O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quarta-feira, 11 de março de 2015

Politica brasileira: vcs conhecem o "proxy gov"? Nao tem nada a ver com a modernidade...

É o nosso velho governo minha gente.  Épa, nosso não; dos companheiros, ou talvez de um só...
Ele, segundo um amigo da onça, envelheceu rápido demais, e virou -- acho que já era -- um governo por procuração, onde quem manda não é quem assina, e onde quem assina não manda...
Acho que não tem mais conserto daqui para a frente.
Acho melhor trocar de vez...
Olhem aí abaixo quem mexe os pauzinhos para o boneco dançar...
Paulo Roberto de Almeida



Presidência nega que Lula tenha sugerido saída de Mercadante da Casa Civil

RAFAEL MORAES MOURA - O ESTADO DE S. PAULO
O Estado de S. Paulo, 11 Março 2015 | 12h 52

Insatisfeito com desempenho de ministro à frente da pasta, ex-presidente teria recomendado troca em reunião com Dilma


Brasília - A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) divulgou nesta quarta-feira, 11, uma nota em que contesta o "rumor" de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sugerido à presidente Dilma Rousseff uma troca no comando da Casa Civil.
Lula e Dilma jantaram nessa terça, 10, no Palácio da Alvorada. Os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, e da Defesa, Jaques Wagner, e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, participaram do encontro.
"Não corresponde à verdade o rumor de que a presidenta Dilma Rousseff tenha recebido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sugestão de mudança na chefia da Casa Civil", diz a nota divulgada pela Secom. "O ministro Aloizio Mercadante tem total confiança da presidenta e seguirá cumprindo suas funções à frente da Casa Civil."
Críticas. Nos bastidores, o ex-presidente Lula não tem economizado nas críticas disparadas contra Mercadante. Uma fonte próxima de Lula disse à reportagem que, na avaliação do ex-presidente, Mercadante "já deu o que tinha que dar".
Segundo esse interlocutor, Lula teria dito em conversas reservadas que, se Mercadante "fosse bom mesmo, teria ocupado um cargo no meu governo".

Comercio exterior e a gloria do dia: governo CONSEGUE EVITAR o livre comercio - belo programa

Acho que as pessoas -- não sei se jornalistas, governistas, industrialistas, oportunistas e outros istas -- se dão conta do ridículo de certas situações: o governo se vangloria disto:
"Governo brasileiro conseguiu evitar que o livre-comércio entre os dois países no setor automotivo entrasse em vigor."
Não é uma maravilha?
Você paga, caro consumidor, mas pode tirar a primeira vírgula...
Paulo Roberto de Almeida

COMÉRCIO EXTERIOR
Brasil e México podem negociar até US$ 1,5 bi
Uol Notícias, 10/03/2015

Governo brasileiro conseguiu evitar que o livre-comércio entre os dois países no setor automotivo entrasse em vigor
Após várias rodadas de negociações, Brasil e México oficializaram, na manhã desta segunda-feira, no Rio de Janeiro, a renovação pelos próximos quatro anos do acordo automotivo entre os dois países, que venceria em 18 de março.

O anúncio foi feito no Palácio do Itamaraty pelos ministros brasileiros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, e pelo secretário de Economia do México, Ildefonso Guajardo Villareal.

O governo brasileiro conseguiu evitar que o livre-comércio entre os dois países entrasse em vigor após o dia 18 de março, como era previsto originalmente no acordo. Os mexicanos concordaram em manter o regime de cotas por pelo menos mais quatro anos.

Pelo acerto, cada país poderá exportar para o outro até US$ 1,56 bilhão nos próximos 12 meses, sem o pagamento do Imposto de Importação. A partir de março de 2016, a cota subirá gradualmente 3% ao ano. O que exceder o valor da cota anual será taxado à alíquota de 35% a título de Imposto de Importação.

O ministro Armando Monteiro disse que a preservação das cotas é uma forma de compensar a diminuição das vendas do setor no mercado doméstico brasileiro, que "vive uma certa retração".

"A meu ver, o sistema de cotas é o mais adequado levando em conta assimetrias no comércio Brasil-México", disse, mencionando a forte integração entre a indústria mexicana e a dos Estados Unidos.

A cota inicial estipulada na renovação é inferior àquela que estava valendo até agora, de US$ 1,64 bilhão, referente ao acordo assinado em 2012. O valor evoluirá dos US$ 1,56 bilhão acertados este ano para US$ 1,606 bilhão (2016-2017); US$ 1,655 bilhão (2017-2018); ?US$ 1,704 bilhão (2018-2019).

O novo acordo manterá em 35% o percentual de conteúdo nacional exigido na produção dos veículos. Entretanto, a novidade é que esse percentual se estenderá também para as autopeças. A partir de 2019, o índice passará a 40%.

O secretário de Economia do México, Ildefonso Guajardo Villareal, afirmou que a grande vantagem do acordo para o seu país é dar maior previsibilidade a um setor que responde por 46% do comércio bilateral entre as duas nações, que envolve cerca de US$ 10 bilhões por ano.

"É fundamental partir deste degrau para continuar construindo novas avenidas nas relações entre Brasil e México", disse Villareal. O secretário afirmou que a presidente Dilma Rousseff está sendo aguardada de braços abertos em seu país pelo presidente Enrique Peña Neto, que teria parabenizado o governo pelo acordo.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, explicou que a indústria automobilística deverá utilizar um critério que mistura participação de mercado das montadoras e um outro critério linear, englobando todas as empresas associadas à Anfavea.

Moan comentou a mudança da associação, que até pouco tempo defendia a adoção do livre comércio. "Infelizmente perdemos competitividade e precisamos desse período para recuperá-la. Diante desse aspecto, apoiamos o governo brasileiro fortemente na prorrogação desse acordo, mesmo que no critério de cotas", disse Moan.

Impeachment: copy and paste, ou, um pouco de historia nao faz mal, de 1992 a 2015 - Reinaldo Azevedo

Eu já tinha pensado nisso, mas estava sem tempo para procurar. Os jornais da época, obviamente, devem ter transcrito a petição, basta agora procurar pela data: 3 ou 4 de setembro de 1992
Paulo Roberto de Almeida

Há, sim, algumas diferenças fundamentais entre 1992 e 2015; entre as circunstâncias que acompanharam  a denúncia apresentada à Câmara contra Fernando Collor, que resultou no seu afastamento, e as que estão presentes no debate sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Em 1992, Barbosa Lima Sobrinho, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), era um dos signatários da petição. Em 2015, a ABI empresta a sua sede para Lula promover um ato de suposta defesa da Petrobras. À porta da entidade, milicianos desceram o braço em pessoas que protestavam contra Dilma. Em 1992, Marcelo Lavenère, então presidente da OAB, assinava a petição junto com Barbosa. Em 2015, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, presidente da entidade, é candidato ao Supremo e espera contar com a boa vontade de Dilma. Entenderam o ponto? Em 1992, a esquerda queria chegar ao poder. Em 2015, os esquerdistas já estão no poder. E que fique claro: havia uma penca de motivos para denunciar Collor. Como acho que há uma penca de motivos para denunciar Dilma.

Trago uma peça nem tão fácil de encontrar. Se vocês clicarem aqui, encontrarão em PDF o Dário do Congresso Nacional de 3 de setembro de 1992 que traz a íntegra da denúncia formulada contra Collor com base na Lei 1.079, a Lei do Impeachment. Se e quando tiverem tempo, vale a pena dar uma lida.

Se a história aceitasse recall com base em algumas avaliações influentes no presente, seria o caso de devolver o mandato a Collor, que lhe teria sido tomado, então, injustamente. Se faltam motivos para pedir o impeachment de Dilma Rousseff — porque, segundo dizem, não há provas contra ela —, então cabe perguntar quais eram as provas que existiam contra o então ex-presidente. A pergunta seria absurda, dado tudo o que se sabia, e se sabe, da promiscuidade entre o agora senador e PC Farias? Seria, sim! Mas não menos do que essa história de que, até agora, nada pesa contra Dilma.

Collor foi denunciando com base no Inciso 7 do Artigo 8º e no Inciso 7 do Artigo 9º da Lei 1.079. Ele foi acusado de permitir infração de lei federal e de atentar contra o decoro do cargo. A lei exige que se se apresentem provas. A dupla alinhavou algumas evidências colhidas pela CPI — e não custa lembrar que o homem foi absolvido pelo Supremo —, mas deixava claro, desde o início, que a questão realmente relevante era a política. Lá estava escrito:

“O impeachment não é uma pena ordinária contra criminosos comuns. É a sanção extrema contra o abuso e a perversão do poder político. Por isso mesmo, pela condição eminente do cargo do denunciado e pela gravidade excepcional dos delitos ora imputados, o processo de impeachment deita raízes nas grandes exigências da ética política e da moral pública, à luz das quais hão ser interpretadas as normas do direito positivo”.

