O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A historia e suas versoes: companheiros pretendem continuar escrevendo a sua

Nosso dever moral é sempre contar a versão correta, ou seja, aquela que se atém aos fatos, tais como eles efetivamente ocorreram, como diria Leopold Von Ranke.
Os companheiros pretendem contar a sua: espíritos totalitários sempre pretendem controlar o passado, para melhor se apossar do presente e determinar o futuro.
Não contarão com a minha omissão: pretendo relatar as coisas exatamente como as coisas são.
Vou deixar o meu registro, sobre nossa democracia de baixa qualidade e suas imensas deformações, que permitem, justamente, que indivíduos sem qualquer caráter se apossem de instituições do Estado para manipulá-las em seu favor.
Não com a minha conivência, e sempre com minha denúncia.
Na falta de tempo de elaborar meu próprio testemunho, começo transcrevendo o que disse um jornalista conhecido, que reflete exatamente o que vai pela cabeça desses totalitários em projeto.
Paulo Roberto de Almeida 


Reinaldo Azevedo, 23/10/2012

Não pensem que o julgamento do mensalão acabou. Sob certo ponto de vista, ele mal começou. Depois do maiúsculo trabalho feito pelo Supremo Tribunal Federal — que deu aos crimes os nomes que, durante um bom tempo, as oposições se negaram a dar —, resta agora o que chamarei de disputa pela narrativa histórica, que não coincide necessariamente com os fatos, sobejamente relatados e provados pela Procuradoria-Geral da República, com o endosso da maioria dos ministros. Depois de examinar severamente as provas, o resultado é o que se viu: gestão fraudulenta, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, formação de quadrilha… A soma de horrores tinha um propósito, como também restou cristalino: executar um projeto de poder que buscava — busca ainda — tornar inermes as instâncias da República. O que o Supremo fez foi punir a extrema ousadia. Depois disso, aquela gente se tornou um pouco mais prudente, mas não quer dizer que tenha mudado de propósitos. Para os petistas, gosto de lembrar a frase de Talleyrand ao definir os Bourbons: “Não aprenderam; não esqueceram nada!”. Quem vai se apossar dessa narrativa?
Na academia, alguns poucos aos quais restou, intocada, a honestidade intelectual buscarão relatar a história. Uma grande maioria certamente se calará porque os fatos, afinal, não obedeceram aos desígnios do “Partido”, o ente de Razão que escolheram como senhor da história, numa evidência de sua mediocridade intelectual, de sua fraqueza moral e de sua baixeza ética. É preciso, é evidente, que os políticos de oposição se encarreguem de transformar a evidência dos fatos numa herança histórica a ser lembrada pelas gerações futuras. Até porque estamos falando de um mal de muitas cabeças. Não pensem que o petismo vai se conformar com o veredicto do Supremo. Muito pelo contrário: tentará usar a condenação para partir para o ataque.
Não me refiro às muitas notas disparadas pela Executiva do PT, por José Dirceu ou por José Genoino. Não me refiro às tolices do stalinismo bolorento de Marilena Chaui, que segue a trajetória inversa à dos bons vinhos. Refiro-me aqui a outra coisa. Os petistas tentarão se vingar institucionalmente. E já emitem sinais nesse sentido, com o que terão de tomar cuidado também os partidos da base aliada.
No domingo, em entrevista ao Estadão, quando posou uma vez mais de herói, José Genoino defendeu, do nada, o financiamento público de campanha, no bojo de uma “reforma política profunda”… Por que um partido que exerce o terceiro mandato consecutivo segundo as regras que aí estão, que se constituiu, na sua vigência, como uma das maiores legendas do país, quer mudar “profundamente” as regras do jogo? A resposta é uma só: para se eternizar no poder. Ora, o financiamento público, se fosse instituído, teria de obedecer a algum critério, como a distribuição dos recursos segundo a atual bancada dos partidos, por exemplo, o que daria ao PT uma enorme vantagem. Imaginem vocês: os petistas querem fazer uma “reforma política profunda”, que terá como fundamento o atual tamanho das bancadas, quando os partidos de oposição vivem o seu pior momento. E não está de olho só nisso, não! Também vê com desconfiança o crescimento de alguns aliados. Antes que o mal cresça, pretende lhe cortar a cabeça.
Tentará ainda mecanismos para controlar a imprensa e, como já anunciaram alguns representantes do partido, o próprio Poder Judiciário. É pouco provável que consiga realizar esses intentos. Todas as iniciativas, no entanto, constituem esse esforço de ser o senhor da narrativa.
O mensalão por outros meios
Cumpre ter muito claro uma coisa: essa gente não tem limites e não reconhece os valores que orientam uma democracia e uma República. Nem a própria imprensa, com raras exceções, vocês já sabem disso, se dá conta das barbaridades que são cotidianamente ditas e cometidas. No fim de semana, em Santo André e Mauá, Lula disse, com todas as letras, na presença de ministros de estado, que vai atuar junto à presidente Dilma para que não faltem recursos a cidades cujos prefeitos sejam petistas. E isso passa como coisa normal. A própria presidente sugeriu, em Salvador, que a eleição de um candidato do PT facilita o trabalho com o governo federal.
Isso tudo é um acinte. Essa é, provavelmente, a forma mais escancarada de uso da máquina pública de que se tem notícia. Não deixa de ser uma espécie de mensalão, executado por outros meios. Trata-se de deixar claro aos eleitores que o estado foi capturado e que fazem dele o que lhes der na telha: havendo um prefeito aliado, chegará dinheiro; não havendo, então não!
Por que se constituiu a quadrilha do mensalão? Porque os petistas não reconhecem os fundamentos de uma República democrática, que prevê a alternância de poder se for essa a vontade do povo. Não para eles. Poder conquistado é poder acumulado, e não se concebe que outro lhes tome o lugar. Por isso buscaram fraudar as regras do jogo com aquela cadeia de crimes; por isso voltam a falar em reforma política e financiamento público de campanha; por isso ficam a fazer chantagem sobre os palanques.
Os partidos de oposição têm de denunciar toda essa gente ao Tribunal Superior Eleitoral, sempre tão célere em censurar meras mensagens de propaganda. Quero ver é um TSE que coíba o uso da máquina pública e o abuso do poder econômico nas eleições. O PT recebeu um baita golpe moral. Por isso mesmo, está mais perigoso do que nunca!

