic fertilizer is made from the air and returns to the air via denitrifying bacteria, yet few would call it a renewable resource. Even fossil fuels are renewable in the sense that they are still being laid down somewhere in the world—not nearly as fast as we use them, of course, but then that's true of Haiti's forests and Newfoundland's cod as well.

And then there is nuclear power. Uranium is not renewable, but plutonium is, in the sense that you can "breed" it in the right kind of reactor. Given how much we dislike plutonium and breeder reactors, it seems that the more renewable nuclear fuel is, the less we like it.

All in all, once you examine it closely, the idea that "renewable" energy is green and clean looks less like a deduction than a superstition.

E voce, leitor, tambem se sente um idiota?

Caro leitor: você concorda com o líder do governo no Senado, ou acha que ele está lhe chamando de idiota?
Eu pelo menos não gosto de ser chamado de idiota.
Não posso, no entanto, fazer absolutamente nada contra isso.
Apenas registrar a tentativa.
E dizer que não concordo...
Paulo Roberto de Almeida

Palocci - “Operação Abafa” agora no Senado; segundo Jucá, ministro já explicou tudinho…
Por Leandro Colon e Mariângela Gallucci, no Estadão Online, 22/5/2011

O governo federal considera esta semana decisiva para conter a crise em torno do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, cobrado a explicar o aumento de seu patrimônio nos últimos anos. A base aliada governista no Congresso estabeleceu como prioridade barrar a tentativa de convocação de Palocci para depor no Senado, ação bem-sucedida na Câmara na semana passada, e impedir que a oposição avance na coleta de assinaturas para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso.

“Essa disputa é um embate político, e o governo vai reagir para não permitir o desgaste do ministro. O Palocci já deu todas as explicações”, afirma o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). A avaliação governista é a de que barrar a convocação de Palocci na Comissão de Fiscalização e Controle, onde a oposição quer levá-lo para dar explicações, e segurar os movimentos pró-CPI seriam um passo político fundamental diante do atual cenário da crise, uma estratégia que não pode levar em conta o surgimento de fatos novos que agravariam a situação.

Na Câmara, o governo trabalhou com tranquilidade para derrotar a oposição. No Senado, o jogo é mais pesado, embora o Palácio do Planalto tenha maioria. A ordem é não dar brechas em comissões, para não repetir episódios passados, em que a oposição aproveitou descuidos da base governista e conseguiu convocar ministros.

Senadores de oposição disseram estar convencidos de que os negócios do ministro são “tráfico de influência”. Os partidos adversários do governo querem que Palocci explique como conseguiu multiplicar seu patrimônio em, pelo menos, 20 vezes num período de quatro anos com sua empresa Projeto Consultoria Econômica e Financeira, que, desde dezembro, atua só no ramo de administração imobiliária para cuidar do apartamento de R$ 6,6 milhões e do escritório de R$ 882 mil comprados em 2009 e 2010 em São Paulo.

Quem diria?: governo do PT privatizou a seguranca nacional!

Pois é: tão avesso às privatizações, tão adepto do papel do Estado em "setores estratégicos", e o governo do PT entrega o controle dos aeroportos a empresas privadas de segurança...

Polícia Federal S/A
Claudio Dantas Sequeira
Revista IstoÉ, 21/05/2011

Para cortar custos e sem ouvir o Congresso, a PF simplesmente transferiu para empresas privadas a responsabilidade de controlar quem entra e quem sai do País
O controle de imigração é feito por funcionários mal remunerados, que trocam de emprego na primeira oportunidade

Quem desembarca no aeroporto internacional de Guarulhos (SP), o mais movimentado do Brasil, acredita que está sendo recebido por treinados agentes da Polícia Federal ao apresentar seus passaportes para entrar oficialmente no País. Mas, na verdade, os funcionários que checam e carimbam os documentos de viagem, fazem entrevistas de imigração e vistoriam bagagem em busca de drogas e armas são pessoas comuns, funcionários de uma empresa privada, sem nenhum treinamento ou compromisso com a defesa da soberania do Estado. O caso de Guarulhos não é uma exceção. Hoje, empresas prestadoras de serviço dominam o controle imigratório nos aeroportos, portos e até postos de fronteira. Parece óbvio, mas entregar a terceiros a fiscalização de quem entra ou sai do País é temerário e põe em risco à segurança nacional. A fiscalização deficiente é o paraíso para traficantes, imigrantes ilegais, criminosos procurados pela Interpol e terroristas, que podem transitar livremente por aqui sem que as autoridades de plantão tomem conhecimento. Enquanto o resto do mundo está debruçado em soluções para reforçar a segurança de suas fronteiras, por aqui o governo terceiriza o controle de passaportes e imigração nos aeroportos, uma atividade que nunca deveria ter saído das mãos da Polícia Federal. Hoje, estima-se que a PF gaste mais de R$ 100 milhões para transferir a responsabilidade a empresas privadas de um serviço que deveria ser executado por ela de acordo com a Constituição Brasileira.

O processo de loteamento de áreas estratégicas começou há quatro anos, sem que houvesse o necessário debate pelo Congresso, pela sociedade e contra parecer da própria Polícia Federal. Mais grave: era para ser uma solução provisória, como explica à ISTOÉ o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul. “Sempre defendi que isso só se justifica como provisoriedade”, afirma Genro. Mas, no Brasil, o que é provisório com frequência se torna permanente. O problema é que Tarso Genro havia sido informado das consequências da terceirização. Um relatório interno da PF, obtido por ISTOÉ, revela que repassar a empresas privadas tais atividades era a última das opções para reduzir o gargalo provocado pelo crescimento exponencial de passageiros. “É de longe a hipótese mais controversa de todas e esbarra em sérios problemas de ordem legal”, concluiu a delegada Silvane Mendes Gouvêa, presidente da comissão. Em ordem de prioridade, o MJ poderia aumentar o contingente policial ou passar o controle migratório para as mãos de servidores administrativos da própria PF. O documento, de 37 páginas, com cinco anexos, listou uma série de critérios que deveriam ser adotados em caso de se decidir pela terceirização. Por exemplo, para cada três terceirizados deveria haver ao menos um policial como supervisor.

Mas o que se vê hoje é um descontrole total. Em alguns aeroportos, como o Tom Jobim, no Rio de Janeiro, cada agente da PF precisa monitorar o trabalho de até dez terceirizados. A média nos terminais terceirizados é de um policial para cada sete funcionários privados. Na Tríplice Fronteira, entre Paraguai e Argentina, há 103 funcionários terceirizados para um total de 15 agentes federais. Eles fiscalizam tudo que passa na Ponte Internacional da Amizade e na Ponte Tancredo Neves. Também são responsáveis pela emissão de passaporte e controle de raio X.

Os funcionários terceirizados geralmente encaram o serviço como um bico. Ganham pouco mais que um salário mínimo e logo que conseguem algo melhor abandonam o posto. “Trabalhei seis meses na Ultraseg, em Guarulhos. Foi meu primeiro emprego”, afirma Domênica Duarte, 22 anos. O resultado é uma rotatividade altíssima que impede a qualificação desses profissionais. E a maioria das terceirizadas são empresas de mão de obra de serviços gerais, algumas sem nenhuma relação com a atividade de controle migratório. “Essas empresas fecham contratos milionários, dão calote nos funcionários e depois desaparecem”, afirma o presidente do Sindicato dos Servidores da PF no Rio de Janeiro, Telmo Correa. Funcionários contaram à ISTOÉ que a PF paga às terceirizadas R$ 3,5 mil por contratado, mas o funcionário recebe no máximo R$ 800.

Uma dessas fornecedoras de mão de obra, a Visual Locação, Serviço e Construção Civil, dos sócios Herbert de Ávila e Alessandro Fagundes, simplesmente sumiu do mapa. No ano passado, a empresa embolsou mais de R$ 33 milhões do governo federal, dos quais R$ 2,7 milhões foram destinados ao pagamento de terceirizados no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio. ISTOÉ esteve em dois endereços registrados em nome da Visual em cidades-satélites de Brasília. O escritório num velho sobrado foi abandonado há dois meses. O corretor, que pediu anonimato, diz que Herbert “não pagou o aluguel, trocou os telefones e desapareceu”. A outra “sede” da empresa fica numa casa sem reboco em área da periferia que integra o programa de incentivos fiscais do governo do Distrito Federal. Apesar do muro alto que cerca o local, pode-se ver a placa com o nome da empresa jogada num canto, enferrujada. “Há duas semanas não aparece ninguém aí”, conta um vizinho.

SIGILO
Funcionários privados que trabalham na emissão de passaportes têm acesso ao Sistema de Informações da Polícia Federal

O caso da Visual não é exceção. A Cosejes, responsável pela emissão de passaporte, embolsou o dinheiro do governo, deu calote nos funcionários e fechou as portas. “Um dia eles não depositaram. Ligamos para a empresa no Ceará e ninguém atendeu. Fomos à filial aqui em São Paulo e já não havia ninguém”, conta Alyne Scirre, 23 anos. A ex-funcionária diz que foi censurada pelos próprios policiais. “Diziam que a gente estava chorando por miséria e que o dono da Cosejes era delegado de polícia”, afirmou.

Outro problema é que as empresas terceirizadas não preenchem todos os postos de trabalho, explica o diretor de relações de trabalho da Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef), Francisco Sabino. “Em Guarulhos, a empresa que assumiu os guichês da PF em janeiro contratou 120 pessoas e não completou a cota de 200 funcionários. Por causa do acúmulo de trabalho e dos salários baixos, os terceirizados já pensam em entrar em greve”, afirma Sabino. Ele se refere à empresa SkyServ Locação de Mão de Obra Ltda., que assinou com a Superintendência da PF em São Paulo um contrato de R$ 5,9 milhões para prestar serviços neste ano. Quase a totalidade dessas empresas, aliás, torna-se alvo de ações trabalhistas na Justiça. Acontece que os funcionários são normalmente contratados como recepcionistas ou digitadores, mas acabam exercendo funções de polícia. “Éramos registrados na carteira como recepcionista. Mas fazíamos todo o trabalho de confecção do passaporte”, relata Alyne Scirre. E confirma que tinha acesso a informações particulares no banco de dados da PF. “O trabalho é todo feito por nós. Os policiais nem precisam assinar”, diz. Dentre as atividades que Alyne exercia estão o cadastramento dos dados do requerente no sistema da PF, o envio das informações para a Casa da Moeda e a verificação do documento final. Uma responsabilidade grande demais para quem dava os primeiros passos no mercado de trabalho.

