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terça-feira, 17 de julho de 2018

Banco Mundial: publicacao sobre as migrações e os mercados de trabalho

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June 2018. 308 pages.
English Version. Paperback.
ISBN: 978-1-4648-1281-1
Price: $45.00
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Moving for Prosperity
Global Migration and Labor Markets
By the World Bank
Now Available!
Migration presents a stark policy dilemma. Research repeatedly confirms that migrants, their families back home, and the countries that welcome them experience large economic and social gains. Easing immigration restrictions is one of the most effective tools for ending poverty and sharing prosperity across the globe. Yet, we see widespread opposition in destination countries, where migrants are depicted as the primary cause of many of their economic problems, from high unemployment to declining social services.
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Moving for Prosperity: Global Migration and Labor Markets addresses this dilemma. It suggests a labor market–oriented, economically motivated rationale to the political opposition to migration. Global migration patterns lead to high concentrations of immigrants in certain places, industries, and occupations. It is these geographic and labor market concentrations of immigrants that lead to increased anxiety, insecurity, and potentially significant short-term disruptions among native-born workers.
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In addition to providing comprehensive data and empirical analysis of migration patterns and their impact, the report argues for a series of policies that work with, rather than against, labor market forces. Policy makers should aim to ease short-run dislocations and adjustment costs so that the substantial long-term benefits are shared more evenly. Only then can we avoid draconian migration restrictions that will hurt everybody.
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Moving for Prosperity aims to inform and stimulate policy debate, facilitate further research, and identify prominent knowledge gaps. It demonstrates why existing income gaps, demographic differences, and rapidly declining transportation costs mean that global mobility will continue to be a key feature of our lives for generations to come. Its audience includes anyone interested in one of the most controversial policy debates of our time.
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World Bank | 1818 H Street NW, Washington, DC 20433
 
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Trump Day, again and again (mas um Trump Day especial): material da imprensa internacional

Hoje, 17/07/2018, é um Trump Day na imprensa internacional, como aliás foram todos os dias anteriores, nos dois anos até aqui, desde que americanos inconscientes elegeram aquele que é, seguramente, o pior presidente de todos os tempos, desde George Washington até hoje, quiçá desde Abraão, nos tempos bíblicos, passando pelo declínio e a queda do Império Romano, tema magistralmente estudado por Edward Gibbon (que talvez tivesse alguma coisa a dizer sobre o declínio deste outro “Império romano”).
Digo isto porque a imprensa internacional, pelo que pude verificar por alguns títulos rapidamente visualizados, se dedica, pela mão de seus melhores editorialistas, ao que foi, certamente, o pior momento do pior presidente da história política americana: depois de destruir mais um pouco a OTAN e de ofender gratuitamente a maior parte dos aliados europeus dos EUA, o inacreditável personagem conseguiu fazer algo que nenhum presidente anterior jamais tinha feito: desacreditar as próprias instituições do seu país numa colusão com aquele que representa, possivelmente, o maior inimigo atual da América, de seus princípios e valores, de seus ideais democráticos e humanitários, o neoczar russo, autocrata e absolutista, bem diferente daquele outro imperador autocrata, que gostaria de ser amigo da América e não consegue (porque necessita dela para a prosperidade do seu povo, mas a isso vem sendo impedido pela esquizofrenia econômica e comercial do indescritível personagem).
Vejam alguns títulos da imprensa internacional, tal como coletados pelo infatigável trabalho de seleção de meu amigo e colega Pedro Luiz Rodrigues, com seu faro atilado de jornalista:
The New York Times – 17.7.2018
Trump and Putin vs. America
Thomas L. Friedman
Washington Post – 17;7;2018 – Editorial
Trump just colluded with Russia. Openly.
Les Echos, Paris -17.7.2018
Et le vainqueur est… Poutine
Jacques Hubert-Rodier
Financial Times, Londres – 17.7.2018
Trump’s five days of diplomatic carnage
The US president leaves Europe with Nato in turmoil and Putin in a stronger position
Edward Luce
Pessoalmente, creio que o artigo de Tom Friedman deveria se chamar “Trump and Putin against America”. O editorial do Washington Post fala claramente de uma colusão aberta entre os dois, da qual Putin consagra-se vencedor, como diz o editorialista do Les Echos. Edward Luce, do Financial Times, prefere examinar a “carnificina diplomática” perpetrada pelo inacreditável personagem em seu tour europeu.
Assim como houve, no passado, uma coalizão europeia contra as invasões bárbaras, contra Átila e seus hunos, creio que está na hora dos dirigentes europeus, e até chineses e brasileiros, se unirem contra o novo Alarico, o novo Átila que bate às portas.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 17/07/2018

segunda-feira, 16 de julho de 2018

PRA: promovido, despromovido, confundido, trocado, enganado, inventado

Não se pode pedir aos jornalistas que publiquem matérias elogiosas, favoráveis, estimulantes, excitantes. Deles se espera apenas que se atenham aos fatos, à simples verdade dos fatos. 
Na semana passada, mais exatamente dia 12/07/2018, fui surpreendido com uma nota no JB, que citava o meu nome, numa matéria colocada sob o signo de "Caça às bruxas". 
Não tenho a menor ideia de qual a relação entre a minha carreira e alguma "caça às bruxas".
Enfim, tentei ler a matéria por inteiro, mas não consegui, a despeito de ter, inclusive, mandado mensagem a seu autor, o jornalista Jan Theophilo.
Hoje, finalmente, ao ser alertado para mais uma nota citando o meu nome, pude acessar a matéria, e tive a oportunidade de também ler a matéria original, a tal da "caça às bruxas".
Constatei que a confusão continua, mas não tenho nenhum problema em postar ambas as matérias aqui abaixo. Apenas informo que a "oficina de reparos" não reparou nada, apenas acrescentou à confusão.
Minha simples recomendação ao jornalista em questão seria a de que ele verificasse exatamente a veracidade, a correção, a fiabilidade do que decide publicar.
Em todo caso, serviu como divertimento...
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 16/07/2017


