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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

1320) O Ipea persiste na enrolacao: deixa a substancia de lado e se refugia na tergiversacao

Abaixo vou transcrever um post do blog da Miriam Leitão, que traz uma carta do Ipea (não assinada) sobre caso patético do "estudo" (argh) sobre a produtividade do setor público no Brasil.
Ele deve ser lido em combinação com este meu post anterior, que resume toda a canhestra história, uma das mais lamentáveis no itinerário já deplorável da atual direção do Ipea em termos de desonestidade intelectual e de acúmulo de erros grosseiros:

Quinta-feira, 27 de Agosto de 2009
1316) Ipea: Instituto de Producao de Equivocos Ampliados


Blog da Míriam Leitão - 27.8.2009 (20h59m)
Carta ao Globo
O Ipea se defende. Confira

O Ipea mandou uma carta ao jornal contestando o que a coluna publicou a respeito do Comunicado da Presidência sobre a produtividade do setor público. Não responde a algumas questões como por exemplo o estranho de Roraima ter tido um crescimento de produtividade de 136% e São Paulo de apenas 1,7% e Espirito Santo, que fez um ajuste, ter tido queda de produtividade. Aqui publicamos, confira, a nota do economista Jose Roberto Afonso mostrando os erros técnicos da nota. Vai abaixo a carta que o Ipea enviou ao Jornal. Como chegou tarde e nao dava para publicar no jornal, estamos divulgando aqui neste espaço.

"À Seção Cartas,
"A pluralidade de opinião é necessária e desejada na condução dos trabalhos que o Ipea realiza. Evidentemente exercida nos contornos éticos, técnicos e de respeito. Os Comunicados da Presidência do Instituto têm por intenção antecipar estudos e pesquisas mais amplas conduzidas pelo Ipea, com uma comunicação sintética e objetiva. Esses comunicados são produzidos por técnicos de planejamento e pesquisa de todas as diretorias do Ipea. Desde seu lançamento, em 2007, mais de cem técnicos participaram da elaboração e divulgação de tais documentos, sobre os mais variados temas, como, por exemplo, o comunicado divulgado nesta quinta-feira, 27, em audiência pública na Câmara dos Deputados, sobre IPTU.
"Portanto, quanto à repercussão do Comunicado da Presidência nº 27 – Produtividade na Administração Pública Brasileira: Trajetória Recente –, na coluna da senhora Miriam Leitão de 26/8, registramos que é equivocada a afirmação da colunista quanto à metodologia utilizada no referido estudo. A consulta à literatura especializada ou à própria Assessoria de Comunicação do Instituto permitiria constatar que o método de aferição da produtividade na administração pública e privada no Brasil – utilizada no estudo – encontra-se em plena conformidade com aquele adotado por outras instituições de pesquisa aplicada, como, por exemplo, Centre for the Measurement of Government Activity (Inglaterra), Partnership and Productivity in the Public Sector (Nova Zelândia) e National Center for Public Productivity (Estados Unidos), entre outras. Todas de referência internacional. Como o Ipea.
"O Comunicado da Presidência é de responsabilidade da assessoria técnica da Presidência do Ipea. Em geral, os comunicados são sucedidos por notas técnicas, textos de discussão, livros e demais publicações do Instituto.
"Os Comunicados da Presidência do Ipea não pretendem encerrar o debate sobre os temas que aborda, mas motivá-lo. E fazer o debate sobre a produtividade no serviço público é fundamental para a democracia e o desenvolvimento do Brasil, bem como a melhoria dos serviços prestados à sociedade.
"Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
"

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Volto a comentar (PRA):