SILÊNCIO
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não quis se manifestar sobre a terceirização na PF

Não bastassem os problemas de ordem prática, a terceirização também enfrenta impedimentos legais. O relatório da Polícia Federal, que passou pelas mãos de Tarso Genro e do então diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, é claro: “Em razão de a atividade de fiscalização migratória doutrinariamente enquadrar-se no exercício do poder de polícia pelo Estado, ela é por natureza indelegável. Com isso deve ser executada por servidores efetivos do Departamento de Polícia Federal.” O advogado Luiz Carlos Cavalcanti, especialista em direito constitucional e autor de um estudo sobre o caso, explica que o controle de imigração é um trabalho complexo e altamente especializado. “A habilitação do agente da PF se dá através do estudo de uma disciplina específica denominada polícia marítima aeroportuária e de fronteiras, inserida na grade curricular do curso de formação profissional. A matéria é eliminatória”, afirma Cavalcanti. Se o policial for reprovado nesta disciplina, é imediatamente desligado do curso de formação profissional e do concurso público para agente da PF. O especialista lembra que um policial federal é submetido a investigação social para entrar na carreira, segue regime disciplinar específico e responde a uma corregedoria. Já os terceirizados não estão submetidos a nenhum tipo de controle. “Ninguém sabe de onde vêm e para onde vão esses funcionários. Eles não têm nenhum comprometimento com a instituição”, afirma o diretor da Fenapef, Francisco Sabino.

“Do jeito que está qualquer um pode embarcar com passaporte falso. Os terceirizados não sabem a diferença entre um imigrante ilegal, um padre ou uma mula do narcotráfico”, afirma Telmo Corrêa, do sindicato da PF. Agente por formação, ele lembra que a atividade de fiscalização imigratória foi confiada pela Constituição, em seu artigo 144, “de maneira inequívoca” ao Departamento de Polícia Federal. E acrescenta um dado surpreendente nessa complexa equação. Com a realização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, as empresas americanas e inglesas querem entrar no lugar das terceirizadas nacionais e assumir o controle da nossa imigração. “É um absurdo. Uma ameaça à nossa soberania”, avalia Telmo.

CEGO
Nem o controle de raio X nos aeroportos está sob responsabilidade da PF, como determina a legislação

Esse risco não existiria se Genro e Corrêa tivessem escutado as recomendações da comissão da PF. A saída para os gargalos nos aeroportos era de fácil execução, como consta do relatório. “A contratação de mais policiais é a solução que resolve mais rapidamente o problema do controle migratório, uma vez que não haveria necessidade de mudança na rotina de fiscalização”, dizem os delegados no documento. A demanda por mais policiais seria atendida com recém-formados pela Academia Nacional de Polícia. Segundo levantamento da própria PF, bastaria a contratação de mais 181 policiais para atuar nos aeroportos do Rio e de São Paulo. Naquele ano, a academia formou 210 policiais, o suficiente para dar conta do recado. Entretanto, a cúpula da PF optou pelo caminho da terceirização, alegando que os policiais são uma mão de obra qualificada demais para a execução de serviços burocráticos.

Fontes da PF afirmam que Luiz Fernando Corrêa pressionou a comissão para que concluísse o relatório a seu gosto. Em vários trechos do relatório da PF, é citada a informação de que “o Ministério da Justiça estaria disposto a fornecer recursos para a contratação de terceirizados”. Na conclusão, o grupo de delegados ressalta que “não sendo escolhida pela direção-geral a alternativa de dotar com lotação efetiva de policiais os aeroportos”, o problema só poderia ser resolvido com a terceirização. O documento subsidiou a medida provisória que alterou a Lei 8.745/93 e abriu as portas para a privatização do controle migratório. Procurado por ISTOÉ, o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não se manifestou sobre o assunto. Coube ao diretor-executivo da PF, Paulo de Tarso Teixeira, fazer a defesa da instituição. “Os policiais continuam sendo responsáveis pelo controle migratório. Não houve transferência de competência da PF para ninguém”, garante Teixeira. Transferência houve. O trabalho da PF nos aeroportos foi privatizado. Mas em nada aliviou o transtorno vivido pelos brasileiros no agendamento a perder de vista da emissão de passaporte e nas longas filas de desembarque de passageiros.

Angus Maddison: um grande economista, e historiador

Minha homenagem a um economista que já me deu régua e compasso, ou seja, dados preciosos para minhas análises de longo prazo sobre crescimento econômico, inserção internacional, etc.
Uma amostra de sua página:

Angus Maddison 1926 - 2010
Angus Maddison was a world scholar on quantitative macroeconomic history, including the measurement and analysis of economic growth and development. He was professor at the University of Groningen from 1978 to 1997, and a founder of the Groningen Growth and Development Center.
This website provides access to major parts of Angus’ work as well as to new work that is being conducted in his spirit.

Original Homepage Angus Maddison– this page was kept up to date until Angus passed away in April 2010. It provides access to his latest writings and data series.

The Maddison Project – in March 2010, was launched by a group of close colleagues of Angus Maddison, with the aim to support an effective way of cooperation between scholars to continue Maddison’s work on measuring economic performance for different regions, time periods and subtopics.

Memorial Conference for Angus Maddison, 6-7 November, Amsterdam – about 70 close colleagues, friends and family of Angus gathered in Amsterdam to celebrate Angus’ work and life.

Angus Maddison: Memories of the Life of a Chiffrephile
By Bart van Ark

domingo, 22 de maio de 2011

Quem ama os seus, os corruptos protege...

Pena mais dura para riqueza ilícita empaca no Congresso
Fernanda Odilla
Folha de S.Paulo, 22/05/2011

Estão parados há mais de um ano no Congresso projetos que o próprio governo federal apresentou para impor penas severas a funcionários públicos com evolução patrimonial suspeita e empresas envolvidas em corrupção. Um dos projetos transforma em crime o enriquecimento ilícito de funcionários públicos. Foi preparado pelo ex-chefe da CGU (Controladoria-Geral da União) Waldir Pires e enviado ao Congresso pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005. A Lei de Improbidade Administrativa, única que trata do tema atualmente, define o enriquecimento ilícito como a obtenção de vantagem patrimonial indevida em razão do cargo, mandato ou função pública. A lei prevê sanções como a demissão e a suspensão de direitos políticos.

O projeto que está na Câmara transforma a evolução patrimonial sem justificativa num artigo do Código Penal, com pena de três a oito anos de prisão, mesmo nos casos em que não for comprovado dano ao patrimônio público. Se o projeto tivesse sido aprovado, casos como o do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, poderiam ser analisados sob a ótica de uma lei mais rigorosa. O ministro comprou um apartamento de luxo e um escritório em São Paulo com os rendimentos de sua empresa de consultoria, que faturou R$ 20 milhões no ano passado. Palocci nega ter cometido irregularidades na condução de seus negócios privados. Integrantes de órgãos de controle interno do governo já perderam as esperanças de que o projeto que criminaliza o enriquecimento ilícito seja aprovado. Ele passou pelas comissões da Câmara e está pronto para ser apreciado no plenário desde 2007, mas nunca entrou na pauta.

Outro projeto que não foi longe no Congresso Nacional propõe aplicar a empresas envolvidas com corrupção multas equivalentes a até 30% do faturamento. A proposta foi elaborada pelo Ministério da Justiça em conjunto com a CGU e a AGU (Advocacia-Geral da União). A ideia do projeto é reforçar sanções de caráter administrativo para inibir a participação das empresas em esquemas de corrupção. “Não tem como colocar uma empresa na cadeia”, afirma o chefe da AGU, Luís Adams. Lula enviou o projeto ao Congresso em fevereiro do ano passado. Na Câmara, decidiu-se que a proposta deveria ser analisada por uma comissão especial, mas ela não foi criada até agora.

Vocacional: uma experiencia unica no sistema educacional brasileiro

Fiz parte da primeira (logo abortada) experiência de ensino integral e vocacional na história da educação braileira: eram cinco no estado de S.Paulo, e o meu era o Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha, no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo (entre 1962 e 1965), mas a experiência foi encerrada como subversiva pelo regime militar em 1969
Abaixo uma matéria da FSP, de 2002, sobre o ensino vocacional:
Paulo Roberto de Almeida

O velho vocacional ensina de novo a aprende
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo, 23/07/2002

Mais uma vítima do regime militar, o ensino vocacional -um dos mais ousados conceitos pedagógicos implantados no Brasil- está de novo nas salas de aula. Criados em 1962, os ginásios vocacionais deixaram de existir no início da fase mais violenta do regime, em dezembro de 1969, um ano após o AI-5, quando pensar por conta própria e questionar valores vigentes viraram sinônimo de subversão.
Áurea Sigrist de Toledo Piza acompanha seus alunos durante estudo do meio no bosque do Instituto Lumen Verbi

Agora, 40 anos depois, as idéias do Vocacional retornam em uma série de iniciativas de ex-alunos, ex-professores e pesquisadores que, inconformados com o fim prematuro da experiência, tratam de revivê-la. Há pelo menos uma dúzia de teses, já escritas ou em andamento, relatando essa "aventura pedagógica". Um grupo planeja ressuscitar o colégio em Paulínia (interior de São Paulo). E, em várias escolas particulares, é possível sentir traços da herança do Vocacional.

A história é típica do período em que o programa se desenvolveu. De um lado, o ideal libertário; de outro, a repressão. O curso, que deveria se estender por toda a rede pública de São Paulo, nunca passou de seis unidades espalhadas pelo Estado.

No final do ano letivo de 1969, os personagens foram obrigados a se dispersar. Professores foram presos nas salas, e os alunos, mandados para casa. Documentos tomados nessas ocupações nunca mais foram achados.

Destruída a memória, educadores se apegam hoje a depoimentos, lembranças e ao pouco que restou dos cursos para mapear os ensinamentos do Vocacional e resgatar seus valores.

É preciso, desde já, desfazer uma confusão sobre o Vocacional. Induzido ao erro pelo nome, muito leigo tende a achar que 'vocacional" tem a ver com "vocação", no sentido mais estrito do termo, que remete para a idéia prática de encaminhamento do aluno para uma opção profissional. Nada poderia ser mais distante do sentido dessa pedagogia.

Uma das ferramentas que distinguia o Vocacional era a integração das disciplinas em torno de um problema ou de uma plataforma central. Se hoje isso soa comum para quem está a par da pedagogia contemporânea, na época era revolucionário.

Eram escolhidos temas bimestrais: uma terceira série ginasial da unidade de Rio Claro estudou, por exemplo, se a "diversidade regional é compatível com o Brasil unido". O objetivo era discutir democracia, diferenças, reconhecer o esforço para manter a união, além de desenvolver a capacidade de observação analítica/crítica.

