sábado, 29 de maio de 2010

A fraude da medicina socialista

Recebo muitos comentários, alguns até impublicáveis, outros que não mereceriam publicação mas que acabo concedendo mais em deferência ao comentarista (geralmente anônimo, mas que se deu ao trabalho de ler algum post meu, dedilhar alguma mensagem no teclando e clicar send), do que em respeito ao leitor inteligente que frequenta estas páginas e que talvez não mereceria ler certas coisas (mas, finalmente, um comentário é como essas notas de rodapé que em certos livros em lugar de estar no rodapé, ficam no final do livro, e assim dá preguiça ir buscar para ler).
Enfim, tudo isso para dizer que, algum tempo atrás, já nem lembro quem ou por que (ou seja, em relação a qual post exatamente), alguém me escreveu mencionando um filme de Michael Moore para atacar os EUA (claro, quem é que, sendo brasileiro universitário médio, não gosta de atacar os EUA?; com Bush ou sem Bush...).
Acho que já escrevi que considero Moore um dos grandes idiotas americanos, mais que isso, um gigantesco idiota, um mentiroso, um fraudador, um sujeito de profunda má-fé que eu sequer mencionaria se alguém não o mencionasse neste espaço.
Pois bem, já vi um outro documentário dele, com profundo desgosto, devo dizer, não que eu tenha pago para ver, mas devo ter "caído" distraidamente em algum deles zappeando na TV. Disgusting, pois quem é inteligente e bem informado sabe que o sujeitinho está mentindo deslavadamente.
Bem, encurtando a história, vou deixar vocês com um post do Janer Cristaldo, um gaucho iconoclasta que escreve muito melhor do que 90 por cento dos jornalistas brasileiros (que me perdõem os que eu conheço), que além de escreverem mal, são em geral ignorantes, quando não de má fé (talvez por idiotice aprendida nas Faculdades medíocres de jornalismo).
Ele fala melhor do que eu do maior idiota americano, que ganha longe de George Bush...
Paulo Roberto de Almeida

HAJA PANACAS NESTE MUNDO!
Janer Cristaldo
Sexta-feira, Maio 28, 2010

Quando mais jovem, jamais me preocupei com seguro saúde em minhas viagens. O que é uma imprevidência, confesso. Mesmo que você tenha boa saúde, acidentes acontecem. Foi o que ocorreu comigo em janeiro de 1990, quando fui a Berlim quebrar os cacos que ainda restavam do muro. Tinha um problema crônico de menisco e volta e meia me acometia a tal de água no joelho. Claro que não faltaram as más línguas a aventar a hipótese de uísque no joelho. A bem da verdade, aquele líquido tinha uma certa cor de bom scotch. Sabe-se lá!

Parti rumo ao muro, sem lenço nem documento, como se diz. Em Paris, escorreguei e a perna começou a inchar. Pensei ir ao médico, mas desisti. Sabia qual era o tratamento. Ele faria uma punção no joelho, extrairia o líquido sinovial e me ordenaria repouso. Se é para ficar de molho, pensei, fico em Berlim, mais perto do muro. Embarquei.

No trem, desastre. A perna foi inchando a ponto de mal caber na perna da calça. Eu viajava com uma amiga, que seria minha anfitriã. Nem deu para ir à casa dela. Ela telefonou para o hospital e do trem fui direto para lá. Onde já me esperavam dois médicos, com uma maca na recepção.

Não, não quero falar das atribulações de meu menisco. Ocorre que as aventuras de minha perna me proporcionaram uma oportuna comparação entre a medicina capitalista e socialista. Estava em Berlim ocidental bem entendido, a reunificação só ocorreria mais adiante, em outubro. Aconteceu o previsto. Extraíram o líquido e me mandaram ficar em repouso. Quando perguntei quanto pagaria, riram na minha cara. Que deixasse um endereço e depois enviariam a conta. Nunca enviaram.

Mas o muro estava ali, quase a meu lado, esperando meu martelo. Mal me equilibrei nas pernas, fui lá tirar meus cacos. Caminhava devagar, sem forçar o joelho. Deu certo. Fui então para Praga. Ora, Praga é uma cidade belíssima, concebida para pedestres. Impossível não caminhar. Foi quando me acometeu de novo a praga, sem trocadilhos. A perna começou a intumescer e tive de procurar hospital.

O hospital, uma espécie de pátio de milagres, gente doente atirada no chão, em colchões espalhados pelos corredores. Eu, tentando achar um médico. Falava em inglês, os funcionários me entendiam. O problema é que respondiam em checo. Lá perto de meio-dia, descobri que havia uma ala diplomática no hospital. Fui para lá. Consegui me comunicar.