===========
Reinaldo Azevedo, 23/10/2012

Haverá hoje sessão extraordinária no Supremo para encaminhar as questões pós-coleta de votos. Será preciso definir o que fazer nos casos de empate — provavelmente, o réus serão absolvidos — e começar a cuidar da dosimetria, vale dizer, da atribuição de penas aos condenados. Podem ser sessões turbulentas, sim, vamos ver. À note, no debate da VEJA.com, a gente comenta tudo. Quero aqui cuidar de outra coisa.
A maioria dos ministros do Supremo não fez o que Lula queria. Para ser mais amplo: a maioria dos ministros do Supremo não fez o que o PT queria. Quem sintetizou com maior percuciência a boçalidade petista foi um senador considerado “moderado” (imaginem os radicais…): Jorge Viana, do Acre. Disse com todas as letras:
“Só não vale nossos governos indicarem ministros do Supremo e eles chegarem lá e votarem contra por pressão da imprensa”.
Em frase tão curta, tão longa tradição totalitária. Em primeiro lugar, não foi o “nosso (dele) governo” que indicou os ministros, mas uma instituição chamada Presidência da República, que é o topo de um Poder, o Executivo. Como instâncias da República, não são entes que “pertençam” ao PT. Não são “nosso” — isto é, deles. Em segundo lugar, os ministros foram aprovados pelo Senado, fatia de outro Poder, o Legislativo, que é, pasme Jorge Viana!, do povo, não dos petistas.
Em terceiro lugar, quem disse que os ministros votaram “por pressão da imprensa”? Então só haveria um modo de não fazê-lo, a saber: votando de acordo com a vontade do PT? Quem faz o que quer o partido é, pois, “independente”; quem não faz, é mero capacho da mídia? A fala, no entanto, trai uma intenção, que talvez não se tenha cumprido por erro de cálculo: os petistas esperavam, sim, “fidelidade” dos ministros indicados e nomeados. Traidores que são, no entanto, decidiram servir às leis e à Constituição. E isso parece inaceitável mesmo a um “moderado” como Jorge Viana.
Pois bem. No dia 18 de novembro, Ayres Britto faz 70 anos e deixa o Supremo. Abre-se uma vaga. É bem possível que Celso de Mello, infelizmente, antecipe a sua aposentadoria de 2014 para o começo do ano que vem em razão de problemas de saúde. Outra vaga.
O resultado do julgamento do mensalão aumentou nos petistas a convicção de que só ministros “de confiança” podem ser nomeados. No imaginário do partido, um STF tem de contar com 11 Lewandowskis; não sendo possível, até se aceitam um Dias Toffoli ou outro. Ainda há petistas inconformados com a sua decisão de condenar José Genoino por corrupção ativa. A grita foi de tal sorte que, ontem, o ministro não demorou nem 30 segundos para concordar com o revisor e inocentar todo mundo. Dispensou até os fundamentos. Foi um desrespeito ao tribunal, mas também foi um jeito de deixar claro aos companheiros que ele está um tanto amuado. A petezada acha que faltou a Toffoli o espírito de luta companheiro que enxergou em Lewandowski, que está sendo saudado como um verdadeiro herói.
Mais duas nomeações de igual jaez, a Corte ficará com quatro ministros — vamos ver como se comporta Teori Zavascki — que podem estar menos preocupados com a lei e  com as instituições do que com aqueles que lhes garantiram o posto honorífico. Insisto: há um frenético movimento de bastidores sustentando que conspiradores pretendem atacar a reputação do partido pela via judicial e que cumpre ao governo do PT proteger o… PT!
Que a sociedade brasileira fique vigilante! Os petistas consideram que foram malsucedidos até aqui em controlar o Supremo. E é grande a pressão em favor de ministros comprometidos com a causa. Não fosse assim, não se diria com tamanha ligeireza e desfaçatez que José Eduardo Cardozo é candidato a integrar a Casa.
Lula já andou cochichando por aí que só restam dois inimigos aos petistas: a “mídia” e o Judiciário. Não é o primeiro a ter essa sacada. Os fascistas originais já achavam isso, é óbvio, antes dos epígonos…

Diplomacia brasileira: entre o Oriente Medio e a Colombia

As razões que impedem o Brasil de colaborar com a pacificação da Colômbia não são exatamente essas que aponta o ex-chanceler. Para ajudar, é preciso ser isento, apenas isso.
Paulo Roberto de Almeida 


Celso Lafer defende ação brasileira na pacificação da Colômbia

Chico Santos
Valor Econômico, 22 de outubro de 2012







RIO - O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer (1992 e 2001-2002) disse nesta segunda-feira que o Brasil deveria ter uma atuação mais ativa no esforço para a obtenção da paz na Colômbia — na luta entre o Estado e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) — antes de se preocupar com a busca da paz no Oriente Médio, por mais legítima que essa seja.
“O chanceler [Antonio] Patriota esteve há pouco tempo no Oriente Médio preocupado com o problema dos palestinos e da paz, um tema legítimo, sem dúvida. No entanto, o Brasil tem se abstido de uma atuação mais ativa com relação ao tema das Farc, na Colômbia”, destacou Lafer. Para o ex-ministro, o tema pode ser encarado como um problema da América do Sul. “Minha prioridade seria olhar nossa vizinhança antes de olhar o que está acontecendo no resto do mundo”, disse ao responder a uma pergunta sobre a atual política brasileira para a América do Sul e o Oriente Médio.
Lafer disse que o Brasil poderia estar agora ajudando no esforço de paz que as duas partes em guerra na Colômbia tentam implementar, mas ressaltou que a falta de uma participação anterior dificulta qualquer tentativa de auxílio neste momento. O ex-chanceler disse ainda que, estando fora do governo, ele carece de informações para dizer o que poderia ser feito para que a diplomacia brasileira recuperasse o tempo perdido no tema colombiano.
Ainda em relação à política regional, Lafer criticou a atuação brasileira no episódio da suspensão do Paraguai do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e da posterior admissão da Venezuela sem o respaldo paraguaio. “Já escrevi sobe isso e disse que a suspensão do Paraguai se fez ao arrepio das regras de suspensão previstas no Protocolo de Ishuaia [que trata dos princípios democráticos no Mercosul, Chile e Bolívia].”
Quanto ao Oriente Médio, “uma região muito complexa”, Lafer acha que o Brasil pode até ter um papel na construção da paz, “na medida em que isso for solicitado”. Segundo ele “o terceiro, em prol da paz, tem um papel, desde que conte com avaliações positivas de todas as partes envolvidas”.
Lafer fez nesta segunda-feira palestra durante o Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), que acontece em Águas de Lindóia (SP).