Caça às bruxas

Alguma coisa anda foram de ordem nos corredores do Ministério das Relações Exteriores. Enquanto alguns diplomatas tidos como rebeldes são postos na geladeira, o Itamaraty segue a linha de promover aos níveis mais elevados da carreira antigos opositores dos governos do PT. O diplomata Julio de Oliveira Silva, foi removido do cargo de vice-cônsul em Nova York após criticar publicamente o governo Temer em um artigo para Carta Capital e desde então está sem função determinada. Outros embaixadores petistas estão sendo expulsos do “circuito Elizabeth Arden” e transferidos para as embaixadas mais sem importância. Por outro lado, nomes como o do diplomata Paulo Roberto de Almeida, que era do quadro especial, a chamada “reserva dos diplomatas”,  acaba de ser promovido a embaixador pelo secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães. Como diz o ditado: pimenta nos olhos dos outros é refresco.


Oficina de reparos 

Como já dizia Dalva de Oliveira: “Errei sim, manchei teu nome”. Paulo Roberto de Almeida é diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty, e não mais secretário-geral, cargo que já ocupou, como saiu publicado equivocadamente pela coluna.

Rubens Barbosa: livro e entrevista sobre agenda modernizadora do Brasil

'O que Trump está fazendo já repercute no Brasil', 

diz diplomata

Rubens Barbosa publica artigos no livro 

'O Lugar do Brasil no Mundo: Agenda Modernizadora'


