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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Saudacao a formandos de Relacoes Internacionais (em 2003) - Paulo Roberto de Almeida

Este texto, uma mensagem enviada desde Washington aos formandos em Relações Internacionais da Tuiuti, no Paraná, provavelmente nunca foi divulgado em qualquer suporte, fora da leitura feita na própria cerimônica de formatura dessa turma.
Descobri-o agora, ao revisar algumas listas antigas de trabalhos inéditos ou sem qualquer link funcional com suportes antigos de divulgação.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de maio de 2016


Mensagem aos formandos

Paulo Roberto de Almeida
Washington, 4 de julho de 2003

Desde Washington, onde exerço o cargo de ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil, e ocasionalmente o de Encarregado de Negócios junto ao governo dos Estados Unidos, tenho o prazer de encaminhar, por via eletrônica, não podendo participar desta cerimônia de corpo presente, minha mensagem de saudações e de congratulações pela formatura que ora ocorre desta turma de 2003 do Curso de Relações Internacionais da Universidade Tuiuti de Curitiba, no Paraná.
Cerimônias de graduação constituem sempre motivo de múltiplas satisfações, nas várias vertentes possíveis de uma vida aberta, doravante, a escolhas ainda mais decisivas:
- em primeiro lugar a satisfação propriamente acadêmica, pois que uma cerimônia como esta representa o acabamento, talvez parcial, de uma etapa importante na formação educacional individual, bem como a possível inauguração de outra etapa, num mundo sempre exigente em termos de especializações e de estudos continuados;
- em seguida, a quase realização profissional, já que habilitando cada um de vocês ao desempenho produtivo seja no âmbito empresarial, seja a serviço de alguma instituição pública ou ainda no seio da própria academia;
- satisfação familiar, também, uma vez que o objetivo maior de toda família sempre é o de ver seus filhos dotados dos requisitos específicos e suficientes que os habilitem ao sucesso na vida futura;
- contentamento, e eu diria mesmo alívio, pessoal, finalmente, na medida em que cada um dedicou o máximo de esforços, durante todos esses anos, para justamente obter o certificado que promete abrir novas portas num itinerário de certa forma ainda incipiente.
Quando digo “promete” é porque tenho consciência de que o diploma habilita mas não necessariamente assegura um direito, que seria o do emprego e o da remuneração considerada justa. Ele é provavelmente um requisito necessário, mas não suficiente para o sucesso profissional num mundo cada vez mais entregue à concorrência dos sistemas abertos, como aliás corresponde a uma realidade mais e mais globalizada, na qual se insere também o Brasil.
Ninguém deve ter a ilusão de que a posse de um certificado de estudos basta, por si só, para garantir o sucesso profissional e pessoal a que todos aspiram legitimamente. Muitos de vocês já estão trabalhando, em empregos nem sempre relacionados com os estudos recém concluídos; outros podem já ter tido a sorte de se ver oferecer uma ocupação que aproveitará parte ou a quase totalidade das habilidades adquiridas no curso; vários, enfim, ainda precisarão disputar no mercado de trabalho alguma atividade que os coloque mais perto da independência financeira e da satisfação profissional.
Em qualquer hipótese, porém, tenham consciência de algumas verdades que precisam ser refletidas desde já: nem vocês dominam as múltiplas facetas da profissão de “internacionalista” – usemos este termo à falta de outro melhor – nem a universidade que acaba de formá-los forneceu-lhes todos os requisitos de que necessitam para algum trabalho especializado na instituição que vier a acollhê-los.
Explico-me. Todos sabem que as escolas pouco educam, no sentido mais profundo deste verbo: elas no máximo ensinam algumas técnicas que habilitam cada um de nós a passar para as etapas seguintes do nosso aprendizado formal. Quem educa, em primeiro lugar, é normalmente a família, que deve fornecer as condições intrínsecas e extrínsecas para o sucesso de qualquer pessoa no itinerário escolar e depois na vida profissional.
A educação é um processo complexo que depende, basicamente, do entorno familiar, da disposição própria de cada um em querer aprender – e eu sou um grande crente no autodidatismo – e só depois, bem depois, vem o papel das estruturais formais de aprendizado, no sistema público ou privado.
Um personagem célebre da cultura popular americana, já falecido, Will Rogers, costumava dizer, em seu estilo cowboy, que tudo o que ele tinha aprendido na vida se devia aos livros e a pessoas mais espertas do que ele. E é verdade: tudo o que aprendemos de realmente importante na vida se deve ao esforço dos pais, à companhia dos grandes livros e a certas pessoas que marcaram nossas vidas, o que pode incluir, também, a já distante professora primária e um não tão distante professor universitário.
Aprendemos aquilo que somos motivados a gostar, desde muito cedo, e foi essa empatia com certas coisas, e não com outras, que levou muito de vocês a buscar um curso de relações internacionais, e não um de direito, de economia, de história, de sociologia ou de administração. Se alguém fez relações internacionais porque o curso estava na moda – ultimamente distinguido pelas vogas da globalização e da regionalização –, esse alguém vai ter agora de aprender a conhecer melhor as realidades do mundo, que por vezes incluem uma dura adaptação às condições concretas de trabalho no mundo profissional, nem todas elas descritas nos manuais universitários. Uma empresa, por exemplo, é mais suscetível de se interessar pelos acordos internacionais em matéria fitossanitária ou de telecomunicações do que pela teoria neorealista das relações internacionais aplicada ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Um ponto para os que aprenderam isso.
Por isso mesmo, eu recomendaria que vocês não acumulem, depois de iniciada a próxima etapa da vida pessoal e profissional, recriminações indevidas contra os seus professores, que provavelmente fizeram o melhor possível para transmitir a vocês o saber codificado nos livros adotados e nas leituras recomendadas pelo curso. Seria impossível, a eles, como a qualquer outro mortal, fornecer-lhes tudo de que venham eventualmente a necessitar para um desempenho bem sucedido em alguma profissão específica. A função deles não era essa, como a da escola não era o de provê-los de todos os conhecimentos e habilidades necessárias para o exercício profissional. Escolas e professores transmitem, antes de mais nada, técnicas ou métodos de ensino e até mesmo alguns conhecimentos, mas estes são infinitos e incomensuráveis em sua dimensão própria.