Consequencias economicas do calote: Keynes-Kirchner

Pois e', parodiando involuntariamente o santo economico dos devedores, eu acho que as consequencias sempre veem depois, como diria um outro filosofo de plantao. Quanto vale a fragata Libertad? Os 248 milhoes que quer receber o fundo abutre?
Com a palavra os keynesianos embriagados de Buenos Aires...
Paulo R. Almeida


Argentina ultima repatriación de los tripulantes de fragata retenida en Ghana

Infolatam Efe
Buenos Aires, 22 octubre 2012
Argentina ultimaba hoy los detalles de la repatriación de la tripulación de la fragata Libertad y recurrió a la ONU para buscar una salida al conflicto que mantiene retenido al buque en Ghana a petición de un fondo especulativo, mientras la presidenta rechazó negociar con “fondos buitres”.
“Mientras yo sea presidenta, se podrán quedar con la fragata, pero con la libertad, la soberanía y la dignidad de este país no se va a quedar ningún fondo buitre ni nadie”, afirmó hoy la presidenta argentina, Cristina Fernández, en un mensaje emitido en cadena nacional.
La presidenta confirmaba así la posición adelantada por el Gobierno argentino de rechazar cualquier posibilidad de diálogo con el fondo especulativo que presentó la demanda que ha provocado la retención de la fragata en Ghana.
La Cancillería argentina anunció hoy que la mayoría de la tripulación de la Fragata Libertad, retenida en Ghana desde hace tres semanas, llegará a Buenos Aires el miércoles y sólo permanecerán a bordo el capitán y una dotación mínima de 44 tripulantes “para garantizar la manutención de la fragata durante su ilegal detención”.
Los 281 marinos evacuados del puerto ghanés de Tema aterrizarán en Buenos Aires en dos días en un vuelo de la compañía Air France contratado específicamente para la repatriación.
Entre el personal que será repatriado se encuentran los 36 tripulantes extranjeros del buque escuela, procedentes de Uruguay, Chile, Paraguay, Bolivia, Venezuela, Brasil, Perú y Sudáfrica.
Es previsible que las distintas embajadas se ocupen de la repatriación de los marineros a sus lugares de origen, tal como hará la representación chilena que, según fuentes diplomáticas consultadas por Efe, se ocupará del retorno de los marinos chilenos a Santiago tras su llegada a Buenos Aires.
La Cancillería señaló que el Gobierno argentino se ha visto obligado a evacuar el buque escuela de la Armada debido a que “el fallo de la justicia ghanesa, aparte de ser violatorio del derecho internacional, pone en riesgo la integridad de la tripulación al negarle el aprovisionamiento necesario para un buque en puerto”.
Argentina ha denunciado que la justicia ghanesa ha impedido cargar combustible en la fragata y ni siquiera es posible activar los sistemas que permiten atender las necesidades básicas de la tripulación.
Varias organizaciones de marinos de los países integrantes del Mercosur, como Argentina, Brasil, Uruguay y Paraguay, se solidarizaron con la tripulación retenida y presentaron una queja formal ante la Organización Internacional del Trabajo (OIT).
Los marinos manifestaron que la retención de la fragata supone “una violación a la soberanía de la Nación argentina y a los derechos laborales de sus tripulantes”.
“De permitir que este atropello resulte impune, pone a la comunidad internacional en una situación de alto riesgo para la seguridad y la paz mundial”, concluye el documento firmado por una veintena de organizaciones reunidas en la Federación de Marinos del Mercosur y las Hidrovías.
Entretanto, el Gobierno de Cristina Fernández apura las vías diplomáticas para resolver una crisis que estalló el pasado 2 de octubre, con la retención de la fragata en Tema por orden judicial.
El canciller argentino, Héctor Timerman, se reunió hoy en Nueva York con las máximas autoridades de Naciones Unidas para solicitar su colaboración en la solución del conflicto.
Tras reunirse con el secretario general de las Naciones Unidas, Ban Ki-moon, Timerman anunció que éste actuará de mediador y hablará con el Gobierno de Ghana para “intercambiar opiniones sobre cómo resolver este conflicto”.
Además, con el objetivo de aumentar su presencia en la región, el Gobierno argentino oficializó hoy la reapertura de su sede diplomática en la capital de Etiopía, sede de la Unión Africana, que agrupa a 49 países, 21 años después de su cierre.
Para Argentina, la decisión de Ghana de aceptar el embargo planteado por el fondo NML en reclamo del pago de bonos soberanos que entraron en mora a finales de 2001, “anula un principio que data de 1926″ y que garantiza la inmunidad de los buques de guerra frente a todo tipo de demandas que puedan realizarse”.
El Gobierno de Fernández se niega a negociar con “fondos buitres” y descarta pagar los 20 millones de dólares que NML pide como fianza.
El jefe de Gabinete argentino, Juan Manuel Abal Medina, afirmó hoy que los fondos buitres “no van a salirse con la suya” y advirtió que “nunca van a torcer el brazo de una Argentina autónoma y que toma sus propias decisiones”.
La fragata Libertad está retenida desde el pasado 2 de octubre, tras una decisión de la justicia ghanesa que aceptó la demanda de embargo interpuesta por el fondo NML, que reclama a Argentina una deuda de 284 millones de dólares más intereses por bonos soberanos que entraron en mora al final de 2001, en plena crisis argentina.
La fragata Libertad, de 183 metros de eslora, zarpó el pasado 2 de junio desde el puerto de Buenos Aires para cumplir su anual viaje de instrucción y tocó, entre otros, puertos de Brasil, Surinam, Guyana, Venezuela, Portugal, España, Marruecos y Senegal.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Brasil esquizofrenico: IPI de 55%!!!!!!

