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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Franca: um socialista neoliberal, ou ultra liberal?

Confesso que estou curioso para ler os comentários de certa imprensa, que provavelmente se acredita progressista, ou até de esquerda, a propósito das medidas abaixo do socialista François Hollande, presidente da França desde maio último. Recordo-me que quando de sua eleição, certamente gloriosa, os comentaristas em questão se apressaram a saudar a "nova política", não mais baseada em "ajustes recessivos", em "cortes de gastos", em "austeridade conservadora", enfim, em qualquer dessas coisas conservadoras e até reacionárias, mas sim fundadas, dorante, numa política de defesa do emprego, de estímulo ao crescimento, de redução dos espaços de liberdade concedidos ao capital financeiro, enfim, todas essas coisas boas que só os socialistas sabem fazer.
Prometo que não vou fazê-los engolir suas palavras, embora eu tenha registro do que foi dito na ocasião. De resto, basta entrar num desses sites perfeitamente antineoliberais para verificar todas as bondades creditadas antecipadamente ao presidente socialista francês.
E agora que ele está fazendo maldades, o que vão dizer?
Que os ricos precisam pagar? Tudo bem: acho que os ricos vão se expatriar, os que podem, ou praticar um esporte muito conhecido por aqui: a evasão fiscal e a fuga de capitais.
Paulo Roberto de Almeida

França corta gastos e cria novos impostos

Pacote de 30 bilhões tem como objetivo adequar o país às metas fiscais da UE

JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE / BASILEIA 
O Estado de S.Paulo, 10 de setembro de 2012
 
A França anunciou ontem novos impostos e duros cortes no valor de 30 bilhões, no que seu presidente, François Hollande, chamou de "o maior esforço fiscal em mais de meio século de história".
O novo governo apelou à elite econômica para que mostrasse patriotismo e anunciou reduções nos gastos durante os próximos dois anos para permitir que o país volte a estar dentro das metas fiscais da União Europeia.
Hollande alertou também que a França terminará 2012 estagnada e reduziu drasticamente a previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013.
"Serão medidas difíceis e dolorosas", alertou. Só em impostos, o ajuste prevê uma elevação de 20 bilhões. "Vou controlar a dívida do país. Não quero deixar isso para meu sucessor nem esse peso para meus filhos", argumentou o presidente francês.
Ele tentou amenizar o anúncio, insistindo não ter abandonado seu projeto de campanha de promover o crescimento e indicou que vai gerar 100 mil postos de trabalho até o fim do ano.
"Estou fixando uma agenda para a recuperação da França: dois anos", disse. O projeto de Hollande foi ontem mesmo acusado pela oposição de "amadorismo" e de ser "impotente".
Pelo plano, a França terá de cortar 30 bilhões para estar dentro do teto de déficit determinado pela UE, de 3% do PIB. Para um político que baseou sua campanha eleitoral na crítica contra a austeridade proposta pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy, os anúncios de ontem revelam um chefe de Estado que teria sucumbido à pressão pelo rigor fiscal.
Agências de classificação de risco chegaram a alertar para a situação da França e o próprio Hollande admitiu que o custo de financiar a dívida poderia começar a ser elevado.
Agora, dois terços desse ajuste serão gerados pelo aumento de impostos. Já os 10 bilhões que terão de desaparecer das contas públicas virão de cortes drásticos. Segundo ele, apenas três ministérios serão poupados: Educação, Defesa e Justiça. Na conta geral, o presidente garante que nenhum centavo a mais será gasto pelo Estado em 2013, em comparação a 2012. Fica estabelecido que nenhum funcionário público extra será contratado.
Patriotas. Outro pilar do ajuste é o aumento de impostos para grandes empresas, o que permitiria a arrecadação de outros 10 bilhões. Para completar, Hollande desmentiu rumores e garantiu que vai aplicar um imposto de 75% sobre aqueles com renda acima de 1 milhão/ano. Segundo ele, entre 2 mil e 3 mil pessoas seriam afetadas e ninguém ficará de fora, nem esportistas nem artistas.
Hollande não deixou de criticar a decisão do homem mais rico da França, Bernard Arnault, de pedir a cidadania belga. A oposição a Hollande indicou que a decisão de Arnault seria consequência dos novos impostos. O dono da maior fortuna da Europa e quarta do mundo garantiu ontem que continuará a pagar impostos na França "como todos os franceses".
A declaração não foi suficiente para acalmar a ira no país. "Ele deveria ter medido melhor sua decisão, já que muitos agora pensam em abandonar a França", declarou Hollande. "Os que têm mais devem mostrar que são patriotas e dar o exemplo", disse.
Mas não são apenas os milionários que pagarão mais pelos novos planos. Aqueles com renda acima de 150 mil por ano também terão de pagar 45% em impostos, algo que promete afetar a classe média.
Hollande reconheceu que as taxas de crescimento previstas para o país fazem parte do passado. A expansão do PIB para 2012 de 0,3% foi revista para baixo. "O crescimento desabou nos últimos meses e será pouco superior a zero em 2012", disse. Para 2013, a situação não é muito melhor e está prevista alta de 0,8%.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Sr. PRA,
Esta política não estaria de acordo com os princípios socialistas do Presidente? Digo: o governo buscará 2/3 do orçamento necessário pressionando o setor privado e a população em geral e os mais ricos, em particular. Apenas 1/3 do necessário para a meta de déficit de 3% do PIB viria da redução dos gastos do Estado.
Ao fim da crise, um dia ela passará, novos impostos terão sido criados e dificilmente serão revogados; o Estado sairá da crise com um peso na economia ainda mais alto do que quando nela entrou.
Ao fim, mais impostos serão pagos, o Estado não terá diminuído seu tamanho, a populacão e empresas estarão ainda mais estrangulados com impostos, o país continuará deficitário - a meta é déficit de 3% do PIB, não sua redução...
O Sr. Acredita que esta política trará mais benefícios ou prejuízos a França?
Obrigado. Parabéns pelo Blog.
G Stein

Paulo Roberto de Almeida disse...

G Stein,
O lado positivo pode ser a reduçao do déficit orçamentario e da divida pública, mas como no Brasil, isso se faz mais pelo aumento da tributacao do que pela redução das despesas.
E voce tem inteiramente razao quanto ao resultado final: um Estado balofo, com baixa produtividade no setor privado, pela redução dos investimentos produtivos.
Paulo Roberto de Almeida