Quem está acostumado a fazer pesquisa na Internet, via instrumentos de busca, sabe do que estou falando, e tenho certeza de que são muitos aqui aqueles que, ao longo do curso, utilizaram-se do recurso, hoje fácil, a sistemas de pesquisa online para atender alguns (ou a todos os) trabalhos escolares. Basta colocar um ou dois conceitos e os resultados, em menos de dois segundos, se cifram às centenas, quando não aos milhares de documentos e outros sites de referência ou de conteúdo substantivo. O “copiar e colar” tornou-se a praga do século, ou pelo menos o concorrente do livro e do professor.
Seria impossível a qualquer professor, de fato a qualquer curso, e mesmo a uma faculdade inteira, concorrer com esse instrumento fabuloso que constitui a Internet, e sabemos que ela contém apenas uma parcela das informações livremente disponiveis e do conhecimento necessário a um bom desempenho em qualquer profissão moderna digna desse nome. Professores normais não ganham da Internet, mas eles podem e devem, sim, fornecer as regras e métodos pelos quais vocês podem aproveitar o estoque acumulado de conhecimento útil para a finalização de um trabalho e para o cumprimento de encargos profissionais, inclusive e principalmente as normas da boa citação e da devida referência bibliográfica. Mais um ponto para o referenciador honesto.
Das considerações acima, eu tiraria duas conclusões, que também podem servir como duas lições de vida que eu gostaria de transmitir a vocês neste momento festivo.
Sejam, em primeiro lugar, os seus próprios professores e instrutores permanentes, e nunca esperem, passivamente, que alguém venha a fornecer, a cada um de vocês, meios ou recursos para triunfar na vida. Antes de mais nada, aprendam a aprender, aperfeiçoem a capacidade de serem autodidatas, constantes, incansáveis e insaciáveis e, para o essencial e o supérfluo, sejam mestres na arte da auto-educação contínua. Apenas aqueles que estão em processo de aprendizado permanente conseguem vencer os múltiplos desafios da carreira e lograr assim um bom desempenho profissional pela vida afora.
Tenham consciência, repito, de que o ensino dos professores, ao longo do estudo universitário “normal”, é apenas o começo de um longo processo de aperfeiçoamento que deve literalmente obrigá-los a se fazerem por si mesmos no desempenho ulterior, seja nos estudos de pós-graduação, seja na carreira profissional, seja até na vida pessoal e familiar. Quando eu disse, seguindo o conselho de um “caipira” americano, que uma boa receita é a de aprender com os livros e com pessoas mais espertas do que nós mesmos, não estava recomendando que vocês esperassem que os livros lhes caissem às mãos, ou dizendo que essas outras pessoas mais espertas se encontravam à disposição de vocês para transmitir-lhes a verdade revelada e o jeito certo de vencer na vida.
Como diz o velho ditado, retrabalhado pelo magnífico poeta popular que é Chico Buarque de Holanda, quem espera nunca, ou raramente, alcança o que pretende da vida. Apenas aqueles que saem ativamente à cata dos grandes livros e de pessoas mais espertas conseguem realizar seus objetivos de vida. Com isso não quero dizer que apenas pessoas ou livros dão a receita do sucesso; hoje em dia a Internet pode substituir uns e outros, mas é certo também que nem sempre com o mesmo prazer do contato físico com as lombadas e páginas dos livros ou a palavra amiga de quem sabe mais e tem o que transmitir.
Trata-se apenas de uma filosofia de vida, mas que convém levar em conta na organização pessoal do itinerário futuro de cada um. Bons livros e pessoas inteligentes nunca fizeram mal a ninguém, muito pelo contrário.
A segunda recomendação que eu faria a vocês seria simples, expressando apenas e tão somente o meu próprio modo de ver o trabalho profissional e o desempenho pessoal (no meu caso voluntário) nas lides acadêmicas. Ela é representada por dois conceitos, que considero absolutamente indispensáveis na vida: honestidade intelectual, acima de tudo.
A honestidade intelectual deve revelar-se em primeiro lugar no próprio “copiar e colar”, que parece constituir hoje um comportamento padrão nos universitários. As boas normas de citação dos manuais especializados incluem hoje em dia as regras para uma correta referência do material pescado na Internet e caberia começar por aí. Não pretendo aqui vir em defesa dos professores, sempre agoniados em saber se aquele trabalho genial tem copyright próprio ou emprestado. Quero chamar a atenção, mais uma vez, para uma filosofia de vida, uma postura ética que deve prevalecer nas relações de vocês com os colegas, os professores, os superiores no trabalho, para consigo mesmos, enfim.
Apenas aqueles que mantêm uma relação honesta e objetiva com as fontes, com os familiares, com os colegas e os superiores, no trabalho e na escola, com suas próprias limitações e insuficiências, apenas esses têm, afinal de contas, condições e possibilidades de continuar progredindo no caminho do saber e do desempenho profissional.
A vida nunca foi fácil para ninguém, mesmo para aqueles que nasceram em “berço de ouro” e que não precisam se preocupar com a subsistência elementar, digamos assim. Todo sucesso depende de um investimento inicial, mesmo em condições ótimas de recursos e de meios. E todos aqueles que dependem basicamente de si mesmos para seu sucesso na profissão e na vida sabem que duas das condições essenciais para tal são o auto-conhecimento e a honestidade para com os outros e consigo mesmo.
Por isso, minhas duas únicas recomendações seriam estas: continuem aprendendo a aprender e, sobretudo, sejam éticos pela vida afora. Seus amigos e familiares, seus colegas de trabalho, a própria sociedade em muitos casos, os recompensarão pelo esforço demonstrado. Boas leituras, boas companhias e muito boa sorte a todos vocês !
Paulo Roberto de Almeida,
aprendiz de sociólogo e diplomata de carreira.
Washington, 4 de julho de 2003.

Texto de saudações elaborado a pedido da Comissão de formatura do Curso de Relações internacionais, 2003, da Universidade Tuiuti do Paraná.

Dez coisas que aprendi nos primeiros cinquenta anos de vida - Paulo Roberto de Almeida

Um texto de 2003, nunca divulgado, mas aparentemente ainda válido.