Parece piada, mas não é: quase não quis acreditar: salão do automóvel em SP, mostra de veículos de todos os tipos.
Um modelo ultracompacto, para apenas duas pessoas, de carro elétrico, tem de pagar, além de tarifas e todos os demais impostos, um IPI de 55%!
Pode?
Pode: num país absolutamente esquizofrênico, como o Brasil, tudo é possível.
Como se o automóvel fosse fabricado no Brasil, ele paga um imposto "industrial", quando ele é apenas importado.
Desisto...
Paulo Roberto de Almeida

Diplomacia politizada (nao, nao e' aqui; na Venezuela)

Meu amigo, o historiador Fábio Koifman, neste caso muito espirituoso, me envia o seguinte e-mail:

Caros:
Copio abaixo e-mail convite que recebi.
O corpo diplomático e consular, em tese, trabalha para o Estado venezuelano e não para um governo específico. Se outro fosse o resultado das eleições, o título da palestra do cônsul geral seria "Derrota Eleitoral: Perspectivas Reacionárias"?
Cordialmente, Fábio.  

A Casa da América Latina
Convida
Palestra:
Venezuela:  Vitória Eleitoral - Perspectivas Revolucionárias
Palestrante:
Edgar Alberto M.González
Consul Geral da Venezuela no  Rio de Janeiro
Dia: 24 de outubro de 2012 (quarta-feira)

En clima de campanha política: aos eleitores paulistanos, leitores deste blog

A temática central deste blog sempre foi, e pretende continuar sendo, relações internacionais e política externa do Brasil, com algumas derivações para outras políticas públicas, como, obviamente, as políticas econômicas (as corretas, mas geralmente sou levado a falar das esquizofrênicas, também, já que mais abundantes), com destaque para aquelas que possuem interface internacional (comércio, finanças, investimentos internacionais).
Muitas vezes toco em temas políticos: afinal de contas sou um cidadão pagador de impostos, compulsoriamente -- como aliás todos vocês que me leem -- e abusivamente (como todos, também, já perceberam) e não me eximo de abordar questões das políticas políticas, se ouso dizer, que dizem respeito ao que esses indivíduos que são pagos com o nosso dinheiro para gastar o nosso dinheiro fazem justamente com os recursos que arrecadam tão vorazmente para entregar muito pouco do que prometem.
Além disso, sou um cidadão indignado, como muitos de vocês, com o espetáculo dantesco de roubalheiras privadas e oficiais, de imoralidades privadas e públicas, de descalabro moral, de indecências éticas, de atentados à dignidade da função pública, vale dizer, um pouco do que fazem, deliberada e conscientemente, vários dos companheiros totalitários que se instalaram no poder e não pretendem largar o osso (se sobrar algum ao final do verdadeiro programa de assalto aos recursos públicos que eles conduzem com tamanha desfaçatez e cara de pau).
Pois bem, ao tocar nesses temas todos, me eximo, porém, de tocar em política partidária, no sentido eleitoral da palavra. Não dou consignas, não recomendo ninguém, não peço votos e não assino manifestos. Em uma palavra, não faço campanha, sobretudo porque não me sinto ligado e nunca serei afiliando a qualquer partido que seja, mesmo algum que, por acaso (mas isso vai ser muito difícil), expressar minhas posições com algum grau de acuidade, pertinência e correlação.
Mas não hesito, tampouco, a combater os maus, os bandidos, os ladravazes, os falsos, os hipócritas, os mentirosos, os sem caráter, que ousam se apresentar ao público com um discurso absolutamente mistificador.
É apenas neste sentido que me permito transcrever abaixo a "carta aberta" de uma eleitora -- não importa aqui quem -- que vota em SP, minha cidade de origem, e à qual retorno cada vez que me convidam para algum seminário acadêmico ou atividade intelectual.
Apenas uma missão esclarecedora, e de educação cidadã, digamos assim.
Paulo Roberto de Almeida 

Carta Aberta de uma Eleitora Paulistana:

Em época de comunidades virtuais, mídia social, deparamo-nos com algo nostálgico: carta aberta. Parece que “carta aberta” virou moda. Em sendo assim, redijo minha “carta aberta ao eleitor paulistano”.
Não vou pedir que vote no José Serra, ou tentar convencê-lo disto. Mas pedirei que não dê seu voto ao PT, na pessoa de seu candidato Fernando Haddad. E tentarei justificar esse pedido.
De repente, a cidade de São Paulo se transformou em um troféu disputadíssimo, em uma questão de honra, em um ponto de convergência, chegando ao cúmulo de abrigar, no dia 10 de outubro, toda a cúpula do partido dos trabalhadores, incluindo a presença da senhora presidente Dilma Rousseff, que inadvertidamente apresentava tempo ocioso em sua agenda (fato difícil de se crer em um País tão grande e tão repleto de problemas e trabalhos a decidir ou resolver, mais urgentes do que a eleição em uma de suas tantas cidades ou municípios). Enfim... Aproveitaram a reunião para tratar, também, do apoio moral aos recém condenados no julgamento do mensalão.
Ex-presidente Lula, Mercadante, Suplicy... sem falar de Dirceu, Genoíno, Marta (que ainda se utiliza do nome Suplicy e ganhou até um Ministério... quem diria... da Cultura). Todos reunidos para um objetivo único: não abrir mão da gorda fatia tributária que nossa cidade representa no cômputo geral da República. Não estavam reunidos para discutir os problemas da cidade, tudo o que nós cidadãos contribuintes merecemos e não temos, e sim para definir estratégias, provavelmente não tão transparentes como tudo o que têm sido feito nos últimos anos, para não deixar esse “peixe gordo” escapar.
É para ver o seu rico dinheirinho dos impostos que paga escorrer para um triângulo nas Bermudas que você trabalha e corre como um louco? Porque acompanhando os noticiários você sabe muito bem que não podemos confiar um só fio de cabelo na retidão do setor financeiro das últimas gestões.
Será que olham para São Paulo e, em vez de pessoinhas, enxergam cifrões?
Pense bem!
José Dirceu, o incompreendido ex-chefe da casa civil, afirmou categoricamente que “nossa prioridade, agora, é ganhar o segundo turno, principalmente em São Paulo, contra o PSDB. O mensalão será uma batalha para muitos anos”.
José Genoíno, o injustiçado ex-presidente do partido, leu sua “carta aberta”, muito melhor elaborada do que a minha. E propôs que o PT convocasse militantes e movimentos sindicais contra a “injustiça monumental” cometida pelo Supremo.
Ah! E na leitura da “carta aberta” escrita, talvez, pela filha de Genoíno, Miruna, Eduardo Suplicy foi às lágrimas. Contundente.
Sabem o porquê do meu tom sarcástico? Porque conheci boa parte desse povo há muitos anos, quando não eram mais do que pessoinhas como eu.
Eu fui metalúrgica na época e no nascedouro do PT: São Bernardo do Campo.
Eu frequentava, aos sábados à tarde, as reuniões de um diretório do PT que havia na Av. Vieira de Moraes (Campo Belo – SP), em uma sobreloja, regadas a café de garrafa térmica e copinhos descartáveis. Foi lá que conheci Mercadante e Genoíno. Será que eles se lembram desse fato tão remoto e distante? Será que Miruna já era nascida? Disse na emocionante “carta aberta” que desde os 8 anos ouvia seu pai afirmar que estava “empenhado em defender aquilo que acreditava”. Bonito texto.
E ele acreditava em que? Que existem caminhos mais fáceis do que o trabalho, a honestidade, a decência que nos levem ao poder? Que nunca apontariam o dedo em sua cara afirmando falsidade ideológica? E ainda se passa por traído pelas elites esmagadoras que participam de um complô contra seu partido?
E Lula conheci nos portões da fábrica, sobre um caminhão, com megafone e camiseta.
Suplicy, o elitista, fui reencontrá-lo em uma palestra na faculdade, muitos anos após.
Então, meus queridos políticos petistas, eu os conheço “desde outros carnavais” e “muita água rolou por debaixo dessa ponte”. A seus favores, obviamente.
Se você, eleitor, der seu voto ao PT no dia 28, tornar-se-á responsável pela continuidade desse encardido processo. Se conseguimos implantar o Ficha Limpa, por que jogar tudo para o alto e colocar aqui em nossa cidade um partido enraizado na corrupção? Por que colocar aqui em São Paulo um candidato totalmente desconhecido, manipulado feito marionete por um partido que até pouco tempo atrás não nos dava a mínima atenção? Por que deixar o PT entrar pela porta da frente em nossa capital paulista, se está sendo expulso aos pontapés pela porta dos fundos do Supremo Tribunal Federal, nas pessoas de seus juízes, designados pelo próprio Lula e pela presidente Dilma, condenados por corrupção ativa? Ou você não sabia que a maioria dos julgadores foi indicada por eles, talvez pensando em uma possível absolvição quando em um possível remoto julgamento do mensalão que parecia tão distante? “A consciência moral da Nação está viva e desperta.”
É isso aí. Nem eles conseguiram “engolir” as laudas do processo. E você vai engolir?
O Lula deveria acatar o aconselhamento médico e cuidar melhor de sua saúde, recém recuperada, em vez de ficar fazendo discursos em palanques, ou visitas aos países vizinhos (como a feita a Argentina nestes dias), falando baboseiras absurdas, como “vem dizendo, insultuosamente, que a condenação de seus companheiros foi uma hipocrisia”. Deveria cuidar mais de sua própria vida e deixar que cuidemos da nossa. Deveria dar graças a Deus por ter sido “esquecido” nesse julgamento.
Como disse o editorial do jornal O Estado de São Paulo no dia 11 de outubro, “pela primeira vez na história deste país a Justiça processou, julgou e puniu dezenas de réus de um esquema ambicioso de corrupção política engrendrado nas entranhas do governo federal. E o fez deixando claro que, em estrita obediência ao devido processo legal, o Judiciário tem condições técnicas, institucionais e morais para reconstituir, passo a passo, um escândalo de tamanhas proporções e identificar os seus autores.(...) Inescrupulosos ou honestos, decerto já se deram conta de que o breve do Supremo contra a corrupção vem do bojo da repulsa da opinião pública – uma coisa realimentando a outra – à imundície das estrebarias do poder.”
Tenho lido, diariamente, jornais e revistas sobre esse julgamento. Tenho ouvido, no rádio e na televisão, os noticiários sobre esse julgamento. Mas um dos textos que me “pegou” é o de Clóvis Rossi, “Não era golpe, eram fatos”, publicado na Folha de São Paulo também no dia 11 de outubro. Lá ele diz, entre outras verdades, que a “mídia internacional deixa claro que a teoria da conspiração foi uma safada invenção do lulo-petismo”.
Então, pense bem antes de apertar o botão “confirma”.
Principalmente porque eu poderei ser penalizada por sua insensata atitude, mesmo fazendo todo este discurso.

Lxxxx Pxxxx
Iniciada em 11 e terminada em 18.10.12 

Um debate sobre inovacao: DARPA e "darpobras" - Mansueto Almeida, e outros (eu...)