Renata Tranches, O Estado de S.Paulo
14 Julho 2018 | 16h00

Em um cenário internacional de transformações e incertezas, o Brasil precisa encontrar seu lugar. O caminho a seguir deveria estar na pauta e nos debates entre os candidatos na próxima eleição, como afirma o diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos EUA. Questões como a política econômica do governo Trump e a crise na Venezuela não deveriam ficar alheias ao debate político interno. Em seu livro O Lugar do Brasil no Mundo: Agenda Modernizadora, ele sugere ideias e propostas para esse debate em uma coletânea de artigos publicados no Estado entre 2014 e 2017. A seguir, a entrevista que Barbosa concedeu ao Aliás
Rubens Barbosa
Rubens Barbosa, autor de 'O Papel do Brasil no Mundo: Agenda Modernizadora' Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Falta debate sobre a política externa brasileira entre os candidatos à Presidência?
Deveríamos colocar isso na agenda. Não se pode discutir apenas a macroeconomia, a estabilidade do País. O mundo está se transformando numa rapidez muito grande. Veja o que acontece com Trump. O que ele discute lá, o que mexe lá tem repercussão no mundo inteiro. Qual é o lugar do Brasil do mundo? Precisamos começar a discutir esse tema. Ele não está na pauta dos candidatos. Único tema que eu vi discutido nos últimos meses em termos de política externa foi o dos refugiados da Venezuela. É importante, mas é pouco.  
O que deveria estar na pauta? 
O Brasil é percebido como um país importante. Nós somos uma das dez maiores economias do mundo, apesar dessa crise toda pela qual estamos passando. Como estamos muito voltados para dentro, por causa da crise, não nos damos conta de que o Brasil é um país relevante no cenário global. E o problema é que ignoramos isso. Deveria haver no Brasil um debate de uma agenda política, diplomática, econômica e comercial e de inovação e tecnologia, que vai influir na própria formulação da política econômica. Mas aqui não há essa percepção que os fatores externos têm uma influência muito grande na definição da política econômica. O Brasil é um país muito grande, tem grandes problemas e há essa percepção de que o Brasil tem uma fronteira que delimita a autonomia do País de definir política econômica e agenda externa. Isso não existe.  
O próximo governo lidará pelo menos por dois anos com a política econômica do governo Trump. Como o Brasil pode se preparar para esse cenário? 
O que o Trump está fazendo já tem repercussão no Brasil, na economia brasileira. Quando ele baixa os tributos isso tem um impacto para a competitividade brasileira. Quando o novo governo fizer, espero que se faça, uma reforma tributária, vamos ter de levar isso em consideração. Não adianta nada congelar os tributos e ter de baixá-los para as empresas brasileiras serem competitivas no exterior. Sobre essa questão das barreiras que ele está colocando, do protecionismo americano, num primeiro momento pode ser que haja um produto brasileiro que se beneficie do desvio de comércio para a China ou da China ou de algum outro país para os EUA. Mas a médio e longo prazo, em termos comerciais, o Brasil vai perder como todos os outros países.  
De que outras formas essa política pode prejudicar o Brasil?
Um outro aspecto é que essas medidas americanas geram uma grande incerteza no cenário internacional. E essa incerteza vai fazer com que haja menos investimento e uma queda do crescimento global e do comércio exterior. Já estamos sentindo aqui no Brasil o aumento da taxa de juros lá nos EUA. O real se desvalorizou muito com relação ao dólar por causa da política monetária seguida pelos EUA.  
O sr. vê propostas nesta área nessas eleições? 
O que ocorre lá fora imediatamente tem impacto aqui no Brasil e uma das necessidade de todos os candidatos aqui é aumentar o comércio exterior, porque isso gera mais emprego no Brasil. Agora, o ambiente externo está se transformando em um algo diferente dos últimos anos, em que o Brasil poderia ter se beneficiado. Hoje, o ambiente externo de incerteza, de insegurança e de queda no crescimento e do comércio exterior não é tão favorável ao Brasil. Trump também está ameaçando taxar automóveis da Europa. Isso vai ter um efeito brutal. Automóveis são uma das áreas do comércio exterior que mais têm comércio. Terá efeito em todos os países, incluindo Brasil, que exporta para o México, para a Argentina. O futuro governo vai ter de se preocupar com essas coisas e vai ter de agir rapidamente para ajustar a economia brasileira a essa nova situação internacional. 
O que mais preocupa nessa nova situação? 
Um outro fator importante para o Brasil é o que o vai acontecer com a Organização Mundial do Comércio (OMC), que os EUA querem destruir, acabar com ela. A OMC é importante para o Brasil por causa do mecanismo de solução de controvérsias. Países de médio porte, como o Brasil, e pequenos têm de confiar nesses mecanismos de julgamento de diferenças comerciais entre as nações. Para nós, é importante que a OMC seja mantida com força nessa área de arbitragem, de solução de controvérsias.  
Como o senhor definiria hoje a política externa brasileira? 
Em resumo, o Brasil tem de terminar seu isolamento e o atraso do País em termos de inovação e tecnologia. O Brasil tem de definir onde está seu interesse a médio e a longo prazo, coisa que não estamos fazendo. O Brasil e o Mercosul nos últimos 18 anos assinaram três acordos comerciais. O mundo negociou mais de 400. Estamos isolados, o Brasil está isolado, atrasado e crescendo menos. Essa que é a realidade. Não adianta melhorar a situação aqui sem se colocar no mundo. Temos de aumentar a voz do Brasil no mundo, nos organismos internacionais e inserir o Brasil de novo nos fluxos dinâmicos da economia e do comércio exterior.  
Quais foram as consequências? 
Nós perdemos competitividade. Esse que é o grande problema hoje da economia, da produção nacional, da exportação nacional. É a perda da competitividade por políticas equivocadas, pelo aumento dos impostos, pela burocracia, pela ineficiência. Isso é resultado dos últimos 15, 16 anos. Com o nosso isolamento e a política de se privilegiar o sul, a política Sul-Sul, ficamos longe dos países desenvolvidos, onde estão tecnologia, financiamento e inovação.  
O senhor cita em seus artigos o exemplo da França, onde um movimento de centro venceu o debate polarizado entre esquerda e direita. Teremos algo parecido?
Bom, não vimos isso até aqui. Vamos ver quando começar o debate na TV, no qual todos os candidatos vão falar. Tem de haver um debate público em que essas ideias todas sejam discutidas. Temos de eleger um candidato que saiba qual é o desafio interno e o externo, e quais propostas ele vai apresentar para tirar o Brasil desse buraco que a gente está.  
Por que, como o senhor diz, as próximas eleições serão um divisor de águas? 
No segundo turno, vamos ter um debate entre dois modelos. Um modelo estatista, olhando para trás, e um modelo de reformas, de alguns candidatos que queiram fazer reformas. É entre isso que a população vai decidir e terá impacto nos próximos 10, 15 anos. Se a população brasileira escolher um candidato que olhe para trás e queira desfazer as reformas que foram feitas ultimamente, então a crise que estamos vivendo vai continuar muito forte e vai nos levar a uma situação próxima à da Grécia. Já estamos vendo isso no Rio de Janeiro. Se escolhermos um candidato que se proponha a fazer reformas, olhar para frente, abrir a economia, vamos ter a possibilidade de juntar aos fluxos dinâmicos da economia e do comércio internacional. A opção que a sociedade vai fazer terá muita importância para os jovens, que enfrentarão o problema do desemprego, da melhoria das condições de vida aqui no Brasil.  
A Venezuela é um tema importante. Houve uma mudança recente na abordagem ao tema? 
O Brasil tem de ter uma participação mais ativa para encaminhar alguma solução . Não sei como é que vai ser. A Venezuela, que está na fronteira, tem esse problema dos refugiados, dos direitos humanos que o Brasil tem de enfrentar. Há além disso a ameaça à nossa fronteira, por onde entram drogas, armas. Foi feita uma correção de rumo importante. Antes estávamos com a (ex-presidente) Dilma defendendo a Venezuela quando já se sabia que o país estava num caminho autoritário, pouco democrático. Com a mudança do governo aqui, o impeachment, o Brasil passou a criticar o regime na Venezuela e a cobrar do país mudanças políticas, liberdade dos presos políticos, autorização para levar ajuda humanitária. Com o novo governo, o Brasil terá de ter uma posição com outros países, com os EUA, com o México, a Colômbia, para resolver o problema e tornar a Venezuela democrática.

domingo, 15 de julho de 2018

Uma revelacao surpreendente, uma explicacao necessaria - Paulo Roberto de Almeida

Uma revelação surpreendente, uma explicação necessária

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: retirar fundamento de um boato; finalidade: esclarecimento público]

