Transcrevo, de uma entrevista que concedi em
11 de janeiro de 2002, parte das respostas que elaborei (em 9 p.) a questões colocadas pelo Centro Acadêmico Paulo Roberto de Almeida (sim, ousaram dar o meu nome, mas não sei se ainda subsiste),
do Curso de Relações Internacionais da Unisul, para o Boletim Internews. A entrevista completa foi publicada no site da Unisul (http://www.unisul.br/), mas provavelmente já não existe mais.
Limito-me à última questão sobre a preparação para a carreira diplomática, pois as demais questões tocavam em questões de conjuntura, embora algumas ainda possam apresentar alguma validade ainda hoje. Como nunca foi preservada, permito-me transcrever minhas considerações como abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de maio de 2016
INTERNEWS - Qual conselho o Sr. daria para os estudantes de
RI que sonham em seguir a carreira diplomática?
PRA: Longa, lenta e séria preparação e sobretudo não conte
apenas com os cursos de relações internacionais ou qualquer outro curso
tradicionalmente acadêmico. Seja basicamente um auto-didata, e comece cedo a
ler, anotar, estudar, se preparar, em todos os terrenos importantes para os
exames de ingresso. Sobretudo tenha certeza de que é isso mesmo que pretende, e
que não está alimentando nenhum sonho romântico de entrar numa carreira que
supostamente apresenta “glamour” ou “viagens fáceis”.
Trata-se simplesmente de
uma das mais exigentes profissões da burocracia governamental e certamente a
mais intelectualizada das carreiras de Estado, requerendo portanto uma educação
sofisticada e diversificada. Comece cedo, portanto, não perca tempo com
digressões inúteis, mas vá direto aos temas que apresentam “vantagens
comparativas” para uma boa prova de ingresso: português, outras línguas (mas
sobretudo o inglês), história e ciências humanas e sociais de maneira geral,
literatura, economia, relações internacionais enfim.
Na faculdade, não
compactue com o pacto de mediocridade e de preguiça entre professores e alunos,
mas exija aulas, leituras, seja sério e competente na preparação de seus
deveres e trabalhos e sobretudo cobre responsabilidade de quem está ganhando
dinheiro para ensiná-lo (e eventualmente não o faz).
Na vida diária,
acostume-se a passar os fins de semana lendo e navegando pela Internet, faça
cadernos de notas (com fichas de livros, por exemplo), mantenha seus arquivos
de computador organizados e atualizados (acostume-se a guardar documentos
disponíveis de reuniões internacionais, discursos e posições de países), faça
assinatura de algum jornal econômico de boa qualidade (os jornais tradicionais
trazem muita fofoca política e colunismo impressionista, que fazem você perder
tempo com besteirol) e de alguma revista internacional de qualidade
(recomendaria a The Economist, que tem tudo o que você precisa saber para
aspirar a um bom exame de ingresso e depois a uma carreira bem sucedida).
Sobretudo, não pense que a carreira diplomática seja o nec plus ultra da vida
profissional ou acadêmica. Você primeiro precisa ser um profissional competente
em sua própria área, para depois aspirar a ser um diplomata competente.
Em
outros termos, não dependa da carreira, como o único horizonte disponível em
sua vida profissional, mas seja capacitado em qualquer outra profissão, para
poder abandonar a carreira diplomática quando bem lhe aprouver, ou para poder
dedicar-se a um hobby ou atividade de apoio (artística ou acadêmica, por
exemplo) que seja diferente e atraente em seus méritos próprios, não em função
de uma dependência indesejada a uma única atividade.
Por fim, não sonhe, mas
sim faça uma previsão realista de suas capacidades e possibilidades. A carreira
diplomática seleciona um entre muitas dezenas de candidatos, o que significa
que a maioria dos que tentarem ficarão de fora durante um certo tempo ou mesmo
indefinidamente. Que isso não seja motivo de frustração pessoal ou
profissional.
Tenha os pés no chão, não idealize a carreira, seja esforçado, em
todas as etapas, pois você vai precisar de muita seriedade e dedicação para
enfrentar todos os desafios de uma carreira enriquecedora e exigente.
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