Petição anti-collor 1

A mim, então, me parece bem. Quando sei que existe uma cadeia de comando na Petrobras, que chega à presidente da República, e se sei que uma quadrilha lá está instalada com o intuito, entre outros, de arrecadar dinheiro para o partido do poder — dinheiro que, segundo consta, inundou a sua própria campanha —, parece-me que as raízes da ética na política e da moral pública foram desafiadas.

A petição contra Collor ensinava mais:
“Nos regimes democráticos, o grande juiz dos governantes é o próprio povo, é a consciência ética popular. O governante eleito que se assenhoreia do poder em seu próprio interesse, ou no de seus amigos e familiares, não pratica apenas atos de corrupção pessoal, de apropriação indébita ou desvio da coisa pública: mais do que isso, ele escarnece e vilipendia a soberania popular.”

Petição anti-collor 2-1

E o texto prossegue:
“É por essa razão que a melhor tradição política ocidental atribui competência, para o juízo de pronúncia dos acusados de crime de responsabilidade, precisamente ao órgão de representação popular. Representar o povo significa, nos processos de impeachment, interpretar e exprimir o sentido ético dominante, diante dos atos de abuso ou traição da confiança nacional.
A suprema prevaricação que podem cometer os representantes do povo, em processos de crime de responsabilidade, consiste em atuar sob pressão de influências espúrias ou para a satisfação de interesses pessoais ou partidários.”

Petiçao anti-Collor 3

Acho que está tudo aí. Se e quando alguém resolver apresentar uma denúncia contra Dilma na Câmara, sugiro que copiem os termos da petição apresentada por Barbosa Lima Sobrinho, no tempo em que a ABI não abrigava milicianos, e por Lavenère, no tempo em que a OAB não se comportava como esbirro de um projeto de poder e de um partido político.

Falei?


Brasil politica: protestos aumentam, em previsao do dia 15/03

Apenas transcrevendo:

Dilma é vaiada em SP e diz que crise no país é passageira
Daniela Lima e Natuza Nery – Folha de S. Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2015

• Presidente foi recebida aos gritos de 'fora PT' em feira da construção civil
• Em discurso restrito a convidados do setor, ela voltou a pedir paciência e disse que problemas não são tão graves

SÃO PAULO, BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff foi recebida com vaias e gritos de "fora Dilma" e "fora PT" na abertura do Salão Internacional da Construção Civil, nesta terça-feira (10), em São Paulo. Como chegou ao local antes da abertura da feira, a petista não foi hostilizada por visitantes, mas por expositores e pessoas que trabalhavam na montagem e na limpeza dos estandes.

Na segunda parte de sua agenda, em discurso só para convidados dos organizadores da feira, a presidente voltou a pedir paciência. "Não deixem que as incertezas conjunturais determinem sua visão de futuro do Brasil", disse. Mais da metade das cadeiras da plateia estava vazia.

Foi a segunda vez em menos de três dias que a petista foi hostilizada. No domingo (8), houve panelaço e gritaria em 12 capitais durante pronunciamento de Dilma na TV, em que ela pediu paciência e defendeu o ajuste fiscal que tenta implementar.

A combinação dos dois eventos deu ao Palácio do Planalto a certeza de que os protestos previstos para o próximo dia 15 terão força. Se há um mês integrantes do governo chamavam de "piada" a manifestação pelo impeachment, agora temem uma reunião massiva em alguns locais do país.

Um levantamento feito a pedido do PT mostra que 1,4 milhão de internautas espalhados por 24 cidades já confirmaram presença no ato do dia 15. Outros 64 municípios ainda podem ampliar a lista.

Nesta terça, numa tentativa de minimizar os riscos de um constrangimento em São Paulo, a equipe presidencial mudou duas vezes o posicionamento de cinegrafistas e fotógrafos que acompanhavam a agenda de Dilma para afastar a presidente dos pontos onde as pessoas se aglomeravam.

Mas as tentativas falharam. Recepcionada pelos organizadores do evento, Dilma tentou passear por alguns estandes. Quando as pessoas a viram, as vaias se intensificaram. "Eu vou voltar", disse, dando as costas para o ato.

Os trabalhadores, então, cercaram a área onde o carro de Dilma estava estacionado. "Ladra" e "vagabunda" foram alguns dos termos que ela pôde ouvir no caminho até o automóvel. Sem reagir, Dilma fechou a porta e partiu para a solenidade de abertura do salão, fechada apenas para convidados.

Houve nervosismo entre os assessores da presidente. Segundo pessoas que acompanharam o curto périplo da presidente, o ministro Thomas Traumann, chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, disse, irritado, que eles haviam caído em uma "armadilha".

Após as vaias, interlocutores da presidente afirmaram que ela "sentiu o golpe". A petista já havia se mostrado abatida com a dimensão do panelaço do último domingo. Dilma, então, se dirigiu para o auditório onde houve a solenidade de abertura do Salão, restrita a convidados.

Sem citar diretamente a Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras, o presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção, Wilson Cover, disse, em seu discurso, que é preciso punir quem merece ser punido, mas também buscar uma solução "institucional" para não paralisar pequenas e médias empresas.

Cover afirmou ainda que o empresariado do setor apoia o ajuste de contas, mas também considera "absolutamente necessário" adotar medidas que aumentem a competitividade do Brasil.

A resposta de Dilma veio em um discurso de mais de 30 minutos, na qual a presidente disse ver a crise como temporária e destacou que tem "trabalhado permanentemente" para que a economia se recupere até o fim do ano.

A petista voltou a dizer que a crise não é tão grande quando pregam "alguns". "É verdade que o Brasil passa por um momento difícil, mas nem de longe vivemos uma crise das dimensões que alguns estão dizendo", avaliou, acrescentando que a economia tem "fundamentos fortes".

.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

Após panelaço, Dilma é vaiada e ouve gritos de 'fora' em SP
Tatiana Farah – O Globo, 11/03/2015

• Atos de sexta-feira deverão defender Petrobras, mas criticarão ajuste fiscal

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Apenas dois dias após ser alvo de um panelaço e um buzinaço em diversas capitais, durante seu pronunciamento na TV, a presidente Dilma Rousseff foi recebida ontem com vaias e gritos de "fora!" ao visitar o Salão Internacional da Construção (Feicon), em São Paulo. As vaias começaram antes que ela chegasse ao evento e partiram de pessoas que trabalhavam no local. Os manifestantes disseram que começaram a vaiar porque, quando viram a movimentação da imprensa, pensaram que a presidente já estava no pavilhão. Quando Dilma chegou, as vaias se multiplicaram.

A reação constrangeu a presidente, a ponto de levá-la a desistir de visitar os estandes e de usar o carro para chegar ao auditório da abertura oficial da Feicon. No auditório, Dilma encontrou uma plateia formada por poucas dezenas de empresários e ainda teve de ouvir críticas do setor sobre a crise econômica.

Dirigentes do PT atribuíram o panelaço de domingo à mobilização de partidos de oposição e às classes mais abastadas. Porém, boa parte do protesto de ontem partiu de trabalhadores.

"Dilma perdeu a classe média", diz analista
Para o cientista político Antônio Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é natural que o desgaste do governo se amplie para segmentos do eleitorado que também votaram em Dilma por haver três crises simultâneas em curso: econômica, política e ética.

- Dilma perdeu a classe média já no processo eleitoral. Neste momento, com o ajuste fiscal, também se afasta de sua base. O governo está totalmente isolado, porque perdeu ainda o controle do Congresso Nacional - lembrou.

Dilma não escondeu o incômodo com as vaias e a baixa presença de empresários no evento. Após ouvir pedidos de medidas protetivas para o setor de construção, Dilma pediu otimismo à plateia, mas admitiu que a situação é delicada:

- O Brasil passa por um momento difícil, mais difícil do que tivemos em anos recentes, mas, nem de longe, estamos vivendo uma crise das dimensões que alguns dizem que estamos vivendo - disse. -Não deixem que as incertezas conjunturais determinem sua visão de futuro do Brasil.

Dilma justificou os cortes previstos pelo ajuste fiscal: disse que o Orçamento da União absorveu "parte importante da crise", mas garantiu recursos para o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família.

Dirigentes petistas ficaram irritados com a escolha de São Paulo como palco do primeiro compromisso de rua da presidente após o panelaço, por se tratar de cidade onde Dilma acumula alta rejeição e perdeu para o candidato tucano Aécio Neves, nas eleições do ano passado.

Na próxima sexta-feira, outros atos estão previstas no país, organizados por centrais sindicais e movimentos sociais que reivindicam direitos, defendem a Petrobras, a democracia e a realização de uma reforma política.

Esses atos foram pensados inicialmente como forma de se contrapor aos protestos do próximo domingo, que estão sendo organizados por movimentos contrários ao governo, alguns dos quais defendem o impeachment de Dilma. Porém, os atos de sexta-feira deverão criticar o ajuste econômico proposto pelo governo.