Dez coisas que aprendi ao longo de meio século de vida
(e que nunca é demais lembrar porque nelas não se presta atenção)

Paulo Roberto de Almeida

1. Não se deve generalizar situações, tipos e ocorrências

2. Nunca se deve absolutizar avaliações e julgamentos.

3. Não se deve fazer previsões sobre comportamentos.

4. Não se deve deixar a religião interferir com a vida civil.

5. Os resultados são sempre mais importantes do que as intenções, mas os fins não justificam os meios.

6. Interpretações e diagnósticos são sempre parciais e limitados e as ideologias derivam diretamente deles.

7. A justiça distributiva deve ser praticada sobre os fluxos, não sobre os estoques.

8. Direitos humanos não precisam ser “contemplativos”, eles podem ser “ofensivos”; o respeito das diferenças pode preservar situações de discriminação absoluta.

9. Soberania estatal é um conceito caduco no plano das liberdades individuais.

10. A educação deve ser obrigatória, contínua e de preferência complementada por formação humanista.

Washington, 19 maio 2003

Minha revisao da era lulopetista: o que eu pensava no final de 2002 - Paulo Roberto de Almeida

Antes do início da era do Nunca Antes no Brasil, eu já me preocupava com as políticas que seriam colocadas em prática, e ousava contrariar o otimismo dominante: eu achava que o PT iria "salvar" a burguesia, e continuaria deixando as crianças pobres na mesma situação, e com uma educação deplorável.
Aparentemente fui desmentido durante um bom tempo, enquanto vicejavam favores para os pobres e dezenas de políticas ditas sociais, mas parece que a realidade se encarregou de me confirmar em meus temores mais evidentes, no final de 2002, ou seja, antes mesmo que começasse o reino dos companheiros.
Paulo Roberto de Almeida


Pensando adiante: como a nova maioria salvou a burguesia e todos os seus bens
(advertência preventiva)

Paulo Roberto de Almeida

Sou um amigo, simpatizante e mesmo um promotor ativo da causa transformadora do Brasil, isto é, do partido da “reforma social profunda”, ainda que não seja membro efetivo de nenhum partido, seita ou agrupação política ou religiosa. Minha adesão à reforma é, contudo, total e de nenhuma forma subscrevo às velhas maneiras de fazer política, assim como não me considero neoliberal ou ainda um reformista “abstrato”. Como qualquer outro brasileiro engajado no movimento mudancista, portanto, recebi como extremamente auspiciosa a vitória do partido da reforma e aguardo com muitas expectativas otimistas a assunção da nova maioria e sua implementação dos projetos de reforma anunciados durante tanto tempo.
Apenas acontece que, ademais de simpático à causa da mudança, sou também um bom observador da realidade política e, acima tudo, um “racionalista” em políticas econômicas, uma vez que minha experiência de observador social indica que certas aventuras econômicas redundaram em indizível sofrimento para as camadas mais humildes da população, geralmente por via do imposto inflacionário e por políticas redistributivas altamente regressivas do ponto de vista dos que mais necessitam (usualmente via “serviços” educacionais e previdenciários que se dirigem aos mais privilegiados). Por isso, tomei a iniciativa de registrar no presente texto “prospectivo” algumas reflexões preventivas que – a despeito de não serem destinadas a publicação – se dirigem aos que, como eu, seguem a atualidade política e pretendem contribuir para a manutenção dos compromissos com a mudança, de uma maneira responsável e sensata, preservando equilíbrios econômicos fundamentais mas avançando no sentido de diminuir os graus anormalmente elevados de iniquidade social que ainda caracterizam a Nação brasileira.
Os pontos que se seguem não observam nenhum ordenamento particular, mas são indicativos de um cenário que está sendo implementado gradualmente, qual seja, o discurso pré-posse, a atitude voluntarista na assunção ao poder, a atuação de velhos e novos grupos de interesse em direção da nova maioria, a reação dos velhos militantes e comprometidos com o “projeto nacional”, os resultados esperados das políticas implementadas, e as conclusões práticas que podem ser tiradas preventivamente dessa movimentação excepcional a que está assistindo a sociedade brasileira. Finalmente, permito-me formular algumas recomendações genéricas que refletem minha própria visão do mundo e que servem como fecho a um texto que pretende continuar sob reserva até nova conferência dentro de algum tempo (2 ou 4 anos a partir de dezembro de 2002).

1. Mudou o mundo, mudou o Brasil e mudou o partido: nessa ordem?
O Brasil assistiu, em meados de 2002, a uma das mais importantes mudanças políticas já ocorridas na história republicana, movimento que tentei captar nos textos de meu livro A Grande Mudança (São Paulo: Códex Editora, 2003). Ocorreu aquilo que os marxistas chamariam de transformação da “superestrutura política da sociedade”, colocando-a em compasso mais afirmado com sua infra-estrutura social. Essa mudança relevante tem sido apresentada, pelos principais protagonistas, como uma “conseqüência natural” das transformações em curso no mundo e no próprio Brasil, mas quero crer que ela é, antes de mais nada, o resultado de uma mudança de atitude e de mentalidade das próprias lideranças políticas que agora converteram-se na nova maioria social e política da Nação.
Em outros termos, a conversão à responsabilidade fiscal, as declarações de respeito aos contratos e o novo realismo nas relações com o FMI, para citar três exemplos dessa mudança paradigmática, não foram ditadas pelas circunstâncias externas, que não se alteraram dramaticamente nos poucos meses de campanha eleitoral presidencial. Ou, se mudança houve, ela foi no sentido do aprofundamento da “crise da globalização”, de uma acrescida dependência do Brasil dos “mercados financeiros globalizados”, de um sensível agravamento da nossa “fragilidade financeira externa”, ou seja, em todos aqueles elementos que figuravam no lado perverso do figurino da “ruptura”, ainda proclamada no último encontro oficial do partido mudancista.
Cabe registrar, em todo caso, a bem-vinda mudança de atitude, que constitui o primeiro passo na direção de novas responsabilidades governativas, o que só pode ser saudado de maneira otimista. O que se espera agora é que essa mudança de atitude se traduza em atos concretos no sentido da mudança de cenário social com preservação da estabilidade macroeconômica e da continuidade da inserção do Brasil no sistema internacional globalizado, pois foi esse o mandato recebido nas urnas. A conferir, portanto.

