"O ideal de todo e qualquer natural da Bruzundanga é viver fora do país. Pode-se dizer que todos anseiam por isso; e, como Robinson, vivem nas praias e nos morros, à espera do navio que os venha buscar.
"Para eles, a Bruzundanga é tida como país de exílio ou mais do que isso: como uma ilha de Juan Fernández, onde os humanos perdem a fala, por não terem com quem conversar e não poderem entender o que dizem os pássaros, os animais silvestres e mesmo as cabras semi-selvagens.
"Um dos meios de que a nobreza doutoral lança mão para safar-se do país, é obter empregos diplomáticos ou consulares, em falta destes os de adidos e “encostados” às legações e consulados.
(...)
"Mas, como lhes contava, os nobres doutores tratam logo de representar o país em terras estranhas.
Não fazem questão de lugar. Seja no Turquestão ou na Groenlândia, eles aceitam os cargos diplomáticos.
A um, perguntei:
— Mas tu vais mesmo para o Anam?
— Por que não? Não há lá mulheres?
O sonho do jovem diplomático não é ser Talleyrand; é ser Don Juan para uso externo.
Ia até bastante satisfeito, disse-me em seguida, porquanto, lá, não se distinguindo bem a mulher anamita do homem, devia acontecer surpresas bem agradáveis com semelhante 'engano d’arma ledo e cego'."
(...)
in: Lima Barreto,
OS BRUZUNDANGAS
Um comentário:
Postar um comentário