Foram desenvolvidos trabalhos sobre o ciclo do ouro em Minas Gerais, sobre o arcadismo, as obras de Portinari, o folclore presente na música brasileira, o banco nacional, e até na educação física foram estudadas as confederações e federações esportivas.

O conceito mais associado ao Vocacional talvez seja o de "aprender a aprender". O estudante conduzia suas pesquisas, valendo-se sobretudo das bibliotecas não se usavam livros didáticos. A pesquisa começava dirigida pelo professor, que mais tarde se limitava a supervisioná-la. Depois, o trabalho era livre.

A maior contribuição pedagógica do Vocacional, porém, é o método do estudo do meio em que vive o estudante. Num universo que se amplia em círculos concêntricos, os alunos começam estudando a própria comunidade. O país e o mundo vêm depois, permitindo a descoberta gradual da realidade.

O estudo do meio é o elo que mantém as disciplinas ligadas à realidade exterior e ao mundo acadêmico. "Os militares achavam subversivo, porque os alunos aprendiam a realidade como ela é, não aquela que eles mostravam como ideal", afirma Cecília Vasconcellos de Lacerda Guaraná, orientadora e diretora de três ginásios vocacionais.

Os estudos do meio não cabiam num gabarito único pela simples razão de que o meio varia a cada região, a cada bairro. Em Americana, os alunos do primeiro ano estudaram a industrialização rápida da cidade. Já os de Batatais concentraram-se nos problemas de um município agrícola. Quanto aos de São Paulo, no Brooklin, analisaram as múltiplas faces de um bairro de classe média metropolitano.

No segundo ano, o objeto de estudo foi o Estado. No terceiro, o país. Grupos de estudantes viajaram para o Rio, num percurso que incluía a pesquisa do Vale do Paraíba e a siderúrgica de Volta Redonda. Outros foram para as cidades históricas de Minas.

O cenário do quarto ano era o mundo, ou as fronteiras mais próximas dos vizinhos sul-americanos. De todos os colégios, só uma turma chegou a ir até a Bolívia. Os projetos de contato com outros países foram impedidos ou dificultados pelos militares.

"O estudo do meio era um grande veio de pesquisa por uma abordagem marxista, partindo dos ciclos econômicos, do ouro, do café, da indústria", explica Moacyr da Silva, coordenador de pesquisa e pós-graduação das Faculdades Oswaldo Cruz, que foi professor do Vocacional em 1969 e 1970.

Em sua tese, Silva recupera outro diferencial daquele sistema de ensino, a formação continuada do professor na própria escola. "O governo hoje tem gasto muito dinheiro no treinamento de professores, afastando-os da realidade em que vivem e daquela em que vão atuar", critica.

A primeira turma de professores do Vocacional fez estágio no colégio de Socorro, interior de São Paulo, uma das escolas experimentais de maior sucesso na época. "Quando fui obrigado a sair do Vocacional e fui para a USP do período militar, percebi que estava regredindo do século 21 para a Idade Média", conta Newton Cesar Balzan, que fez parte da turma pioneira em Socorro.

"Mesmo nos EUA, onde uma iniciativa monitorada pela Universidade Harvard manteve escolas experimentais em sete Estados, nada foi feito que se compare ao Vocacional", afirma Balzan, que hoje é professor na PUC-Campinas.

Balzan destaca outro diferencial desse projeto, que acabou causando atritos com autoridades e políticos: a "socialização das vagas". Em 1961, antes do início da primeira turma, pesquisas foram feitas em Americana, Batatais e na região do Brooklin, onde ficava a unidade de São Paulo. "Quando começamos as aulas, sabíamos quantas horas dormiam, o que comiam e o que liam as crianças dessas comunidades."

A seleção, que incluía entrevista com os alunos e os pais, reproduzia na classe a mesma composição socioeconômica da comunidade. Se um terço dos moradores da cidade eram operários, um terço dos alunos seriam filhos de operários.

Com o sucesso do Vocacional, a unidade do Brooklin chegou a ter 2.000 candidatos para 120 vagas. No exame geral, os candidatos das classes A e B, que representavam 19% nos bairros do entorno, ocupariam mais de 30% da faixa de aprovados, mas a proporção do bairro foi mantida. "A socialização não agradou aos políticos e houve confusão", lembra Balzan.

Entre os ex-alunos, o fascínio pelo Vocacional também persiste. "Foi um processo mais importante para mim que o da universidade. Minha visão de mundo e da realidade social foi construída ali", diz a pró-reitora da PUC-Campinas Carmen Lavras, que fez parte da única turma que completou o colegial do Vocacional, em 1970.

"O Vocacional é sempre visto pelo seu compromisso com o social, o comunitário, mas foram as artes que me educaram para a sensibilidade. Pelas mãos dos professores, nós participamos do teatro de Arena, do Oficina, das bienais, do Masp, estivemos no Estadão, na Folha", lembra Carmen, que é médica sanitarista.

"A proposta era projetar a criança para o mundo", diz Áurea Sigrist de Toledo Piza, que foi orientadora pedagógica e diretora do Vocacional até 1969.

Áurea e o marido passaram os últimos seis anos reunindo fundos para a construção de um "novo vocacional". No próximo dia 31 de agosto, ela e três outros ex-professores do Vocacional inauguram o Instituto Lumen Verbi de Educação e Cultura, em Paulínia, na região de Campinas.

A escola funciona provisoriamente desde o início do ano formando o que ela chama de "base" para o Vocacional. "Os alunos que saem hoje das quatro primeiras séries, que correspondiam ao primário, têm um nível muito inferior ao dos alunos dos anos 60. Eles precisam de uma base", diz.

Para manter os estudantes em período integral, com um currículo que inclui línguas, música, dança e até capoeira, a escola está cobrando cerca de R$ 400, na média.. "A idéia é que pais que podem mais cubram a diferença dos que podem menos", diz Áurea.

Também um "órfão" do Vocacional, o ex-aluno Ary Meirelles Jacobucci escreveu uma "breve etnografia" do ginásio de Americana. O livro faz, no título, uma pergunta que ficou sem resposta para todos que viveram aquela experiência: "Revolucionou e acabou?". Se foi tão bom, por que foi tão esquecido? E seria possível acrescentar outra ainda: "O Vocacional faria sentido hoje em dia?".

A pedagoga Ângela Rabello Maciel de Barros Tamberlini, que escreveu uma tese sobre os Vocacionais, acha que um projeto desse tipo seria importantíssimo na rede pública. "Na atual conjuntura de violência extrema, pesquisas mostram que as escolas em que há interação com a comunidade são as mais preservadas. E os Vocacionais tinham esse objetivo."

Ela afirma que o projeto tinha uma interação forte com a história da época e que "readaptações teriam de ser feitas". "Outra questão é a da desconstrução do público, do Estado, a exacerbação do individualismo. O ensino vocacional seria uma forma de resgatar esses valores", acredita.

A questão do custo foi uma das principais críticas aos Vocacionais. Setores da esquerda alegavam que o objetivo deveria ser a ampliação do acesso à educação, e que torná-la mais cara dificultaria o processo.

Os defensores dos Vocacionais diziam que a ampliação deveria ocorrer, mas com qualidade. "Em relação ao que se gasta com a educação no Brasil, é um projeto caro. O ginásio vocacional de São Caetano já foi de meio período, de forma a baratear. Uma idéia era a de parcerias, envolver os pais e a comunidade, mutirões. Mas era outra época. Foi lindo porque as pessoas acreditavam nos seus ideais. Os professores trabalhavam em período integral e passavam o final de semana com a comunidade", conta Ângela.

Colaborou Alexandra Ozorio de Almeida, da Folha de S.Paulo

Acautele-se, leitor consumidor: estao construindo um pacto contra voce...

Eu chamo isso de "pacto perverso".
Ou seja, se trata de um complô contra os interesses da maioria da população, perpetrados contra ela, e em seu detrimento e desconhecimento, alegando justamente que o pacto perverso está sendo feito para proteger emprego, renda, o mercado interno, os interesses nacionais.
Não é nada disso: se trata apenas de um pacto para escalpelar os clientes consumidores, se quisermos, feito para extrair renda dos brasileiros, em benefício de duas categorias que sempre complotaram contra o interesse público.
Estou falando de um pacto entre sindicato de patrões e um sindicato de ladrões, ops, me enganei, de trabalhadores, embora eu considere que os ladrões estejam de fato no primeiro grupo. Os segundos são apenas os operários industriais, neste caso representado pela máfia sindical, que diz pretender agir em benefício dos segundos, ou seja, dos trabalhadores industriais, confundindo-os com a sociedade em geral.

Leio na imprensa de sexta-feira, 20 de maio de 2011, esta notícia:

Fiesp e centrais negociam pacto pró-indústria
Subtítulo: Entidades vão chamar o governo para fechar um acordo que combata a desindustrialização

Pois é, caro leitor: quando conseguirem fechar esse acordo, pode ter certeza de que você vai pagar por isto, e caro, direta e indiretamente.
Primeiro, os produtos vão ficar mais caros, pois vão dispor de mais proteção, o que significa que os industriais da Fiesp vão poder cobrar mais por eles, com tarifas altas e outras medidas de defesa comercial.
Depois, os industriais vão ter mais créditos (dinheiro público, eventualmente via BNDES), já que eles alegarão que precisam de dinheiro barato para investir.
No longo prazo, a indústria nacional vai ficar ainda mais defasada em relação aos níveis de competitividade internacional, e terá de pedir mais proteção.
Em última instância, caro leitor, você pagará por isto, direta e indiretamente: consumindo produtos mais caros (e nem por isso melhores do que a concorrência estrangeira, afastada, porém, por causa da alta proteção concedida, o que também o prejudicará no futuro) e subsidiando, via impostos e receitas públicas transferências de renda (do seu bolso) para quem já é rico, ou seja, os industriais "nacionais" (reunidos na Fiesp e na CNI).

Esse é o mesmo tipo de pacto perverso que levou a Argentina à decadência -- da qual ela ainda não saiu, diga-se de passagem, via peronismo e outros governos -- e que também conduziu a Grã-Bretanha a uma decadência de décadas, até o processo ser revertido graças à coragem de Margareth Tatcher. Na Grã-Bretanha, o pacto perverso se dava entre a TUC, de um lado (a Trade Union Congress, a CUT deles), e o Labour, de outro, o Partido Trabalhista, que quando estava no poder impulsionava medidas que protegessem os trabalhadores e patrões locais, em detrimento da concorrência e, portanto, dos consumidores britânicos.

Portanto, fique sabendo, caro leitor: quando conseguirem anunciar triunfalmente que patrões e trabalhadores, com o beneplácito do Estado, conseguiram conquistar o seu pacto, eles vão enfiar a mão no seu bolso, para transferir renda compulsoriamente para os seus próprios bolsos.
Estamos a caminho da decadência econômica e da perversão moral, apresentada como virtude.

