Ufa! Terminei a minha parte, de revisão e de conformidade dos textos a determinados padrões -- embora se necessite ainda de um bom trabalho de revisão editorial -- dos materiais relativos ao livro que agora está entregue aos cuidados da Fundação Alexandre de Gusmão.
A capa será uma derivação dessa provisória que aí está: as datas extremas serão as da vida de Varnhagen, e pronto.
Como não pretendo mais modificar o meu texto até a publicação, já torno o arquivo de meu capítulo livremente disponível, neste link de Academia.edu:
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Um extra, aliás dois:
Minibiografia de Francisco
Adolfo de Varnhagen
Varnhagen, considerado o patrono da
historiografia brasileira, nasceu em 17 de fevereiro de 1816, nas cercanias de
Sorocaba, onde seu pai, um engenheiro militar alemão casado com uma portuguesa,
tinha vindo participar do estabelecimento da fábrica de ferro de São João de
Ipanema. Levado cedo para Portugal pela família, em 1821, fez estudos no Real
Colégio Militar e, no início dos anos 1830, serviu nas tropas de D. Pedro IV
(Pedro I no Brasil), nas lutas que este empreendeu contra o irmão usurpador, D.
Miguel, de tendências absolutistas.
Paralelamente à
sua breve carreira militar, Varnhagen adquiriu o gosto por pesquisas
históricas, e desde cedo começou a pesquisar, nos arquivos portugueses, o
itinerário do Brasil desde os descobrimentos, começando pela publicação de uma
nota crítica sobre a primeira história do Brasil, de autor até ali não
determinado (Gabriel Soares de Souza: Notícia
do Brasil, de 1587): foi o seu primeiro trabalho, publicado na Academia de
Lisboa em 1839, ao qual se seguiu outra nota sobre a identificação do jazigo do
descobridor, Pedro Alvares Cabral, publicada em1840 na revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado dois anos antes. Imediatamente após
decide retornar ao Brasil, e consegue, depois de certo esforço, sua
naturalização por decreto do jovem imperador, em 1844. Por meio de sua
vinculação aos estudos históricos com foco em seu país de nascimento, que então
começavam a ser estimulados pelo IHGB (do qual se torna secretário desde 1841),
Varnhagen obtém uma oportuna designação na carreira diplomática para fazer
pesquisas sobre a história colonial do Brasil nos arquivos de Portugal e da
Espanha.
Em 1849 publica
anonimamente o “Memorial Orgânico”, um alentado conjunto de propostas para
“civilizar” o Brasil, prevendo ações diplomáticas na delimitação das
fronteiras, propondo a transferência da capital para o interior, medidas
práticas para melhorar a infraestrutura, o desenho de uma nova organização administrativa
(baseada no modelo dos departamentos franceses), a elaboração de uma doutrina
da defesa para o país e a criação de territórios militares nas fronteiras, bem
como a solução da heterogeneidade da população pela integração progressiva de
negros escravos e de índios à sociedade nacional e a promoção acelerada da
imigração europeia.
Sua grande obra,
contudo, são os dois volumes da História
Geral do Brasil até a independência, publicados entre 1854 e 1857 (com
apenas uma segunda edição em vida, em 1877), que lhe granjeariam um lugar de
destaque na historiografia nacional. Um volume adicional, sobre a
independência, seria publicado apenas postumamente, pelo IHGB, em 1916, com
notas do Barão do Rio Branco e de outros historiadores do Instituto. No início
da segunda metade do século XIX, serve em diversos postos da América andina (em
1858 brevemente no Paraguai, e depois na Venezuela, Peru e Chile), casa-se com
uma dama da sociedade chilena, em 1864, e consegue ser nomeado ministro plenipotenciário do
Brasil na capital do império Austro-Húngaro (1868). Foi agraciado pelo
Imperador com o título de Barão, e depois Visconde, de Porto Seguro, uma
homenagem a suas pesquisas em torno do descobrimento do Brasil.
Já com 61 anos, e
ministro do Brasil em Viena, empreende uma penosa viagem exploratória ao
planalto central, em 1877, para localizar exatamente o local da futura nova
capital do Brasil, tal como tinha proposto no Memorial de 1849, na confluência
das três grandes bacias hidrográficas, do Amazonas, do Prata e do São Francisco,
e próximo à cidade de Formosa, em Goiás. Publicou, logo em seguida, ao retornar
a Viena, seu opúsculo, praticamente o último de sua vida, sobre a mudança da
capital (1878). Veio a falecer em Viena, um ano depois, tendo seu corpo sido
enterrado no Chile e trasladado ao Brasil apenas cem anos depois de seu
falecimento. “Natural de Sorocaba”, como ele se identificava, foi finalmente
homenageado com novo traslado de seus restos mortais para a região que o viu
nascer.
Postumamente foi
publicada, pelo IHGB, em 1916, sua História
da Independência, com notas de Rio Branco e de diversos historiadores do
IHGB ao manuscrito deixado pelo historiador-diplomata. Sua biblioteca,
espalhada em diversas capitais, foi adquirida parcialmente pelo Barão do Rio
Branco e pelo bibliófilo Rubens Borba de Moraes (depois incorporada à
Brasiliana de José Mindlin). Muitas de suas grandes obras podem ser encontradas
em forma digitalizada nessa Brasiliana Mindlin, que encontra-se depositada na
Universidade de São Paulo (http://www.brasiliana.usp.br/).
Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 3 de maio de 2016]
Bibliografia
essencial de e sobre Varnhagen
Seleção de obras de Francisco Adolfo de
Varnhagen:
1839: Reflexões críticas sobre
o escrito do século XVI impresso com o título de Notícia do Brasil. Lisboa:
Tipografia da Academia, 120 p.
1840: O Descobrimento do
Brasil. Rio de Janeiro: Tip. Villeneuve, 70 p.
1840: “Descobrimento do jazigo de Pedro Alvares Cabral”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, Tomo II, 1ro. trimestre, n. 5, p. 139-141.
1840: “Memória sobre a necessidade do estudo e ensino das línguas
indígenas do Brasil”. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo III, Abril, n. 9, p.
53-63.
1845: Épicos brasileiros.
Lisboa: Imprensa Nacional, 449 p.
1845: As primeiras negociações
diplomáticas respectivas ao Brasil. Rio de Janeiro: Tipografia Laemmert.
1846: “Fragmentos que existem na Torre do Tombo das instruções dadas
por El Rei D. Manoel a Pedro Alvares Cabral, quando chefe da armada, que indo à
Índia descobriu casualmente o Brasil”. Revista
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo VIII, Abril, n. 9, p.
53-63.
1848: “O Caramuru perante a história”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo X, 2o.
trimestre, p. 129-152.
1849: Memorial Orgânico
que à consideração das assembleias geral e provinciais do Império do Brasil,
apresenta um brasileiro. Parte I - S.l.: S.ed., 49 p.
1850: Memorial Orgânico,
Parte II – Em que se insiste sobre a adoção de medidas de maior transcendência
para o Brasil. Madri: Viuva D. R. J. Dominguez, 16 p.
1850: Florilégio da poesia
brasileira, ou coleção das mais notáveis composições dos poetas brasileiros
falecidos... Tomos I-II – Lisboa: Imprensa Nacional; Tomo III – Madri: Imprensa
de V. De D. Rodriguez, 1853.
1851: Tratado descritivo do
Brasil em 1587, obra de Gabriel Soares de Souza. Rio de Janeiro: Tipografia
Laemmert, 422 p.; nova edição: Rio de Janeiro: Tipografia de João Inácio da
Silva, 1879, 382 p.
1854: Historia Geral do Brazil, isto é, do descobrimento deste Estado, hoje
imperio independente, escripta em presença de muitos documentos authenticos
recolhidos nos archivos do Brazil, de Portugal, da Hespanha e da Hollanda. Por um sócio do Instituto Histórico do
Brazil, Natural de Sorocaba. Madrid: vol. I, Imprensa de V. Dominguez;
disponível na Biblioteca Brasiliana Mindlin (link: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01818710); vol. II, Madri: Imprensa de J.
Del Rio, 1857; disponível na Biblioteca Brasiliana Mindlin (link: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01818720).
1858: Vespuce et son premier voyage ou notice d’une découverte et
exploration primitive du Golfe du Mexique et des côtes des États-Unis en 1497
et 1498, avec le texte de trois notes de la main de Colomb. Paris: Bulletin de
la Société de Geographie, 31 p.
1865: Amerigo Vespucci: son caractère, ses écrits (même les moins
authentiques), sa vie et des navigations... Lima: Imprimerie du Mercurio, 119
p.
1871: História das lutas com
os holandeses no Brasil desde 1624 a 1654. Viena: Imp. De Carlos
Finsterbeck, xxix + 365 p.; nova edição melhorada e acrescentada: Lisboa: Tip.
De Castro Irmão, 1872 (edições subsequentes no Brasil).
1873: “Primeiras explorações da costa brasileira de 1501 a 1506”
(páginas inéditas da 2a edição da História Geral do Brasil). Revista
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo XXXVI, 3ro. trimestre,
p. 55-63.
1876: L’Origine Touranienne
des Américains Tupis-Caribes et des Anciens Egyptiens... Viena: Librairie
Faesy & Frick.
1877: Historia Geral do Brazil, antes da sua separação e independência de
Portugal. Pelo Visconde de Porto Seguro, Natural de Sorocaba. 2a
edição, 2 vols.; Muito aumentada e melhorada pelo autor. Viena: Imprensa do
filho de Carlos Gerold, 1877; disponível na Biblioteca Brasiliana Mindlin
(link: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01819210).
1877: A questão da capital:
marítima ou no interior?. Viena: C. Gerold, 32 p.; edição fac-similar:
Brasilia: Thesaurus, 1978.
1916: História da
Independência do Brasil, até ao reconhecimento pela antiga metrópole..., Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, Tomo LXXIX, P. I.
1938: História da
Independência do Brasil, até ao reconhecimento pela antiga metrópole..., Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, vol. 175.
1961: Correspondência Ativa
(org. de Clado Ribeiro Lessa), Rio de Janeiro: INL.
1975: História Geral do Brasil.
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2005: Missão nas Repúblicas do
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2013: “Memorial Orgânico”, edição atualizada por Arno Wehling; in:
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Adolfo de Varnhagen, Rio de Janeiro: Fundação Miguel de Cervantes, p. 160-201.
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em Movimento: breve antologia de uma existência”. In TOPOI: Revista do Programa de Pós-Graduação em História Social da
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Edição do Autor.
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Repúblicas do Pacífico: 1863 a 1867, Rio de Janeiro: Funag, p. 7-28.
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Rio de Janeiro: Fundação Miguel de Cervantes, p. 160-201.
_________ (2013).
“Uma proposta para o Brasil em meados do século XIX”, Carta Mensal. Rio de Janeiro: Confederação Nacional do Comércio,
julho, p. 3-17.
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