Minha atenção foi chamada, recentemente, para uma revelação surpreendente, feita em tom de confidência por um amigo que a ouviu, direta ou indiretamente, de algum colega diplomata, segundo a qual eu estaria integrando a equipe de apoio de um dos candidatos às próximas eleições presidenciais – ou seja, fazendo parte de um grupo de formulação de políticas – e que eu poderia vir a ser membro de seu ministério, na área das relações exteriores, se por acaso esse candidato, classificado à direita no âmbito do espectro político, viesse a ser eleito. Não sei exatamente de onde pode ter saído tal “informação”, mas ela não corresponde absolutamente à minha postura, na atual campanha eleitoral, por motivos que julgo relevante explicar, por simples cuidado de transparência, aliás confirmada em relação a minha produção intelectual e atividades públicas, objeto de registro e divulgação em minhas ferramentas de comunicação social, como por exemplo o blog Diplomatizzandoe o meu site pessoal, nos quais estão consignadas minhas listas de trabalhos originais e os publicados. 
Não estou, por razões de ética profissional e de simples acatamento a uma postura totalmente independente em relação a partidos e movimentos políticos, a serviço de qualquer um dos atuais ou futuros candidatos à presidência da República, assim como não postulo, e não desejo, por razões eminentemente práticas, exercer qualquer cargo executivo em eventual governo que venha a tomar posse em janeiro de 2019. Preservo total autonomia de pensamento e ação no terreno da política e, embora seja um cidadão consciente de minhas obrigações cívicas nessa área, não aspiro cargos ou assessorias em qualquer governo que venha a se formar a partir das eleições de outubro do corrente ano. Pretendo manter minha atitude de distanciamento crítico em relação a qualquer um dos candidatos à presidência do Brasil, em especial em relação ao candidato ao qual pretendem, contra a minha vontade, me vincular politicamente.
Essa revelação surpreendente pede algum esclarecimento sobre suas prováveis origens, assim como minha postura aqui exposta apela a uma explicação credível; é a isto que se destina a presente nota. Meus colegas de carreira estão quase amplamente informados, mas não necessariamente o público externo, de que, dentre os diplomatas que, na vigência dos governos do PT, foram considerados como “adversários políticos” de um regime que eu nunca hesitei em considerar nefasto ao Brasil, eu fui o único que permaneci, na inteira vigência daquele “reinado”, sem qualquer cargo ou função na Secretaria de Estado, aliás até o presente momento. Desde o início de 2003, quando fui expressa e deliberadamente vetado para um cargo no Itamaraty, ao qual eu tinha sido convidado em razão de minha capacitação na área, atravessando os dois governos Lula e um e meio de sua sucessora, e até o momento mesmo do impeachment, em maio de 2016, eu nunca exerci qualquer função na Secretaria de Estado, vetado que estava para o exercício das atividades às quais eu estava vinculado por dever de ofício, e isso contrariamente a normas administrativas a que o Ministério deveria estar adstrito. Já me expliquei, em diversas ocasiões, mas especialmente em dois textos divulgados em meu blog pessoal – uma primeira vez em 18 de dezembro de 2016, uma segunda em 26 de junho de 2018: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/uma-longa-travessia-do-deserto.htmlhttps://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/duas-pedras-no-meio-do-caminho-paulo.html– sobre como transcorreu essa longa travessia do deserto funcional a que estive relegado, um exílio involuntário que durou exatamente o dobro de meu primeiro exílio, voluntário, a que fui levado durante o período da ditadura militar. 
Pois bem, a que se poderia atribuir a “informação” em questão, dado que sempre fui extremamente discreto quanto às minhas escolhas políticas, mas deliberadamente aberto e transparente quanto ao que penso em relação a políticas e políticos em geral? Provavelmente ao fato que nunca escondi o que pensava – e isto está registrado em inúmeros trabalhos publicados desde antes de 2003 – sobre o partido companheiro e suas políticas esquizofrênicas para a administração do país. Paralelamente às minhas atribuições profissionais na carreira diplomática, exerço desde sempre atividades complementares no mundo acadêmico, sendo autor de muitos livros e artigos sobre os mais diversos assuntos de interesse em meu universo de preocupações intelectuais. Pode-se dizer que fui o único diplomata a ter escrito e publicado artigos e livros que podem ser classificados como objetivamente – e até subjetivamente – críticos em relação ao regime e suas políticas públicas, especialmente sua política externa, que sempre chamei de “lulopetismo diplomático”. 
Entendo que devo a essa postura de objeção pessoal à maior parte das políticas companheiras, em especial na área externa, o fato de ter sido agora alinhado “à direita” do espectro político, posição que rejeito não apenas por convicções ideológicas, mas também porque ela não corresponde absolutamente à verdade dos fatos. Aliás, eu nunca fui crítico do PT e das políticas companheiras porque estas e o seu partido seriam “de esquerda”, o que eu considero plenamente admissível no terreno das opções políticas disponíveis a qualquer cidadão consciente e participante ativo do jogo político, como aliás eu mesmo sou, mesmo sem estar integrado a qualquer partido, o que nunca fiz e não pretendo fazer. Sempre fui opositor daquelas políticas e de seus promotores pelo fato singelo de que sempre considerei que eles fossem totalmente ineptos na condução das políticas públicas, e por saber, de antemão – o que depois se revelou amplamente – que eles eram tremendamente corruptos no exercício do poder, além de dominados por um inaceitável espírito totalitário. 
Creio que os inúmeros textos meus divulgados a esse respeito – a maior parte deles livremente disponíveis nas ferramentas pessoais e na plataforma Academia.edu, e os mais representativos no livro Nunca antes na diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais(Appris) – podem ter causado essa impressão de que eu estaria identificado com, ou trabalhando para, um desses candidatos também crítico aos companheiros, o que eu desminto formalmente. Recentemente formulei algumas propostas de política econômica externa – notadamente o capítulo sobre “relações internacionais” no livro organizado por Jaime Pinsky, Brasil: o futuro que queremos(Contexto, 2018) – o que pode, mais uma vez, ter aberto espaço para esse tipo de associação que absolutamente inexiste. 
Se ouso ser ainda mais transparente quanto às minhas preferencias políticas, posso confirmar, formalmente, que não sou, nem pretendo ser, eleitor do candidato em questão, por divergir filosoficamente, e absolutamente, de suas posturas gerais em uma variedade muito ampla de terrenos e políticas públicas. Se existe algum candidato que se aproxima mais ou menos daquilo que eu mesmo penso quanto à natureza e sentido das medidas que deveriam ser implementadas por algum estadista (até aqui inexistente) eventualmente alçado à condição de presidente, esta pessoa seria o candidato do partido Novo, com o qual a minha interface de ideias é mais ampla e bem mais convergente. Depois de ter sido marxista na juventude, sou, na idade madura, um libertário puro. 
Espero que estas minhas explicações sejam suficientes para eliminar qualquer questionamento quanto às minhas preferências políticas, ou qualquer “revelação” de que eu estaria interessado em exercer cargos executivos, mesmo em minha área de trabalho. Sou, e pretendo continuar sendo, um espectador engajado, e não mais do que isso. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2018