Pelo menos a mim, não me enganam...

Paulo Roberto de Almeida

Kissinger on China: talk with Simon Schama - Financial Times

O velho realista cínico ataca outra vez.
Sem ter lido, ousaria afirmar que seu livro é uma coleção de banalidades.
Ele apenas quer servir de intermediário (para qualquer coisa), continuar influente, continuar sendo ouvido, e se possível ganhar algum dinheiro com isso.
Não creio que ele tenha algo de verdadeiramente relevante a dizer sobre a China...
Mas, eu sou um cético, claro, e acho Kissinger um velho safado (quando ele era jovem já era safado, e cínico...)
Paulo Roberto de Almeida

FT MAGAZINE
Henry Kissinger talks to Simon Schama
By Simon Schama
Financial Times, May 20 2011

Simon Schama with Kissinger in the offices of Kissinger Associates, New York
To whom should we look for guidance, in the toils of our Afghan perplexities? Well, obviously, the Duke of Wellington. So at any rate Henry Kissinger thinks. Don’t go imagining this has anything to do with the Indian empire, either. Ten minutes into our conversation he remarked that policymakers should be thinking … Belgium. Yes, Belgium. Pausing for a moment between observations delivered with a rumble so basso that it automatically sounds ¬profundo, the Doctor waited to see if the history professor would get it.
And suddenly I sort of did. Never mind the weird vision of the Hindu Kush relocated to the Flemish mud, both have been states that have never quite been made; theatres of contending languages and faiths, doormats for unscrupulous neighbours – the Scheldt! the Meuse! Waziristan! “Throughout the 18th century and earlier,” Kissinger resumes, like a patient tutor, “armies had marched up and down through Flanders.” As indeed they had, triggering appalling, endless wars. What was Wellington’s answer, at the dawn of Belgian independence in the early 19th century? Internationally agreed neutrality. “It lasted for 80 years.” We should be so lucky, the Doctor implies, with Afghanistan.
At 87, Henry Kissinger, who has an epic and, in some places, surprisingly moving book out on China, is history, but certainly not in the sense of past and gone. Quite the opposite. In his office at Kissinger Associates in midtown Manhattan, he invites me to sit on his left, advising that one eye no longer works as well as it should. But there is precious little evidence of much other infirmity. The wavy hair is snowy, the broad face is more lined but the analytical mind is still razor-keen, delivering serial judgments at a steadily thoughtful pace; the reflections of an old magus, Yoda rescripted by Machiavelli. Kissinger lives, technically, in Manhattan and Connecticut but his real abode seems to be in a Parnassus of classical statecraft, where, on a daily basis, Bismarck tips his hat to Metternich while a somnolent Talleyrand, from beneath powdered wig, winks knowingly at Zhou Enlai.

On the fall-out from Afghanistan: ‘An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,’ he says, his voice a deep pond of calm
There are good and not so good aspects of this lofty perch from which he surveys the panorama of national foibles. On the one hand, the Olympian prospect enables Kissinger to see the bigger picture. On the other hand, a lifetime’s immersion in the studious formalities of official business, the diplomatic obligation of wariness, has planed his conversation smooth of the knots and scuffs of the human condition. In the China book, though, human reality is very much present in his warts-and-all portraits of Mao and Zhou, Deng and Ziang Zemin. Kissinger chuckles deeply, as if gargling with pebbles, when he remembers the aged Mao, not going gentle, declaring theatrically that “God will not want me,” or insisting that he wanted to be “cursed”, to prove that even at the end he was imperially potent enough to provoke fear and rage.
I have tried my best not to like Henry Kissinger for the usual Nixon-Cambodia-Chile reasons, but more than once I’ve been comprehensively disarmed. Seventeen years ago I was assigned the review of his book Diplomacy, which I anticipated would be an eye-opener about the culture of the craft; the ways in which momentous decisions can turn on picayune matters of ostensibly trivial protocol. I had in mind the lengthy debate, at once absurd and weighty, over the shape of the table in the Vietnam peace talks in Paris. Were there not telegrams whose poor wording triggered disaster? Cocktail party fiascos that had turned into international incidents? Instead, Diplomacy turned out to be a fairly conventional but elegant narrative of 19th-century foreign policy; the statecraft of the grandees of European power. In its way it was just fine: often illuminating, especially about Bismarck, on whom Kissinger had done much research at Harvard, and the 1815 Congress of Vienna, which had been the centrepiece of his A World Restored, still the best thing on its subject. I said as much in the review, while regretting the missing sociology of diplomatic practice.
A week or so after the review appeared the phone rang. The courteous voice was deep, dark and German. Oh sure, I thought. Two days earlier a mischievous friend had impersonated Kissinger on the phone convincingly enough to dupe me into believing I was being berated for the review, before I got wise to the trick. When a second call came, I was on the verge of answering with my own, pretty good, Nixon impression before realising, in the nick of time, that this was, in fact, the actual Doctor, expressing a polite mystification about the sort of book I had wanted him to write and asking me if I would consider explaining more fully in person? After the deep breath I thought, hell, why not? At the front door of his apartment, I told myself: this might be a bad idea, but it was too late. With one hand Kissinger (rather than the expected Manhattan flunky) hospitably opened the door and – this was the moment of disarmament – with the other dropped a dog biscuit into the open and appreciative mouth of a floppy hound. Wars have been averted with less.
Disconcertingly, nearly 20 years later, Kissinger remembered the incident (his memory remains prodigious), continuing the Schama-Disarmament programme by telling me that he’d tried to incorporate some of the insights I had wanted in his new China book. Caught off balance by the light touch of the flattery, I recalled that I had indeed noticed passages that dealt with the display of Chinese power as a kind of cultural performance: the banquets, the toasts, the exquisite calibration, inherited from imperial precedents, as to how and when foreign envoys might be admitted to an audience with The Chairman. Without this shrewd attentiveness to what he nails as “hospitality as an aspect of strategy” Kissinger believes the opening to China might never have happened; and the world would be a very different place.
The China book, then, is different from anything Kissinger has hitherto essayed in print: a journey towards cultural empathy by two powers that seemed, at the outset, prohibitively ill-equipped to acquire that knowledge. Looking at Nixon and Mao, listening to their utterances, they should have been the oddest of odd couples. But paving the way for the “quasi-alliance” were Kissinger and Zhou Enlai, and the heart of the book is the story of their personal rapprochement, born of a mutual effort to understand an alien and incomprehensible culture.
. . .

On setting off for his first meeting with Zhou Enlai: ‘Nobody sat down and said, “Now you really ought to understand how the Chinese think”’
But then, of course, the first alien and incomprehensible culture that Henry Kissinger had to negotiate was that of the United States of America. He was already 15 when his family arrived in New York in 1938, fleeing the Nazi Reich. There were ways and communities to ease the shock: a lively crowd of German-Jewish expatriates on the Upper West Side; the stammtisch by the Hudson; the cosmopolitan City University of New York and then the band of military intelligence interpreters, full of people like him. At Harvard, it was another story: the parched cerebrations of the college Brahmins. It was an unlikely mentor, William Yandell Elliott, of Murfreesboro, Tennessee, who was Kissinger’s first and lasting guide to the American mind at its most exacting. “He was a big personality,” Kissinger recalls, a member of the “Fugitive Poets” of Vanderbilt University, a gang that included Allen Tate and John Crowe Ransom. Elliott had brought his outsize personality and tough mind to Washington for Franklin Roosevelt and stayed connected with that world. Harvard undergraduates, perhaps especially ones with thick German accents and earnest intellectual urgency, may not, initially, have been his shot of bourbon. “He made it quite clear when I was assigned to him that that was one burden too many,” says Kissinger, smiling wistfully. “He said, ‘Why don’t you go write an essay on Kant?” The Categorical Imperative and the ¬Practice of Politics? Right up young Henry’s street even when the ex-Rhodes Scholar Elliott required him, Balliol-style, to read it out at their next meeting. When he had finished, the Fugitive Poet conceded: “You really have an interesting mind.” “In effect he said he would now look after my intellectual development. As a first step he made me readThe Brothers Karamazov.”
What Kissinger took from Elliott was that without grasping the long arc of time, any account of politics and government would be shallow and self-defeating. That long view is on full display in the China book, which insists – entertainingly – on going back to the origins of Chinese classical culture and on through the many dynasties of the Middle Kingdom before even touching the epoch of decline, dismemberment and revolution. Kissinger smiles at the scene with which he opens his book, in which Mao gathered together the leaders of the party to listen to his account of a war that occurred during the Tang dynasty. “It would be like one of our leaders going back to the wars of Charlemagne.” And you get the feeling that Kissinger believes that it would do them no harm if they did. Instead he laments that “contemporary politicians have very little sense of history. For them the Vietnam war is unimaginably far behind us, the Korean war has no relevance any more,” even though that conflict is very far from over and at any minute has the capability of going from cold to hot. “This [the United States of Amnesia as Gore Vidal likes to call it],” he sighs, “is a tremendous handicap … when I talk to policy¬makers and I cite some historical analogy they think, ‘There he goes again with his history.’”
Kissinger’s beau idéal of analytical thinking informed by deep historical knowledge remains the formidable circle of advisers around Harry Truman. Their commanding figure, George Kennan, says Kissinger, had “a beautiful mind; magnificent scope. Kennan’s article on containment [the famous Long Telegram of 1946 on the ambitions of the Soviet Union] was, he says, “seminal; you wouldn’t change a comma.” But as a diplomat, Kissinger recollects Kennan was a hot temper in the cold war; never quite able to control the rush of blood, shouting tactlessly at Tempelhof airport that conditions in Moscow were still “just like Nazi Germany”. “He thought in more or less absolute terms,” Kissinger says, smiling. “The contingencies that might arise were unbearable to him.”
Mastering contingency is what Kissinger’s style of foreign policy has been all about, never more so than in the Chinese scenario. The objective historical situation in which the mutual suspicions of the Russians and the Chinese were bound to lead to explosive conflict was always there. But it took Kissinger and Zhou, counter-intuitively in tandem, to follow the logic of the situation to achieve a breathtaking realignment. Knowing what we do now about the self-destructive overreach of Soviet power, were Chinese fears of Russian aggression, Mao’s “ill waters”, overdone? Not at all, Kissinger responds. Both sides were nervous, which is what made the situation in 1969 genuinely dangerous. Brezhnev, he says, exuded “a sense of ominous danger emerging out of China”. Stalin’s last years were haunted by the same conundrum, never “solving the problem of how their influence in China would continue”. Mao was sufficiently alarmed at the imminence of a pre-emptive Soviet strike that “he dispersed all his government ministers over China and only Zhou remained in Beijing.”
How much did Kissinger know about Chinese history and culture when he set off for his first rendezvous with Zhou? “Oh at the beginning … nothing.” Since at that point secrecy was paramount, Kissinger was denied any briefing from the usual agencies. Back to Harvard he went, hoping for a crash course from the great scholars of modern Chinese history, J.K. Fairbank and Owen Lattimore. “They wanted to talk to me about why China should be admitted to the UN and gave me all sorts of methodologies by which we could ease the admission, which I am sure was very wise but nobody sat down and said, ‘Now you really ought to understand how they think.’” What followed, then, was intensive self-education, but also Kissinger’s certainty that if anything was to be accomplished he had to shrug off the bureaucratic and State department default obsessions of raising legalistic issues of claims and indemnities and the like with the Chinese, instead moving directly to first principles, beginning with the mutual agreement that there was, in fact, one China not two, a position then upheld by the Nationalist government in Taiwan as much as by the Communist government in Beijing.

