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quarta-feira, 30 de julho de 2014

O abutre rosa que inferniza a Argentina

Paul Singer, el enemigo feroz de Cristina Fernández
El estadounidense Paul Singer, de 69 años, es el principal enemigo de Argentina en su batalla contra los fondos de inversión acreedores. Singer es el director de Elliott Capital Management. Una de sus filiales —NML— no aceptó, junto a otros inversores, las quitas ofrecidas en 2005 y 2010 por Buenos Aires y lideró una larga y feroz pelea en los tribunales. La victoria final le llegó en junio cuando un juez de Nueva York determinó que Argentina debía pagar sus deudas pendientes. A NML le corresponden alrededor de 225 millones de euros, a cambio de la deuda que según el Gobierno argentino adquirió por 35 millones.
Singer acumula una fortuna de 1.120 millones de euros, según la revista Forbes. En 1977 fundó Elliott y, gracias a su agresividad empresarial, ha logrado catapultar el fondo, que gestiona un capital de unos 11.000 millones.
Este multimillonario discreto, generoso donante del Partido Republicano y activista de los derechos de los homosexuales no ha escatimado esfuerzos en su cruzada contra Buenos Aires. Su mantra: presionar al máximo. Singer no ha tenido reparos en organizar la distribución de folletos contra la política del Gobierno argentino en cualquier viaje de la presidentaCristina Fernández a Estados Unidos, consiguió retener durante 70 días en 2012 en un puerto de Ghanala fragata insignia de la Armada argentina y ha puesto en enormes aprietos logísticos a Fernández. Entre 2007 y 2010, el Gobierno argentino tuvo que cancelar varios vuelos de su avión oficial a EE UU y a Alemania para que no fuera embargado.
La estrategia de Singer de comprar deuda cuando su precio está hundido para después reclamar un beneficio mayor no es nueva y le ha valido a su firma el calificativo defondo buitre. En los años 90 consiguió, mediante fallos judiciales, cobrar 43 millones de euros en deuda de Perú que había adquirido por 8 millones, y otros 67 millones en pasivo de Congo que había comprado por 15 millones.
Pero en EE UU, este licenciado en derecho por la Universidad de Harvard no es conocido por su ofensiva contra Buenos Aires sino por sus vínculos políticos y su influencia en Wall Street. Singer es uno de los donantes más generosos con los republicanos de cara a las elecciones legislativas de noviembre, como ya lo fue en el pasado. Sin embargo, no coincide al 100% con las tesis del aparato del partido, especialmente respecto a los derechos de los gays, una causa que ha abrazado con fuerza influido por su hijo, quien se casó en 2010 con otro hombre.
En el terreno económico, Singer ha criticado la política ultraexpansiva de la Reserva Federal y los cambios regulatorios impulsados por Barack Obama por ser demasiado laxos con los grandes bancos. No en vano, fue de los inversores que más alertaron de los riesgos de las hipotecas subprime antes de la debacle financiera de 2008. Eso sí, según la revista Fortune, es "un defensor apasionado" del 1% más rico del país.

Chines do Deutsche Bank tambem preve deterioracao sob os companheiros: vai ser demitido por isso?

O estrategista do banco usa luva de pelicas, mas não esconde dos clientes que a situação tende a se agravar caso Dilma seja reeleita. E agora, Lula, vai pedir cabeças no Deutsche também?