sábado, 14 de julho de 2018

PT: sempre amigo das ditaduras, e servil às mais execráveis - O Antagonista

Vão prestar contas, como serviçais aos aos senhores da ditadura cubana sobre seus oficios aqui no Brasil para instalar o bolivarianismo ditatorial e o que deu errado.
O PT há muito deveria ter seu registro cancelado , exatamente como o PC em 1947, pois tanto um como outro estão e estavam a serviço da dominação do País por outro País e de uma ideologia totalitária inconstitucional. Para isto, o PT roubou, transferiu recursos clandestinos da Petrobrás, auxiliou as ditaduras ainda comunistas do mundo, transferiu recursos para Cuba, Venezuela, Moçambique, etc. Em 1946/47, o PC recebeu recursos clandestinos da ex-URSS e tinha como sua estratégia básica a aliança coma  burguesia para a chegada ao poder e após expulsá-la e até matá-la, diretriz do Komintern stalinista e do Cominform kruschevista.
É o que é e urge cancelar o registro desta anomalia política que temos entre nós. 
Roque Callage

Exatamente isso: o PT, desde o início – ou até mesmo antes de ser formado o partido, pela ajuda e formação dada em Cuba aos membros dos movimentos armados contra a ditadura militar, e depois aos guerrilheiros reciclados – recebeu maciça ajuda dos irmãos Castro, e sempre foi servil aos interesses cubanos. TODA a política externa lulopetista foi absolutamente conforme aos interesses ida ditadura comunista cubana.
Mais ainda: além dos dólares da ditadura cubana, o PT recebeu ajuda das FARC e de Hugo Chávez, entre 1999 e 2002, passando depois a sustentar todas essas ditaduras, as mais execráveis do mundo, verdadeiras tiranias. Milhões do povo brasileiro acabaram indo para essas ditaduras (e voltando depois para os companheiros). 
O PT ainda não foi responsabilizado pelos BILHÕES que roubou do povo brasileiro.
O QUE FAZ O TSE?
Paulo Roberto de Almeida 


Gleisi e Dilma vão para Cuba

O Antagonista, 14/07/2018
O encontro anual do Foro de São Paulo começará no domingo, em Havana.
Gleisi Hoffmann e Dilma Rousseff confirmaram presença. Vão repetir para a plateia convertida a ladainha de que o corrupto e lavador de dinheiro é um “perseguido”.

Brasil: trajetória econômica desde o Plano Real - Paulo Roberto de Almeida

Trajetória econômica do Brasil desde o Plano Real

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: sobre os problemas estruturais da economia; finalidade: debate público]

Alinho, nos parágrafos seguintes, uma breve explanação sobre o itinerário econômico do Brasil a partir da estabilização macroeconômica efetuada desde 1994.
O Plano Real teve suas limitações ao início porque o presidente Itamar se opôs a um verdadeiro ajuste fiscal, pois dizia ele que não queria ser o presidente da recessão e do desemprego. À falta de forte ajuste fiscal — que precisa ocorrer em qualquer processo inflacionário — a solução foi trabalhar com âncora cambial e juros altos, o que redundou nos déficits comerciais acumulados nos anos seguintes.
Os ajustes introduzidos em 1999-2000 – metas de inflação, flutuação cambial, manutenção de superávit primário – prepararam o Brasil para a fase de crescimento seguinte, baseada no tripé econômico montado por Pedro Malan e Armínio Fraga, o que foi mantido nos primeiros anos do governo Lula.
O sucesso relativo dessa estabilidade também levou à valorização do real, aliás até maior do que na primeira fase da estabilização. Mas não se fizeram as demais reformas necessárias a um crescimento sustentado, com busca de novos instrumentos para ganhos de produtividade e conquista de maior competitividade da oferta brasileira global, ou seja, externa igualmente. As despesas públicas aumentaram continuamente e de forma alarmante ao longo de todo o período lulopetista, ao lado do crescimento da carga fiscal e do peso dos aumentos reais da massa salarial para as empresas. 
A desindustrialização precoce do Brasil advém desse duplo processo, que se reflete no balanço de pagamentos. Mas, o câmbio é apenas o reflexo desses fatores, não o causador do desastre econômico criado a partir do segundo governo Lula, e que se agravou tremendamente sob a gestão absolutamente inepta da sua sucessora, o que nos levou ao que eu chamo de Grande Destruição, a inédita e especialmente grave recessão econômica, a maior eliminação de riqueza de nossa história, inteiramente fabricada no Brasil, em nada atribuível a fatores externos ou cambiais. Deixo de lado a gigantesca corrupção construída deliberadamente durante todo o período lulopetista, pois seu efeito é residual sobre os grandes equilíbrios macroeconômicos, ainda que a roubalheira generalizada orquestrada pelos companheiros – estendida aos demais meliantes cúmplices no processo – tenha tido uma enorme influência na deterioração geral da governança ao longo desses anos, impactando fortemente a solidez das instituições: a erosão moral, o descalabro ético são provavelmente superiores aos efeitos da proverbial incompetência administrativa dos companheiros mafiosos. 
Depois do afastamento do poder, em 2016, da organização criminosa que dele tomou posse em 2003, temos agora um longo e penoso caminho de difícil reconstrução pela frente, pois a amplitude da Grande Destruição impõe um ajuste de pelo menos 5 ou 6% do PIB, o que não será feito antes de vários anos (pois o Congresso, os sindicatos e os partidos de esquerda são totalmente irresponsáveis).
O Brasil necessita de: estabilidade macroeconômica, competitividade microeconômica, governança responsável, alta qualidade de capital humano — o que só se conseguirá com uma verdadeira revolução educacional, necessariamente delongada — e, sobretudo, abertura econômica e liberalização comercial, com total ausência de restrições ao capital estrangeiro. Eu disse total, o que também implica a plena privatização dos monstrengos estatais ainda existentes.
Vamos conseguir fazer tudo isso? Não creio. O ajuste econômico até terá de ser feito, do contrário soçobraremos em crise terminal especialmente grave — em vista dos déficits orçamentários (previdência, juros da dívida pública e despesas com o funcionalismo) e da total ausência de competitividade externa, dada nossa baixíssima produtividade — mas não acredito que a revolução educacional necessária será feita, pois as mentalidades — de todas as elites, empresariais, políticas e acadêmicas — são anacrônicas, tremendamente atrasadas.
É uma pena, mas a deseducação geral é tão grande, que só temos a preservação da mesma classe política predatória no poder, e desses capitalistas promíscuos que sustentam políticas que transferem renda do conjunto da população para quem já é rico, por meio de um Estado extrator e disfuncional.
Considero relevantes os dados sobre transações externas na economia brasileira, fonte e origem da maior parte das crises que enfrentamos ao longo do século XX e no início deste. Mas isto não é mais válido para esta última crise, inteiramente construída pela inépcia administrativa e corrupção lulopetista (aliás continuada). Trata-se de uma crise 100% made in Brasil, e que continua sendo aprofundada na sua vertente fiscal pela irresponsabilidade do Congresso e do próprio Executivo, com a ajuda dos membros podres do Judiciário.
Dito isto, não considero que o fulcro dos problemas atuais esteja nas transações correntes, dado o nível de reservas e a flutuação cambial: apenas ficaremos um pouco mais pobres. Mas a não resolução dos problemas fiscais afundará o Brasil, e com ela toda perspectiva de retomada do crescimento sustentado. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de julho de 2018