Nixon in 1972, whom he served as national security advisor and secretary of state
Kissinger talks about this momentous shift in global alignments as though it could only be accomplished through the kind of personal interaction customary to classic 19th-century statecraft. But at the centre of it all (not to forget the strange, turbulent, contorted personality of Nixon) was, after all, Mao, whose magnitude, for good or ill, Kissinger never wants to sell short. What about the deranged contradictions in Mao’s imperial fiats: decreeing a Great Leap Forward that condemned millions to die in an engineered famine, or unleashing the trauma of the Cultural Revolution only to slam on the brakes once it threatened to bring down the state itself? “They were a rebellion against mortality,” Kissinger says, a little gnomically, but offering an interesting addendum. It was Deng’s generation – and Deng himself, twice purged and who lost a son to the fury of the Red Guards – which has been permanently scarred by the “unimaginable abomination”. But their children are beginning to think that perhaps Mao “was on to something … but as always pushed it too far”. With the misery and terror of the Cultural Revolution just a parental memory, the next generation, Kissinger says, feels “nostalgic for … an alternative sense of community”. “There is in Chongqing right now,” he tells me, “a party secretary, Bo Xilai, who has been leading a kind of Maoist philosophical revival. One of my associates who has been in China tells me that university graduates who 10 years ago all wanted to be Goldman Sachs executives now want to be government officials.” And what would Mao himself have made of contemporary China? “I think he’d be troubled. He really did believe in an ethical mission for the Chinese. I think the selfishness of the Chinese yuppies would bother him.”
Shouldn’t the obstinately brutal record of the Chinese government on human rights give us pause when we cosy up to them? As if sensitive to all those accusations that he has been, at times in his career, insufficiently moved by these issues, Kissinger says: “I periodically raise human rights issues, usually on behalf of individuals, always without publicity. But for the advocates of human rights, publicity is a moral imperative because it puts us on the right side of history. I respect them for that.”

With Barack Obama last year at talks on a new arms reduction treaty
Not so much, though, as to get in the way of treating China as an indispensable element in any stabilisation of perilous situations in Korea and Afghanistan. Without China’s active participation, any attempts to immunise Afghanistan against terrorism would be futile. This may be a tall order, since the Russians and the Chinese are getting a “free ride” on US engagement, which contains the jihadism which in central Asia and Xinjiang threatens their own security. So was it, in retrospect, a good idea for Barack Obama to have announced that this coming July will see the beginning of a military drawdown? The question triggers a Vietnam flashback. “I know from personal experience that once you start a drawdown, the road from there is inexorable. I never found an answer when Le Duc Tho was taunting me in the negotiations that if you could not handle Vietnam with half-a-million people, what makes you think you can end it with progressively fewer? We found ourselves in a position where to maintain … a free choice for the population in South Vietnam … we had to keep withdrawing troops, thereby reducing the incentive for the very negotiations in which I was engaged. We will find the same challenge in Afghanistan. I wrote a memorandum to Nixon which said that in the beginning of the withdrawal it will be like salted peanuts; the more you eat, the more you want.”
Kissinger laughs even as he sketches a scenario for an Afghanistan even grimmer than anything anyone has yet imagined, where the presence or absence of al-Qaeda will be the least of its problems. What might happen, he says, is a de facto partition, with India and Russia reconstituting the Northern Alliance, and Pakistan hooked to the Taliban as a backstop against their own encirclement.
Suddenly, spring goes chilly. The prospect looms of a centennial commemoration of the first world war through a half-awake re-enactment. Not Belgium but Sarajevo. Think proxy half-states; the paranoia of encirclement; the bristling arsenals, in this case nuclear; the nervous, beleaguered Pakistanis lashing out in passive-aggressive insecurity. “An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,” says the Doctor, his voice a deep pond of calm. “Therefore some kind of international process in which these issues are discussed might generate enough restraints so that Pakistan does not feel itself encircled by India and doesn’t see a strategic reserve in the Taliban.” He looks directly at me. “Is it possible to do this? I don’t know. But I know if we let matters drift this could become the Balkans of the next world war.”
Suddenly the irrefutable clarity of his pessimism makes Dr Strangelove look like Dr Pangloss. Around America this week, biblical placards are appearing proclaiming that the world will definitely end on May 21. If they’re right, you won’t be reading this. But if Kissinger is right, they may yet have a chance to move the date back a bit. Don’t say history and Henry Kissinger didn’t warn you.

On China’ by Henry Kissinger is published by Allen Lane

Subrepticiamente, eles vao roubando a nossa lingua e destruindo a nossa cultura...

Subreptício! Gostou da palavra?
Ela jamais entraria num desses manuais de língua e de expressão oral das novas pedagogas do MEC.
Muito complicado para isso.
As novas formas de expressão oral e escrita das novas saúvas do Brasil condenam vocabulário muito requintado, rebuscado, complexo, prolixo enfim, qualquer coisa que escape à compreensão do brasileiro médio, o que parece resumir-se em menos de mil palavras, ao que parece.
Eu sempre me surpreenderei com a capacidade do Brasil de retroceder...

Paulo Roberto de Almeida

Dois meses para o ministro cair, estaria bem assim?

Acho dois meses, muito tempo, pois em qualquer democracia respeitável, digna desse nome, o próprio envolvido em falcatruas, fraudes, mentiras, roubos e atos venais, já teria apresentado sua renúncia de imediato, ou sido despedido também de imediato pelo chefe de Estado (que não o fez) ou pelo chefe de governo (que parece que é ele mesmo).
Em qualquer regime parlamentar normal, ele já teria sido convocado (não convidado, convocado), para se explicar no banco dos acusados, e teria sido submetido a uma inquirição em regra.
Em qualquer regime político normal, o parlamento já teria agido para obter esclarecimentos.
Em qualquer país normal, as autoridades financeiras, de corregedoria, policiais e até associações classistas (no caso, a OAB), já teriam pedido um inquérito policial.
No Brasil, obviamente, nada disso acontece, pois venais existem em todas as partes.
Esse é o Brasil...
Só para concluir: o título deste post, ao que parece, não tem nada a ver com a realidade. Só uma aposta pessoal, ou seja, contra mim mesmo. Sendo assim, em 22 de julho de 2011, o ministro em questão estará fora do governo. Vou marcar na minha agenda, e voltarei ao contato naquela data.
Paulo Roberto de Almeida

CASO FRANCENILDO
Palocci levou dossiê pessoalmente, diz ex-diretor da Globo
Opinião e Notícia, 22/05/2011

Em 2009, Palocci foi inocentado de ter quebrado sigilo bancário, e a culpa recaiu sobre seu assessor de imprensa e o presidente da Caixa
O atual ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, levou pessoalmente o dossiê do caso Francenildo à família Marinho, informou o ex-diretor editorial da Globo, Paulo Nogueira.

“Foi o Palocci quem passou para nós o dossiê calunioso. Palocci foi quem fez chegar a nós, na redação da Época, informações que supostamente desqualificariam um caseiro de Brasília que dissera que ele frequentava uma mansão pouco recomendável quando ele era ministro da Fazenda”, explica Nogueira.

Em 2009, Palocci foi inocentado de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Na ocasião, os dados da conta do caseiro foram publicados na revista Época, e revelavam até que ele recebia depósitos no valor de R$ 24 mil de seu pai biológico, que tentava encerrar uma ação de reconhecimento de paternidade.

Com a absolvição de Palocci, a culpa recaiu sobre dois outros réus: seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso.

Paulo Nogueira, no entanto, afirma que Época não se envolveu nessa operação totalmente ciente da fraude. “Imaginávamos, ao publicar a história, que de fato tinham sido feitos depósitos na conta do caseiro. Logo ficou claro que não. Também ficou clara em pouco tempo a desfaçatez de Palocci ao dizer que não fizera o que fez”.

sábado, 21 de maio de 2011

Ainda as sauvas: e tem outro assunto mais importante?

Este jornalista pede uma "faxina no Ministério da Educação".
Acho que não bastaria. O MEC não é só o ministério da desigualdade, ou seja, pretende manter os pobres na pobreza. É também o ministério da deseducação, ao manter essas pedagogas freireanas e toda a ralé da máfia sindical da educação formulando e aplicando políticas.
Na verdade, esse pessoal não tem mais jeito: pau torto, apenas isso.
Eu acho que seria preciso começar a reconstruir a educação brasileira em novas bases, com novas pessoas, sem estabilidade, pagas (bem) mas por desempenho.
Não é fácil, mas é o único caminho.
Enquanto tivermos as pedagogas freireanas e as máfias sindicais no comando da educação, o ensino no Brasil vai continuar afundando...
Paulo Roberto de Almeida

Ministério da Desigualdade
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 18 de maio de 2011

O nome oficial é Ministério da Educação, mas podem chamá-lo Ministério da Desigualdade. Ministério da Incompetência também serve: a palavra tanto se aplica à atuação de seus dirigentes quanto se aplicará à condição das vítimas do padrão educacional proposto no livro Por Uma Vida Melhor, comprado e distribuído pelo governo. A presidente Dilma Rousseff prometeu trabalhar pela redução da miséria. Se quiser fazê-lo, terá de cuidar da qualificação de milhões de brasileiros para o trabalho. Mais que isso, terá de promover sua preparação para trabalhar numa economia cada vez mais complexa e exposta à competição internacional. Tratar os pobres como coitadinhos e incapazes conduzirá ao resultado oposto. Se há preconceito, não é de quem considera errada a violação da gramática. Preconceituoso e elitista é quem condena o pobre a uma instrução de baixa qualidade e ainda o aconselha a contentar-se com isso.