2. O que fazer com a memória do passado?: as virtudes do autocontrole
As declarações de mudança não bastaram, contudo, para instilar confiança nos “mercados”, que continuaram a atribuir notas baixas ao chamado “risco Brasil”, com uma deterioração lamentável do valor da moeda e dos títulos de crédito brasileiro negociados externamente (e conseqüente elevação dos prêmios para renovação de crédito). Em virtude desse fenômeno, muito bem percebido pela nova equipe dirigente, passou-se a ostentar tremendo autocontrole, com poucas declarações públicas no sentido daquelas teses antes proclamadas como integrando o menu da ruptura: redução dos juros, políticas setoriais ativas, medidas redistributivas e de correção de “desequilíbrios” sociais ou regionais, enfim, a panóplia de iniciativas de tipo voluntarístico que denotavam a tendência, consciente ou inconsciente, de “querer fazer algo” para corrigir as tremendas iniquidades que obviamente ainda caracterizam o cenário social brasileiro.
Há, todavia, uma tendência latente a “resolver” esses “problemas urgentes” via implementação de políticas ativas em vários setores de notórias carências sociais e, de fato, a componente “social” do novo governo cresceu bastante em relação à estrutura administrativa existente até então, com as previsíveis novas fontes de pressão sobre o orçamento. Resta saber se a política do “pau na máquina” permite, efetivamente, resolver os problemas que se pretende encaminhar por via administrativa. Alimentar os carentes, por exemplo, é uma tarefa gigantesca e auto-perpetuadora, com dispêndio de recursos nos meios – cadastro, distribuição física e controle dos resultados – e uma ingente repetição dos mesmos “remédios” em todas as fases do processo. Existem certamente formas mais eficientes de se despender o dinheiro público, atuando talvez na “produção” de emprego e na “criação” de renda de maneira a gerar um circulo virtuoso no próprio processo produtivo, não necessariamente na demanda agregada (elogiável e keynesianamente correta, mas de difícil sustentação em condições de precário equilíbrio orçamentário).
Um pouco de auto-contenção seria recomendável nesta fase de testes.

3. Os novos “amigos do social”: atenção com os aliados
Todo governo tem amigos sinceros, os de sempre (e conhecidos), um imenso contingente de novos amigos, pouco sinceros e de fato oportunistas, e um número indeterminado de novos lobistas em favor de alguma “causa importante”. Na verdade, se trata dos velhos lobbies do passado, mas reciclados em “amigos do social”, mas que são ainda mais amigos do poder e de suas inestimáveis possibilidades de distribuição de recursos. Basta conferir uma agenda de endereços ou a lista de chamadas telefônicas registradas pela secretária para verificar como a mesma fauna se reproduz nos mesmos gabinetes, agora sob responsabilidade de novos ocupantes, pouco afeitos a esse tipo de manobras em favor de políticas ativas em tal ou qual setor.
Mesmo entre os velhos amigos, existem aqueles unicamente preocupados em reivindicar a “recuperação das perdas do passado”, o que promete uma irônica inversão de papéis entre velhos e novos guardiães do Tesouro. Velhos acadêmicos por certo retomarão o antigo slogan sobre a necessidade de um governo que se ocupe de “algo além da estabilidade monetária”, o que também não deixa de ser incômodo do ponto de vista ideológico. Configura-se, portanto, uma pressão irreprimível pela conformação de políticas setoriais ativas e pela “restauração” de vários segmentos sociais “massacrados” por anos de política austera e insensível. Todos – industriais, agricultores, universitários, cientistas, funcionários, aposentados, artistas, coletores de frutas nativas – têm uma causa a defender, que geralmente se confunde com o interesse nacional ou com alguma prioridade estratégica do ponto de vista do emprego e da renda agregada. Difícil resistir.

4. A turma do “Projeto Nacional”: o que fazer com ela?
Justamente, falando de interesse nacional, existe uma categoria especial de formuladores do destino pátrio que invariavelmente se reflete nas lamúrias em torno da falta de um “projeto nacional”. Ele pode ser setorial – no terreno científico e tecnológico, por exemplo – ou pode mesmo ser global, como algumas velhas receitas acadêmicas (geralmente anti-globalização) recomendam. Em qualquer hipótese, é promessa de dias e dias, noites e noites, meses de discussão acalorada para uma “proposta de consenso”, geralmente um grosso calhamaço com muitos pontos de dissenso e várias generalidades que ainda necessitarão detalhamento operacional e (sobretudo) quantificação orçamentária. Alguém tem idéia de quantos “projetos nacionais” existiram na história do Brasil (no regime republicano obviamente)? Eles foram registrados, têm copyright ou, pelo menos, funcionaram na prática? Foram de baixo para cima – alguém é capaz de citar um? – ou de cima para baixo (ao estilo varguista)?
Enfim, sempre existirão os que acham absolutamente indispensável dispor de um projeto nacional antes de passar à ação. Que seja: o pacto social está aí para isso mesmo e pode-se mesmo trabalhar de maneira concreta, com idéias registradas e prontas para serem testadas, mediante um conselho de desenvolvimento econômico e social que precisa ser representativo de todos aqueles setores que “contam” (no PIB e na opinião pública). Um pouco de utopia não faz mal a ninguém e ela existe precisamente para impulsionar novas idéias, mobilizar iniciativas e energias e permitir um grau superior de esforço concentrado em favor de algum objetivo transcendente.
Tudo depende de bem determinarmos em que direção deve incidir esse esforço. Eu, por exemplo, proponho que ele incida prioritariamente sobre a escola pública nos dois primeiros níveis e no ensino técnico profissionalizante: como melhorar sua qualidade, como introduzir mecanismos de aperfeiçoamento e de avaliação contínuos dos professores, como aumentar os recursos para o ensino em todos os níveis. De modo geral, não recomendaria que se fizessem esforços no setor produtivo, pois aqui as possibilidades são propriamente infinitas e a iniciativa privada pode fazer melhor que qualquer governo.