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Historia diplomatica: livros de Ricupero e de Affonso Santos


O trabalho feito pelo Affonso Santos, sobre os cadernos de notas do Barão, foi excepcional, pois que confrontadas as notas com documentos da chancelaria francesa.
Aproveito para transcrever minha resenha do livro do embaixador Ricupero:

“O Brasil segundo a diplomacia”, [Resenha de A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016(Rio de Janeiro: Versal Editores, 2017)], O Estado de S. Paulo(domingo, 8 de outubro de 2017, p. E2, Caderno Aliás, Política, sob o título “História da diplomacia no Brasil tem novo livro definitivo”,em 7/10/2017, link: http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,historia-da-diplomacia-no-brasil-tem-novo-livro-definitivo,70002030739). Divulgado no blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/cesse-tudo-o-que-musa-antiga-canta.html); novamente, depois de publicada, no blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/resenha-do-livro-do-ricupero-publicada.html).

Construindo a nação pelos seus diplomatas: o paradigma Ricupero

Paulo Roberto de Almeida

Em meados do século XX, os candidatos à carreira diplomática tinham uma única obra para estudar a política externa brasileira: a de Pandiá Calógeras, publicada em torno de 1930, equivocadamente intitulada A Política Exterior do Império, quando partia, na verdade, da Idade Média portuguesa e chegava apenas até a queda de Rosas, em 1852. Trinta anos depois, os candidatos passaram a se preparar pelo livro de Carlos Delgado de Carvalho, História Diplomática do Brasil, publicado uma única vez em 1959 e durante muitos anos desaparecido das livrarias e bibliotecas. No início dos anos 1990, passou a ocupar o seu lugar o livro História da Política Exterior do Brasil, da dupla Amado Cervo e Clodoaldo Bueno. Finalmente, a partir de agora uma nova obra já nasce clássica: A Diplomacia na Construção do Brasil, 1750-2016(Rio de Janeiro: Versal, 2017, 780 p.), do embaixador Rubens Ricupero, ministro da Fazenda quando da introdução do Real, secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento nos anos 1990, atualmente aposentado.
O imenso trabalho não é uma simples história diplomática, mas sim uma história do Brasil e uma reflexão sobre seu processo de desenvolvimento tal como influenciado, e em vários episódios determinado, por diplomatas que se confundem com estadistas, aliás desde antes da independência, uma vez que a obra parte da Restauração (1680), ainda antes primeira configuração da futura nação por um diplomata brasileiro a serviço do rei português: Alexandre de Gusmão, principal negociador do Tratado de Madri (1750). Desde então, diplomatas nunca deixaram de figurar entre os pais fundadores do país independente, entre os construtores do Estado, entre os defensores dos interesses no entorno regional, como o Visconde do Rio Branco, e entre os definidores de suas fronteiras atuais, como o seu filho, o Barão, já objeto de obras anteriores de Ricupero. 
O Barão do Rio Branco, aliás, é um dos poucos brasileiros a ter figurado em cédulas de quase todos os regimes monetários do Brasil, e um dos raros diplomatas do mundo a se tornar herói nacional ainda em vida. Ricupero conhece como poucos outros diplomatas, historiadores ou pesquisadores acadêmicos a história diplomática do Brasil, as relações regionais e o contexto internacional do mundo ocidental desde o início da era moderna, professor que foi, durante anos, no Instituto Rio Branco e no curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Formou gerações de diplomatas e de candidatos à carreira, assim como assessorou ministros e presidentes desde o início dos anos 1960, quando foi o orador de sua turma, na presidência Jânio Quadros. 
Uma simples mirada pelo sumário da obra confirma a amplitude da análise: são dezenas de capítulos, vários com múltiplas seções, em onze grandes partes ordenadas cronologicamente, de 1680 a 2016, mais uma introdução e uma décima-segunda parte sobre a diplomacia brasileira em perspectiva histórica. Um posfácio, atualíssimo, vem datado de 26 de julho de 2017, no qual ele confessa que escrever o livro foi “quase um exame de consciência... que recolhe experiências e reflexões de uma existência” (p. 744). Ricupero concluiu o texto principal pouco depois do impeachment da presidente que produziu a maior recessão da história do Brasil, e o fecho definitivo quando uma nova crise “ameaça engolir” o seu sucessor. O núcleo central da obra é composto por uma análise, profundamente embasada no conhecimento da história, dos grandes episódios que marcaram a construção da nação pela ação do seu corpo de diplomatas e dos estadistas que serviram ao Estado nessa vertente da mais importante política pública cujo itinerário – à diferença das políticas econômicas ou das educacionais – pode ser considerado como plenamente exitoso. 
A diplomacia brasileira começou por ser portuguesa, mas se metamorfoseou em brasileira pouco depois, e a ruptura entre uma e outra deu-se na superação da aliança inglesa, que era a base da política defensiva de Portugal no grande concerto europeu. Já na Regência existe uma “busca da afirmação da autonomia” (p. 703), conceito que veio a ser retomado numa fase recente da política externa, mas que Ricupero demonstra existir embebido na boa política exterior do Império. A construção dos valores da diplomacia do Brasil se dá nessa época, seguido pela confiança no Direito como construtor da paz, o princípio maior seguido pelo Barão do Rio Branco em sua diplomacia de equilíbrio entre as grandes potências da sua época. Vem também do Barão a noção de que uma chancelaria de qualidade superior devia estar focada na “produção de conhecimento, a ser extraído dos arquivos, das bibliotecas, do estudo dos mapas” (p. 710). Esse contato persistente, constante, apaixonante pela história, constitui, aliás, um traço que Ricupero partilha com o Barão, o seu modelo de diplomata exemplar, objeto de uma fotobiografia que ele compôs com seu antigo chefe, o embaixador João Hermes Pereira de Araujo, com quem ele construiu o Pacto Amazônico, completando assim o arco da cooperação regional sul-americana iniciada por Rio Branco setenta anos antes. 
O livro não é, como já se disse, uma simples história diplomática, mas sim um grande panorama de mais de três séculos da história brasileira, uma vez que nele, como diz Ricupero, “tentou-se jamais separar a narrativa da evolução da política externa da História com maiúscula, envolvente e global, política, social, econômica. A diplomacia em geral fez sua parte e até não se saiu mal em comparação a alguns outros setores. Chegou-se, porém, ao ponto extremo em que não mais é possível que um setor possa continuar a construir, se outros elementos mais poderosos, como o sistema político, comprazem-se em demolir. A partir de agora, mais ainda que no passado, a construção do Brasil terá de ser integral, e a contribuição da diplomacia na edificação dependerá da regeneração do todo” (p. 738-9). O paradigma diplomático já foi oferecido nesta obra; falta construir o da nação.