Nossa! O panorama mudou. Muita limpeza, muita higiene, não vi mais gente deitada nos corredores. Me atendeu uma médica que fizera estágio em Cuba e falava espanhol. Bonitaça, ela aproximou seu rosto do meu, começou a queixar-se de sua vida, me confessou suas mais íntimas angústias. Eu, que não sabia se voltaria ao Brasil com uma perna ou duas, não percebi naquele momento que a moça estava me insinuando outros serviços que não os médicos. Por uns vinte dólares, eu talvez até tivesse esquecido o inchume de meu joelho. Seja como for, a ala diplomática era limpa e abordável. Com acesso aos serviços VIP da doutora.

Acabei sendo atendido pelo Dr. Dvorjak. Que me pôs uma tala de isopor na perna e me prescreveu um remédio que, soube mais tarde, se prescreve para cavalos. Voei entalado para Paris e não tive remédio senão voltar ao Brasil. (Mas pelo menos com os cacos do muro). Apesar da fama de gratuidade da medicina socialista, acabei pagando mais de cem dólares. Por uma tala de isopor. Mais o preço do remédio para cavalos.

Em São Paulo, conversando com jornalista que foi correspondente em Moscou, ele me dizia que, no mundo socialista, toda profissional liberal era uma prostituta potencial. Devia saber do que falava. Ganhar em meia hora o salário de um mês é uma tentação à qual dificilmente uma brava mulher socialista resiste. Debilitado e desinformado sobre as práticas das camaradas, eu havia perdido uma adorável e loura checa em Praga.

Tudo isto, como introdução a um filme muito safado, que vi hoje na madrugada, Sicko, do agitprop ianque Michael Moore. Vi com atraso. O filme é de 2007 e se pretende documentário. No fundo, uma defesa inverossímil da medicina cubana. Moore começa expondo os altos custos da medicina americana, no que não vai nada de novo. Depois se transporta para o Canadá, França e Inglaterra, onde a saúde é subsidiada pelo Estado. Mostra americanos felizes morando em Paris e Londres, como se estivessem no paraíso. No Canadá, há até mesmo americanas casando com canadenses, por um seguro saúde.

O “documentarista” é tão fiel aos fatos que chega a mostrar um cidadão que se fere em Londres, no momento em que atravessa uma rua plantando bananeira e logo após suas démarches junto aos serviços de saúde. Documentarista bom é isso mesmo, pega a história desde o início. Moore estava no exato instante do acidente, para depois acompanhar a história toda. Mas o filme não tem por objetivo mostrar as excelências dos serviços de saúde da Europa. E sim dos de Cuba, o paraíso do Caribe.

Moore descobre que em Guantánamo os prisioneiros lá encarcerados têm assistência médica total e gratuita. E reúne vários americanos em dois barcos, três deles com seqüelas decorrentes do socorro às vítimas do atentado às torres gêmeas. Aproxima-se da prisão, pelo mar, e pede internação de seus passageiros na prisão americana. Como se Guantánamo fosse um hospital público. Na verdade, Moore fala apenas para seu câmera. Fala de longe, em pleno mar, sem ao menos usar um megafone. Claro que não recebe resposta alguma.

O agitprop pega então sua turma e dirige-se ao paraíso. Em Cuba, como se fosse a coisa mais normal do mundo chegar a um país para receber tratamento médico, todos são bem recebidos em um hospital de primeira linha. Com cuidados personalizados. Voltam curados para casa. Sem pagar nada ou quase nada. Por remédios que custam U$ 120 nos Estados Unidos, os americanos pagam 0,5 cents em Havana. Por tratamentos que custam de 7 mil a 15 mil dólares, pagam zero dólar em Cuba. Porque é assim? – pergunta o cineasta à Aleida Guevara, filha de um dos mais operosos assassinos do continente. “Porque nós podemos e vocês não” – responde Aleida.

Resposta definitiva. Incontestável. Ingênuos no Brasil é o que não falta para acreditar que a saúde é um direito de todo cidadão na Disneylândia das esquerdas. Em 2008, lia-se na Folha de São Paulo, numa espécie de repercussão ao filme de Moore:

Regime de Fidel cerceou democracia e direitos
humanos, mas melhorou qualidade de vida

Dizia o texto:

Em quase meio século como líder de Cuba, Fidel Castro escreveu uma história pontuada por grandes conquistas e perdas significativas. Se educação, saúde, redução de miséria e emprego são áreas em que é impressionante a evolução do país após a revolução, em categorias como direitos humanos, liberdade de expressão, democracia e acesso a bens de consumo Cuba consta como um contra-exemplo no cenário mundial.

Melhoras na saúde? Como podem existir melhoras na saúde em um país que vive à beira da fome? Onde os gêneros alimentícios são racionados por uma libreta? Onde carne e pescados são reservados aos turistas que pagam em moeda forte? Onde o cubano vive de massas e açúcar? Onde um médico recebe 15 dólares por mês? Onde é melhor ser taxista trabalhando com turistas que médico formado? Onde os médicos estão migrando para o Brasil – e mesmo para a Venezuela de Chávez – em busca de salário decente? No país das jineteras, onde prostituição se tornou mercadoria corrente? Onde pais e maridos oferecem suas filhas e mulheres aos turistas numa boa? Como pode uma ilhota que vive em regime de miséria oferecer medicina gratuita a americanos?