Um debate muito relevante sobre inovação tecnológica e o papel das encomendas militares no caso dos EUA.
Estou ali no meio dos comentários...
Paulo Roberto de Almeida 

Lições de Inovação: Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA)
Mansueto Almeida
20/10/2012
Apesar de ser um país liberal com um discurso tradicional contra intervenção do Estado na economia, o que muitos não percebem é que, mesmo nos EUA, o governo tem uma importância fundamental no incentivo à inovação. E o melhor exemplo desse papel ativo do governo no fomento à inovação é uma agência criada pelo presidente Eisenhower, em 1958, em resposta ao lançamento do satélite soviético Sputnik, em 1957.
Essa agência se chama “Defense Advanced Research Projects Agency” (DARPA), uma agência do governo americano com um orçamento anual de US$ 3 bilhões – 0,5% do orçamento do Departamento de Defesa de US$ 651 bilhões, em 2009- que se destaca no financiamento de tecnologias novas para uso militar cuja aplicação transborda para uso comercial.
Escrevi recentemente uma nota técnica sobre o assunto a partir de um livro que que li sobre essa agência de fomento à inovação nos EUA. Há varias coisas interessantes no formato dessa agência (leiam a nota técnica anexa) e o Brasil poderia fazer algo semelhante. Essa agência tem as seguintes características: (1) não tem um corpo de funcionários permanentes, trabalha com pesquisadores recrutados por um contrato de três anos; (2) a agência fomenta redes de pesquisa para dar o ponta pé inicial no desenvolvimento de tecnologias novas, (3) há um casamento no desenvolvimento de tecnologias para uso militar e sua aplicação em uso comercial; (4) a agência aprende com suas experiências mal sucedidas – o fracasso é essencial no desenvolvimento de inovação radical.
Infelizmente, no caso do Brasil, não há nada remotamente semelhante a DARPA. Por exemplo, no nosso caso, o orçamento da defesa executado, em 2011, foi de R$ 61,2 bilhões, subdividido da seguinte forma: (1) R$ 17,5 bilhões com gasto de pessoal ativo; (2) R$ 29,1 bilhões com aposentados e pensionistas, (3) R$ 8 bilhões com custeio, e (4) R$ 6,5 bilhões com investimento.
Se no Brasil houvesse uma agência de inovação ligada ao orçamento das Forças Armadas nos moldes da DARPA dos EUA, essa agência teria um orçamento perto de R$ 300 milhões – 0,5% do orçamento da defesa. Um valor que seria muito pequeno. Na verdade, poderíamos ser muito mais audaciosos e pegar recursos do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e parte dos recursos que hoje mandamos para o BNDES para investir em inovação a fundo perdido.
No Brasil de hoje, quase metade dos recursos anuais dos Fundos Setoriais (orçamento anual perto de R$ 3 bilhões) não são executados e os contínuos empréstimos do Tesouro ao BNDES, apenas em 2011, tiveram um custo fiscal perto de R$ 23 bilhões.
O governo brasileiro poderia ser muito mais ousado na sua agenda de inovação sem precisar aumentar a despesa primária ou criar novos impostos. Bastaria redefinir o que é prioritário e encarar uma verdade simples – investimento em inovação deve ser feito a fundo perdido, por meio da formação de redes de pesquisa, inclusive com a participação de empresas privadas.
Mas isso por enquanto não é consensual. Por enquanto, muito acham que promover crescimento é dar crédito subsidiado para empresas que não precisam de subsídio para continuarem a fazer mais do mesmo. O que sempre escuto de pessoas, em geral arrogantes, é que: “O Brasil precisa promover empresas grandes para exportar mais e promover o crescimento sustentável”. Sinceramente, não é isso que o Brasil precisa.
O que o Brasil precisa é investir mais em educação, em todos os níveis de ensino, reduzir o papel do BNDES na oferta de recursos e gastar mais a fundo perdido com o fomento à inovação nos moldes da DARPA – com as melhores cabeças do país pensando em inovação. Não é fácil, mas esse é o desafio.