- Essa mobilização não é em defesa nem contra o governo - disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP), Adi Santos Lima.

Governo preocupado também com ato da CUT
O governo pediu à CUT para que cancele as manifestações, segundo revelou um ministro próximo a Dilma. Segundo essa fonte, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, a pedido de Dilma, se reuniu com dirigentes da CUT e conversou por telefone pedindo a suspensão. A preocupação é evitar que os atos motivem mais manifestantes contra o governo no domingo Em nota, porém, Rosseto negou o pedido e disse que "a CUT é quem marca ou desmarca suas manifestações".

Teme-se o acirramento dos ânimos, que levem à violência e quebra-quebra, como nos protestos de 2013. Integrantes do governo monitoram redes sociais desde que os convites para as manifestações começaram a surgir na internet.

Dilma determinou uma força-tarefa de ministros para acompanhar os atos de sexta e de domingo. O Planalto orientou os ministros a não participar dos atos das centrais sindicais para evitar provocações. (Colaboraram Thiago Herdy, Julianna Grajeia, Fernanda Krakovics, Simone Iglesias e Luiza Damé) .

Roberto Campos: um profeta cuja hora ainda não chegou (quando chegara'?)

Como disse ainda Roberto Campos, o Brasil é um país que não perde oportunidade de perder oportunidades. É o que está acontecendo agora, e da pior forma, pois além de retrocedermos pelo menos 30 anos na desorganização econômica, avançamos, e muito, na desorganização política, na corrupção e no atraso mental...
Os mafiosos assaltaram o Estado e dele não pretendem sair.
Vamos ter de expulsá-los do poder.
Paulo Roberto de Almeida

Repetindo o óbvio (09/01/2000)

 

*Roberto de Oliveira Campos

 

 

Aceito o risco de parecer repetitivo. Diante das grandes questões que preocupam mais no nosso país, a originalidade do articulista fica em segundo lugar. Estamos atravessando dias pesados, um ambiente de insatisfações e sombras. Os mais jovens sentem-se angustiados diante das incertezas do futuro, da ameaça de desemprego, de falta de horizontes. Os mais velhos tentam lembrar-se daqueles períodos em que o Brasil não atravessava um estado de crise permanente. Salvo alguns breves anos do começo do Plano Real, parte da Era Kubitschek e o otimismo do "milagre econômico" do fim dos anos 60 - que, no entanto, foi tisnado pela situação política de exceção -, todo o resto de nossa História contemporânea é um confuso mosaico de problemas e condições institucionais instáveis.

 

Não chegamos felizmente ao extremo dos gulags, campos de extermínio, "limpezas étnicas" e coisas que tais. Nossos chamados "anos de chumbo", comparados às experiências de outras nações (e certamente aos "anos de aço" dos regimes comunistas), pareceriam antes de papel de cigarro metalizado. Se afundamos numa situação crítica injustificável, é por nossa própria culpa, por falta coletiva de bom senso e de responsabilidade.

 

O público exprime sua perplexidade naquela conhecida anedota de como Deus, tendo presenteado nossa geografia com uma abundância de vantagens materiais, colocou no Brasil, como contrapeso, um "povinho ruim". Essa autodepreciação está errada. O trabalhador brasileiro, ainda que subinstruído, é diligente e flexível, como as empresas estrangeiras são as primeiras a reconhecer. Os engenheiros e gerentes especializados têm em alguns casos nível bastante alto. Somos a oitava economia do mundo e temos conseguido adaptar-nos a mudanças tecnológicas complexas. Falta-nos reduzir os excessivos contrastes em matéria de educação, informação e saúde - demanda social justa, mas não um impedimento real ao nosso desenvolvimento tecnológico ou industrial.

 

A verdade é que nosso grave subdesenvolvimento não é só econômico ou tecnológico. É político. Somos um gigante preso por caguinchas dentro de estruturas disfuncionais. A máquina político-administrativa que rege hoje nossos destinos é uma fábrica de absurdas distorções cumulativas. O regime presidencialista e o voto puramente proporcional, cada um dos quais, já de si, dificilmente funcionam bem, transformam-se, quando combinados, numa crise quase ininterrupta. O presidencialismo americano, que nos serviu de modelo, é conjugado ao voto distrital, e a federação é autêntica, porque foram os Estados que a criaram, enquanto que no Brasil estes resultaram do desfazimento do império unitário.

 

Não é que os políticos só pensem em si ou sejam "corruptos" de nascença. Essa é uma visão popular deformada. A maioria é dedicada e séria. Mas o deputado, o senador, o prefeito, o governador e, obviamente, o presidente têm de ser eleitos, ponto de partida do qual não há escapatória. Nas eleições proporcionais de hoje, os deputados são obrigados a catar votos por todo o Estado, garimpando aqui e ali - um processo caro e tremendamente incerto, porque eleitor em geral não sabe como discriminar entre dezenas de representantes eleitos. Como é que o eleitor médio vai se lembrar de quem propôs medidas ou leis, para poder avaliar quem merece o seu voto? Um americano ou um inglês pode falar no "seu" deputado: sabe exatamente quem ele elegeu e tem como cobrar respostas ao representante do "seu" distrito. O alemão, com um sistema misto, tem o "seu" deputado distrital e também o da lista do seu partido. E, como o regime é parlamentarista, pode cobrar de ambos.

 

No Brasil, cobrar o quê? De quem? Mal acaba de ser eleito por um partido, o deputado ou senador se sente à vontade para mudar de partido. Não existe sanção. A eleição presidencial então é sempre um trauma violento, agravado pela percepção de que o vencedor passará a controlar a máquina pública, os mecanismos de dar ou negar favores. Gerir a coisa pública é, entre nós, um contínuo varejo. Dá para estranhar que, desde o início da República, raros tenham sido os governos que não se envolveram em conflitos com o Congresso, com riscos de descontinuidade institucional? Contra um sistema tão ruim, tanto faz se os políticos são santos ou bandidos. Num ônibus sem freios, o perigo de desastre é o mesmo para todos.Há perto de três séculos e meio, Colbert, o famoso ministro protecionista da França monárquica, assim se lamentava na Carta de Luís XIV aos funcionários e ao povo de Marselha (26 de agosto de 1764):

 

"Como desde a morte de Henrique IV temos tido só exemplos de carências e necessidades, precisamos determinar como aconteceu que, durante tão longo tempo, não tenhamos tido, se não abundância, pelo menos uma renda toleravelmente satisfatória..." Colbert põe a culpa no sistema fiscal e afirma que piores do que os muitos corruptos foram aqueles altos funcionários "cuja incompetência prejudicou mais o Estado e o povo do que os roubos pessoais". Entre os vícios da burocracia fiscal da época, Colbert lista os seguintes: "Consumir com despesas correntes as receitas ordinárias e extraordinárias dos dois próximos anos..." e "negligenciar as receitas gerais ordinárias afazendadas, dedicando-se ativamente à busca de fontes de renda extraordinárias..."

 

Colbert se revelou um reformista e desenvolvimentista avant la lettre. Mas a França já estava politicamente entalada, e ele não conseguiu realizar sua "reforma fiscal". O mundo está cansado de esperar pelas "reformas" brasileiras. E de ouvir lamentações sobre a nossa pobreza. Há muito, exceto em regiões desérticas da África ou gravemente sobrepovoadas da Ásia, a pobreza deixou de ser uma fatalidade. É um acidente histórico de povos que preferem externalizar a culpa em vez de fabricar seu próprio destino.

 

*Defensor apaixonado do liberalismo. Economista, diplomata e político também se revelou um intelectual brilhante. De sua intensa produção, resultaram inúmeros artigos e obras como o livro A Lanterna na Popa, uma autobiografia que logo se transformou em best-seller. Foi ministro do Planejamento, senador por Mato Grosso, deputado federal e embaixador em Washington e Londres. Sua carreira começou em 1939, quando prestou concurso para o Itamaraty. Logo foi servir na embaixada brasileira em Washington, e, cinco anos depois, participou da Conferência de Bretton Woods, responsável por desenhar o sistema monetário internacional do pós-guerra. 

