Por que Dilma vai a Davos
Autoridades de velhas potências, como Estados Unidos, França e Alemanha, e de emergentes de peso e de muito respeito, como México e Chile, batem ponto regularmente no centro de congressos da cidade. Neste ano, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe; o presidente do Irã, Hassan Rouhani; e o presidente do México, Enrique Peña Nieto, estão entre os participantes.
No ano passado só um funcionário brasileiro de primeiro escalão apareceu em Davos. Foi o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota. Convidada, a presidente Dilma Rousseff recusou-se a valorizar o evento com sua presença. O ministro da Fazenda também preferiu ficar longe da reunião. O Fórum de Davos, disse na ocasião o chanceler Patriota a dois jornalistas brasileiros, é procurado por pessoas interessadas em ganhar projeção. Não seria esse o caso da presidente brasileira e de sua equipe econômica.
No dia anterior, em Davos, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, havia conversado com jornalistas de várias nacionalidades. Devia estar, segundo a teoria das autoridades brasileiras, em busca de promoção pessoal. Esse devia ser o caso também de seu colega Ron Kirk, principal negociador comercial americano e equivalente, nessa função, ao ministro brasileiro de Relações Exteriores.
Geithner deixou o governo há alguns meses. Mas seu sucessor, Jack Lew, está, neste ano, entre as autoridades esperadas para os eventos do Fórum. A reunião é também frequentada por figuras como o presidente do Banco Central Europeu e dirigentes de entidades como o FMI e a OMC.
Alguma novidade muito importante deve ter motivado a presidente Dilma Rousseff a aparecer em Davos com sua comitiva. Não deve ser apenas a mudança no cenário mundial, um tanto mais luminoso que nos últimos anos. Em toda reunião do Fórum há discussões sobre o estado e as perspectivas da economia global, sempre com a participação de acadêmicos, empresários e políticos importantes. Neste momento, as perspectivas para a maior parte do mundo são melhores que as do começo de 2013. As do Brasil, nem tanto. Deve estar aí o motivo mais forte para a presidente confraternizar com os frequentadores de Davos.
A melhora do quadro mundial abre a perspectiva de mais comércio, mais produção e mais prosperidade para a maioria dos países, mas prenuncia também alguns perigos. Com a recuperação da economia americana, o Federal Reserve (Fed) começa a reduzir os estímulos monetários para a recuperação econômica. Não se espera um aperto, mas apenas uma redução gradual do dinheiro emitido para estimular os negócios. Essa mudança envolve riscos para alguns países.
O Brasil é um dos menos preparados para a mudança da política monetária americana. Suas contas externas estão mais fracas do que há alguns anos e sua economia, menos atrativa para capitais estrangeiros. Além disso, o crescimento econômico projetado é medíocre, a inflação é elevada, as contas públicas estão mais frágeis e a credibilidade do governo despencou. O risco de rebaixamento pelas agências de classificação de risco é tangível.
Esse quadro ruim ajuda a entender a decisão presidencial de se misturar com a multidão de empresários, banqueiros, funcionários internacionais e líderes políticos de todo o mundo. Seu programa em Davos inclui um pronunciamento numa sessão especial. Conseguirá a presidente resistir à inclinação de dar lições ao mundo?
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