Pois o Brasil é afetado pela mesma doença em sua difícil travessia para a democracia de qualidade. O escorbuto do Brasil se chama lulo-petismo, e é uma enfermidade que se espera temporária e extinguível, de preferência definitivamente.
Esta comparação entre antipetismo e antissemitismo é moralmente abjeta e politicamente deplorável, e deve ser absolutamente rejeitada, como faz este conhecido jornalista.
Paulo Roberto de Almeida
Reinaldo Azevedo, 09/07/2015
às 6:43Vídeo esquerdista associa o antipetismo ao antissemitismo. Judeus do Brasil e de todo o mundo, levantem sua voz contra essa vergonha
Circula na Internet um troço asqueroso — oriundo daqueles blogs chamados “sujos”, que nada mais são do que extensões do PT — que associa o crescente repúdio da sociedade ao partido à perseguição sofrida pelos judeus na Alemanha nazista. O vídeo está abaixo. Volto em seguida.
A primeira imagem que aparece na tela já é de uma notável delinquência intelectual. Está lá: “Os petistas, os judeus… e o nazismo, o que ele têm em comum?”
Mesmo para os propósitos asquerosos da peça, a pergunta é energúmena. Houvesse alguma lógica no lixo moral, indagar-se-ia outra coisa: “O antipetismo, o antissemitismo e o nazismo, o que eles têm em comum?”.
E, em qualquer caso, a resposta seria “nada”. Comparar qualquer coisa ao nazismo raramente resulta em pensamento que preste. É o caso de lembrar a “Lei de Godwin”, referência a uma afirmação do advogado Mike Godwin: “À medida que se exacerba um debate online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou o nazismo aproxima-se de 1” — ou seja, de 100%. Acontecerá. Portanto, de saída, associações dessa natureza já se descredenciam.
A menos, claro, que as similaridades sejam realmente apontadas, factualmente indicadas, que não se fique apenas na retórica oca. E, é claro, isso o vídeo petista não faz porque é impossível.
Notem: o nazismo era uma corrente de militância que nasceu antissemita — e, no caso, pouco importava o que os judeus fizessem ou deixassem de fazer. Os nazistas resolveram apontar o “mal” que eles causariam à Alemanha partindo do princípio de que agiram do mesmo modo história e mundo afora porque conspiradores pela própria natureza. A loucura antissemita havia atingido o estado da arte no fim do século 19 com o surgimento, na Rússia czarista, dos “Protocolos dos Sábios de Sião”, um suposto plano de judeus e maçons para dominar o mundo.
O antissemitismo, à diferença do antipetismo, não se sustenta em uma base objetiva de dados. Os judeus carregriamam o mal porque judeus, e, se são judeus, só podem ser maus. E ponto. É preconceito na sua acepção mais original, primitiva. Se uma máquina de guerra chega ao poder num país tendo o ódio aos judeus como um pilar, as consequências são aquelas conhecidas.
Preconceito contra o PT? Como assim? O partido elegeu quatro vezes o presidente da República. Trata-se da legenda com o maior número de filiados do país. O Brasil votou majoritariamente num ex-operário — repudiando o preconceito de classe — e numa mulher, repudiando o preconceito de gênero. Criou-se, em torno de Lula, ao contrário do que vai naquela peça lamentável, uma esfera de preconceito positivo: passou-se a cultivar a imagem de um homem naturalmente sábio, que já teria vindo ao mundo com a memória da humanidade; que não precisaria nem se entregar ao luxo de estudar.
Os judeus não assaltaram os cofres da Alemanha.
Os judeus não assaltaram as empresas públicas.
Os judeus não conduziram a Alemanha à ruína econômica.
Os judeus não se colocavam como a fonte única da virtude.
Os judeus não procuraram ser a única força da qual poderia emanar o bem possível.
Se, hoje, em número crescente, brasileiros identificam o PT com o roubo e com a bandalheira, é porque petistas, no poder, se entregaram ao roubo e à bandalheira. Judeus não saíram na Alemanha hitlerista a acusar adversários depois de flagrados metendo a mão no dinheiro público — até porque isso não aconteceu.
O antipetismo que está nas ruas não nasce de um preconceito, mas de uma constatação. Não se repudia exatamente o petista, mas o partido. Embora, na maioria das vezes, um petista saiba o que significa o petismo.
À diferença do que está no vídeo, ademais, ninguém acusa o PT de deter o monopólio do roubo. Ao contrário: o que se cobra é onde está aquele partido que dizia ter o monopólio da virtude.
Não se esgota aí a vigarice intelectual do vídeo. Quem discrimina um judeu por seu judeu, um gay por ser gay, um negro por ser negro, um branco por ser branco, um hétero por hétero (e por aí afora…) está, na prática pedindo a exclusão do mundo não apenas do objeto particular de seu repúdio, mas de todos os que exibem aquele mesmo “defeito” original. Não se pode escolher ser judeu, gay, negro, hétero…
Mas se pode, sim, escolher ser petista ou não. Que eu saiba, não se trata de um etnia, de uma raça, da qual não se possa abrir mão, ainda que alguém eventualmente quisesse.
O petismo é tão-somente a escolha de um partido e da forma como se entende a política. Nada mais. O mesmo vale para qualquer outra legenda.
É estupefaciente que se comparem os militantes de uma máquina de assalto ao poder com os judeus perseguidos na Alemanha. É, além de tudo, ofensivo. Quantos petistas irão para a câmara de gás? Quanto serão fuzilados sem defesa? Quando serão enterrados em vala comum? Quantos terão confiscados seus bens?
Judeus do Brasil e de todo o mundo, com essa peça publicitária, essa gente, definitivamente, passou dos limites. Até porque, fosse o caso de comparar, o que o tal vídeo fala sobre a imprensa remete às palavras de Goebbels, ministro da propaganda nazista, num comício de 10 de fevereiro de 1933, 11 dias depois de Hitler se tornar chanceler. O vídeo segue abaixo. A tradução do que ele disse está aqui:
Encerro
O PT, felizmente, ainda não virou nem uma raça nem uma condição humana. Trata-se apenas de um partido que produziu alguns desastres no Brasil. E, por isso, é alvo da crítica de muita gente.
Judeus do Brasil e de todo mundo, repudiem a associação indecorosa que empresta ao antipetismo a importância que não tem e retira do holocausto judaico a importância que tem.
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