A crise das universidades federais (de todas) e os reitores dilmistas: os idiotas uteis da reeleicao

Quem não se lembra do famoso manifesto de dezenas de reitores das IFES (praticamente todos, com duas honrosas exceções) que assinaram uma peça vergonhosa de adesismo anti-acadêmico, pouco antes das eleições, praticamente constrangendo todo o corpo docente e, provavelmente, metade da comunidade discente, a votar pelo poste, sempre sob a promessa de um futuro brilhante, feito de verbas, apoio federal para todos os seus projetos corporativos e mil mordomias prometidas pelos traficantes de votos do partido totalitário (ou seja, o preferido dos gramscianos de botequim das academias?
Eu me lembro perfeitamente, e estou certo de que vários leitores também se lembram das cenas explícitas de sabujismo político, quando esses reitores, não contentes de assinar um lixo partidário, foram em romaria submissa entregar a peça asquerosa para a candidata mentirosa.
Eles parecem ter se decepcionado um pouco agora, já que várias universidades sequer têm prazo para iniciar o ano acadêmico, já que se encontram totalmente paralisadas por falta de dinheiro.
Bem feito. Agora vão em romaria a Brasília para implorar verbas, e já constituem a bancada do setor, para roubar mais um pouco do orçamento em favor do terceiro ciclo, tirando preciosos, e mínguos, recursos que deveriam ir para os dois primeiros ciclos.
Bando de parasitas incompetentes.
Concordo com a sugestão de meu amigo Roque Callage, que me enviou a matéria abaixo, no sentido de se fazer "um projeto de lei, criando a verdadeira autonomia de fundações universitárias para gerirem seus proprios orçamentos, ao invés de ficarem encostados indecentemente no Governo Federal!"
Acrescenta ele: "Ficam apoiando o PT a cada eleição e fazendo manifestos ...são incompetentes e  corporativistas!"
Eu iria até mais longe: daria uma simples mesada para essas IFES e mandaria esses alfabetizados encostados ir buscar o resto do dinheiro no mercado. Sem a estabilidade vergonhosa a partir do primeiro ano (para mim, tenure, só depois de doze anos de produtividade), e selecionaria reitor por competição aberta, programa de metas, espírito administrativo, e não acadêmico, e cobrança de resultados, sempre.
As universidades privadas também estão em crise, algumas em estado terminal, já que sobrevivendo (algumas a altura de 60%) das bolsas federais, elas não estão admitindo alunos que não pagarem, e estes simplesmente não recebem nada.
Ninguém mandou votar em gente incompetente...

Paulo Roberto de Almeida

----------------
Reitores de federais terão sua bancada no Congresso Nacional
Leandro Mazzini
Opinião e Notícia, 10/03/2015

Na semana em que as universidades federais anunciam aperto no orçamento e corte de gastos e investimentos, os reitores vão ganhar uma bancada parlamentar no Congresso Nacional para reivindicarem atenção e a usarem como uma ponte com o Palácio do Planalto.

A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) e a deputada Margarida Salomão (PT-MG) vão lançar amanhã a Frente Parlamentar de Fortalecimento das Universidades Federais, com o apoio da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

terça-feira, 10 de março de 2015

A ideia do interesse nacional - Paulo Roberto de Almeida (Dom Total)

A revista Dom Total, assumidamente a "mais completa do Brasil", republicou meu artigo em torno de um livro, e um conceito, desenvolvido 80 anos atrás pelo grande historiador americano Charles Beard, o único americano a ter sido presidente de duas associações profissionais, a dos historiadores e a dos cientistas políticos.
Paulo Roberto de Almeida

Colunas Paulo Roberto de Almeida

26/02/2015  |  domtotal.com

A ideia do interesse nacional

 
The Idea of National Interest é o título de um livro que o historiador americano Charles Beard publicou em 1934, em plena crise econômica dos Estados Unidos e no início do New Deal, programa de recuperação impulsionado pelo presidente Roosevelt. O livro, porém, não é conjuntural; ele não trata exclusivamente da realidade imediata do país, e sim faz uma reflexão histórica de longo prazo sobre a construção do projeto nacional pela vertente das relações exteriores. O subtítulo do livro é An Analytical Study in American Foreign Policy, e o primeiro capítulo trata dos “pivôs da diplomacia”, analisando, nos demais capítulos, a expansão territorial da nação, o seu crescimento econômico e comercial, ademais do impacto externo dos assuntos internos; o apêndice traz um balanço dos interesses americanos no exterior (capitais e investimentos diretos), embora a edição que consultei, publicada em 1966 por seu filho e por um assistente de pesquisa, procedeu a alguns cortes nas estatísticas da edição original e fez atualizações sobre os dados que Beard havia consolidado até o final dos anos 1920.

Beard foi o único acadêmico americano a ter exercido a presidência de duas associações profissionais diferentes: a American Historical Association e a American Political Science Association. Ele abre o seu livro citando um discurso do Secretário de Estado Charles Hughes, que trabalhou sob os presidentes Harding e Coolidge na primeira metade dos anos 1920, e que se pronunciou sobre o interesse nacional na política externa nestes termos: “As políticas externas não são elaboradas sobre a base de abstrações. Elas são o resultado de concepções práticas do interesse nacional que emergem a partir de alguns requerimentos imediatos ou de fundamentos essenciais, em perspectiva histórica. Quando mantidas por bastante tempo, essas concepções expressam as esperanças e os temores, os objetivos de segurança e de engrandecimento, que se tornaram dominantes na consciência nacional, transcendendo, assim, divisões partidárias e fazendo com que se atenuem as oposições que poderiam advir de certos grupos” (discurso na Filadélfia, em 30/11/1923). Beard analisa então todas as facetas do interesse nacional americano em sua expressão diplomática e nas relações com o ambiente doméstico, sobretudo em sua dimensão econômica.

É bem possível que seus argumentos, e o seu próprio livro, tenham inspirado o célebre cientista político germano-americano Hans Morgenthau – autor do clássico Politics Among Nations, publicado em 1948, o mesmo ano da morte de Charles Beard – a elaborar um outro livro, chamado justamente In Defense of the National Interest (1951), seguido, no ano seguinte, de um artigo sobre o mesmo tema: “What Is the National Interest of the United States?” (The Annals of the American Academy of Political and Social Science, vol. 282, julho de 1952, p. 1-7). Morgenthau também serviu como consultor do Departamento de Estado no começo da Guerra Fria, quando um diplomata, também célebre, George Kennan, dirigia ali a divisão de planejamento político, o Policy Planning Staff, que trabalhou no Plano Marshall e na formulação das principais medidas da então nascente doutrina da contenção. O próprio Kennan, aliás, não cessava de alertar seus chefes quanto às fragilidades que poderiam emergir do ponto de vista do interesse nacional americano a partir da erosão da posição competitiva dos Estados Unidos no mundo e do aprofundamento dos déficits no balanço de pagamentos; ele expressou suas preocupações, entre outros escritos, no livro Realities of American Foreign Policy, publicado em 1954.

O livro de Morgenthau sobre o interesse nacional americano foi republicado em 1982, e talvez tenha animado o já então famoso jornalista Irving Kristol a dar início, em 1985, à revista The National Interest (http://nationalinterest.org/), apoiada nos mesmos princípios da escola realista, que está identificada com a expressão política, econômica e militar do poder americano em escala global, mas cujos fundamentos devem sempre ser construídos internamente. Pode ser também que a mesma revista e sua ideia central tenham inspirado o embaixador Rubens Barbosa a lançar, em 2008, a revista Interesse Nacional (http://interessenacional.uol.com.br/), fundada em concepções similares sobre as bases internas da expressão internacional do Brasil. Qual seria, então, o interesse nacional brasileiro, e que tipo de políticas e orientações econômicas melhor serviriam à sua defesa e consolidação? Difícil dizer, já que existem concepções muito diversas do que seja o interesse nacional, como já dizia o próprio Beard em 1934.

O editor da revista brasileira se encarrega, aliás, de expressar tal dificuldade em nota de apresentação: “Sendo necessariamente genérica, a noção de interesse nacional não tem uma definição precisa. De um lado, porque, sobre o que seja concreta e especificamente o interesse nacional, haverá sempre visões não coincidentes, apoiadas em valores e/ou interesses diferentes. De outro, porque a definição do interesse nacional requer um juízo informado, mas sempre político e não estritamente técnico, sobre riscos e oportunidades que se apresentam à realização dos valores e interesses de um país em cenários estratégicos de longo prazo. E estes serão, sempre, objeto de incerteza e controvérsia” (ver: http://interessenacional.uol.com.br/index.php/sobre-a-revista/). Mas o editorial acrescenta logo em seguida: “O interesse nacional é, pois, uma construção política”, o que pode ser uma constatação óbvia, mas que não nos ajuda muito na busca por uma definição mais precisa sobre qual seria o interesse nacional brasileiro.

Conceda-se, pois, que diferentes grupos políticos, e diferentes agregações de poder, representados pelas forças políticas temporariamente predominantes no sistema de governança, manifestem concepções diversas do chamado interesse nacional, e que eles defendam, portanto, suas orientações particulares, ou setoriais, com base numa legitimidade supostamente construída nas urnas, a cada escrutínio eleitoral. Esta é uma suposição arriscada, e provavelmente falsa, pois os eleitores não possuem, geralmente, no momento do voto, um grau suficiente de informação sobre os programas, ou sobre as consequências de determinadas políticas do ponto de vista de seus interesses imediatos e os de mais longo prazo, e menos ainda do ponto de vista dos interesses da nação.