13 Respostas

  1. em 20/10/2012 às 19:27 | ComentarRodrigo Medeiros
    Mansueto,
    Você leu “Economics and World History: Myths and Paradoxes” (University Of Chicago Press, 1993), de Paul Bairoch? Pois bem, lá consta que os EUA foram a pátria mãe do protecionismo para o desgosto dos nossos (neo)liberais. O livro também discute como o protecionismo tem sido a norma e o liberalismo econômico o desvio na economia mundial.
    Cordialmente,
    • em 21/10/2012 às 5:13 | Comentarmansueto
      Não li esse livro. Mas o ponto que faço aqui é muito mais simples do que o debate protecionismo vs não protecionismo. Na verdade, meu ponto aqui é que mesmo em uma sociedade liberal, o fomento à inovação depende fortemente de recursos públicos como é o caso dos EUA.
  2. Como se sabe, todos os governos praticam intervenções em seus países. O livre mercado ou ingerência estatal mínima, só existe nos manuais de economia e livros de filosofia. Já que na prática é impossível que governos não intervenham, é desejável que essa se dê da maneira inteligente ou sensata, tal como fazem aí os EUA. No Brasil, infelizmente como vc bem pontuou, ainda não temos uma agência desse tipo mas temos a EMBRAPA, uma estatal muito bem sucedida, que elevou os níveis de produção de nossa agricultura a patamares de excelência mundial, e que agora, segundo li na Revista Exame, vai investir em parceria com a iniciativa privada em novas pesquisas para produção de uma semente de milho que seja extremamente resistente ao clima seco.
    Mas um dia chegaremos lá meu nobre Mansueto. Para isto basta apenas vontade política e uma mudança de mentalidade.
    acredito nisso
    • em 21/10/2012 às 5:18 | Comentarmansueto
      O caso da Embrapa e mesmo do complexo ITA-CTA-Embraer são bons exemplos. Gosto mais do caso da Embrapa pela característica de inovação que beneficia um grande numero de produtores.
      A Embrapa é uma instituição que tem algumas semelhanças com esse exemplo da DARPA que quis destacar. Trabalha com redes de pesquisa, aprende com os casos de fracasso e “faz apostas radicais”.
      Mas no caso da Embrapa a elite da pesquisa no setor foi trazida para dentro da Embrapa que faz a pesquisa. No caso da DARAP, os pesquisadores vieram por um período de tempo limitado para fazer apenas coordenar a pesquisa.
  3. em 20/10/2012 às 21:58 | ComentarHilario Muylaert
    Caro Mansueto,
    A propósito do desenvolvimento tecnológico americano, podemos dizer que a “Guerra Fria”, no período pós- 2ª guerra mundial, foi o seu principal fator motivador. O “chamado” complexo militar-industrial-acadêmico — em que participaram o MIT, Stanford, Harvard, Columbia, dentre outras, aliadas à GE, Boeing, ATT..etc, e a nata da elite (NASA……projeto guerra nas estrelas………..etc…..) militar americana — foi uma estratégia vencedora, que acabou por deixar “a nu” a extinta União Soviética.
    Num 2º momento, ou seja, como desdobramento, a estratégia previa a transferência das novas tecnologias para o mundo dos negócios privados, com fins civis e comerciais. Então, a internet, por exemplo, não surgiu de investimentos de pesquisas de mercado. Surgiu, sim, de orçamentos fiscais destinados à guerra, à expansão do imperialismo americano.
    Assim, como as tecnologias de ponta que atualmente dispomos (celular, fibras óticas, satélites…etc… ) são oriundas de investimentos públicos para fins militares.
    Em suma, o domínio americano da tecnologia militar e comercial foi alcançado dada uma estratégia de governo, e financiada com recursos públicos.
    Interessante seu artigo, Mansueto, pois abre uma janela para desmistificarmos a lenda americana do livre mercado. Particularmente aos liberais ortodoxos que pouco abordam a economia política, e a história econômica.
    Um abraço
    Hilario Muylaert
    • em 21/10/2012 às 5:24 | Comentarmansueto
      Caro Hilário,
      não sei se o meu artigo desmistifica a lenda americana do livro mercado. O meu ponto é algo mais simples: inovação nos EUA está ligado sim ao complexo militar-industrial-acadêmico como você bem colocou.
      Mesmo a literatura sobre o Vale do Silício mostra como os contratos militares forma importantes para a pesquisa e para a formação de novas empresas na região ao longo de todo o século XX.
      Não quero dizer com isso é claro que o Brasil precisa entrar em guerras para fomentar inovação. O que quero destacar é a estrutura organizacional de fomento a inovação vai DARPA, uma agencia que trabalha na formação de redes de pesquisa e com flexibilidade para apostar em tecnologias radicais e o uso de recursos a fundo perdido.
      Acho que neste campo há lições para nós. Abs,
  4. Não gosto da falta de recursos com que os militares lidam hoje, mas gosto menos ainda de ver os incentivos à inovação no Brasil serem liderados por um modelo militar-bélico à la Estados Unidos. O tamanho do gasto de pesquisa deles nas áreas militar (incomparável com qualquer outro país do mundo até então – China tem aumentado essa despesa também) é reflexo também da “inclinação” do país para se envolver em conflitos armados e efetuar gastos militares.
    Não ignoro a importância, mas preferiria ver um investimento mais próximo do que o MITI representou para o Japão na descentralização dos incentivos à inovação e de programas como o norte-americano SBIR que financia (a fundo perdido, claro) projetos de pesquisa com vistas à desenvolvimento em através de um modelo de seleção competitiva (tipo edital) e tem resultados animadores. No Brasil a iniciativa já foi copiada pela FAPESP (programa PIPE), mas a diferença de escala ainda é brutal, uma vez que lá esse é um programa Federal e aqui se limita a um Estado.
    Acho interessante ver o quanto a inovação (e a educação em grande medida) vem sendo negligenciada nas políticas públicas e é bom ver a blogosfera repercutir isso em bom nível, mas, ainda assim, não acredito que o ‘modelo DARPA/DoD’ seria uma boa opção para o Brasil.
    • em 21/10/2012 às 5:37 | Comentarmansueto
      Mas nunca o nosso incentivo à inovação será liderado por um modelo militar bélico como no caso dos EUA. Talvez eu tenha passado a falsa impressão que estava defendendo esse tipo de modelo militar-bélico.
      O ponto é que no Brasil, o fomento à inovação baseia-se fortemente na concessão de crédito subsidiado via FINEP e os mecanismos de subvenção à inovação são para vários projetos desconexos e pulverizados.
      O que acho interessante no caso DARPA/DoD é a organização institucional da inovação: (1) se pega os melhores pesquisadores de cada tema e os convidam para coordenar ou participar de uma rede de pesquisa; (2) a ideia é mostrar para militares e setor privado que o desenvolvimento de uma nova tecnologia é possível, (3) os projetos surgem de um simples rascunho de um desses pesquisadores, que têm profundo conhecimento da área de pesquisa que atuam; (4) há vários fracassos (com aprendizado) para se chegar a um caso de sucesso, etc.