O banco Deutsche Bank está recomendando os seus clientes a reduzirem sua exposição aos títulos da dívida soberana brasileira denominados em dólar citando como uma das principais razões a perspectiva de reeleição de Dilma Rousseff e o “otimismo” demasiado dos mercados em relação a uma melhora nos fundamentos macroeconômicos do Brasil num eventual segundo mandato da presidente.
O banco alemão espera uma eleição apertada e apenas decidida no segundo turno.
Em nota enviada a clientes ontem, o estrategista para mercados emergentes do Deutsche Bank, Hongtao Jiang, rebaixou o peso dos títulos soberanos do Brasil em dólar de “neutro” para “underweight” (abaixo da média dos títulos que compõem a carteira sugerida para mercados emergentes), o que levaria os investidores a reduzir as suas aplicações nos papéis brasileiros em favor de outros países emergentes.
O Deutsche Bank havia elevado o Brasil para o peso “neutro” em janeiro deste ano, depois de ter deixado os títulos brasileiros por mais de um ano na posição “underweight”. Contudo, diante da recente valorização dos ativos brasileiros e da perspectiva dos fundamentos macroeconômicos, o banco voltou atrás e rebaixou novamente o País.
Jiang também recomenda os investidores favorecerem os títulos com vencimentos mais longos na curva de juros em dólar do País.
“Seguimos esperando que a presidente Rousseff seja reeleita, mas apenas após uma corrida presidencial apertada e com um apelo mais populista”, afirma Jiang em nota a clientes. “Além disso, acreditamos que o mercado está precificando muito otimismo sobre uma melhora potencial de políticas num segundo mandato de Dilma.”
Segundo Jiang, o sub-índice Brasil (na carteira de índices de mercados emergentes globais) registrou uma queda de 25 pontos-base desde o final de março. Uma queda refletiria teoricamente uma melhora na percepção do risco-País. Agora, segundo Jiang, o sub-índice Brasil está sendo negociado a 15 pontos-base abaixo da média dos títulos de países emergentes com rating soberano de grau de investimento, enquanto que no final de janeiro os papéis brasileiros eram negociados a 30 pontos-base acima da média dos países emergentes com nota de risco semelhante.
Esse nível atual de preços dos títulos brasileiros, ressaltou Jiang aos clientes do Deutsche Bank, “não compensa o risco de contínua deterioração dos fundamentos caracterizados por estagflação, piora no balanço de pagamentos, deterioração da qualidade fiscal, e um horizonte desafiador de política econômica antes e depois das eleições”.
O estrategista do Deutsche Bank disse acreditar que as eleições de outubro permanecem como um fator de restrição, limitando o escopo de mudanças significativas de políticas econômicas. O cenário base do banco alemão é que a presidente será reeleita após uma corrida apertada e apenas no segundo turno.
“A popularidade dela (Dilma) continuará provavelmente caindo nas pesquisas de opinião, devido ao ciclo desfavorável da economia, mas também em razão de uma crise de energia, uma investigação no Congresso e dificuldades ao sediar a Copa do Mundo”, disse Jiang. Mas essa queda da popularidade não será suficiente para prejudicar as chances de reeleição ou mesmo trazer de volta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para substituir Dilma como candidato do PT, escreveu o estrategista aos clientes.
Essa dinâmica, ressaltou ele, representará um cenário desfavorável ao mercado, pois o PT provavelmente conduzirá a campanha eleitoral com forte apelo populista, o que provavelmente não melhorará a percepção sobre um segundo mandato de Dilma Rousseff. Tal apelo populista, disse Jiang, ficou explícito com o anúncio de reajuste de 10% nos valores do Bolsa Família e a correção da tabela do Imposto de Renda em 4,5% para 2015, além da continuidade da política de manter o salário mínimo crescendo a um ritmo maior do que a inflação para além de 2015.
Com base nas estimativas de José Carlos Faria, economista-chefe para Brasil do Deutsche Bank, Jiang disse que a perspectiva para os fundamentos econômicos do Brasil é bastante desafiadora. No lado fiscal, ele cita a projeção de um superávit primário consolidado do setor público de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, em comparação com a meta de 1,9% anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“A inflação permanece sob pressão, agravada por condições climáticas”, afirmou Jiang. “O provável racionamento de energia elétrica neste ano e em 2015 causará uma redução adicional da atividade econômica; a balança comercial tem se deteriorado continuamente e a estagflação parece ser o curso do futuro próximo (ao menos nos próximos dois anos)”, escreveu o estrategista do Deutsche Bank. (Blog do Fábio Alves, no Estadão).

Totalitarios nao gostam dos fatos, que nao deixam de ser fatos por isso...

Caso Santander: Lula & Dilma contra o mercado e os fatos.
Alexandre Schwartsman, que já foi economista-chefe do Santander, faz uma observação importante em relação à escandalosa interferência de Lula e Dilma no banco: o governo e o PT podem não concordar com a avaliação do mercado - mas trata-se de um fato, e não de simples opinião. A visão de ambos, com efeito, é meramente ideológica:


Antes de tudo, um alerta: para quem não sabe, fui economista-chefe do Santander entre 2008 e 2011, demitido após discussão pública com o então presidente da Petrobras. Digo isso porque quero hoje tratar do imbróglio que envolveu o banco na semana passada, quando foi publicada análise relacionando o desempenho da presidente nas pesquisas eleitorais ao comportamento da Bolsa, do dólar e de outros ativos.