Na impossibilidade de se chegar a uma definição consensual de quais seriam as expressões efetivas do interesse nacional, talvez seja o caso de investigar numa outra direção, ou seja, identificar aquelas políticas e orientações que se opõem, ou que podem contrariar, o interesse nacional. Nesse caso, é melhor trabalhar com exemplos concretos do que com definições abstratas, como afirmava em 1923 o secretário de Estado Charles Hughes, em pronunciamento recuperado pelo historiador Charles Beard uma década depois. E quais seriam, no nosso caso, os exemplos contrários ao interesse nacional que podem ser identificados numa perspectiva mais imediata ou de mais longo prazo, que podem ser prejudiciais ao nosso desenvolvimento e ao “engrandecimento” do país? Mas mesmo para identificar essas ações contrárias, seja no plano interno, seja no âmbito internacional, é preciso ter balizas mínimas sobre o que o país pretende ser como nação e como sociedade. É preciso saber o que se quer, para rejeitar o que não serve a tal fim.

O editorial da revista Interesse Nacional nos fornece, mais uma vez, alguns dos parâmetros que podem ser aplicados ao caso: “A democracia e a inserção internacional são parte do interesse nacional brasileiro, aquela como valor, esta como objetivo. Se a democracia é um valor que queremos preservar, e se a inserção internacional é hoje, mais do que nunca, uma condição do desenvolvimento, resta perguntar como se inserir no mundo para fortalecer a democracia e promover o desenvolvimento” (nota editorial de Interesse Nacional, loc. cit.). A pergunta traz, portanto, um começo de resposta.

Se concordarmos com essa “plataforma”, democracia e inserção internacional passam a ser as palavras chave do interesse nacional brasileiro. Então, qualquer ação nacional que vise a diminuir as bases da democracia representativa, que constitui a forma atual da governança política no Brasil, seria contrária e prejudicial ao interesse nacional brasileiro; como, por exemplo, um famoso decreto “bolivariano” que pretende instituir a intermediação de “conselhos populares” na definição e aprovação de políticas públicas, quando sabemos que eles constituem uma emanação de tipo bolchevique – e por isso mesmo foram chamados de “sovietes” – do partido gramsciano que tem a clara intenção de se eternizar no poder. No plano externo, o apoio acintoso a regimes pouco democráticos, ou ditatoriais de fato (e de direito), diminui a credibilidade de nossa política externa, ao nos identificar com sistemas políticos já devidamente denunciados em protocolos instituindo “cláusulas democráticas” a que aderimos voluntariamente, e por força de nossa adesão (inclusive constitucional) aos valores da democracia.

Da mesma forma, qualquer política ou medida que obstaculize a integração da economia nacional aos circuitos internacionais da interdependência econômica pode ser considerada como contrária ao interesse nacional, na medida em que diminui nossa capacidade de absorção de know-how e de tecnologias de ponta que são essenciais ao processo de desenvolvimento do país. O protecionismo comercial não é apenas estúpido no plano estritamente econômico; ele é também profundamente reacionário, no sentido marxista da expressão, já que pretende “fazer rodar para trás a roda da História”, como dito no Manifesto de 1848. Com efeito, ele representaria uma volta a um regime de autarquia econômica que estava na base da economia hitlerista – bastante admirada por militares brasileiros, naquela época e depois – e seria uma espécie de “stalinismo para os ricos”, um projeto de “capitalismo num só país” que talvez ainda encante alguns arautos da burguesia industrial tupiniquim e seus representantes acadêmicos.

Mais ainda, e com especial impacto na imagem e na confiabilidade do país no plano internacional, ao aderir a essas medidas de duvidosa eficácia competitiva – ao contrário, elas diminuem nossa capacidade de competir internacionalmente – o país não apenas deixa de cumprir obrigações contraídas ao abrigo do sistema multilateral de comércio, como também se mostra conivente com sócios do mesmo esquema regional de integração, o Mercosul, que reincidem nas mesmas transgressões, e aqui não só contra os próprios interesses comerciais do Brasil e contra regras do bloco comercial, mas igualmente contrárias às normas do Gatt, de seus protocolos setoriais e de acordos emanados da Rodada Uruguai de negociações comerciais. É, sob todos os aspectos, uma péssima demonstração de inadimplência no tocante ao respeito a princípios do direito internacional e, mais uma vez, de ação contrária ao interesse nacional.

Democracia e inserção internacional vêm sendo, assim, afastados de nosso horizonte de realizações históricas, em nome de uma concepção de política interna e de política externa que rompem com consensos nacionais laboriosamente mantidos ao longo de um itinerário diplomático de quase dois séculos de existência efetiva. Esses desvios de conduta – que representam, na verdade, concepções que não transcendem, ao contrário, alimentam as “divisões partidárias”, como a elas se referia o secretário de Estado Charles Hughes – se revelam não apenas em relação à substância mesma das políticas seguidas, mas igualmente no tocante ao próprio instrumento diplomático, ou seja, a ferramenta da política externa, que é o seu serviço exterior.

Charles Beard, no capítulo de seu livro dedicado à “interpretation, advancement, and enforcement of national interest”, dizia que “By far the most important means used to advance and enforce national interest is the ‘system’, or institution, of diplomacy” (p. 341). Ele se referia, exatamente, à administração e ao funcionamento das atividades diplomáticas, bem como à “multitude of services performed by diplomatic agents in behalf of the citizens” (p. 347), ou seja, a cobertura que um país é capaz de dar aos seus cidadãos e às empresas nacionais presentes nos mais diversos cantos do mundo. Nesse particular, a ferramenta da política externa brasileira tem custado muito pouco à nação durante a maior parte de sua história: menos de 1% do orçamento da União (que parece ter passado a menos de 0,5% atualmente). Ver essa dotação ainda mais diminuída, em detrimento da boa qualidade, do funcionamento e, sobretudo, da respeitabilidade desse instrumento, é a pior forma de promover o dito interesse nacional.

Os bolcheviques costumavam repetir, em seus tempos de hegemonia absoluta, e para justificar os incontáveis crimes cometidos contra os direitos humanos, a conhecida frase que pretende que “não se faz omelete sem quebrar os ovos”, querendo significar que sacrifícios são necessários para obter resultados em algum objetivo qualquer. Pode ser que seja verdade, mas no caso que nos é próximo, nem ovos, nem omelete parecem ter resultado dos sacrifícios impostos ao instrumento diplomático nacional. Não se pode, com efeito, fazer diplomacia, sem um mínimo de gastos com representação: o interesse nacional, nesse caso, vem sendo atingido em sua dignidade pelos seguidos exemplos de inadimplência no cumprimento de suas obrigações, da mesma forma como, no passado, se decretava “moratórias soberanas” sobre os compromissos financeiros externos. A insolvência pode até ter deixado de ser financeira, mas ela passou a ser de ordem moral.

Paulo Roberto de Almeida é doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil.

Outros artigos

Brasil, 15 de Marco, encontro com a Historia: nao deixe ela passar sem sua presenca - Guilherme Spadini

Porque você deve ir às ruas no dia 15, mesmo sendo contra o impeachment
Guilherme Spadini - psiquiatra e psicoterapeuta
09/03/2015