[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de setembro de 2017]


O fardo do Homem Branco: por que sou contra ajuda assistencial - livro de William Easterly

Book review:

The White Man’s Burden: Why the West’s efforts to aid the rest have done so much ill and so little good
William Easterly 
Oxford University Press (2006)


Review by Simon Maxwell, Director of Overseas Development Institute
https://www.odi.org/sites/odi.org.uk/files/odi-assets/events-documents/961.pdf

Bill Easterly has been criticised – by no less an authority than Amartya Sen – for being ‘swept up by the intoxicating power of purple prose’. Unkind, I think. This book is a hoot from start to finish. Whether he is poking fun at UN jargon on donor coordination, describing his experience with an electric blanket, or citing the ‘bons mots’ of his small children, Easterly is nothing if not entertaining. Add the fact that he segues rapidly from history to statistical analysis to anecdote and back again, and Easterly has delivered a classic page-turner. This is one you can take to the beach. Whether you will want to bring it home from the beach is another matter. There are some readers – foremost among them Jeff Sachs – I would expect to bury the book in the sand or hurl it furiously into the waves. The book is a polemic. It will make most development specialists squirm at some point and require them to wander off for a calming ice cream. 
The argument is laid out over eleven chapters which set out to expand the proposition implied by the subtitle – ‘Why the West’s efforts to aid the Rest have done so much ill and so little good’. The simple answer is that the West – from colonial days through to the modern era of aid – has favoured ‘planners’ rather than ‘searchers’. Planners have optimistic, over-arching goals (‘eliminate world poverty’) and are insensitive to the cultural and political underpinning of long-term development. 
Searchers respect context and empower individuals, especially through markets. Accountability is at the heart of it: ‘The tragedy of poverty is that the poorest people in the world have no money or political power to motivate Searchers to address their desperate needs . . . To make things even worse, aid bureaucrats . . . have the incentive to satisfy richcountry vanity with promises of transforming the Rest rather than simply helping poor individuals.’ (Pgs 146-7) 
It is easy to see where this leads. Easterly is scathing about the Millennium Development Goals as a project, about the Big Push theory which underpins both the UN Millennium Project and the Africa Commission, about the hubris which leads outside experts to think that functioning markets can be created at the stroke of a pen, about the failure to deal adequately with ‘gangsters’ who run some developing countries, and about the ineffectiveness of the international financial institutions (acting as ‘repeat lenders to deadbeat governments’). These problems are not new, we are told. They are deeply rooted in the West’s conceptualisation of the Rest, and have been played out throughout the colonial experience. 
Chapter 8 reviews experience in Africa, Palestine, and the Indian sub-Continent, with a number of ice-cream moments, especially about British incompetence and perfidy. Light relief is provided by a table which counterposes quotations from Robert Owen in 1857 and Jeff Sachs in 2005 (Pg 17). ‘Utopia’, as Easterly argues, ‘is making a comeback’ (ibid). What might be better? That’s a question which Easterly is pre-disposed not to answer: ‘if you think I will now offer a utopian blueprint to fix aid’s complex problems, then I have done a really bad job in the previous chapters at explaining the problems with utopian blueprints’ (Pg 321). However, it is indicative that a whole chapter (Ch 10) is devoted to ‘homegrown development’, with panegyrics on Japan, Hong Kong, Singapore, China, India, Turkey, Botswana and Chile. And when it comes to aid, it turns out that the way forward is not to stop giving it, but rather to make agencies specialise and then use independent evaluation to hold them to account. 
It would also be worth giving vouchers to individuals that they can redeem for services provided by NGOs or aid agencies: market creation from the bottom up. Is this enough? I’m afraid it is not. The reason has little to do with whether it is right to rely on positive description and eschew normative prescription. It is more that the paucity of prescription (markets, vouchers, independent evaluation) is a direct consequence of incomplete analysis. The core argument, though a caricature, is fine as far as it goes. Easterly is not the first to be sceptical about the value of international development targets as more than mobilising slogans. He is not the first to evince cynicism about the way in which the idea of participation has been appropriated by technocrats. 
He is not the first to question whether PRSPs and the apparatus of spending frameworks which follow are quite the panacea proponents once believed. He is certainly not the first to point out that IMF and World Bank conditionality are ineffective tools. And he is not even the first to observe that donors have found it difficult to deal with bad governance and corruption. Heavens, some have even dared to challenge Jeff Sachs - on Russia, on the Big Push, and, most recently, on the Millennium Villages Project. On these themes, Easterly probably has more supporters in his attack on cant than he might imagine, especially within the European development community. However, because these are not unfamiliar themes, it is also the case that there is more to say about them than Bill Easterly might imagine. Take four examples. 