A análise nada trouxe de controverso. Aqui mesmo na Folha, no dia 19, lia-se na página B3: "Bolsa chega ao maior nível em 16 meses", notando que "as ações de empresas estatais dispararam na BM&FBovespa e impulsionaram o principal índice da Bolsa brasileira nesta sexta-feira (18), após pesquisa Datafolha ter apresentado empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB)". Acrescentou ainda que, "desde que começaram a ser divulgadas pesquisas apontando perda de espaço da presidente (...), o mercado de ações nacional, que caía e acentuava queda (...), mudou de tendência".

O governo e o partido podem não concordar com a avaliação do mercado, mas, conforme descrito pelo jornal, trata-se de um fato: para bem ou para mal, a percepção é que uma mudança de orientação de política econômica terá efeitos positivos sobre as empresas brasileiras, em particular as sujeitas a controle acionário governamental.

E é bom notar que o tal mercado pode ter as preferências ideológicas que quiser, mas, na hora de comprar ou vender uma ação, o que menos interessa é ideologia; é sempre a perspectiva de lucro que move esses agentes. Posto de outra forma, ninguém rasga dinheiro em nome de suas convicções políticas.

O texto do banco, enviado a correntistas com renda mensal superior a R$ 10 mil, supostamente mais propensos a operar no mercado financeiro, nada mais fez do que compartilhar esses fatos, e por um motivo muito claro. Bancos têm um dever fiduciário com seus clientes: não podem omitir ou distorcer informações relevantes para sua tomada de decisão.

Em particular, a opinião das áreas de pesquisa deve refletir exatamente esse tipo de preocupação. Analistas não estão certos o tempo todo, mas é claro que suas conclusões não devem ser guiadas pelos interesses da instituição financeira. Não por acaso as regras buscam (nem sempre com sucesso, diga-se) isolar a pesquisa econômica das posições próprias do banco e mesmo de áreas que gerenciam as aplicações de clientes (fundos de investimento), precaução devidamente apelidada de "muralha da China".

Nesse sentido, a decisão de demitir os analistas que expuseram, mais que uma opinião, um fato representa uma violação desse procedimento. A alegação de que a análise conteria "viés político ou partidário" não se sustenta diante da própria diretriz interna que "estabelece que toda e qualquer análise econômica enviada aos clientes restrinja-se à discussão de variáveis que possam afetar a vida financeira dos correntistas". Não há, como se viu, a menor dúvida de que as perspectivas acerca da eleição presidencial são mais que relevantes para afetar a vida financeira dos clientes.

A consequência desse comportamento é óbvia (e aqui falo em termos gerais, não do banco em si). Se a autonomia da pesquisa é ameaçada, a credibilidade da análise fica comprometida, a despeito das qualidades do analista. Quem, de agora em diante, pode confiar em relatórios se não sabemos a que tipo de filtros estes se encontram sujeitos?

O maior perdedor é o debate econômico, ainda mais numa conjuntura em que --em face de desafios nada triviais no futuro próximo-- ninguém se aventura a discutir a sério o que precisa ser feito para colocar a economia brasileira de volta nos eixos. Se até o óbvio, amplamente noticiado (ainda bem!) pela imprensa, vira objeto de censura, pouco falta para que fujamos da controvérsia como quem tem um miúra nos calcanhares. (FSP).

Brasil: uma forca perturbadora no FMI, segundo a Diretora-Gerente; e como...

