O assunto é antigo, e já tinha sido veiculado aqui por minha própria iniciativa.
Vejam aqui.
A Unesp de Marília está fazendo concurso para um novo professor de Ciência Política I e II.
O edital está aqui:
http://www.marilia.unesp.br/Modulos/Editais/pdfs/Edital-151-2013.pdf
Este é o programa aprovado para o concurso:
1. O movimento operário e a democratização liberal
2. A sociedade de massas e a democracia como seleção de dirigentes
3. Intelectuais e planejamento democrático
4. A teoria do totalitarismo
5. A democracia como expressão de conflito de interesses
6. As teorias neo-contratualistas da democracia
7. O marxismo da Internacional Comunista
8. O marxismo da Escola de Frankfurt
9. Teorias do Estado capitalista
10. Teorias da democracia e do Direito no marxismo
11. Marxismo, crise e transição socialista
Como se pode constatar, eles não querem um professor de Ciência Política, mas um de "marquissismo"; de preferência algum companheiro que já esteja previamente selecionado. (Atenção, este é um chute, ou minha opinião, e tenho o direito de expressá-la.)
Como eu achei estranho, tanto o programa quanto a bibliografia -- onde constam títulos em italiano de livros que já foram publicados em Português, como comentei aqui --, escrevi, em 20 de Julho de 2013, para a Faculdade, para saber se eles estavam de acordo com um concurso assim tão, tão, como diremos?, tão direcionado...
A Ouvidoria da Universidade, muito gentilmente, me respondeu o seguinte no dia 22 de julho:
"Encaminho seu email ao Departamento de Ciência Política, caso considerem pertinente comentar o assunto."
No dia 6 de agosto, nova nota da Ouvidoria, nos seguintes termos:
"Senhor Paulo,
Tendo encaminhado seu email ao Departamento, recebemos a seguinte nota do vice-chefe departamental, a qual repasso para seu conhecimento:
" [...] os critérios adotados para concurso em uma dada área do conhecimento é discutida e proposta pelos membros da área, que no caso é a de Política. Como o conjunto desses professores que é composto por doutores, livre docentes e titular julga pertinente uma dada bibliografia e um certo conjunto de temas a serem abordados em um dado concurso, a posição do conjunto do departamento é a de referendar o que se é proposto. Além disso, o departamento preza pela liberdade de posicionamento frente a uma dada filosofia e/ou ideologia científica, e que fatalmente irá direcionar a bibliografia e o conjunto de temas, o que não consideramos isso uma falta acadêmica, e sim uma transparência nos modos de agir e pensar daqueles que integram o DCPE. Assim, irei incluir a nota da ouvidoria na próxima reunião departamental para que a mesma seja discutida amplamente, e se julgarmos oportuno daremos uma resposta".
Assim, considero que apesar de opiniões opostas, o senhor teve a atenção às suas colocações sobre o assunto.
Cordialmente
[Professor responsável]
Ouvidora da FFC"
Fiquei um pouco chocado com o Português da resposta do vice-chefe departamental -- "os critérios adotados para concurso em uma dada área do conhecimento é discutida e proposta pelos membros da área" -- mas entendo que o professor encarregado estava encarregado de altas questões de "liberdade de posicionamento", não de baixas questões de correção gramatical. Também achei estranho a falta de lógica do conjunto do departamento referendar o que se é proposto, sobretudo o "fatalmente" no direcionamento da bibliografia, e por aí segue o Português arrevesado do vice-chefe departamental. Ele ainda confunde a nota da Ouvidoria com a minha surpresa... Passons...
Enfim, eles fizeram a tal reunião prevista, e veio a resposta previsível, em 15 de agosto, que transcrevo a seguir:
"O Departamento de Ciências Políticas e Econômicas reunido em 13/08/2013 discutiu a manifestação do Sr. Paulo Roberto de Almeida encaminhado a este Departamento pela Ouvidoria e se manifesta com a seguinte nota:
"Consideramos a manifestação do Sr. Paulo Roberto de Almeida como uma opinião, e como opinião deve ser tratada. Ressaltamos que os concursos do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas são pautados pela
transparência, pela lisura e pela legalidade e o concurso em tela não é exceção".
Atenciosamente,
Dr. Paulo Eduardo Teixeira
Vice-Chefe do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas"
Comento: PRA:
Como é minha opinião, permito-me externá-la novamente.
Considero uma vergonha que um Departamento de Ciência Política promova um concurso para Professor para duas matérias dessa área e que o programa oferecido e a bibliografia exigida sejam os que constam do Edital.
Para refrescar a memória, transcrevi acima, novamente, o programa, que pode até se pautar pela transparência, mas certamente não pela lisura e muito menos pela legalidade, uma vez que circunscreve todo o universo da Ciência Política a um ajuntamento de "opiniões" deformadas pela ideologia de quem formulou o edital e sobretudo porque lista uma série de livros totalmente irrelevantes, ou marginais, para o estudo do núcleo programático que deveria integrar qualquer programa decente de Ciência Política.
Como eu fiz a sugestão desde o início, melhor chamar essa coisa de "concurso para professores de 'marquissismo' I e II".
Coonestando com esse bando de iluminados, a Unesp perde em credibilidade, em lisura e em respeitabilidade. Perdem os alunos, perde o estado de São Paulo, perde o Brasil.
De fato, é uma vergonha que um concurso desse tipo possa ser feito por uma instituição que se considere séria.
Como disseram os professores do Departamento, se trata de uma opinião.
Minha opinião é a de que eles estão abusando dos alunos, conspurcando a Universidade e desmerecendo o salário que recebem do setor público (aliás, pago por todos nós).
Paulo Roberto de Almeida
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