Alguns argumentos são velhos - tão velhos! -, mas continuam atuais. Porque são muito bons. Eis aqui um exemplo que remonta a Aristóteles:
Se você quiser aprender a ser um bom marceneiro, deve procurar marceneiros, ou pedreiros?
Os primeiros, é claro.
Se quiser aprender a pintar, deve buscar a companhia de pintores, ou de músicos?
Você entendeu.
E, será que é importante, para se tornar um bom marceneiro, que você ande com eles enquanto almoçam, descansam, batem uma bolinha, ou enquanto praticam a marcenaria?
Para ser um bom pintor, deve andar com pintores enquanto assistem TV, ou enquanto pintam?
A resposta é óbvia. Não só você deve procurar conviver com pintores ou marceneiros enquanto eles estão exercendo sua arte, como também é bom que o faça enquanto eles a estão exercendo bem.
Isso vale para tudo. Se você quiser ser um bom pintor; marceneiro; médico; escritor, professor é fundamental que tenha a oportunidade de conviver com bons praticantes da arte, para aprender e aperfeiçoar suas habilidades.
Agora, e se você quiser aprender a ser uma boa pessoa? Como se aprende a ser virtuoso, a ter caráter, a fazer a coisa certa? Como se aprende a ser bom em ser humano?
Ora, da mesma forma, convivendo com outras pessoas enquanto elas estão engajadas na arte de ser humano, e fazendo isso bem.
E quando isso ocorre? Quando estão assistindo TV, almoçando, batendo uma bolinha, pintando ou trabalhando? Qualquer um pode ser uma "boa pessoa" enquanto faz todas essas coisas, mas de forma inespecífica.
Qual atividade exige, especificamente, que sejamos seres humanos, apenas, e que o façamos bem?
A resposta aristotélica vai parecer ridícula sob o contexto atual. Mas, não é menos certa por isso. A resposta é: a Política! Esta é a atividade em que, por excelência, homens e mulheres exercem a arte de ser humano. Fazer bem a política é fazer, na prática, o que a moral e a ética comandam na teoria. Parece ridículo porque, hoje, entendemos política como um lamaçal ético. É a realidade em que vivemos. Mas, neste caso, errada está a realidade, não o argumento.
Entendemos política como um vale tudo para obter, manter e exercer poder. O real sentido da política, no entanto, é o oposto disso. A boa política só pode nascer a partir do momento em que alguém abdica de exercer poder. Por exemplo: quando eu como, descanso, ou escrevo, minha ação decorre da minha potência, é um exercício dos meus interesses; o ato verdadeiramente político, ao contrário, é aquele que decorre da potência dos outros, e do mundo, tanto quanto da minha. Quer aprender a ser ético? Conviva com pessoas sendo éticas, ou seja, agindo em função do interesse comum, e não do seu próprio.
E não é a política, por excelência, a arte de agir assim?
Deveria ser.
Temos muitas oportunidades para ensinar essa boa política às novas gerações. Podemos fazer isso ao não invadir o acostamento para fugir do trânsito. Ao não pedir favorecimentos indevidos a amigos e parentes. Ao devolver troco que recebemos a mais. Ao ensinar nossos filhos a respeitarem seus professores. Ao não dirigir alcoolizado. Todas essas pequenas ações são políticas, pois configuram a vivência ética de uma sociedade. É através desses exemplos que ensinamos aos mais jovens a prática da virtude.
Sabemos bem o quanto esses exemplos são raros. A falta de ética na política, que tanto nos indigna, é apenas reflexo de como vivemos. Observamos, diariamente, desrespeito; violência; individualismo; intolerância, e uma perigosa inversão de valores. Há desânimo e desesperança no ar.
Mas, também, há algo mais. Algo diferente. Quem viveu as manifestações de 2013 deve ter experimentado que, ao menos por um breve período, ninguém foi dono daquele fenômeno. Foi uma voz própria que emergiu das ruas, que ninguém sabia bem contra o que era, exatamente. Mas todo mundo soube o que ela afirmava: a desesperada necessidade de valor. Há algo borbulhando sob o relativismo moral que nos assola, clamando por uma ética que nos una.
Por isso, nesse dia 15, vá às ruas. Não pelo PT ou PSDB. Não pela direita ou esquerda. Não pelo impeachment. Vá às ruas pela oportunidade de fazer política. A boa política, que é a prática coletiva da ética.
Arraste seus vizinhos. Tire fotos. Abrace os amigos. Celebre a democracia e a liberdade. Leve seus filhos, para que eles aprendam essa atividade de propor e construir valores. Faça algo que é completamente impossível fazer sozinho: aprender a ser bom em ser humano. É um aprendizado para todos, não só para os jovens.
Vai servir para alguma coisa? Não sei.
É possível, ou desejável, o impeachment? Provavelmente, não.
Vamos conseguir moralizar a política e mudar o Brasil? Difícil.
Mas, quem sabe, talvez seja possível mudar você.

Brasil, opiniao: seriam golpistas os brasileiros? 70pc repudiam o governo


Segundo uma pesquisa de opinião da Datafolha do mês de fevereiro, 44% dos consultados consideram o governo atual "ruim" e "péssimo", e 33% "regular". 
Entre os menos escolarizados, só 31% aprovam o governo. 
Nos mais pobres, só 27% a favor. No Nordeste, aprovação caiu de 51 para 34%. 
Esses são os golpistas...
Paulo Roberto de Almeida

Aprovação a governo Dilma Rousseff cai, e reprovação a petista dispara
OPINIÃO PÚBLICA - 09/02/201512H17
DE SÃO PAULO