Claro, ela estava brincando, e referindo-se à Copa do Mundo, mas é verdade que o Brasil sempre teve relações tempestuosas com o Fundo, e desde outros Carnavais: começamos com um acordo, em 1958, que foi denunciado demagogicamente pelo presidente Juscelino Kubitschek, "apenas" porque ele queria construir Brasília sem orçamento, à margem do orçamento, contra o orçamento. O FMI só queria que o Brasil colocasse suas contas em ordem, mas a consequência foi o início da inflação no Brasil, que resultou em 1964, e depois na voragem dos anos 1980 e início dos anos 1990. Parece que, agora mesmo, os companheiros, que já chamaram a diretora-gerente do FMI de "presidenta" do FMI, e que também denunciaram, demagogicamente um acordo com o Fundo (o de 2002, renovado em 2003, e que poderia ir até 2007, mas interrompido por eles em 2005, a um grande custo para o Brasil), estão provocando mais inflação, para desgosto de todos nós que já sofremos bastante sob os ciclos inflacionários anteriores.
Enfim, hoje mesmo acabo de terminar um artigo sobre as relações entre o Brasil e o FMI, nestes 70 anos de história desde Bretton Woods. Aliás, começo antes, como revelado neste resumo do artigo que transcrevo abaixo, mais o sumário do artigo. Mais adiante, darei conhecimento da íntegra.
O Brasil e o FMI desde Bretton Woods: 70 anos de História”.

Resumo: Ensaio sobre a inserção do Brasil no sistema monetário internacional, desde antes de Bretton Woods: uma conferência interamericana no Rio de Janeiro, em 1942, já previa o estabelecimento de um Fundo Internacional de Estabilização. O ensaio retraça o itinerário do FMI, com destaque para a mudança de padrão cambial em 1971, e segue as relações entre o Brasil e a instituição, com ênfase nos acordos contraídos sob diferentes políticas econômicas e em momentos diversos de crises nas transações externas; o primeiro acordo foi rompido por razões políticas em 1958, e o mais recente, de 2003, foi suspenso em 2005, antes de sua conclusão, também por motivos políticos. São destacados os problemas enfrentados pelo FMI no período – estabilidade cambial, liquidez, monitoramento das economias nacionais – e as circunstâncias que levaram o Brasil a contrair seus muitos acordos com a instituição; uma tabela final lista todos esses acordos e os valores envolvidos.
Sumário:
1. O FMI começou no Brasil, dois anos antes de Bretton Woods
2. Os Direitos Especiais de Saque também começaram no Brasil
3. Os desequilíbrios se acumulam e Nixon corta o Nó Górdio de Bretton Woods
4. Os choques do petróleo e a crise da dívida latino-americana dos anos 1980
5. Encontros e desencontros entre o Brasil e o FMI nas duas décadas perdidas
6. As crises asiáticas e a moratória russa: o Brasil volta ao FMI
7. A crise argentina e cenário eleitoral de 2002: as novas fases do drama
8. A esquerda anti-FMI e o fim dos acordos formais

Anexo: Brasil: acordos formais estabelecidos com o FMI, 1958-2010
Até lá
Paulo Roberto de Almeida