5. Medindo resultados antes que eles aconteçam: um pouco de futurologia
Se ouso praticar um pouco de astrologia social, meu ceticismo natural – que não é doentio, mas geralmente desconfiado das virtudes dos governos, talvez por anarquismo – indicaria que as energias e esforços da nova maioria social vão acabar reproduzindo as preferências das coalizões organizadas em torno do governo, cujo perfil não é difícil adivinhar. Pode-se esperar, assim, várias “políticas ativas” em setores considerados estratégicos do ponto de vista econômico (com ênfase na indústria), do desenvolvimento tecnológico, da defesa da soberania do País, enfim, aqueles que lograrem transmudar-se em projetos coerentes e quantificados. A peça orçamentária de 2004 começará a refletir essa nova realidade, que cabe portanto seguir com um certo grau de detalhamento no curso dos próximos meses. Estarei sendo pessimista?

6. Tirando minhas conclusões: conseguiremos nos lembrar das crianças?
Se ouso ser realista – ou estarei sendo apenas maldoso? –, diria que a nova maioria social conseguirá, ao cabo de três ou quatro anos de políticas ativas, salvar a burguesia e todos os seus bens (industriais e banqueiros reunidos no mesmo partido reformista). Os antigos ganhadores continuarão ganhando numa situação de mudança que será lenta, gradual e restrita, e os antigos perdedores continuarão perdendo relativamente, ainda que com direito a discurso e afagos desta vez.
Quem são os perdedores? Do meu ponto de vista são as crianças em geral, as crianças pobres em particular, que necessitariam de quatro vezes mais recursos do que o disponível atualmente para mantê-las bem alimentadas, vestidas e provistas de livros nas escolas que deveriam funcionar em turnos ampliados. Não há maneira de resolver, agora, o problema dos adultos pobres, mesmo analfabetos e sem emprego, pois o dispêndio teria de ser então muito maior, para resultados duvidosos no terreno da prática. O investimento nas crianças não produz, obviamente, resultados em quatro anos, talvez em dez ou quinze, mas se não começarmos agora não teremos resultado algum nem em quatro ou em oito anos.
Não gostaria de, ao retomar este texto em quatro anos, chegar à conclusão de que a burguesia vai muito bem, obrigado, no novo Brasil, e que as crianças pobres continuam, sim, existindo como antes, “a despeito dos esforços conduzidos”.

7. Uma proposta modesta: que tal, por uma vez, nos ocuparmos dos pobres?
A mudança social no Brasil deveria começar por objetivos muito modestos, quase que prosaicos em sua simplicidade governativa: coloquemos todas as crianças em escolas de qualidade, façamos um esforço brutal na formação e treinamento de professores (bem remunerados obviamente) e acompanhemos essas crianças em direção de estágios mais avançados de formação, não necessariamente no caminho do ensino superior, mas do ensino médio de igual ou melhor qualidade que a melhor das escolas primárias no Brasil e dos cursos de capacitação profissional que, melhor do que os “canudos”, contribuirão para incorporar ao mercado de trabalho imensos contingentes de cidadãos brasileiros hoje excluídos de qualquer possibilidade de aumento de renda e de bem estar.
Reputo essencial que esse esforço concentrado se faça, à frente e acima de quaisquer outras prioridades “setoriais” do novo governo, pois ele é a única garantia de que, dentro de quatro ou oito anos, o panorama social brasileiro comece de fato a ser transformado no sentido pretendido pela nova maioria. Não tenho certeza de que o famoso coeficiente de Gini (que mede a concentração da renda) – teimosamente estacionado em patamares vergonhosos durante os últimos anos, ou décadas, de baixo crescimento econômico – será alterado de forma dramática ao cabo desse esforço concentrado, mas tenho sim certeza de que ele não se modificará se nada for feito no terreno educacional e da capacitação profissional.

Anexo: Pensando um pouco adiante: como conciliar políticas sociais e políticas setoriais na administração da nova maioria.
Para não terminar de maneira pessimista, gostaria de reafirmar minha confiança na capacidade da nova administração em conduzir o processo de mudança no sentido apontado acima, com a preservação da estabilidade econômica e da abertura econômica internacional, que considero indispensáveis à consecução dos demais objetivos sociais.
O problema que vejo na consecução das metas transformistas se situa na própria concepção do processo governativo que parecem ostentar determinados setores da nova maioria. Essa concepção se situa na linha de continuidade do Estado interventor, na mentalidade de que o governo “precisa” corrigir, redirecionar, estimular determinados impulsos “naturais” dos mercados, de molde a poder criar um ambiente mais “propício” ao crescimento econômico com desenvolvimento social. Longe de mim proclamar uma volta ao laissez-faire e a concepções doutrinais típicas de um liberalismo impraticável nas modernas condições do jogo econômico. Mas denoto uma inclinação espontânea dos principais responsáveis políticos da nova maioria por um tipo de ação que faça do Estado uma entidade capaz de orientar o mercado na direção das “boas políticas” setoriais (elas só podem ser setoriais, pois os mercados normalmente são segmentados), o que redunda na inevitável concentração de recursos públicos nos setores politicamente mais ativos (que nunca são, obviamente, as crianças pobres, mas marmanjos fortes e espertos).
Talvez um critério simples possa permitir separar as políticas “necessárias” daquelas que são apenas “complementares” ao objetivo principal, que suponho ser o da diminuição da desigualdade social, não a transformação do Brasil em grande potência econômica, tecnológica ou mesmo militar (condições que serão sempre decorrência dos investimentos educacionais, não suas fontes primárias). Esse critério seria o de que, na formulação das políticas setoriais, atenção especial deve ser dada aos efeitos que tais investimentos terão na disseminação de políticas horizontais de igualdade de chances. Em termos concretos e para citar apenas um exemplo, algum acréscimo de investimentos na educação de terceiro grau teria de ser pensado na perspectiva de seus efeitos sobre os ciclos iniciais de ensino público, em suas diversas vertentes, diretas e indiretas. Não é obviamente fácil determinar o grau de “inclusividade educacional” de determinadas ações do “Estado indutor”, na medida em que essa indução se prende a objetivos diretamente produtivos, mas um pouco de treino e algum bom-senso podem ajudar.
Em todo caso, deixo aqui registrado (ainda que de forma reservada e não destinada a publicação) o meu pensamento geral – contra políticas setoriais muito ativas por parte do Estado, em especial contra políticas intervencionistas no setor produtivo – e o meu pensamento particular – a prioridade absoluta para o ensino público de qualidade e o apoio às crianças pobres – neste início de um novo governo que promete, mais do que em qualquer outra época da história nacional, transformar o Brasil de maneira radical no curso dos próximos quatro ou oito anos. Não podendo eu mesmo contribuir diretamente – por especialização profissional de origem ou falta de oportunidade administrativa – para esse processo de mudanças, pretendo registrar escrupulosamente, de maneira honesta e objetiva, a substância mesma do movimento mudancista e oferecer, ao cabo daqueles prazos, uma avaliação ponderada sobre os resultados alcançados.
Os dados estão lançados: rendez-vous na primeira etapa de balanço da nova situação.