Os problemas de formação profissional e o mau desempenho dos alunos brasileiros em testes de avaliação foram apontados com suficiente clareza em artigo de Carlos Alberto Sardenberg, publicado anteontem neste caderno. Concorrentes do Brasil, incluída a China, estão empenhados em oferecer uma educação muito melhor a seus estudantes. Em vez de tratar os pobres como inferiores, autoridades educacionais desses países cuidam de prepará-los para se igualar aos melhores do mundo.

Não é preciso insistir nesse ponto. Mas é indispensável chamar a atenção para a concorrência em outro nível. No Brasil, quem tem bom senso e condição econômica tenta oferecer aos filhos a melhor educação possível. Pais instruídos procuram boas escolas e valorizam aquelas conhecidas pelo alto padrão de exigência. Rejeitam a ideia do diploma conquistado pelo caminho fácil. Além disso, estimulam os filhos a frequentar cursos de línguas e a envolver-se em atividades intelectualmente estimulantes. Nas melhores escolas, crianças pré-adolescentes são treinadas para combinar criatividade e rigor. Assim como as autoridades dos países mais dinâmicos e competitivos, as famílias brasileiras mais atentas aos desafios do mundo real continuarão em busca dos padrões educacionais mais altos.

Famílias saídas há pouco tempo da pobreza também reconhecem a importância de oferecer uma boa formação a seus filhos e por isso procuram escolas particulares. "Meu filho só tem 5 aninhos e já está aprendendo a ler e a escrever. Nessa idade, na escola pública, ninguém sabe nada ainda", disse uma agente de saúde citada em reportagem publicada no Estado de domingo.

Outra personagem da história explicou: "Não é metideza, é necessidade. Eu trabalho como empregada doméstica o dia todo. Meu marido é coletor de lixo e também passa o dia fora. Pagar a escola para a Gecielle foi a melhor opção". Mas ela descobriu também outra vantagem: "Com meus outros dois filhos não pude (pagar). A situação era muito pior. Na escola pública onde eles estudam já teve tiroteio. Na da Gecielle não tem nada disso e ela ainda aprende mais, tem lição de casa e tudo". Pois é: ela aprende, tem lição de casa e a mãe se mostra convencida de ter feito um bom negócio. As duas entrevistadas apostam nos filhos, apertam o cinto para pagar a escola e têm uma clara visão dos problemas: crianças pobres aprendem, como quaisquer outras, quando têm oportunidade.

Tratar os pobres com paternalismo, como pessoas incapazes de aprender a língua oficial e de aguentar os padrões de uma escola séria, é condená-los a ficar para trás, marginalizados e limitados às piores escolhas. Apoiar essa política é agir como se o mundo fosse esperar os mais lentos. Em países com políticas sociais decentes a solução é dar um impulso extra às pessoas em posição inicial desvantajosa.

O paternalismo é muito mais vantajoso para quem concede benefícios do que para quem recebe. Massas protegidas por Pais ou Mães do Povo tendem a ser dominadas com facilidade e nunca exercem plenamente a cidadania. Tratá-las como pessoas irremediavelmente inferiores é condená-las a ser politicamente subdesenvolvidas. Ensiná-las a conformar-se com "nóis vai" e "os menino joga bola" é vedar-lhes o acesso a aprendizados mais complexos e à possibilidade de pensar livremente. As oportunidades serão cada vez mais limitadas para os monoglotas. Muito piores serão as condições dos semiglotas, embora alguns, muito raramente, possam até presidir um país.

A presidente Dilma Rousseff parece haver renunciado ao papel de Mãe do Brasil, planejado por seu antecessor e grande eleitor. Ao anunciar a intenção de oferecer aos pobres a porta de saída dos programas assistenciais, ela mostrou preferir um caminho mais democrático. Mas, para segui-lo, precisará livrar-se do entulho do paternalismo e da demagogia. Uma faxina no Ministério da Educação ajudaria muito.

JORNALISTA

As novas sauvas do Brasil: as pedagogas freireanas...

Não confundir freireanas com associações indevidas com mestre Gilberto Freyre, um grande sociólogo. Eu me refiro a Paulo Freire, um homem de boa vontade, mas tremendamente equivocado, sobretudo a partir de seu panfleto "Pedagogia do Oprimido", que parece ter se convertido no manual de besteirol das pedagogas atuais do Brasil.
A julgar pela sua influência na política educacional do Brasil, vamos continuar indo para o brejo em matéria de ensino e educação.
Monteiro Lobato lutava contra as saúvas, que segundo ele eram o atraso do Brasil. Ele queria dar-lhes morte à base de inseticida e outros defensivos agrícolas. Isso no campo das medidas profiláticas para tornar a agricultura viável e fazer o Brasil ficar mais rico.
Hoje nós estamos sendo atrasados pelas novas saúvas, as pedagogas freireanas.
Não pretendo matá-las com inseticida.
Meu decreto de pena de morte é puramente no campo das ideias.
Enquanto não matarmos essas novas saúvas -- apenas as ideias, insisto -- não vamos avançar em matéria de educação.

Se eu posso ilustrar o problema narrado abaixo com um caso real, absolutamente e INACREDITAVELMENTE real, aqui vai ele:
Uma pessoa, estudante universitária de jornalismo (que não preciso dizer quem é, mas vocês podem confiar em que o caso é tal qual ela me relatou), foi rebaixada em sua nota de trabalho de redação de uma típica matéria de jornal porque, segundo a ENERGÚMENA da professora, ela "tinha escrito de forma difícil, muito rebuscada, com linguagem acima da média da compreensão dos leitores. Teria de escrever de maneira mais popular, mais compreensível". E pronto, pau: nota 4.
A estudante em questão não é o que poderíamos chamar de intelectual, nem se distingue pela erudição, apenas ocorre de escrever corretamente, como se lê nos livros e nos bons jornais de nossa vida. Ou seja, está sendo punida por escrever corretamente, em Português da norma, não culta, mas normal. A professora, obviamente, é uma idiota completa, mas totalmente em linha com as novas pedagogas freireanas do MEC: ela pretendia uma escrita popular, e por isso rebaixou a nota, numa inacreditável demonstração de que a linguagem luliana ganhou definitivamente espaço neste país. O livro de Português distribuído pelo MEC apenas reflete essa triste realidade.
Estamos afundando lentamente...
Paulo Roberto de Almeida

Visão perversa
MERVAL PEREIRA
O Globo, 17/05/11

Há um aspecto perverso nessa crise do livro didático de português, que o MEC insiste em manter em circulação, que ultrapassa qualquer medida do bom-senso de um governo, qualquer governo.

A pretexto de defender a fala popular como alternativa válida à norma culta do português, o Ministério da Educação está estimulando os alunos brasileiros a cultivarem seus erros, que terão efeito direto na sua vida na sociedade e nos resultados de exames, nacionais e internacionais, que avaliam a situação de aprendizado dos alunos, debilitando mais ainda a competitividade do país.

O ministro Fernando Haddad, que já protagonizou diversas confusões administrativas, agora se cala diante dessa "pedagogia da ignorância" que apresenta aos alunos da rede pública a defesa de erros de português, como se fossem corretas ou aceitáveis expressões populares como "nós pega o peixe" ou "dois real".

(Aliás, cada vez que escrevo essas frases, o corretor de texto teima em sublinhá-las em verde, como se estivessem erradas. Esse computador ainda não passou pelo crivo do MEC).

Mas é o próprio MEC que veicula anúncios exaltando supostos avanços dos alunos brasileiros no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).

O país registrou crescimento em todas as notas, embora continue muito abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e mesmo de alguns da América Latina.

Ora, se o próprio governo baliza sua atuação pela régua do Pisa, como justificar que a defesa de uma alternativa da fala correta seja uma política oficial do Estado brasileiro?

A professora Heloísa Ramos, autora do livro "Por uma vida melhor", da Coleção Viver, Aprender (Editora Global) acredita ser "importante que o falante de português domine as duas variantes e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala".

Seria preciso então que as escolas e faculdades ensinassem o português popular para os que foram alfabetizados pela norma culta, numa radicalização esdrúxula que esse raciocínio estimula.

O caráter ideológico de certos livros didáticos utilizados pelo MEC, especialmente de história contemporânea, ganha assim uma nova vertente, mais danosa que a primeira, ou melhor, mais prejudicial para a vida do cidadão-aluno.

Enquanto distorções políticas que afetem posições pessoais do aluno podem ser revertidas no decorrer de sua vida, por outros conhecimentos e vivências, distorções didáticas afetam a perspectiva desse aluno, que permanecerá analfabeto, sem condições de melhorar de vida.

Fosse o livro uma obra de linguística da professora Heloísa Ramos, nada a opor quanto à sua existência, embora seus métodos e conclusões rasteiras do que seja preconceito contra a fala popular possam, sim, ser refutados como uma mera mistificação política.

Se fosse um romance, não haveria problema algum em reproduzir a maneira de falar de uma região, ou os erros de português de um personagem.

Mas o livro didático não pode aceitar como certo o erro de português. Didática, pelo dicionário (?) é "a arte de transmitir conhecimento, técnica de ensinar" ou "que proporciona instrução e informação".

O fato de falarem de certa maneira em algumas regiões não quer dizer que este ou aquele linguajar represente o português correto.

A visão deturpada do que seja ensinar aparece na declaração de um assessor anônimo do MEC no GLOBO de ontem, alegando que não cabe ao ministério dizer "o que é certo e o que errado", e nem mesmo fazer a análise do conteúdo dos livros didáticos.

Se não exerce esses deveres básicos, o que faz o MEC em relação ao ensino do país?

Seria um equívoco lamentável e perigoso se o MEC, com essa postura, estivesse pretendendo fazer uma política a favor dos analfabetos, dos ignorantes, como se ela fosse a defesa dos que não tiveram condições de estudar.

Na verdade, está é agravando as condições precárias do cidadão-aluno que busca na escola melhorar de vida, limitando, se não impossibilitando, que atinjam esse objetivo.

Se, porém, a base da teoria for uma tentativa de querer justificar a maneira como o presidente Lula fala, aí então teremos um agravante ao ato criminoso de manter os estudantes na ignorância.

Querer transformar um defeito, uma falha da educação formal do presidente-operário, em uma coisa meritória é um desserviço à população.

Os erros de português de Lula não têm mérito nenhum, ele os explora para fazer política, é um clássico do populismo, cuja consequência é deseducar a população.

Mas ele nunca teve a coragem de defender a fala errada, embora goste de ironizar palavras ou expressões que considera rebuscadas.

Ele desvaloriza o estudo, com frases como "não sei por que estudou tanto, e eu fiz mais do que ele", ou quando se mostra como exemplo de que é possível subir na vida sem estudar.