      No Brasil, as nossas políticas de fomento à inovação, com exceção da Embrapa, não envolvem nada disso. Como falo na p10-11 da nota técnica:
      “Há no setor público brasileiro um grupo de pesquisadores de reconhecida competência na sua área de atuação que definem em quais tecnologias o país vai apostar? No caso do Brasil, há esse fluxo constante de migração de pesquisadores de empresas privadas, academia, e centros de pesquisa para uma agência pública de fomento à inovação e vice-versa? Em outra palavras, é possível falar que o sistema de promoção de CT&I no Brasil está inserido em um sistema nacional de inovação como parece ser o caso da DARPA nos EUA? Os gestores públicos têm flexibilidade de tomar a decisão do que financiar a fundo perdido? Há no caso brasileiro nos projetos apoiados pela FINEP e MCTI a dinâmica de avaliação e aprendizado a partir de casos de fracasso no desenvolvimento de novas tecnologias?”
      Assim, não o desafio não é repetir o complexo de pesquisa militar bélico dos EUA mas aprender com a organização institucional de uma instituição que por mais de 50 anos parece funcionar bem. E mesmo esse aprendizado será limitado, pois aqui não temos a excelência da rede de pesquisa das universidades que existe por lá.
      • Nesse sentido eu concordo, mas não consigo pensar numa instituição no Brasil que tenha a competência que tem o DARPA para liderar um projeto desse tamanho. Alguns colegas do MCT estão cada vez mais desestimulados com o aparelhamento da estrutura e a relativa falta de rumo do ministério.
        Inovação é uma agenda parada no Brasil, infelizmente. Acho que o modelo pode servir de inspiração sim, mas os obstáculos são muitos, uma vez que os Estados dificilmente conseguirão recursos com o vulto necessário para impactar essa realidade, além do problema de perdas já mencionado por conta da pulverização das políticas.
        Vale lembrar que mesmo em São Paulo, só o custeio do Ensino Superior estadual, leva algo em torno de 10% da cota parte do ICMS. É uma parcela muito grande do orçamento para uma esfera relativamente pequena (se comparada ao ensino médio, por exemplo) e ter que elevar a mais via políticas de inovação se torna algo proibitivo.
        É bom ver você propor essa discussão por aqui, mas é triste não conseguir enxergar eco dessas preocupações no governo federal.
  5. Discordo da maior parte dos argumentos aqui apresentados, inclusive da visao do Mansueto, mas nao tenho tempo ou condicoes de desenvolver os meus agora. Apenas ouso dizer que as pessoas confundem orcamento militar voltado para aplicacoes especificas com o processo de inovacao que permeia TODA a sociedade americana e confundem a superestrutura desses gastos do Pentagono (em grande medida inuteis e perdularios) com a “infraestrutura” da boa formacao educacional, que na verdade comeca com a professorinha de aldeia. O Pentagono nao poderia fazer absolutamente NADA se ja nao encontrasse na sociedade americana pessoas preparadas (engenheiros, fisicos, tecnologos em geral) para desenvolver ideias, e isso nao comeca e nao termina com ele. O Pentagono e’ apenas a ponta, alias deformada, de um imenso iceberg de inovacao.
    Isso nao tem NADA a ver com liberalismo, protecionismo, neoliberalismo e outras bobagens, totalmente desconectadas dos fundamentos do “modo inventivo de producao” em vigor nos EUA, que tem a ver com estimulos adequados que vem em primeiro lugar da propria sociedade, nao do Estado.
    Um dia desenvolverei estes pontos.
    Paulo Roberto de Almeida 
    • em 21/10/2012 às 6:04 | Comentarmansueto
      Na verdade, até entendo o seu ponto de vista. Mas o meu ponto, como já falei nos outrso comentários acima, não é defender que precisamos aumentar gastos com defesa ou mesmo subordinar a politica de fomento a CT&I ao complexo militar.
      É fato que inovação é algo que está no DNA dos EUA e não tem paralelo em nenhum outro país do mundo. Mas grande parte da agenda de inovação dos EUA está historicamente ligada ao esforço de pesquisa militar , mesmo o caso do Vale do Silício.
      A formação do Vale do Silicio (que na verdade só passa a ser chamado por esse nome a partir de 1973) foi muito dependente de contratos com o DoD e do esforço de inovação de um grupo de acadêmicos que participaram de um grupo de pesquisa financiado pelo governo americano na segunda guerra mundial, entre os quais, o famoso diretor da escola de engenharia de Stanford, Frederick Terman.
      Dito isso, não acredito que precisamos fomentar o complexo bélico para inovar e uma agência como a DARPA teria dificuldades de funcionar no Brasil justamente pelos pontos que você apontou: nosso sistema educacional é ruim e não dá para inovar com um sistema educacional que não funciona e com empresas que estão protegidas da livre concorrência.
      Da mesma forma, o exemplo da DARPA não tem absolutamente nada a ver com o debate protecionismo versus liberalismo. O que acho importante do aprendizado aqui é a forma que essa instituição funciona: (1) os melhores pesquisadores de cada tema são convidados para coordenar ou participar de uma rede de pesquisa; (2) o setor público atua apenas na fase inicial do desenvolvimento de uma nova tecnologia para sensibilizar setor privado (e militar no caso dos EUA), (3) os projetos surgem de um simples rascunho de um desses pesquisadores, que têm profundo conhecimento da área de pesquisa que atuam; (4) há vários fracassos (com aprendizado) para se chegar a um caso de sucesso, etc.
      No Brasil, independentemente da qualidade da nossa educação, já utilizamos recursos públicos para fomentar inovação e acho que os resultados são pífios e quem tem a palavra muitas vezes sobre o que será financiado são burocratas que não participam de pesquisa. E acho também que a organização institucional dos órgãos de fomento à inovação não tem paralelo com o tipo de organização institutional que se encontra na DARPA.
      Assim, o meu ponto é muito mais destacar a “organização institucional” de uma agencia voltada para o fomento à inovação. Vou deixar isso mais claro na revisão na nota técnica. Abs,
      Mansueto Almeida
      • em 21/10/2012 às 11:33Rodrigo Medeiros
        Este debate é muito importante! Desculpem-me pela insistência, mas o protecionismo integra parte relevante desse imbróglio da inovação. Vejamos um caso recente e que virou matéria da revista The Economist:
        Penso ser ingênuo acreditar que se pode fazer inovação em larga escala sem alguma forma de protecionismo. Afinal, o que não seria estratégico para os EUA? O Brasil não tem condições de bancar essa posição por diversos motivos e a regulação ruim das atividades econômicas entre nós aponta para esse quadro de dificuldades de se regular adequadamente os gigantes transnacionais.
        Dica de leitura sobre o dual complexo industrial-militar dos EUA: “The Closed World: Computers and the Politics of Discourse in Cold War America” (The MIT Press, 1996), de Paul N. Edwards.
        Cordialmente,