Brasil não está fazendo reformas estruturais, diz diretora do FMI

O Globo, 30/07/2014


Às vésperas do recesso de verão do Fundo Monetário Internacional (FMI), a diretora-gerente Christine Lagarde reuniu-se na manhã desta terça-feira com um grupo de jornalistas, na sede do organismo multilateral, para discutir as perspectivas da economia mundial. Ao falar do Brasil, brincou que o país foi “uma força perturbadora” dos trabalhos do organismo por um mês, devido à Copa do Mundo, durante a qual funcionários, diretores e ela própria pararam constantemente para acompanhar os jogos. Mas também falou sério. Questionada se, diante de 15 meses de prognósticos ruins e repetição das mesmas recomendações, o governo brasileiro estava falhando na adoção de políticas para corrigir fragilidades, diplomaticamente concordou:
— Temos reiterado as mesmas fortes recomendações para que reformas estruturais sejam feitas, gargalos sejam reduzidos na economia e que o potencial, a capacidade de o Brasil entregar crescimento seja liberada. E isso não vem sendo feito — afirmou a diretora-gerente, que colocou o Brasil ainda em estado de atenção em relação à expansão do déficit em conta corrente (que fechou em 3,6% do PIB, ou 2,9% justados, em 2013, para um patamar que o Fundo considera ideal entre 1% e 2,5%).
Lagarde reforçou a mensagem de que o mundo passa por um período de retomada desigual do crescimento, com tração nos motores dos países ricos e desaceleração sincronizada e sistemática das nações emergentes. Alertou para os riscos associados à normalização das políticas monetárias dos EUA e do Reino Unido, que pode provocar turbulências e desarrumar ainda mais a casa dos países em desenvolvimento.
O receituário para vencer os obstáculos, disse Lagarde, é inequívoco: reformas estruturais, conserto dos problemas macroeconômicos (inflação alta, déficits em contas externas, desequilíbrios fiscais) e muita coordenação entre autoridades.
Ela acredita ainda que a criação de mecanismos como o Arranjo de Contingência de Reservas (ACR) das nações que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não afronta o FMI, e sim convoca parceria entre os diversos agentes, refletindo um mundo multipolar mas interdependente. A diretora-gerente considera ainda que a falha do Congresso dos EUA em ratificar a reforma de governança do Fundo, que dará mais poder aos emergentes, não afeta a eficiência da instituição nem lhe retira credibilidade.
Sobre a iminência de default da Argentina, nesta quarta-feira, Lagarde afirma que os efeitos serão circunscritos ao país sul-americano, do ponto de vista de turbulências. Mas o episódio acentuará a necessidade de reavaliação dos processos de reestruturação de dívida, da eficiência da ação coletiva, “(d)a escolha de leis e outros critérios legais tipicamente encontrados nesses casos”. O próximo trabalho do FMI sobre o tópico será apresentado à diretoria-executiva do órgão entre o fim de setembro e o início de outubro, pouco antes da Reunião Anual da instituição e do Banco Mundial, em Washington.
Abaixo, alguns trechos da entrevista.
CONDIÇÕES GLOBAIS
“Estamos passando por uma recuperação desigual do crescimento global. O que estamos identificando é risco associado com a normalização das políticas monetárias dos países ricos, começando com EUA e Reino Unido. O Fed (Federal Reserve, BC americano) e o Banco da Inglaterra estão agora considerando o fim dos estímulos e a elevação dos juros. Banco Central Europeu e Banco do Japão provavelmente continuarão mais um tempo com a política acomodativa. Haverá consequências. Se a comunicação for bem calibrada e feita, acreditamos que os efeitos colaterais serão administráveis. Mas claramente temos em mente o que aconteceu em maio do ano passado e como apenas a comunicação da intenção afetou os mercados emergentes”.
Emergentes
“Também temos uma desaceleração mais sincronizada dos emergentes. Eu colocaria a China de lado, pois medidas tomadas vão segurar o crescimento de 7,5%. Mas demais emergentes, sim. Isso terá ‘consequências para a vizinhança’, no sentido de que os países que comercializam ou se beneficiam de investimentos dessas nações emergentes vão arcar com os efeitos desta desaceleração sincronizada. Se levarmos esses dois elementos em consideração (desaceleração e normalização monetária dos ricos), claramente haverá impacto na tentativa das autoridades tomarem medidas e realçar a fragilidade do crescimento”.
Setor externo e ações

“(Antes), era mais uma questão do superávit da China versus o déficit dos EUA no debate. O que vemos agora é menos desequilíbrio, mas esta questão está mais espalhada. Do lado superavitário, claramente vemos dois líderes, China e Alemanha. Do lado do déficit, temos os suspeitos de sempre, os EUA e alguns dos países europeus, mas também países como Turquia, África do Sul e Brasil. Está espalhando-se esse lado do déficit. Então, acreditamos que o caminho de políticas é manter a casa em ordem, cada um com suas particularidades no caso dos emergentes. O que é comum a todos é fazer reformas estruturais de diversas categorias. E nos frontes monetário e fiscal, cada um também tem políticas para adotar. A segunda recomendação é: falem uns com os outros. E a terceira é cooperem o quanto puderem. Parece incongruente recomendar cooperação em tempos em que você não vê muita cooperação, mas, economicamente, isso é o mais desejável, mais comunicação, mais cooperação, particularmente os banqueiros centrais, quando forem mudar o curso de política”.
Copa do Mundo

“O Brasil foi uma força perturbadora do trabalho do FMI recentemente, porque a Copa do Mundo mobilizou todo mundo nesta instituição, todos grudados na tela de TV por um mês e muitos jogos. Afetou todos os níveis da instituição, dos diretores-executivos ao staff, incluindo a diretora-gerente, embora eu não tenha assistido todos os jogos, mas vi alguns”.
Brasil