Que milagre é esse? Estamos diante de um novo Cristo, que faz não a multiplicação dos peixes, mas dos remédios? É de perguntar-se porque todos os americanos, em peso, ainda não migraram para Cuba. O que vemos é cubanos, aos milhares, arriscando a vida – e mesmo morrendo – na tentativa de chegar a Miami. Cá em São Paulo, não passa mês sem que eu encontre uma petista que me jura de pés juntos que Cuba chegou a um atendimento gratuito e universal em termos de saúde.

No entanto, o filme de Moore fez fortuna. Haja panacas neste nosso mundinho.

- Enviado por Janer @ 7:25 PM

4 comentários:

  1. José Marcos29/05/2010, 14:21

    WELFARE STATE

    Janer Cristaldo escreveu que as "aventuras" de sua perna propiciaram-lhe uma oportuna comparação entre a medicina capitalista e socialista. Enquanto em Berlim Ocidental - o país capitalista de seu exemplo - ele foi bem atendido num hospital e nada lhe cobraram do serviço prestado; em Praga - o lado socialista da viagem -, ele foi mal atendido e, pasmem, teve que pagar pela consulta! Depois desse artigo, faço votos para que o Brasil se torne tão capitalista quanto a Alemanha !

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  2. Quem impede que o Brasil se torne tao capitalista quanto a Alemanha sao certas pessoas que pensam que o Estado tem de se meter em tudo.
    O Estado alemao se mete em hospital e escola, é verdade, mas nao me consta que ele explore petroleo, ou que explorasse minerio de ferro, siderurgicas, vendesse telefone celular ou pretendesse oferecer banda larga...
    Paulo Roberto de Almeida

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  3. Carlos Alencar30/05/2010, 11:29

    Discutindo a essência "idiotistica" de Moore e do autor (esqueci o nome) gaucho que escreve bem como poucos, o que se flagra é, não o grau de panaquice, mas apenas o retrato do que seriam dois destes discutindo.
    Concordo com cada letra, palavra, conjunção, virgula, com cada intenção semântica na escrita inabalavel do autor quando se refere a Moore, mas sejamos sensatos, Moore se faz panaca através dos seus proprios modos, o autor não deveria ter se prestado à tentativa de, através de experiências pessoais, tentar provar ainda mais o quão infimas são as idéias de Moore pois, fazendo isso, tudo o que conseguiu foi provar as não menos ridiculas idéias suas.
    Na Alemnha ocidental foi atendido sem problemas sérios dignos de serem citados. Em Praga, o contrario! Ora, nos coloquemos num nivel maior que o de Michael Moore; não concordam se esse texto não se parece mais com um roteiro de documentario com interesses inversamentes "proporcionais" ao de Moore? A medicina nos EUA esta completamente arruinada, e isso é um dado concreto, "infelizmente" não precisei quando da minha estadia la, mas me consta, através de testemunhos amigos, que a medicina em Praga, hoje em dia ao menos é consideravelmente mais eficiente que nos EUA. Precisei na França que, se não fosse pelos 240€de seguridade social que paguei para obter "mon titre de séjour" minha consulta de 20 minutos teria me custado mais do que os 60 euros que paguei. Ironicamente, uma amiga francesa que aqui, em Recife, mestra-se, faz tratamento contra uma doença autoimune ainda não identificada e, fiquemos perplexos, não pagou um centavo sequer até hoje, e nada nunca lhe faltou, concluindo inclusive com um português não tão desenvolto como o do autor: "não quero voltar para França enquanto nao acabar minha tratamento"!
    Bom, com isso não pretendo desfazer os argumentos do autor, de forma alguma, e nem querendo dizer que a saude publica no Brasil esta a plenos vapores, muito melhor do que na França! Estou apenas informando, através de uma historia real que, os testemunhos particulares não nos dizem muitas coisas. Primeiro pela propria fragilidade da experiência pessoal, segundo pela fragildade e tentação de adaptar sua propria historia à sua propria ideologia!

    Nota: "Onde pais e maridos oferecem suas filhas e mulheres aos turistas numa boa?"
    Esse ai escreve bem? Coitados dos 90% dos jornalistas brasileiros que escrevem pior!

    Para Cuba, e seu enganoso sistema de saude, o livro de Samarone Lima, "Viagem ao Crepusculo", é bem alentador!

    OBS: Desculpem-me pela falta do acento agudo no A, I, O e U, meu teclado francês não permite!

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  4. Parece que Michael Moore é uma "unanimidade"! (Na melhor acepção "rodrigueana")

    Vale!

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