A finada Alca e a ‘nova’
geografia comercial dos companheiros:
diálogo (em 2003) com um ex-professor
Paulo Roberto de Almeida
Em meados de 2003, engajei um diálogo sobre a Alca com
um ex-professor meu (no curso de ciências sociais da FFLCH da USP, que tinha
iniciado em 1969 e deixado um ano depois), a propósito de um artigo que ele
havia recém publicado numa revista acadêmica. A eventual constituição da Alca estava,
então, em curso, sendo que o Brasil e os Estados Unidos presidiam as
negociações no que seria a derradeira fase do processo negociador, preparatório
à assinatura de um acordo hemisférico, previsto para 2005. O processo tinha
sido iniciada na primeira Cúpula das Américas, realizada em Miami, em dezembro
de 1994, com a presença do presidente Itamar Franco, acompanhado de Fernando
Henrique Cardoso, presidente eleito pouco antes, sendo que o chanceler que
aceitou todo o processo era o mesmo diplomata que passou a exercer novamente o
cargo a partir do governo Lula, em 2003.
Infelizmente, esse diálogo nunca prosperou, e meus
argumentos em resposta ao seu artigo jamais foram publicados (nem era essa a intenção
inicial). Como acabo de ler uma matéria, na Economist,
a propósito dos 20 anos do Nafta, e como estou revisando listas antigas de
trabalhos, encontrei esse trabalho, até hoje inédito: resolvi retomar esse
texto para ver o que dele seria ainda válido, no contexto dos debates atuais
sobre acordos de comércio, em vista inclusive dos problemas brasileiros de
inserção internacional. Esse professor já faleceu, e não pretendo revelar o seu
nome, ou reproduzir o seu artigo, uma vez que o que me interessa são as ideias,
os argumentos, não exatamente quem os formula, ele ou eu. O debate ganha em ser
objetivo, evitando-se qualquer personalização, como aliás frequentemente ocorre
no Brasil atual.
Esse professor perguntava, em seu artigo, a quem
interessava a Alca, e, obviamente, como a imensa maioria dos acadêmicos, dos
sindicalistas, dos políticos ditos progressistas e dos movimentos ditos sociais
(mas dominados por grupos de esquerda), respondia não só pela negativa, como
apontava exclusivamente o que lhe pareciam ser os elementos prejudiciais de um
eventual acordo hemisférico de liberalização comercial. Li o artigo com atenção
e, sem pretender responder publicamente, encaminhei-lhe uma longa resposta em
forma de carta, que nunca teve resposta. Fiquei aguardando, e depois, mesmo que
o assunto não tenha morrido (ao contrário, ele continuou na agenda durante dois
anos mais, até que a Alca fosse implodida pelos companheiros), deixei o
material de lado, pois já tinha muitos outros temos no meu pipeline carregado
de trabalhos. Ao encontrar esse trabalho, como registrei acima, pretendo fazer
dele uma reflexão sobre os tempos atuais, não mais de Alca, mas ainda de Nafta,
ou de acordos regionais de comércio em geral, sendo que o Brasil e o Mercosul
participam muito pouco dessas conformações do comércio internacional atual.
Mais do que isso. Desde a ascensão ao poder dos
companheiros, eles passaram a cantar em prosa e verso as vantagens de uma tal
de “nova geografia do comércio mundial”, que seria simplesmente o redirecionamento
do comércio exterior brasileiro para os chamados países do Sul. Nunca se
perguntaram se haveria reciprocidade (o que, manifestamente, não houve), mas o
presidente Lula por diversas vezes justificou sua “escolha” (ele parecia não se
lembrar que quem exporta são os empresários, não o seu governo), dizendo que o
Brasil não poderia ficar “dependente” do comércio com os “países ricos”, como
se houvesse qualquer incompatibilidade, ou exclusão, entre um comércio exterior
multidirecional e um discriminando entre parceiros. Considero tal tipo de
argumento apenas revelador de uma tremenda ignorância sobre como funciona o
comércio internacional, e uma prevalência da ideologia sobre a realidade, mas
já escrevi muito sobre isso em outros trabalhos. Volto portanto ao meu artigo
de 2003 sobre a Alca e seus possíveis ensinamentos para os tempos atuais.
Limito-me a transcrever o artigo, suprimindo (...) o que era puramente
circunstancial ou anódino, sem interesse para o contexto atual, e agregando
[...] algumas poucas notas esclarecedoras, como requerido para uma melhor
compreensão do texto.
A quem interessa a ALCA?: uma tentativa de resposta
Paulo
Roberto de Almeida
Washington,
5 de julho de 2003
Como todo o apreço e a apreciação acadêmica,
Paulo Roberto de Almeida
Washington, 5 de julho de 2003
Revisto: Hartford, 26 de janeiro de 2014.
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