terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma aula de deseconomia: portal Vermelho sobre as crises grega e brasileira

De vez em quando o Google Reader, um "assembler" de matérias que interessa conhecer e que aparece de graça em nossa caixa postal -- quem disse que no capitalismo não tem almoço grátis?; pois o Google e seus vários serviços associados, inclusive o GMail e coisas como o Reader representam uma "desconfirmação" da tese -- nos prega uma peça e apresenta coisas como essa.
Obviamente, ao ter lido Vermelho eu já devia ter desconfiado que, vindo dos derradeiros maoistas na face da Terra -- só no Nepal e no Brasil ainda existem maoistas; na China só encontrei aqueles que fazem comércio de iconografia maoista: buttons, fotos, até o livrinho vermelho, que devia já ter comprado... -- só podia ser bobagem da grossa, mas ainda assim fui conferir, para me divertir um bocado.
E, de fato, os maoistas do Brasil conseguiram me provar que é difícil superá-los em matéria de bobagens por centímetro quadrado, de besteirol por bits and bytes...

Aonde mais se poderia encontrar uma aula perfeita de deseconomia como a que vai abaixo?
Acho que só na terra do Chávez, que não é maoista, mas se aproxima do besteirol econômico...
Divirtam-se pois eu nem vou comentar...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 4 de maio de 2010)

A Grécia e o FMI, um roteiro de terror contra o povo
Portal Vermelho, 3 de Maio de 2010 - 15h55

O Brasil viveu, no passado recente, pilhagem semelhante à que ameaça o povo grego como condição para o megaempréstimo internacional cujo objetivo é salvar os banqueiros que fizeram empréstimos especulativos para a Grécia e agora, à beira do precipício, tentam jogar o custo da crise sobre os ombros dos trabalhadores e do povo.

O pacote negociado pelo governo grego prevê um conjunto de más notícias aos trabalhadores para acertar o acesso a uma montanha de recursos que praticamente nem chegarão a sair dos cofres das entidades emprestadoras pois serão empregados para liquidar parcelas da dívida externa grega (parte das quais vencem no próximo dia 19). E que o povo grego terá que pagar com um arrocho inaudito nos próximos três anos, permitindo ao governo "reequilibrar" as finanças do país.

O Brasil viveu situação semelhante na crise da divida nos anos 1980 e em 1998. Nesta última, sob Fernando Henrique Cardoso, o país quebrou e o governo tucano acertou um empréstimo de 40 bilhões de dólares com o FMI com objetivo semelhante: garantir o pagamento dos juros aos banqueiros internacionais. Da mesma forma, aquele dinheiro nem chegou a sair dos cofres dos bancos, mas ficou por lá como garantia de que o país pagaria suas contas. E o peso daquele empréstimo caiu duramente sobre os ombros dos trabalhadores e do povo: para satisfazer a voracidade dos banqueiros, FHC se comprometeu a gerar superávits primários que sabotaram a capacidade de investimento do Estado, a adotar metas draconianas de inflação (comprometendo o desenvolvimento nacional), a aumentar o tempo de trabalho para a aposentadoria e reduzir os valores das pensões, a arrochar os salários e reduzir o número de funcionários públicos. O resultado foi um enorme empobrecimento dos brasileiros e o agravamento da estagnação econômica.

Esse mesmo filme de terror está sendo exibido em Atenas e nas demais cidades gregas. O FMI, a União Européia e os banqueiros europeus (particularmente os alemães, principais credores da dívida externa grega) impõem um receituário semelhante: aumento dos impostos, redução do déficit orçamentário grego de 13,6% para 3% até 2014, flexibilização das leis trabalhistas facilitando as demissões de trabalhadores, aumento da idade média para aposentadoria de 53 para 67 anos, redução dos valores das pensões, que passarão a serem calculadas com base na média dos salários ao longo da carreira e não mais o último vencimento recebido pelo trabalhador. Além disso, o congelamento dos salários dos funcionários públicos, que vigora este ano, será estendido até 2014 e haverá cortes no 13º dos trabalhadores.

Desde o final do ano passado, quando a crise grega eclodiu, os trabalhadores resistem contra a ofensiva patronal e dos banqueiros e se recusam a pagar pela crise. Nos últimos dias, a resistência cresceu e as manifestações se espalham por todo o país, pontilhado de confrontos com a polícia. Os sindicatos e partidos da esquerda (o Partido Comunista Grego entre eles) marcaram uma grande greve para o próximo dia 5. A previsão de sucesso da manifestação está baseada no dado divulgado pelas agências de pesquisa: mais de 50% dos gregos apoiam as manifestações e os protestos e não aceitam o alto custo da cobrança por uma crise econômica que não criaram mas que decorre de negócios escusos entre o governo e os banqueiros internacionais.

Quando a crise mundial eclodiu, em 2008, muita gente viu nela a submersão das doutrinas neoliberais e das práticas lesivas aos povos e aos trabalhadores promovidas por governos conservadores e banqueiros gananciosos. Mas o neoliberalismo não estava vencido e, passado o momento crítico, voltou aos mesmos truques para garantir lucros fáceis e espoliativos, como revelam as notícias ligadas à grave situação de países como a Grécia e, também, ligadas a negócios obscuros e fraudulentos promovidos por corretoras financeiras como a Goldman Sachs, de Nova York. A batalha contra o neoliberalismo e o vampiresco rentismo financeiro internacional prossegue. Uma de suas etapas está sendo vivida pela resistência popular nas ruas das cidades gregas.


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Gostaram? No portal tem mais exemplos dessa linguagem de um outro mundo e de uma outra época.
Maoistas no século 21 são como alienígenas desembarcados na Idade Média, ou em algum programa tipo Casseta e Planeta, um filme de Monthy Pitton...
PRA

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