Mas em outras ocasiões, estimula que a universidade seja acessível a todos, numa atitude que parece paradoxal, mas que ganha coerência quando se analisam os objetivos políticos de cada uma das atitudes.

Se, no entanto, o desdém pela norma culta do português transformou-se em política de Estado, aí teremos a certeza de termos chegado ao fundo do poço.

Desmantelando a psicanalise: Catherine Meyer (ja vem tarde...)

Os franceses demoraram para chegar no século XX, e agora continuam demorando para chegar no século XXI. Esse processo de desmantelamento da psicanálise já começou há muito tempo atrás, nos EUA, obviamente, com aportes iniciais de Karl Popper, que já tinha denunciado o "método" (ugh!) totalmente inverossímil de Freud como uma fraude completa.
Acho que já está na hora dessas pessoas grandinhas pararem de torrar o seu dinheiro com fraudadores impunes...
Paulo Roberto de Almeida

O legado freudiano no banco dos réus
Andrei Netto
O Estado de S.Paulo, 21 de maio de 2011

A editora francesa Catherine Meyer, que organizou O Livro Negro da Psicanálise, lançado em versão abreviada no Brasil, diz que a teoria de Freud 'repousa sobre a areia' e acusa a renomada psicanalista Elisabeth Roudinesco de agir de má-fé

Em alguns países, como os Estados Unidos ou a Alemanha, Sigmund Freud (1856-1939) costuma ser situado na categoria dos gênios, mas nem por isso sua obra representa unanimidade. Em outros, como França e Argentina - poderíamos incluir o Brasil? -, o pai da psicanálise não é menos do que um ícone. Nesse sentido, duvidar de suas teorias pode ser interpretado como uma blasfêmia. Foi com o propósito de blasfemar e, por isso, suscitar controvérsia, que a editora franco-argelina Catherine Meyer lançou-se ao desafio de coordenar um "front de oposição" a Freud, lançando em 2005, pela Les Arènes, O Livro Negro da Psicanálise.

O impacto da obra foi imediato - e rapidamente se internacionalizou. Composto em sua versão original de mais de 40 artigos assinados por filósofos, historiadores, psiquiatras e também pacientes, o livro explorava as dúvidas e os fracassos que pesariam sobre a "ciência" fundada por Freud, tomando por base cinco temas: mitos e lendas da psicanálise, seu sucesso, seus impasses, suas vítimas e uma proposta de prática pós-freudiana.

Para tanto, Meyer, 52 anos, encomendou ensaios a especialistas como Mikkel Borch-Jacobsen, autor de Anna O. - Uma Mistificação Centenária; Didier Pleux, diretor do Instituto Francês de Terapia Cognitiva; e Jacques Van Rillaer, professor de psicologia da Universidade de Louvain-la-Neuve e praticante das terapias comportamentais e cognitivas (TCC). Tratava-se, então, de um desafio a dogmas e mitos. O efeito, no entanto, não foi o alcançado, segundo admite Catherine Meyer. Em vez de abrir um debate sobre o lugar das terapias da mente, O Livro Negro da Psicanálise deu origem a uma espécie de acerto de contas entre praticantes da psicanálise e das TCC e a uma troca de farpas no mundo intelectual parisiense e internacional.

A bem da verdade, não se pode inocentar Meyer, que se dispôs ao desafio tendo o marketing como uma de suas preocupações centrais, verificada desde a escolha do nome da obra até seu grande mote: "Freud mentia". Essa polêmica ganha destaque no Brasil com a publicação de uma versão abreviada da edição francesa do Livro Negro da Psicanálise, reunindo textos de 23 ensaístas selecionados por Simone Perelson. Resta torcer que não seja igualmente vazia. Catherine Meyer - formada em Letras Modernas pela Escola Normal Superior, com mestrado sobre ópera romântica - diz esperar que não. Está no seu papel. A seguir, a síntese da entrevista exclusiva ao Estado concedida pela editora no seu escritório, em Paris.

Na sua opinião, Freud era um mentiroso?

Sim, porque ele fraudou seus resultados. Não foi o único; há outros a trapacear no meio científico. Mas você sabe como as coisas funcionam na ciência: define-se uma hipótese, mesmo que inacreditável - como Édipo e o amor de um filho pela mãe e a pedra angular de nossa vida psíquica. Eis uma hipótese! Um filho tem desejo e quer ter relações sexuais com sua mãe. É o Complexo de Édipo. Quando se faz uma hipótese científica, a seguir passa-se à fase de verificação. Procede-se um percurso de pesquisa para constatar a hipótese pela sua eficiência. Quando se imagina um medicamento para a tuberculose, ele é testado em várias pessoas. A seguir, usamos a lixeira para jogar fora todas as hipóteses refutadas. O que os teóricos explicam muito bem no Livro Negro da Psicanálise é que Freud lançou hipóteses e elas nunca deixaram de ser apenas isso: hipóteses. Ele traficou a realidade para confirmar suas hipóteses.

É essa a sua visão sobre a hipótese central de Freud?

A hipótese central de Freud é sensacional! É ela que explica ao mesmo tempo a força e o poder da Psicanálise. Karl Popper explicou que a psicanálise não era uma ciência porque era irrefutável. O Complexo de Édipo é irrefutável. Se você argumenta: "Não, no meu caso não é verdade: eu detesto a minha mãe e adoro o meu pai" e se eu sou um psicanalista, eu lhe respondo: "Isso não refuta o Complexo de Édipo; o que você está fazendo é negar o Complexo de Édipo". É o gênero de teoria "coroa, eu ganho; cara, você perde". É sempre verdade. Karl Popper explicou essa incoerência muito bem. A partir do momento em que atribuímos tudo ao inconsciente, qualquer coisa pode ser verdade. Logo, digo eu, não é jamais verdade. Ou, ao menos, é inverificável. Outra armadilha da psicanálise é que todos os grandes teóricos se contradizem. O que Freud diz no início não é o mesmo que diz no fim, o que Freud diz é diferente do que diz Otto Rank, que é diferente do que diz Carl Gustav Jung. Uns dizem: "Veja, o Complexo de Édipo é simbólico, não real". Outros dirão "Não, é concreto". Dirão que uma criança - de 4 ou de 7 anos, de acordo com cada especialista - quer realmente manter relações sexuais com sua mãe. É uma teoria elástica. Elástica demais.

Sua análise, de uma "teoria elástica", me faz lembrar as críticas de filósofos da pós-modernidade que consideram a psicanálise e as teorias freudianas discursos metanarrativos que se dispõem a explicar o mundo, como o marxismo, por exemplo. É essa sua linha? Absolutamente. Freud é um filósofo, muito mais do que um cientista. Ele se pretendia um cientista. Era um médico que desejava o Prêmio Nobel de Medicina, que desejava fundar uma ciência. Para ele, a sexualidade estava para o psiquismo como o bacilo de Koch está para a tuberculose. Ele desejava encontrar a etiologia de todos os problemas psíquicos. Depois veio Lacan, dizendo que não. Mas, para voltar ao tema "mentira", Freud trabalhou com pacientes e era protegido pelo segredo médico. Quando ele fazia uma descoberta sobre o que revelava um lapso ou um sonho, ao escrever um estudo de caso sobre o tema ele não podia revelar o nome de seus pacientes. Eles eram identificados como O Homem dos Lobos (Sergius Pankejeff), O Homem dos Ratos (Ernst Lanzer), Anna O., caso que foi analisado por seu mentor, Joseph Breuer. Tudo se baseia na palavra de Freud, e nós somos obrigados a acreditar em sua palavra. Como saberemos se o que foi dito é verdade? Berger, um dos primeiros historiadores da psicanálise, fez pesquisas e descobriu que Anna O. se chamava Bertha Pappenheim, e descobriu ainda que ela nunca foi curada. Há outros exemplos. Além do trabalho de historiadores, pode-se dispor da própria obra de Freud, que era muito vasta, afinal, ele era um gênio.

Era um gênio? Mas como Freud pode ser um mentiroso e um gênio?

Há muitos políticos que são geniais e mentirosos, por exemplo.

Uma das críticas comuns à obra que a senhora coordena é o próprio título. Seus detratores o consideram um oportunismo, já que antes o Livro Negro do Comunismo havia feito muito sucesso. A escolha do nome foi marketing?

É verdade que o Livro Negro do Comunismo fez muito barulho. Mas, na época em que pesquisei para o nosso, levantei quantos livros negros havia: não lembro se eram 30 ou 60. "Livro negro" é um conceito genérico para designar um balanço crítico. Porque usamos a expressão "livro negro" não quer dizer que vamos falar de genocídios. Alguns autores que integram a obra eram contra esse título. Mas queríamos fazer um livro para o grande público, ao contrário dos outros, muito acadêmicos. Nosso objetivo era reunir o front dos que refutam: filósofos, psicólogos, psiquiatras, pacientes, historiadores... Algo mais geral, mais voltado ao grande público. Sim, eu assumo que pensamos no marketing também. Mas era para mostrar que não seria apenas um livro acadêmico, mesmo que tenhamos nele muitos acadêmicos de alto nível.

Eu gostaria de ouvi-la sobre críticas contundentes que o seu livro suscitou na França na época de sua publicação. Jean Birnbaum, por exemplo, afirmou que seu livro parece fazer uma aproximação perigosa, uma equação psicanálise = terror.

O que aconteceu é que muitos psicanalistas e jornalistas, no caso de Birnbaum, em lugar de responder às questões abertas pelo livro, dizendo que não estão de acordo com tais e tais argumentos, tentaram lançar uma cortina de fumaça, fazendo acusações. Não houve um verdadeiro debate na França. Então me dei conta de que Freud é um ícone quase religioso. Atacar a Igreja teria sido menos chocante. Freud é um mito. Ao dirigir um livro, tomei todo o cuidado possível para que os ensaios fossem extremamente rigorosos e que não fossem escritos em tom agressivo, mas em tom analítico. O que lamentei foi que, em lugar de abrir uma verdadeira polêmica, uma discussão, houve ataques, apenas ataques.

Elisabeth Roudinesco constatou em artigo que determinadas citações de sua obra empregadas por autores que assinam o seu livro não são fiéis ao seu pensamento. O que a senhora responde?

Gostaria que ela nos indicasse essas citações.

Ela o fez. Escreveu um artigo, À Propos du Livre Noir de la Psychanalyse, citando trechos do livro e comparando-os à sua própria obra.

Nós não traficamos citações. Ela, sim, trafica citações. A senhora Roudinesco diz ser historiadora da psicanálise, mas não fala alemão. Todos os outros historiadores da psicanálise falam alemão. Eles leram Freud em versões originais e não nas traduções francesas, que não são boas. A senhora Roudinesco foi e é de uma grande má-fé,

Alguns críticos interpretaram o seu Livro Negro como um ataque frontal de adeptos das terapias comportamentais e cognitivas (TCC), que contestam abertamente a legitimidade da psicanálise. Como essa disputa entre a psicanálise e as TCC se reflete no seu livro?