Primeiro, ninguém assume a responsabilidade pela, como direi, produção de bullshit.
Segundo, essa entidade hoje obscura se refugia numa tal de "pluralidade de opinião", quando ela deveria estar fazendo pesquisa econômica aplicada, que para isso ela foi criada, não para ficar fazendo especulações descabidas, metodologicamente insustentáveis.
Terceiro: não se sabe bem o que é essa pluralidade, que deve ser "Evidentemente exercida nos contornos éticos, técnicos e de respeito." Isso não quer dizer absolutamente nada. Opinião é opinião e cada qual tem a sua... Mas o Ipea não foi feito para emitir opiniões, ele foi criado para fazer estudos tecnicamente embasados, rigorosos. Especulação é com a Dona Dinah, que aliás cobra mais barato do que custa um técnico do Ipea para ler a sua mão e lhe dar um pouco de felicidade...
Quarto: comunicado da presidência nunca existiu na história do Ipea. Apenas um ego inflado, e obviamente mal intencionado, criou essa maravilha do surrealismo esquizofrênico, que tem pouco a ver com economia e tudo com política do mais baixo nível.
Quinto: essa carta, tão canhestra que não vem assinada por ninguém, diz que a coluna da Miriam Leitão está equivocada, mas não diz exatamente em quê, e se esconde na citação de institutos estrangeiros, que supostamente utilizariam a mesma metodologia do trabalho lamentável liberado pela presidência. A carta nada diz sobre a substância da metodologia utilizada, apenas pretende se respaldar no prestígio alheio (se houver algum). Trata-se de mais uma desonestidade intelectual, ainda que este último termo certamente não se aplica ao caso em questão.
Sexto: percebendo o tamanho do bullshit que fizeram, os responsáveis pelo lamentável episódio afirmam que esses comunicados "precedem" estudos técnicos e que o "debate não está encerrado". Mais uma tergiversação. Aposto que os trapalhões NUNCA vão voltar para corrigir o tremendo equívoco desse comunicado histriônico, que vai ficar na história do Ipea, como o estudo que revolucionou (no mau sentiudo) a concepção da administração pública no Brasil.

Enfim, eu proponho que a direção atual do Ipea se mude para Roraima: se sua produtividade não aumentar muito por lá, certamente eles vão passar a ganhar mais...

Paulo Roberto de Almeida
28.08.2009

4 comentários:

Anônimo disse...

No atual momento do serviço público brasileiro, onde todos os órgãos dispõem de servidores capazes e dispostos a fazer pesquisa aplicada sobre os seus assuntos, para que serve o IPEA?
Se o IPEA acabasse, os seus servidores poderiam ser realocados para outros órgãos (BACEN, STN, diversos Ministérios) que estão pleiteando a realização de concurso por estarem precisando de novos servidores.

Anônimo disse...

Caro PRA,

Sou técnico do IPEA. Os infamous "comunicados da prejumência" são produzidos por um grupo próximo ao bárbaro de campinas. Os técnicos em geral só os conhecem após a divulgação para a imprensa.

Já houve reclamações junto à ouvidoria do IPEA e em e-mails diretos à presidência. Duvido que funcione, mas não custa tentar.

Obrigado. Sinceramente.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Meu caro técnico anónimo do IPEA,
Compreendo seu cuidado, embora eu também seja um ficionário público, da diplomacia, e esteja, justamente, no ostracismo, por ousar expressar ideias e opinioes sobre alguns aspectos da minha area.
Eu considero o que vem ocorrendo no IPEA indigno de sua história de pesquisas sérias sobre economia brasileira. Deve ser de fato mais do que constragedor, para técnicos sérios como você, ter de conviver com os meninos amestrados do histriônico presimente da instituição.
Essa deterioração das instituições públicas, em todos os setores, ficará como marca registrada e a herança maldita deste governo de amadores mal intencionados.
Triste é constatar a involução da governança no Brasil, que passa a repetir assim a história de retrocessos e decadências que atingiram outros países em circunstâncias diversas: A China do século 18 até os anos 1980, a Inglaterra durante os primeiros 80 anos do século 20, e a Argentina desde os anos 1930, pelo menos (e o pior é que eles continuam reincidindo nos mesmos erros do passado recente, de menos de uma geração atrás). Parece que, infelizmente, chegou a nossa hora de retroceder intelectualmente, graças a mentecaptos como esses que estão empoleirados em várias instituições públicas.
Cabe aos homens de bem, como diria um filósofo, resistir intelectualmente, manter a bandeira da seriedade acadêmica, registrar todos os malfeitos e apresentar a conta mais adiante.
Eu estou fazendo uma série de "falácias acadêmicas": parece que vou ter de abrir um capítulo especial apenas para os bullshits da atual direção do IPEA.
Triste...
Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida disse...

Meu caro Anônimo do dia 28 (sinto identificá-lo assim, mas é o unico jeito com quem nao usa o próprio nome),
O Ipea serve para muita coisa, ou pelo menos deveria servir.
Mas, proponho a você um exercício: compare o IPEA com o NBER, que seria o seu equivalente americano. Veja no site do NBER o numero de funcionarios, o funcionamento, a producao, a independencia e sobretudo a credibilidade, e depois compare com os dados do IPEA, se voce conseguir dados equivalentes, claro...
Transparência também é capital...