First, Easterly is rightly scathing about the burden of multiple goals (he cites 449 targets in the Sachs Millennium Report) and makes interesting points about responsibility for complex goals being too diffuse. He is also excellent on the intellectual dishonesty of global goals to make HIV/AIDS drugs available to all, ignoring all questions about opportunity cost and the costeffectiveness of prevention versus treatment. He recommends that each aid agency should specialise in one thing only, and avoid the ‘Yosemite Sam’ syndrome of firing in every direction to try and reach all the goals agencies find themselves forced to pursue by the pressure of politicians and NGOs. He could have gone further, drawing on literature in both developed and developing countries about perverse incentives and the negative impact of over-simplified quantitative targets on the public service ethos. If he had looked at the wider literature, he would have discovered that these well-known problems have spawned discussion and experimentation with alternatives. 
He might have explored different ways of raising the level of public control over public agencies (‘voice’) and the idea of contestability in public service delivery (‘choice’). Vouchers may be a part of the answer, but there are other options. Second, on principal-agent problems, the limits to conditionality and the problem of moral hazard, leading to repeat bail-outs of failing governments, Easterly’s preferred solution appears to be the kind of tough love characteristic of US social policy, in which benefits are strictly time-limited. This works for some, no doubt, but not for all, and is an especially risky strategy when whole countries are on the edge of anomie. 
There’s a discussion to be had about whether international human rights legislation would allow the poorest to be abandoned in this way. There is also a literature on both aid and non-aid related alternatives: collective action clauses in debt agreements, chapter-11 type bankruptcy agreements for countries, how to deploy different kinds of aid instruments which reach the poor directly. Some of the instruments about which Easterly is most scathing (for example, the IMF Poverty and Growth Facility, described in the book as ‘Orwellian’ (Pg 206)) were designed specifically to try and tackle principal-agent problems without killing people in the process. To use the kind of purple prose which Easterly himself might adopt, to walk away from incremental improvements of this kind is like saying that rifles should not have safety catches, because if enough people shoot themselves, the survivors will learn to be more careful. Third, on fragile states and poorly governed or corrupt countries, again Easterly is right that there is a problem, but behind the curve on analysis and prescription. Indeed, political analysis, studies on ‘drivers of change’, attempts to come to grips with ‘fragile states’, all these are growth areas in development. Between the limp platitudes of exhortation (‘please don’t shoot your opponents’) and the risky (though not always futile – see Sierra Leone or the Solomon Islands) recourse to armed intervention, there is beginning to be a constructive discussion about direct and indirect support to democratisation and greater political accountability: support for human rights commissions and a free press; investment in audit offices and freedom of information; incentives provided by membership of regional ‘clubs’; even, despite Easterly’s ten-line dismissal of the concept (Pg 129), peer review. Again, Easterly would do well to look at European experience, for example the value of prospective membership of the EU as an incentive to reform in Eastern Europe. And, by the way, the OECD makes extensive use of peer review, with demonstrably positive results. Finally, it is also worth saying that the market paradigm which underpins what prescription there is in Easterly’s thinking is also a topic on which there is more to say. He writes warmly about how ‘markets emerge everywhere in an unplanned, spontaneous way, adapting to local traditions and circumstances . . . (as a result of) the bottom-up emergence of complex institutions and social norms’ (Pgs 53-4). Market reformers fail to take account of the need to build trust over time, of the importance of networks and of indigenous property rights. That’s why ‘you can’t plan a market’ (the title of Ch 3). Perhaps you can’t, but you can certainly ask who gains and who loses from markets, what the market failures might be, and what kinds of public good might be needed for markets to work. Market based development is of course central to all current thinking. However, it is instructive that there is no discussion of market failure in this book that I can find. The index has 22 separate topic entries under markets, including ‘consumer choices reconciled by’, ‘feedback in’, ‘innovation fostered by’, and ‘positive bottom-up market trends’. There is some material about ‘cheating’, as in whether or not traders sell quality goods, but the solution there is again institutional, especially trust and network pressure. So, no risk of monopoly or oligopoly, no coordination failures, no social exclusion problems – and no need for competition policy, trading standards or strategic investment programmes. And we thought the market fundamentalism of the Washington Consensus was dead! 
Bill Easterly would no doubt deride these attempts to move the discussion forward as inconsistent with the central argument: when you’re in a hole, he says, stop digging (Pg 322). However, he himself is in favour of learning by doing and cites with approval Lindblom’s work on ‘disjointed incrementalism’. He also, as it happens, cites many examples of successful aid, ranging from micro-credit, to polio, to water and sanitation. Quite right. Stop sniping, Bill. Come home. You know you belong with us.