“É verdade que temos revisado para baixo nossas projeções para o Brasil e é verdade que todos temos reiterado as mesmas fortes recomendações para que reformas estruturais sejam feitas, gargalos sejam reduzidos na economia e que o potencial, a capacidade de o Brasil entregar crescimento seja liberada. E isso não vem sendo feito”.
Argentina
“Estamos obviamente monitorando a situação. A Argentina está fora dos mercados financeiros e de qualquer círculo financeiro há muito tempo e, embora defaults sejam sempre lamentáveis, nós não temos a visão de que teria grandes consequências significativas além daquela situação geográfica particular (…) (há) a questão significativa dos princípios da reestruturação de dívidas e qual seria o resultado das decisões legais que estão sendo tomadas em NY no momento, que têm significado mais amplo. Os princípios da reestruturação de dívidas e a eficiência da ação coletiva precisarão ser reavaliadas, junto com escolhas de leis e outros critérios legais tipicamente encontrados nesses casos. É neste ponto em que estamos trabalhando e continuaremos nos próximos meses”.

Reforma de governança e credibilidade o FMI

“Sobre (a redistribuição das) cotas, não acho que afete a eficiência do Fundo, a efetividade da diretoria. Quando olho para os nossos programas, linhas de crédito em vigor, a estabilidade que tentamos entregar por intermédio da nossa assistência técnica, da supervisão bilateral que oferecemos baseada em 70 anos de expertise em campo, não acho que a falha de alguns membros em aprovar a reforma de governança é um impedimento às nossas operações. Isso está corroendo a credibilidade da instituição. Alimenta algumas pesquisas acadêmicas e alguns editoriais de observadores, mas na minha vida cotidiana, nas nossas operações com o staff e os membros da diretoria, e, mais importante, nas minhas tratativas com as autoridades dos países, incluindo com as dos países do Brics, isso não afeta o Fundo e não corrói nossas ações”.

Iniciativas financeiras dos Brics

“O Arranjo de Contingência de Reservas (ACR) criado pelo Brics vem sendo construído nos últimos três ou quatro anos. Então, acho que é bastante independente da falha dos EUA em ratificarem a reforma (de governança). É atribuída uma ligação pelos observadores, mas o Brics já vinha falando disso há algum tempo, eles decidiram em um encontro deles, há alguns anos, os princípios (do ACR). Há uma cooperação intrínseca entre o ACR e o FMI. Dos US$ 100 bilhões que o Brics reservaram, cada membro pode sacar do que aportou até 30%. Para mais, tem que ter um programa em curso com o FMI. Quando se olha para a relação do FMI com essas novas agências, os acordos, é muito similiar ao Chiang Mai (mecanismo de contingência e reserva) criado pelos países asiáticos, que tem o FMI do outro lado. Não digo que foi um ‘corte e cola’. O Brics não é uma região, Brics é um agrupamento com interesses comuns. Embora, por interesses comuns, eu digo a mim mesma ‘eles não são a mesma coisa de forma alguma’…”.
Papel do FMI
“Estamos celebrando os 70 anos das instituições de Bretton Woods e há muita nostalgia expressa sobre os objetivos dos ‘fundadores’. O mundo mudou ao redor do FMI e o próprio Fundo mudou imensamente. E continuará a mudar. Esta é uma das belezas desta instituição, ela se ajusta, é flexível, mudamos os instrumentos e os programas ao longo do tempo, mudamos a supervisão, ampliamos massivamente a assistência técnica. E continuaremos a fazê-lo. Todo o mundo está mudando continuamente. O equilíbrio de poder está mudando, há confrontos e há poderes econômicos emergindo, se consolidando e cooperando, há efeitos sobre os vizinhos, que valerá a pena continuar explorando. O fato é que a rede de proteção que os coreanos particularmente demandaram no encontro do G-20 vem sendo construída, em torno do arranjo do Chiang Mai, do mecanismo europeu de estabilidade, do ACR, dos instrumentos de swap entre vários bancos centrais. Isso reflete o fato de que o mundo é vastamente global e interdependente e precisa, provavelmente, de diferentes camadas nesta rede de proteção. Mas não vejo nada que seja inconsistente com a missão do FMI, que acho que é coordenação, cooperação entre os pilares das redes de proteção internacionais – das quais o FMI é a peça central”.