Washington, 984: 16 e 17 novembro 2002;
 revisão, atualização: 29 dezembro 2002

Alguns conselhos a candidatos a carreira diplomatica (de 2002, mas ainda validos) - Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo, de uma entrevista que concedi em 11 de janeiro de 2002, parte das respostas que elaborei (em 9 p.) a questões colocadas pelo Centro Acadêmico Paulo Roberto de Almeida (sim, ousaram dar o meu nome, mas não sei se ainda subsiste), do Curso de Relações Internacionais da Unisul, para o Boletim Internews. A entrevista completa foi publicada no site da Unisul (http://www.unisul.br/), mas provavelmente já não existe mais. 
Limito-me à última questão sobre a preparação para a carreira diplomática, pois as demais questões tocavam em questões de conjuntura, embora algumas ainda possam apresentar alguma validade ainda hoje. Como nunca foi preservada, permito-me transcrever minhas considerações como abaixo.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 27 de maio de 2016


INTERNEWS - Qual conselho o Sr. daria para os estudantes de RI que sonham em seguir a carreira diplomática?
 
PRA: Longa, lenta e séria preparação e sobretudo não conte apenas com os cursos de relações internacionais ou qualquer outro curso tradicionalmente acadêmico. Seja basicamente um auto-didata, e comece cedo a ler, anotar, estudar, se preparar, em todos os terrenos importantes para os exames de ingresso. Sobretudo tenha certeza de que é isso mesmo que pretende, e que não está alimentando nenhum sonho romântico de entrar numa carreira que supostamente apresenta “glamour” ou “viagens fáceis”. 
Trata-se simplesmente de uma das mais exigentes profissões da burocracia governamental e certamente a mais intelectualizada das carreiras de Estado, requerendo portanto uma educação sofisticada e diversificada. Comece cedo, portanto, não perca tempo com digressões inúteis, mas vá direto aos temas que apresentam “vantagens comparativas” para uma boa prova de ingresso: português, outras línguas (mas sobretudo o inglês), história e ciências humanas e sociais de maneira geral, literatura, economia, relações internacionais enfim. 
Na faculdade, não compactue com o pacto de mediocridade e de preguiça entre professores e alunos, mas exija aulas, leituras, seja sério e competente na preparação de seus deveres e trabalhos e sobretudo cobre responsabilidade de quem está ganhando dinheiro para ensiná-lo (e eventualmente não o faz). 
Na vida diária, acostume-se a passar os fins de semana lendo e navegando pela Internet, faça cadernos de notas (com fichas de livros, por exemplo), mantenha seus arquivos de computador organizados e atualizados (acostume-se a guardar documentos disponíveis de reuniões internacionais, discursos e posições de países), faça assinatura de algum jornal econômico de boa qualidade (os jornais tradicionais trazem muita fofoca política e colunismo impressionista, que fazem você perder tempo com besteirol) e de alguma revista internacional de qualidade (recomendaria a The Economist, que tem tudo o que você precisa saber para aspirar a um bom exame de ingresso e depois a uma carreira bem sucedida). 
Sobretudo, não pense que a carreira diplomática seja o nec plus ultra da vida profissional ou acadêmica. Você primeiro precisa ser um profissional competente em sua própria área, para depois aspirar a ser um diplomata competente. 
Em outros termos, não dependa da carreira, como o único horizonte disponível em sua vida profissional, mas seja capacitado em qualquer outra profissão, para poder abandonar a carreira diplomática quando bem lhe aprouver, ou para poder dedicar-se a um hobby ou atividade de apoio (artística ou acadêmica, por exemplo) que seja diferente e atraente em seus méritos próprios, não em função de uma dependência indesejada a uma única atividade. 
Por fim, não sonhe, mas sim faça uma previsão realista de suas capacidades e possibilidades. A carreira diplomática seleciona um entre muitas dezenas de candidatos, o que significa que a maioria dos que tentarem ficarão de fora durante um certo tempo ou mesmo indefinidamente. Que isso não seja motivo de frustração pessoal ou profissional. 
Tenha os pés no chão, não idealize a carreira, seja esforçado, em todas as etapas, pois você vai precisar de muita seriedade e dedicação para enfrentar todos os desafios de uma carreira enriquecedora e exigente. 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Sete apostas de Serra - Matias Spektor (FSP); Apostas? Apenas diplomacia normal...

Segundo esse colunista da FSP, especialista em temas internacionais, o "governo interino promete chacoalhar a política de comércio exterior herdada do PT".
Chacoalhar seria o termo correto?
Por que não apenas trazê-la de volta a seu leito normal, de criação de empregos, renda, riqueza, investimentos, em lugar de fechar o Brasil no protecionismo doentio do stalinismo industrial da diplomacia lulopetista?
As medidas propostas já deveriam estar na agenda de qualquer governo sensato, em qualquer lugar. O fato de que não foram sequer cogitadas pelo governo petista -- e mesmo o acordo com o México era uma substituição ao que tinha sido denunciado antes pelo mesmo governo -- já era um indicativo de que a diplomacia companheira era profundamente desajustada ao que necessitava o país.
Paulo Roberto de Almeida