É uma das questões em jogo, mas não a única. Algumas pessoas resumiram o livro a essa questão. Mas não é verdade. Para um jornalista, é fácil reduzir o livro a uma guerra entre duas escolas. É verdade em parte. Mas toda a pesquisa histórica que está no livro não tem nada a ver com briga de escolas. Os historiadores que constam do livro buscam o viés de historiadores, apresentando Freud como um médico que fez descobertas. Eles não têm nada a ver com TCC.

Mas esse afrontamento existe no livro.

Uma das razões pelas quais eu quis fazer esse livro é porque, na França, um psi é forçosamente um psicanalista, enquanto nos Estados Unidos, na Europa do norte, nos países nórdicos, há várias alternativas terapêuticas, entre as quais a psicanálise. A psicanálise não é o único deus no universo psi.

Mas Roudinesco, que é reconhecida como uma das psicanalistas mais importantes do mundo, afirma que a psicanálise é muito eficiente contra neuroses, mas não psicoses. Isso não é um mea-culpa?

Freud dizia isso também. Mas esse é outro problema. Na França, você pode se tornar psicanalista depois de fazer estudos de sociologia e passar por análise didática. Assim você se torna psicanalista. Não há nenhuma formação clínica. Nenhuma. Se o sujeito não tem formação clínica, como pode saber se tem diante de si um neurótico ou alguém que está em depressão muito grave?

A senhora disse que a verificabilidade é um dos problemas da psicanálise e uma das questões em jogo no livro. Mas não podemos verificar com precisão resultados em diversas outras Ciências Humanas. Por que a psicanálise não é uma ciência e a sociologia é uma ciência, a seu ver?

A sociologia não é uma ciência. A medicina ou a psiquiatria são ciências. E olhe lá, porque elas também não conseguem explicar por que alguns pacientes se curam e outros não. Deixe eu citar um exemplo: o autismo. Nesse assunto, estamos realmente no lado negro da psicanálise, porque ela fez muito estrago. A psicanálise, por meio de Bruno Bettelheim, que acusou as mães de serem responsáveis pelo autismo de seus filhos (mais tarde surgiriam denúncias de que ele maltratava os pequenos pacientes). Inconscientemente, dizia o autor, a mãe desejava a morte de seu filho. Além de ser extremamente irresponsável, já que sabemos que o autismo é um problema genético em grande parte, ainda é cruel, porque acusa uma mulher de ser a responsável por uma doença. Não bastasse, sabemos que não se pode curar o autismo.

Voltando ao assunto, sua definição de ciência se limita ao que se costumava chamar de "ciências duras", excluindo as Ciências Humanas.

É isso. A psicanálise é uma teoria que repousa sobre a areia, sobre o segredo, sobre o que não se pode verificar, o que é irrefutável, o que não pode ter sua eficácia comprovada. É claro que há coisas positivas. Não sou contra a constatação do inconsciente. Muitos teóricos estão de acordo. Mas isso não quer dizer que estamos de acordo com o inconsciente freudiano. A ideia de que temos um inconsciente que pode determinar certos comportamentos não é negada por ninguém, mas isso pode não ter nada a ver com a sexualidade, com o Complexo de Édipo, a angústia da castração. É isso que eu refuto.

Não podemos usar o mesmo argumento da cura e de sua verificabilidade para a TCC?

Mas eu não vejo quem pode se dizer hoje em dia capaz de curar tudo, como fazemos com doenças tratáveis por antibióticos. Estamos no início. O conhecimento do psiquismo e a cura do psiquismo têm apenas 150 anos. Estamos na situação dos médicos da Idade Média, que ousavam tratar retirando e injetando sangue.

A senhora já fez análise?

Não, não fiz análise. O que fiz foi uma curta psicoterapia analítica que me fez muito bem. Por um ou dois anos fui a um terapeuta. Eu não era doente. Tinha apenas alguns problemas existenciais, e a terapia me fez muito bem. Não tenho nenhum acerto de contas com a psicanálise. O conselho que daria é, se você é doente, não faça psicanálise. Eu descobri algo que funciona muito bem para casos de problemas existenciais, por exemplo, que é a meditação.

A senhora faz meditação? E como avalia sua eficácia?

É algo extremamente bem avaliado em termos de eficácia. Para avaliar, é preciso ter códigos. Um americano, por exemplo, introduziu a meditação na medicina há 30 anos, o que nos dá uma boa base. Ele fez um programa de oito semanas que se chama Mindfullness Based Stress Reduction (MBSR). Ele submeteu durante oito semanas pessoas que sofriam de um certo tipo de inflamação a encontros semanais, divididos em dois grupos: um grupo fazia meditação, com auxílio de videocassetes, etc; outro jogava cartas, xadrez, etc. Ao fim de oito semanas, o grupo que havia meditado tinha inflamações bem menores. Os que jogaram cartas, tinham inflamações maiores.

Surpreende que alguém com uma crítica tão enfática à psicanálise acredite nos efeitos benéficos da meditação, mesmo da MBSR, que interage com a psicologia e a psiquiatria.

Mas não é antinômico. Não mesmo.

Dois paises, duas policias, duas justicas, uma unica conclusao...

Primeiro a materia de um conhecido jornalista:

Direto ao Ponto
O caseiro do Piauí e a camareira da Guiné
AUGUSTO NUNES
Blog Veja, 20/05/2011

Nascido no Piauí, Francenildo Costa era caseiro em Brasília. Em 2006, depois de confirmar que Antonio Palocci frequentava regularmente a mansão que fingia nem conhecer, teve o sigilo bancário estuprado a mando do ministro da Fazenda.

Nascida na Guiné, Nafissatou Diallo mudou-se para Nova York em 1998 e é camareira do Sofitel há três anos. Domingo passado, enquanto arrumava o apartamento em que se hospedava Dominique Strauss-Kahn, foi estuprada pelo diretor do FMI e candidato à presidência da França.

Consumado o crime em Brasília, a direção da Caixa Econômica Federal absolveu liminarmente o culpado e acusou a vítima de ter-se beneficiado de um estranho depósito no valor de R$ 30 mil. Francenildo explicou que o dinheiro fora enviado pelo pai. Por duvidar da palavra do caseiro, a Polícia Federal resolveu interrogá-lo até admitir, horas mais tarde, que o que disse desde sempre era verdade.

Consumado o crime em Nova York, a direção do hotel chamou a polícia, que ouviu o relato de Nafissatou. Confiantes na palavra da camareira, os agentes da lei descobriram o paradeiro do hóspede suspeito e conseguiram prendê-lo dois minutos antes da decolagem do avião que o levaria para Paris ─ e para a impunidade perpétua.

Até depor na CPI dos Bingos, Francenildo, hoje com 28 anos, não sabia quem era o homem que vira várias vezes chegando de carro à “República de Ribeirão Preto”. Informado de que se tratava do ministro da Fazenda, esperou sem medo a hora de confirmar na Justiça o que dissera no Congresso. Nunca foi chamado para detalhar o que testemunhou. Na sessão do Supremo Tribunal Federal que julgou o caso, ele se ofereceu para falar. Os juízes se dispensaram de ouvi-lo. Decidiram que Palocci não mentiu e engavetaram a história.

Depois da captura de Strauss, a camareira foi levada à polícia para fazer o reconhecimento formal do agressor. Só então descobriu que o estuprador é uma celebridade internacional. A irmã que a acompanhava assustou-se. Nafissatou, muçulmana de 32 anos, disse que acreditava na Justiça americana. Embora jurasse que tudo não passara de sexo consensual, o acusado foi recolhido a uma cela.

Nesta quinta-feira, Francenildo completou cinco anos sem emprego fixo. Palocci completou cinco dias de silêncio: perdeu a voz no domingo, quando o país soube do milagre da multiplicação do patrimônio. Pela terceira vez em oito anos, está de volta ao noticiário político-policial.

Enquanto se recupera do trauma, a camareira foi confortada por um comunicado da direção do hotel: “Estamos completamente satisfeitos com seu trabalho e seu comportamento”, diz um trecho. Nesta sexta-feira, depois de cinco noites num catre, Strauss pagou a fiança de 1 milhão de dólares para responder ao processo em prisão domiciliar. Até o julgamento, terá de usar uma tornozeleira eletrônica.

Livre de complicações judiciais, Palocci elegeu-se deputado, caiu nas graças de Dilma Rousseff e há quatro meses, na chefia da Casa Civil, faz e desfaz como primeiro-ministro. Atropelado pela descoberta de que andou ganhando pilhas de dinheiro como traficante de influência, tenta manter o emprego. Talvez consiga: desde 2003, não existe pecado do lado de baixo do equador. O Brasil dos delinquentes cinco estrelas é um convite à reincidência.

Enlaçado pelo braço da Justiça, Strauss renunciou à direção do FMI, sepultou o projeto presidencial e é forte candidato a uma longa temporada na gaiola. Descobriu tardiamente que, nos Estados Unidos, todos são iguais perante a lei. Não há diferenças entre o hóspede do apartamento de 3 mil dólares por dia e a imigrante africana incumbida de arrumá-lo.

Altos Companheiros do PT, esse viveiro de gigolôs da miséria, recitam de meia em meia hora que o Grande Satã ianque é o retrato do triunfo dos poderosos sobre os oprimidos. Lugar de pobre que sonha com o paraíso é o Brasil que Lula inventou. Colocados lado a lado, o caseiro do Piauí e a camareira da Guiné gritam o contrário.

Se tentasse fazer lá o que faz aqui, Palocci teria estacionado no primeiro item do prontuário. Se escolhesse o País do Carnaval para fazer o que fez nos Estados Unidos, Strauss só se arriscaria a ser convidado para comandar o Banco Central. O azar de Francenildo foi não ter tentado a vida em Nova York. A sorte de Nassifatou foi ter escapado de um Brasil que absolve o criminoso reincidente e castiga quem comete o pecado da honestidade.

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Agora a conclusão, que é só minha:

Vamos ter de avançar muito, ainda, para escapar da pré-história da Justiça e penetrar numa era em que a Justiça (e a polícia, por antecipação) funcione igual para todos.
Vai demorar um pouco mais, talvez uma ou duas gerações, para que a população deixe de eleger trogloditas e mentecaptos e que estes deixem de escolher juízes medíocres e venais para os cargos pertinentes.
Vai demorar mais um pouco. Um dia chega. Infelizmente não vamos ver esse dia any time soon.