Roger Cohen: um judeu não sionista fala sobre a guerra em Gaza (NYT)

The Opinion Pages | Op-Ed Columnist

Zionism and Its Discontents


Zionism and Israel’s War with Hamas in Gaza

Roger Coehen
The New York Times, July 29, 2014

My great-grandfather’s brother, Michael Adler, was a distinguished rabbi who in 1916 compiled the “Prayer Book for Jewish Sailors and Soldiers” at the front during World War I. As “chaplain,” he toured battlefields administering last rites. At the end of the war he asked if British Jews had done their duty.
“Did those British citizens of the House of Israel to whom equality of rights and equality of opportunity were granted by the State some sixty years ago, did these men and women do their duty in the ordeal of battle?” he wrote. “Our answer is a clear and unmistakable YES! English Jews have every reason to be satisfied with the degree of their participation both at home and on the battlefronts in the struggle for victory. Let the memory of our sacred dead — who number over 2,300 — testify to this.”
The question for European Jewry was always the same: belonging. Be they French or German, they worried, even in their emancipation, that the Christian societies that had half-accepted them would turn on them. Theodor Herzl, witnessing French anti-Semitism during the Dreyfus case, wrote “The Jewish State” in 1896 out of the conviction that full acceptance for the Jews would never come.
Herzl was prescient. Zionism was born of a reluctant conclusion: that Jews needed a homeland because no other place would ever be home. Scrawny scholars would become vigorous tillers of the soil in the Holy Land. Jews would never again go meekly to the slaughter.
The ravages of European nonacceptance endure. I see within my own family how the disappearance of a Jewish woman grabbed by Nazis on the streets of Krakow in 1941 can devour her descendants. I understand the rage of an Israeli, Naomi Ragen, whose words were forwarded by a cousin: “And I think of the rest of Europe, who rounded up our grandparents and great-grandparents, and relatives — men, women and children — and sent them off to be gassed, no questions asked. And I think: They are now the moral arbiters of the free world? They are telling the descendants of the people they murdered how to behave when other anti-Semites want to kill them?”
Those anti-Semites would be Hamas, raining terror on Israel, whose annihilation they seek. No state, goes the Israeli case, would not respond with force to such provocation. If there are more than 1,000 Palestinian deaths (including 200 children), and more than 50 Israeli deaths, Israel argues, it is the fault of Hamas, for whom Palestinian victims are the most powerful anti-Israeli argument in the court of world opinion.
I am a Zionist because the story of my forebears convinces me that Jews needed the homeland voted into existence by United Nations Resolution 181 of 1947, calling for the establishment of two states — one Jewish, one Arab — in Mandate Palestine. I am a Zionist who believes in the words of Israel’s founding charter of 1948 declaring that the nascent state would be based “on freedom, justice and peace as envisaged by the prophets of Israel.”
What I cannot accept, however, is the perversion of Zionism that has seen the inexorable growth of a Messianic Israeli nationalism claiming all the land between the Mediterranean and the Jordan River; that has, for almost a half-century now, produced the systematic oppression of another people in the West Bank; that has led to the steady expansion of Israeli settlements on the very West Bank land of any Palestinian state; that isolates moderate Palestinians like Salam Fayyad in the name of divide-and-rule; that pursues policies that will make it impossible to remain a Jewish and democratic state; that seeks tactical advantage rather than the strategic breakthrough of a two-state peace; that blockades Gaza with 1.8 million people locked in its prison and is then surprised by the periodic eruptions of the inmates; and that responds disproportionately to attack in a way that kills hundreds of children.
This, as a Zionist, I cannot accept. Jews, above all people, know what oppression is. Children over millennia were the transmission belt of Jewish survival, the object of what the Israeli novelist Amos Oz and his daughter Fania Oz-Salzberger have called “the intergenerational quizzing that ensures the passing of the torch.” No argument, no Palestinian outrage or subterfuge, can gloss over what Jewish failure the killing of children in such numbers represents.
The Israeli case for the bombardment of Gaza could be foolproof. If Benjamin Netanyahu had made a good-faith effort to find common cause with Palestinian moderates for peace and been rebuffed, it would be. He has not. Hamas is vile. I would happily see it destroyed. But Hamas is also the product of a situation that Israel has reinforced rather than sought to resolve.
This corrosive Israeli exercise in the control of another people, breeding the contempt of the powerful for the oppressed, is a betrayal of the Zionism in which I still believe.