No início do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) atingiu seu pior índice de aprovação desde que tomou posse, em janeiro de 2011. Atualmente, 23% dos brasileiros adultos avaliam a gestão da petista como ótima ou boa, enquanto 44% a consideram ruim ou péssima. Há ainda 33% que avaliam o governo Dilma como regular, e 1% não opinou. Na comparação com dezembro de 2014, houve queda expressiva na taxa de aprovação da presidente (à época, 42% consideravam seu governo ótimo ou bom), e alta na reprovação (24% de ruim ou péssimo, 20 pontos a menos do que atualmente). Na série histórica de avaliações do governo Dilma, seu pior índice de aprovação, até então, havia sido registrado no final de julho de 2013 (30%), e o seu melhor índice, em março do mesmo ano (65%).
A aprovação a Dilma caiu em todos os segmentos da população. Mesmo em estratos em que o apoio a petista se mantém acima da média, houve queda significativa. Entre os menos escolarizados, por exemplo, 31% aprovam seu governo atualmente, índice que era de 54% em dezembro do ano passado. Na parcela dos mais pobres, com renda mensal familiar de até 2 salário, a aprovação caiu de 50% para 27% no mesmo período. No Nordeste, foi de 53% para 29%, e no Norte, de 51% para 34%.
De forma geral, os segmentos em que Dilma enfrente seus piores níveis de aprovação hoje são: jovens de 16 a 24 anos (19%); brasileiros com ensino médio (19%) e curso superior (16%); brasileiros com renda mensal familiar de 5 a 10 salários (16%) e mais de 10 salários (17%); residentes no Sudeste (19%) e em cidades com mais de 500 mil habitantes (17%).
De 0 a 10, a nota média atribuída ao desempenho da presidente Dilma Rousseff nos seus quatro anos e um mês de governo é 4,8, o que também representa sua pior nota desde a posse, em 2011.
Para a maioria dos brasileiros, a presidente Dilma Rousseff mentiu durante a campanha à reeleição. Esse grupo inclui aqueles que acreditam que ela disse mais mentiras do que verdades durante a campanha (46%), os que avaliam que disse somente mentiras (14%). A parcela dos que acreditam que a petista disse somente verdades soma 8%, há 25% para quem houve mais verdades do que mentiras, e há 8% que não opinaram sobre o assunto.
A imagem da presidente diante dos brasileiros também piorou na comparação com levantamentos anteriores. Atualmente, 50% a consideram indecisa, 46%, decidida, e 3% não têm opinião a respeito. Em abril de 2012, um ano e três meses após assumir, na última pesquisa em que esses atributos foram avaliados, 82% a apontavam como decidida, e somente 15%, como indecisa. Dois em cada três brasileiros (66%) avaliam a presidente como muito inteligente, e 31%, como pouco inteligente (4% não opinaram). Em abril de 2012, a taxa dos que a apontavam como muito inteligente alcançava 84%, e somente 10% diziam que era pouco inteligente.
No mesmo período, a taxa dos que a avaliam como sincera caiu pela metade (de 73% para 35%), enquanto subiu de 13% para 54% a dos que a consideram falsa - 11% não opinaram na pesquisa atual, e 14% na realizada em 2012. Também foi consultada pela primeira vez a imagem sobre a honestidade da petista, e 47% a avaliaram como desonesta. A fatia dos que a apontaram como honesta soma 39%, e 14% não opinaram.
O desempenho de Dilma na área econômica, atualmente, é pior do que na área social: 20% avaliam a gestão econômica da petista ótima ou boa, 43% acham que é ruim ou péssima, e para 35%, é regular. Na área social, 32% avaliam seu desempenho como ótimo ou bom, 38%, como regular, e 27%, como ruim ou péssimo. Parcelas iguais, de 2%, não opinaram sobre esses temas.
Cresce percepção de corrupção como principal problema do país
A maioria dos brasileiros (59%) considera o país um lugar ótimo, mas esse índice representa uma queda de 18 pontos na comparação com dezembro do ano passado (77%). O índice atual de satisfação com a vida no país é o mais baixo na série histórica do Datafolha sobre o tema, só comparável aos registrados em março/abril de 2003 (61%) e junho de 2001 (60%). A série histórica da questão tem início em março de 2000. Atualmente, há 13% que avaliam o Brasil como ruim ou péssimo para viver (em dezembro do ano passado, 5%), e 28% que o consideram regular (ante 18% no levantamento anterior).
A taxa dos que indicam que tem mais orgulho do que vergonha de viver no Brasil (74%) também é a mais baixa desde março de 2000. Na comparação com dezembro de 2014, houve queda de dez pontos na parcela dos que sentem mais orgulho do que vergonha (era de 84%), e alta de 14% para 24% na fatia dos que sentem mais vergonha do que orgulho de ser brasileiro. Há ainda 2% que não responderam ou indicaram outras respostas.
Os principais problemas do Brasil, citados espontaneamente pelos brasileiros, estão ligados à saúde (26%) e corrupção (21%). Em seguida aparecem problemas relacionados à violência e segurança (14%), educação (9%), desemprego (6%), falta d'água (4%), inflação (4%), economia (2%) e fome/miséria (2%), entre outros menos citados de forma espontânea. Esse quadro aponta para mudanças significativas na percepção do brasileiro sobre os problemas do país quando comparado ao verificado em dezembro de 2014. Desde então, a taxa dos que indicam saúde caiu 17 pontos (era de 43%), a dos que citam corrupção cresceu 12 pontos (era de 9%), e a dos que mencionam a violência/segurança caiu 4 pontos (era de 18%). Cada entrevistado só pode dar uma resposta à pergunta.
Expectativa de alta na inflação atinge nível mais alto desde 1994
A queda nas taxas de aprovação do Governo Federal e satisfação com o país encontram respaldo nas expectativas pessimistas dos brasileiros com os indicadores econômicos do país. Sondagens sobre as expectativas em relação à inflação, desemprego e poder de compra dos salários, além da situação econômica do país e dos entrevistados, são realizadas pelo Insitutot Datafolha desde meados da década de 1990, e há resultados que nunca foram tão pessimistas quanto os registrados em fevereiro de 2015.
Esse é o caso, por exemplo, da inflação: atualmente, 81% dos brasileiros preveem que daqui para frente inflação irá aumentar, 5%, que irá diminuir, e 11%, que irá ficar como está, além de 3% sem opinião sobre o assunto. Em dezembro do ano passado, 54% esperavam por aumento da inflação. Até agora, a taxa mais alta de expectativa de alta na inflação havia sido registrada em setembro de 2001 (72%), em pesquisa realizada uma semana após os atentados terroristas aos Estados Unidos - à época, 51% dos brasileiros acreditavam que as consequências dos atentados para a economia brasileira seriam grandes, 29%, que seriam pequenas, e 11%, que não haveria consequências. As taxas mais baixas de pessimismo foram registradas em dezembro de 1994, julho de 2003 e outubro de 2003 (30%).
O aumento no desemprego é esperado por 62%, e os demais se dividem entre aqueles que acreditam que o desemprego irá diminuir (13%) ou ficar como está (22%). Há ainda 2% que não opinaram. Em dezembro de 2014, 39% avaliavam que o desemprego iria aumentar, 27%, que iria aumentar, e 29%, que ficaria como estava. Essa é a taxa mais alta de expectativa de alta no desemprego desde dezembro 2001 (66%). Na série histórica sobre o tema, que tem início em março de 1995, a mais alta expectativa de aumento de desemprego havia sido registrada em junho de 2001 (72%), em pesquisa que refletia o pessimismo dos brasileiros com a crise energética instalada no país.
Pela primeira vez, desde 1994, a maioria (57%) da população adulta do país acredita que o poder de compra dos salários irá diminuir nos próximos meses. A parcela dos que acreditam que irá aumentar fica em 17%, outros 22% avaliam que irá ficar como está, e 3% não opinaram. Em dezembro do ano passado, o tema dividia os brasileiros: 34% avaliavam que o poder de comprar iria diminuir, 31%, que iria aumentar, e 29%, que ficaria estável. A expectativa mais alta de diminuição de poder de compra registrada, até então, havia sido registrada em fevereiro de 1999 (48%).
Para 55%, a situação econômica do país irá piorar nos próximos meses, o dobro do registrado em dezembro do ano passado (28%). Esse é o índice mais alto de pessimismo em relação à economia brasileira desde que essa questão começou a ser abordada pelo Datafolha, em dezembro de 1997. O resultado só é comparável a setembro de 2001, quando 53% esperavam por piora na economia do país. A parcela dos que esperam que a economia melhore nos próximos meses é de 16%, e para 26% ficará estável. Há ainda 3% que não responderam.
A expectativa em relação à própria situação econômica é menos pessimista, mas o cenário também é de deterioração das expectativas na comparação com o final do ano passado. Para 33%, a situação econômica pessoal irá melhorar (em dezembro, 51%), 26% acreditam que irá piorar (em dezembro, 12%), e 38% avaliam que irá ficar como está (ante 35% em dezembro).
Esse pessimismo econômico traz impactos no consumo dos brasileiros, que cortaram despesas nos últimos meses e não pretendem aumentar seu consumo nos próximos meses. A maioria (56%) cortou algum tipo de despesa pessoal nos últimos meses, e quase metade da população (46%) pretende consumir menos nos próximos meses. Pretendem consumir mais 19%, e 33% pretendem manter o nível de consumo estável.
Para 52% dos brasileiros, Dilma sabia de corrupção na Petrobras e permitiu que ocorresse
Para os brasileiros, a Petrobras tem muita importância para o Brasil, mas parte significativa da população acredita que o futuro da empresa esteja em risco por causa dos casos de corrupção envolvendo seus negócios. Consultados sobre a importância da Petrobras para o país, tendo como parâmetro uma escala de 0 a 10 onde 0 significa nada importante e 10, muito importante, 45% atribuíram máxima importância, ou seja, nota 10. A fatia dos que atribuíram nota 9 é de 9%, e 16% indicaram nota 8. Somadas, as notas 8, 9 e 10 foram apontadas por 70% dos brasileiros, e notas igual ou abaixo de 5 somaram 15%, (uma fatia de 5% atribuiu nota 0, ou nenhuma importância).
Após serem consultados sobre a importância da Petrobras, os brasileiros foram questionados sobre os casos de corrupção envolvendo os negócios da empresa, seu quadro de funcionários e agentes políticos. As questões foram feitas nessa ordem para que a atribuição de importância não fosse influenciada pelas informações trazidas pelas questões referentes à corrupção na estatal.
A maioria dos brasileiros (86%) tomou conhecimento das prisões, no final do ano passado, de executivos de empreiteiras acusados de corrupção em negócios com a Petrobras, índice similar ao registrado em dezembro de 2014 (84%). Dos que tomaram conhecimento, 30% estão bem informados, 44%, mais ou menos informados, e 12%, mal informados.
Para 82%, a corrupção descoberta na Petrobras irá prejudicar a estatal em vários níveis. Os mais pessimistas (45%) acreditam que irá prejudicar a empresa por muito tempo e coloca seu futuro em risco. Para 23%, a corrupção descoberta na empresa irá prejudica-la por muito tempo, mas não coloca seu futuro em risco. Há ainda 15% que veem prejuízo para a Petrobras, mas por pouco tempo, sem colocar seu futuro em risco, e 8% que não veem prejuízo.
Apenas 14% dos brasileiros avaliam que a presidente Dilma Rousseff não sabia da corrupção na Petrobras, e para 25% ela sabia mas não poderia fazer nada para evita-la. A maior parte (52%), porém, acredita que a petista sabia da corrupção na Petrobras e deixou que ela ocorresse, e 8% não tem opinião sobre o assunto. Entre os que aprovam o governo Dilma, 17% acreditam que ela sabia da corrupção mas deixou que ocorresse, 31%, que sabia mas não poderia evita-la, e 37%, que não sabia.
65% apoiam adotar racionamento de energia imediatamente
A maioria dos brasileiros (94%) tomou conhecimento de que a falta de chuvas em algumas regiões do país tem feito baixar o volume de reservatórios de água usados para abastecer a população e gerar energia elétrica. A fatia dos bem informados sobre o assunto atinge 57%, e os demais estão ou mais ou menos informados (31%) ou mal informados (7%)
Um em cada três brasileiros (32%) acredita que o principal responsável pelo risco de faltar energia no Brasil seja o Governo Federal, e 18% avaliam que seja a população. Também foram apontadas as grandes empresas (10%) e os governos estaduais (8%), assim como todos eles (23%). Há ainda 2% que não consideram nenhum dos citados culpado, e 8% não opinaram sobre o assunto. Entre os mais jovens, ficam abaixo da média as indicações ao Governo Federal (27%), e acima da média (25%), a todos (governos, população e grandes empresas). Na parcela dos mais escolarizados, 42% dizem que o principal culpado é o Governo Federal, índice que cai para 27% entre os menos escolarizados.
Dois em cada três brasileiros (65%) acreditam que o governo deveria adotar imediatamente o racionamento para enfrentar o problema de falta de chuvas que prejudica o abastecimento de energia elétrica em algumas regiões do país. Para 27%, o governo deveria esperar mais alguns meses para observar se as chuvas a partir de agora irão encher os reservatórios, e 8% não opinaram. No Sul, o índice dos que apoiam um racionamento imediato fica abaixo da média (58%), assim como entre os menos escolarizados (56%). Entre os mais escolarizados, 77% avaliam que o governo deveria adotar o racionamento imediatamente.
A falta de energia atingiu na residência onde moram atingiu, no último mês, 39% dos brasileiros. Destes, 15% dizem ter ficado sem energia por 1 dia, 10%, por 2 dias, 6%, por 3 dias, e 8%, por quatro dias ou mais. Em média, os atingidos ficaram sem energia em 2,9 dias, considerando os 30 dias anteriores à pesquisa. A região menos atingida por falta de energia foi o Sul (30% relataram ter ficado sem energia em pelo menos 1 dia dentre os 30 dias anteriores), e as mais atingidas foram Centro Oeste (45%), Norte (45%) e Nordeste (43%). No Sudeste, 37% disseram ter faltado energia no período.
36% sofreram com falta de água no último mês
A maioria (95%) tomou conhecimento sobre a falta de água que está atingindo algumas regiões do país devido ao baixo volume de reservatórios de água usados para abastecer a população. Destes, 58% declaram estar bem informados sobre o assunto, e os demais estão ou mais ou menos informados (30%) ou mal informados (6%)
Há uma divisão na atribuição de responsabilidade pela falta de água em algumas regiões do país: para 24%, a população é o principal responsável, índice igual (24%) ao dos que indicam todos (governos federal e estaduais, grandes empresas e população) e no mesmo patamar dos que atribuem a responsabilidade principalmente ao Governo Federal (22%). Para 14%, o principal responsável são os governos estaduais, 6% acreditam que sejam as grandes empresas, e 3%, que não seja nenhum desses. Há ainda 6% que não opinaram sobre o assunto.
Na região Sudeste, a principal ameaçada pelo problema de abastecimento de água, 26% acreditam que todos sejam responsáveis pela falta de água, 22%, que seja a população, 21%, que seja o Governo Federal, e 19%, os governos estaduais. As grandes empresas foram apontadas por 5%, e uma fatia de 3% não atribui responsabilidade a nenhum deles.
A falta de água na residência onde moram atingiu, no último mês, 36% dos brasileiros. Destes, 18% ficaram sem água em casa por 5 dias ou mais, 7%, de 3 a 4 dias, e 6%, 2 dias ou menos. No Nordeste, 50% ficaram sem água na residência por pelo menos 1 dia nos 30 dias anteriores ao levantamento. No Sudeste, o índice fica em 37%, e cai para 29% no Centro-Oeste, 24%, no Norte, e 19%, no Sul.

