Segundo esse colunista da FSP, especialista em temas internacionais, o "governo interino promete chacoalhar a política de comércio exterior herdada do PT".
Chacoalhar seria o termo correto?
Por que não apenas trazê-la de volta a seu leito normal, de criação de empregos, renda, riqueza, investimentos, em lugar de fechar o Brasil no protecionismo doentio do stalinismo industrial da diplomacia lulopetista?
As medidas propostas já deveriam estar na agenda de qualquer governo sensato, em qualquer lugar. O fato de que não foram sequer cogitadas pelo governo petista -- e mesmo o acordo com o México era uma substituição ao que tinha sido denunciado antes pelo mesmo governo -- já era um indicativo de que a diplomacia companheira era profundamente desajustada ao que necessitava o país.
Paulo Roberto de Almeida
Sete apostas de Serra
Matias Spektor
Folha de S.Paulo, 26/05/2016
O governo interino promete chacoalhar a política de comércio exterior herdada do PT. Trata-se de aposta ambiciosa, pois há pouco tempo para negociar e reverter décadas de uma política equivocada, cujo efeito mais direto foi deixar o país e seus cidadãos mais pobres. Mas há bons motivos para ter alguma esperança, pois tudo o que o governo precisa fazer é mostrar espírito propositivo e sede por criar comércio novo.
Há sete áreas específicas em que dá para fazer muito em pouco tempo e com o apoio dos principais grupos de interesse envolvidos.
1) Dobrar a aposta com a União Europeia. Ainda com Dilma, os europeus fizeram uma oferta ruim à qual o Brasil respondeu com outra proposta ruim. Serra pode subir a ambição do acordo. Em vez de oferecer 80% do universo tarifário, oferecemos 90% e pomos na mesa temas espinhosos como meio ambiente e direitos trabalhistas.
2) Realizar um "exercício de escopo" com os Estados Unidos. No prazo de 180 dias, Brasília e Washington publicariam um relatório listando as áreas em que é possível avançar na agenda comercial bilateral. Há muito espaço para avançar com os americanos. E nada seria mais eficaz para tirar os europeus da pachorra.
3) Dilma iniciou conversas com México para um acordo de livre comércio muito benéfico para a indústria brasileira. Bastaria a Serra sinalizar compromisso com a boa empreitada.
4) Atacar a burocracia alfandegária. Para o setor privado, ela atrapalha mais que tributação, financiamento ou logística. Bastaria a Serra antecipar a implementação do Acordo de Facilitação do Comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio) e apoiar programas inovadores como o Portal Único de Comércio Exterior e o Operador Econômico Autorizado.
5) Discutir a adesão à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Não se trata de entrar para o clube dos ricos, mas de forçar a conversa pública sobre o assunto. Da última vez que a proposta foi posta sobre a mesa, o Itamaraty optou por mata-la em silêncio.
6) Aderir ao TISA. Este acordo regula serviços, que representam 65% do valor agregado de nossa indústria, 40% das exportações de manufaturados e mais da metade da riqueza brasileira. Como barateia custos, torna a indústria mais competitiva, recuperando um setor muito punido no governo Dilma.
7) Assinar o Acordo sobre Compras Governamentais da OMC. Ele impõe transparência às licitações públicas, dá segurança jurídica às novas concessões, reduz o custo do governo e tem cláusula de reciprocidade que abre mercados a nossas empreiteiras em crise. O melhor sinal de que o combate à corrupção está no centro da agenda nacional.
Endereço da página:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/matiasspektor/2016/05/1775167-sete-apostas-de-serra.shtml
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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