Sete apostas de Serra
Matias Spektor

Folha de S.Paulo, 26/05/2016 

O governo interino promete chacoalhar a política de comércio exterior herdada do PT. Trata-se de aposta ambiciosa, pois há pouco tempo para negociar e reverter décadas de uma política equivocada, cujo efeito mais direto foi deixar o país e seus cidadãos mais pobres. Mas há bons motivos para ter alguma esperança, pois tudo o que o governo precisa fazer é mostrar espírito propositivo e sede por criar comércio novo.
Há sete áreas específicas em que dá para fazer muito em pouco tempo e com o apoio dos principais grupos de interesse envolvidos.
1) Dobrar a aposta com a União Europeia. Ainda com Dilma, os europeus fizeram uma oferta ruim à qual o Brasil respondeu com outra proposta ruim. Serra pode subir a ambição do acordo. Em vez de oferecer 80% do universo tarifário, oferecemos 90% e pomos na mesa temas espinhosos como meio ambiente e direitos trabalhistas.
2) Realizar um "exercício de escopo" com os Estados Unidos. No prazo de 180 dias, Brasília e Washington publicariam um relatório listando as áreas em que é possível avançar na agenda comercial bilateral. Há muito espaço para avançar com os americanos. E nada seria mais eficaz para tirar os europeus da pachorra.
3) Dilma iniciou conversas com México para um acordo de livre comércio muito benéfico para a indústria brasileira. Bastaria a Serra sinalizar compromisso com a boa empreitada.
4) Atacar a burocracia alfandegária. Para o setor privado, ela atrapalha mais que tributação, financiamento ou logística. Bastaria a Serra antecipar a implementação do Acordo de Facilitação do Comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio) e apoiar programas inovadores como o Portal Único de Comércio Exterior e o Operador Econômico Autorizado.
5) Discutir a adesão à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Não se trata de entrar para o clube dos ricos, mas de forçar a conversa pública sobre o assunto. Da última vez que a proposta foi posta sobre a mesa, o Itamaraty optou por mata-la em silêncio.
6) Aderir ao TISA. Este acordo regula serviços, que representam 65% do valor agregado de nossa indústria, 40% das exportações de manufaturados e mais da metade da riqueza brasileira. Como barateia custos, torna a indústria mais competitiva,
recuperando um setor muito punido no governo Dilma.
7) Assinar o Acordo sobre Compras Governamentais da OMC. Ele impõe transparência
às licitações públicas, dá segurança jurídica às novas concessões, reduz o custo do governo e tem cláusula de reciprocidade que abre mercados a nossas empreiteiras em crise. O melhor sinal de que o combate à corrupção está no centro da agenda nacional.


Endereço da página:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/matiasspektor/2016/05/1775167-sete-apostas-de-serra.shtml

terça-feira, 24 de maio de 2016

Fundo Soberano: um dos grandes crimes economicos do lulopetismo - Paulo Roberto de Almeida

Meu take sobre uma das medidas anunciadas neste dia 24 de maio de 2016 pelo governo interino: 

Um dos grandes "crimes econômicos" do PT: o Fundo Soberano.
O governo interino anunciou hoje a liquidação do mal denominado "Fundo Soberano", que não era nem Fundo, nem Soberano, e que NUNCA deveria ter sido criado, uma vez que o Brasil NUNCA reuniu os dois principais requerimentos para exibir um: superávit fiscal e superávit de transações correntes. Esse Fundo foi uma completa fraude, e talvez uma medida para que o governo inepto e corrupto dos companheiros tivesse acesso a alguns bilhões de reais (em dólares) para seu uso SEM CONTROLE do Legislativo.
O governo anunciou que pretende recolher R$ 2 BILHÕES desse Fundo, mas não é dito que esse Fundo já contou, de forma muito heterodoxa aliás, mais de R$ 15 BILHÕES, que poderiam ter rendido pelo menos mais 5 ou 6 bilhões.
Acontece que o governo corrupto do PT enfiou pelo menos um valor equivalente em ações da Petrobras, compradas na alta, que simplesmente se VOLATILIZOU com a Grande Destruição perpetrada pelos assassinos econômicos. Ou seja, nós, brasileiros, o Brasil, perdeu mais de 15 bilhões com a inépcia (para não dizer a corrupção) companheira.
Este é um dos MAIORES CRIMES ECONÔMICOS do PT, que deve ser devidamente contabilizado pelos analistas.
 
Dois anos atrás eu já escrevia sobre essa fraude companheira: 

Crimes econômicos do lulo-petismo: o Fundo Soberano do Brasil


Dentre todos os crimes econômicos do lulo-petismo - e eu não estou considerando as patifarias deliberadas, que são muitas, apenas os erros catastróficos de gestão - este avulta como um dos maiores, disputando acirradamente o primeiro lugar com as incompetências no setor de energia (todas as formas: eletricidade, combustíveis, exploração de petróleo, etc.), os gastos inacreditáveis com as refinarias (Pasadena, Abreu e Lima, Maranhão), os "investimentos" do BNDES ou a ainda mais inacreditável transposição das águas do São Francisco.
Começa que o FSB não é um Fundo, não é Soberano e tampouco é do Brasil, sendo mais apropriadamente uma Falcatrua Surpreendente dos Bolcheviques do PT, uma inacreditável história de incompetência, de má gestão e desastres sucessivos, que causaram um imenso prejuízo contábil efetivo, e uma outra perda incomensurável, pouco aferível, do lado do custo-oportunidade. Começa pelo fato de que o Brasil, comparado a todos os demais países que mantêm FSs, é justamente um país que reúne todas as condições para NÃO ter um FS. Ele não tem nem superávit fiscal, nem de transações correntes. De onde saíram os recursos para o FSB? Como é que um país, administrado por idiotas e criminosos econômicos, se endivida em Selic - média de 11% - para obter um rendimento abaixo de 4%??? Como se fez isso? Quem permitiu? Onde estão o Congresso, o TCU, o MP, a PG-FN, que nunca controlaram isso? Onde estão os relatórios de gestão do FSB?
Esses criminosos econômicos do PT, a começar pelo Ministro da Fazenda e pelo Secretário do Tesouro, deveriam ser processados por crimes repetidos de responsabilidade econômica, serem demitidos e enfrentar cadeia, o que aconteceria em qualquer país sério. 
Procurem neste blog tudo o que eu já escrevi contra o FSB, um dos maiores crimes econômicos, dentre muitos outros, cometidos pelos lulo-petistas, neste caso petralhas, contra o Brasil. 
Paulo Roberto de Almeida
 
 ==========
 
 Meu colega blogueiro Felippe Hermes, do blog Spotniks, também escreveu sobre esse Fundo numa postagem feita nesse blog em 23 de setembro de 2014, sob este conjunto de ações alopradas:

 (...)
Fundo Soberano
Prática comum em países com um forte superávit em transações correntes – ou seja, em excedente de dólares – a prática de criar um fundo de investimentos para aplicar em outros países e projetos seduziu o governo brasileiro, na onda da “descoberta” do Pré-Sal.
Assim como não possuiu um superávit em transações correntes – o que em geral ocorre em países produtores de petróleo, como os árabes – o fundo soberano brasileiro também não possui foco em investimentos no exterior. Seus recursos, cerca de R$15 bilhões, foram destinados a compra de ações de empresas estatais brasileiras, como a Petrobrás, em parte do processo de capitalização da empresa para suportar os investimentos no Pré-Sal.
O Fundo, que era dono de R$12 bilhões em ações da estatal, viu seu valor cair 40%, e invertendo a lógica do mercado, vendeu na baixa, depois de ter comprado na alta.
Atualmente o fundo ainda é dono de R$2,5 bilhões em ações do Banco do Brasil, e possui 80% de seu patrimônio investido em uma conta do próprio governo, com remuneração de 98% da taxa Selic.
Prejuízo estimado – R$4,4 bilhões.

A America Latina na geopolitica mundial - artigo Paulo Roberto de Almeida (revista do CEDIN)

Meu artigo mais recente publicado:


1225. “A América Latina na geopolítica mundial: perspectivas históricas e situação contemporânea do Cone Sul”, Revista Eletrônica de Direito Internacional do CEDIN (Belo Horizonte: CEDIN, vol. 17, 2016, ISSN: 1981-9439; p. 342-367; link para a revista: http://www.cedin.com.br/publicacoes/revista-eletronica/#Volume_17; link para o artigo: http://www.cedin.com.br/wp-content/uploads/2014/05/Vo-Paulo-Roberto-Almeida_A-Am%C3%A9rica-Latina-na-geopol%C3%ADtica-mundial-perspectivas-hist%C3%B3ricas-e-situa%C3%A7%C3%A3o-contempor%C3%A2nea-do-Cone-Sul-OK.pdf). Relação de Originais n. 2933.

 Trecho inicial: 


A América Latina na geopolítica mundial: perspectivas históricas e situação contemporânea do Cone Sul
Latin America and the world geopolitical framework: historical perspectives and the contemporary context of the Southern Cone

Paulo Roberto de Almeida





Resumo: Ensaio de caráter histórico e também analítico-prospectivo sobre os processos de desenvolvimento econômico e de inserção econômica internacional dos países latino-americanos do Cone Sul, com destaque para os ensaios de integração comercial, em escala sub-regional, ou plurilateral. Evidencia-se o relativo isolamento da região dos mercados e dos intercâmbios mais dinâmicos da economia mundial contemporânea, ao terem os países da América Latina privilegiado processos nacionais de desenvolvimento econômico e social, com pouca abertura aos fluxos e cadeias produtivas e comerciais englobando outras regiões, ainda que alguns países – a Aliança do Pacífico, por exemplo, formada por México, Colômbia, Peru e Chile – tenham buscado inserir-se nos novos exercícios de abertura econômica, de liberalização comercial e de integração produtiva, que se deslocam paulatinamente do Atlântico norte para a bacia do Pacífico.
Palavras-chave: economia mundial; integração econômica; comércio internacional; Cone Sul da América Latina.

Abstract: Historical and analytical essay on the economic development and the world economic integration of the Southern Cone Latin-American countries, with emphasis on the attempts at commercial integration, at sub-regional level, or in the plurilateral context. There is a clear pattern of a relative insulation of those countries from the most dynamic flows and markets of the world economy, as Latin American Southern Cone relayed mostly on national developmental processes, with very few opening towards those flows and value chains that encompasses other regions, albeit some countries – those of the Pacific Alliance, that is Mexico, Colombia, Peru and Chile – have endorsed those new exercises of economic opening and trade liberalization, moving preferentially from the north Atlantic toward the Pacific basin.
Key words: world economy; economic integration; international trade; Latin American Southern Cone.



1. A sucessão de preeminências na economia mundial e a América Latina
Existem duas maneiras de analisar a questão da sucessão de hegemonias políticas e econômicas no sistema internacional e a posição da América Latina nesse contexto: uma pelo lado histórico ou sistêmico, ou seja, pelas tendências estruturais de longo prazo, a outra pelos dados da conjuntura, que são naturalmente caracterizadas por flutuações na economia mundial e por dinamismos diferenciados entre as principais economias planetárias. A América Latina, a despeito de estar situada numa posição relativamente excêntrica em relação às grandes disputas hegemônicas mundiais, sempre sofreu a influência ou o impacto dos grandes conflitos internacionais, ainda que sua condição de região periférica esteve sempre vinculada aos poderes do Atlântico norte, Europa ocidental, desde cinco séculos, e Estados Unidos da América, desde o final do século 19, e com maior ênfase a partir da Segunda Guerra Mundial.
Na primeira vertente, a do contexto histórico, podemos falar de uma lenta sucessão de hegemonias econômicas e militares – e o lado estratégico sempre depende da dinâmica econômica dos países ou impérios – e uma acomodação sucessiva entre centros mais dinâmicos e outros em declínio relativo. Por vezes existem choques globais, como os ocorridos com as grandes guerras nacionais do período napoleônico, ou os dois grandes conflitos globais do século 20, que de certa forma já sinalizaram para o fim da grande dominação europeia sobre o mundo, depois de cinco séculos, aproximadamente, de predominância absoluta sobre vários continentes. Esses grandes conflitos são relativamente raros, e de toda forma, a emergência da arma atômica ao final do último grande conflito global já sinaliza para sua inviabilidade prática, restando, portanto, analisar os dados relativos às tendências latentes, sempre existem, à substituição de hegemonias pelo lento acumular de mudanças econômicas, geralmente tecnológicas, mas também comerciais e financeiras.


Ler a íntegra no  link  da revista: http://www.cedin.com.br/publicacoes/revista-eletronica/#Volume_17; ou no link para o artigo: http://www.cedin.com.br/wp-content/uploads/2014/05/Vo-Paulo-Roberto-Almeida_A-Am%C3%A9rica-Latina-na-geopol%C3%ADtica-mundial-perspectivas-hist%C3%B3ricas-e-situa%C3%A7%C3%A3o-contempor%C3%A2nea-do-Cone-Sul-OK.pdf).