Venezuela: Unasul defende a soberania do governo chavista - Nada mais logico...

Alguém aqui, ou aí, esperava alguma outra atitude da Unasul?
Está correto: ela foi feita para isso mesmo: defender a soberania de países (inclusive o Brasil) que são vilmente atacados pelo imperialismo.
Se não existisse a Unasul, seria preciso inventá-la, pois sabemos que a OEA não serve mesmo para nada, aliás, nunca serviu...
Ufa! Ainda bem que a Unasul está aí para resguardar a altivez e a soberania dos nossos países...
Paulo Roberto de Almeida

Unasul alerta contra ‘ingerência estrangeira’  na Venezuela
AFP e EFE, 09 Março 2015 | 20h 13

Chanceler equatoriano faz crítica a anúncio de Obama; eleições para o Legislativo devem ser no fim do ano, diz entidade

QUITO - O ministro de Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, disse nesta segunda-feira, 9,  que a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) não permitirá uma intervenção estrangeira na Venezuela, em uma referência velada ao anúncio de sanções contra membros do governo chavista feito pela Casa Branca. Segundo o chanceler equatoriano, a entidade também não permitirá “golpes de Estado” contra o presidente Nicolás Maduro.
“Uma vez que Nicolás Maduro é o presidente democraticamente eleito dos venezuelanos, claro que vamos nos opor de forma radical, frontal e com toda a nossa força a qualquer tentativa de desestabilização”, afirmou o chanceler. “Não permitiremos uma intervenção estrangeira, nem um golpe de Estado.”
Patiño fez parte de uma comissão de chanceleres da Unasul que visitou a Venezuela no fim de semana para tentar reativar o diálogo entre o chavismo e a oposição. Participaram também da visita os ministros de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e da Colômbia, María Ángela Holguín, além do secretário-geral da entidade, Ernesto Samper.
Mudança. Ainda ontem, a Unasul negou que as eleições parlamentares venezuelanas serão realizadas em setembro, apesar de ter confirmado a data num comunicado divulgado no fim de semana.
“Queremos nos desculpar pelo comunicado que informava que a eleição deveria ser em setembro”, disse Samper. “A menção ocorreu por um calendário prévio que temos na Unasul sobre as eleições esperadas para o ano. O anúncio correto será feito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).”
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, disse, no entanto, que é mais provável que as eleições ocorram em novembro ou dezembro. “O CNE nos disse que marcará as eleições, no máximo, em um mês e é provável que elas ocorram no fim do ano”, disse. “A realização das eleições foi confirmada nas reuniões que tivemos com a presidente do CNE e com Maduro.”
Para Vieira, a realização de eleições ajudará a reduzir a tensão política no país. “A oposição nos disse que a solução do problema são as eleições e o governo afirmou que as convocará”, acrescentou o ministro. Ainda de acordo com o chanceler, as reuniões mantidas pela comissão da Unasul em Caracas foram construtivas e sem as tensões relatadas à imprensa.
O ministro negou também que tenha aproveitado a visita a Caracas para manifestar ao governo venezuelano uma suposta preocupação do Itamaraty com a prisão de líderes da oposição. “O Brasil não julga nada”, disse. “A comissão da Unasul viajou para promover o diálogo e não para emitir juízos de opinião.”
As primárias da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) estão marcadas para o dia 17 de maio. O governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) fará a votação que decidirá seus candidatos nas eleições legislativas em 21 de junho.
Antes da visita da Unasul, o líder da oposição Henrique Capriles disse temer que Maduro cancelasse as eleições em razão da crise econômica e política que afeta o país. O chavismo detém atualmente a maioria na Assembleia Nacional.

Petrolao: Planalto e chefe da quadrilha arbitravam e dirigiam a corrupcao na Petralhabras

Alguma dúvida agora?
Seria o suficiente para não apenas a Justiça e o Congresso iniciarem uma investigação e um processo de impeachment.
Seria...
Mas a nossa Justissa não é, digamos assim, muito atenta: ela só ouve certas coisas, só vê algumas poucas, e não fala nada. Que ela seja cega, muda e surda, a gente já sabe. Que ela seja paraplégica também, isso é novidade...
Quanto ao Congresso, o que dizer?
Não tenho palavras...
Paulo Roberto de Almeida

Novo depoimento de Youssef revela com todas as letras: "Lula e Dilma sabiam de toda a corrupção na Petrobrás"

Nesta reportagem de Rubens Valente,  intitulada "Doleiro diz que Planalto escolhia diretores quando partidos divergiam", fica clasro que o doleiro e delator Alberto Youssef citou nominalmente Dilma Roussef e Lula, ao denunciar que o ex-presidente e a atual presidente sempre souberam da roubalheira na Petrobrás, concordavam com ela e dirigiam tudo desde o Palácio do Planalto, tanto que em casos de conflitos nas escolhas dos diretores por partes de PT, PP e PMDB, eram eles quem faziam a mediação. 
Apesar da clareza das denúncias e da nominação dos líderes, Lula e Dilma não constaram da Lista de Janot e nem o ministro Teori Zavascki devolveu a papelada como imprestável, exigindo novas petições.
O doleiro Alberto Youssef afirmou em delação premiada que o Palácio do Planalto era o responsável final pela escolha dos diretores da Petrobras quando surgiam divergências entre os partidos políticos em torno da indicação de nomes para os cargos.
A íntegra do depoimento foi incluída nos autos da Operação Lava Jato que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal).
"Eram comuns as disputas de poder entre partidos relacionadas à distribuição de cargos no âmbito da Petrobras e que essas discussões eram finalmente levadas ao Palácio do Planalto para solução; [Youssef] reafirma que o alto escalão do governo tinha conhecimento", diz o depoimento, dado em 3 de outubro.
Youssef disse a chefia da Petrobras e o Planalto sabiam do esquema. "Tanto a presidência da Petrobras quando [quanto] o Palácio do Planalto tinham conhecimento da estrutura que envolvia a distribuição e repasse de comissões no âmbito da estatal".
O doleiro nominou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a atual presidente, Dilma Rousseff, e os ex-ministros José Dirceu, Edison Lobão, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffmann, Gilberto Carvalho e Antonio Palocci entre os nomes do Planalto que sabiam do esquema.
No mesmo depoimento, quando indagado diretamente sobre a participação da ex-presidente da Petrobras Graça Foster, o doleiro Alberto Youssef não foi assertivo. "O declarante esclarece acreditar que a mesma soubesse da estrutura de repasses das construtoras para partidos, mas não pode afirmar".

"Entretanto, a prática da indicação de cargos político visando pagamentos é rotineira e ocorre em todos os casos."

===========