Em meados de outubro, quando se comemora mais um dia do Professor, não vou poder, provavelmente, estar disponível para fazer mais uma homenagem a meus colegas de "profissão", de "emprego", de "ocupação", ou de simples atividade (remunerativa, como é o caso da maior parte deles, no meu caso simplesmente prazeirosa, pois a tenho como opção, não como obrigação ou necessidade).
Vou estar preparando minha mudança para o Brasil, para voltar a exercer atividades professorais, digamos assim, e portanto não vou poder ficar escrevendo tanto quanto faço normalmente.
Antecipo-me, portanto, à data, e posto, preventivamente, um texto que havia feito em 2009 que se dedicava, no caso, a prestar homenagem aos alunos, que são os que legitimam, explicam, fundamental a atividade de todo professor, por opção ou por obrigação.
Reproduzo, portanto, o texto que segue.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 5 de setembro de 2015
Minha homenagem no dia do Professor
Paulo Roberto de Almeida
Neste
dia 15 de outubro, convencionalmente dedicado aos professores, desejo
prestar uma homenagem aos que se revelam essenciais às lides docentes:
os alunos. Sim, se não fossem os estudantes, os professores não teriam
razão de ser, não apenas pelo fato deles constituírem a “outra parte”
absolutamente indispensável à atividade dos professores, mas porque, sem
alunos inquisidores, o encargo docente seria incrivelmente aborrecido.
Minha homenagem, portanto, aos alunos, a todos eles, os meus e os de
todos os outros professores. Obrigado, alunos, por me permitir existir
como professor, o que faço por prazer, não por obrigação ou necessidade.
Tenho com a atividade docente uma antiga relação de
dedicação parcial, no tempo, mas integral, no espírito. Salvo um ou
outro romance, em volume bem mais rarefeito, todas as minhas leituras
são feitas – e anotadas – em função daquilo que eu posso transmitir a
meus alunos, diretos ou indiretos, oralmente ou por escrito, em contato
pessoal ou à distância. Estou sempre anotando alguma coisa, em alguns
dos meus muitos cadernos de notas, que servem para leituras, reflexões,
registros de viagens, contatos, enfim, uma variedade de objetivos.
Também estou sempre lendo algo, geralmente o que comprei no minuto
anterior: andando ou dirigindo, sempre dá para avançar alguns
parágrafos, talvez mesmo algumas páginas. Tudo isso é para ser revertido
em alguma aula ou algum escrito, que é também uma forma de aula, por
extensão.
Preferiria, claro, ter mais alunos perguntadores do que
ouvintes passivos, mas cada um deve decidir o que é melhor para si,
independentemente da vontade do professor. Este só existe para tentar
melhorar os estudantes, e estes só existem, se forem conscienciosos e
inquisitivos, para melhorar o professor. Alguns crêem que se trata de
uma relação assimétrica, mas para mim se trata de algo absolutamente
relacional, com conivências recíprocas, ainda que não isentas de
contradições. O aluno contestador ajuda o professor a ser responsável,
ajustar o foco, preparar suas aulas de forma responsável, a sempre fazer
a síntese de suas leituras, a expor claramente os seus argumentos, a
embasá-los de forma pertinente em elementos factuais ou empíricos
relevantes, sob risco de não convencer e não persuadir. O professor
precisa de alunos iconoclastas, que contestem as meias-verdades e as
afirmações puramente opinativas ou impressionistas.
Alguns são
chatos, é verdade, não por questionar o professor, mas por desprezar o
aprendizado, conversar ou ausentar-se de forma ostensiva no meio da
aula, não que isso represente uma ofensa absoluta ao professor, mas
porque perturba a aula pelo barulho do deslocamento, pela conversa
paralela, pelo zumbido intermitente da concorrência desleal. Muitas
vezes a culpa é do próprio professor, que não soube tornar a sua aula
suficientemente atraente para motivar e capturar a atenção dos alunos.
Aqui também se trata da lei da oferta e da procura num mercado pouco
transparente: o aluno “compra” aquilo que lhe parece de boa qualidade e
suscetível de oferecer algum prazer intelectual e se a aula é chata e
pouco vinculada às realidades cotidianas, merece o desapreço e
desatenção que lhe dedicam os alunos.
São os alunos, portanto,
que fazem um bom professor, ainda que as qualidades deste também
dependam de seu investimento preliminar no estudo e na leitura, sua
acumulação primitiva de conhecimentos e informações, tudo isso
apresentado com alguma pedagogia atrativa. De minha parte, não tenho
reclamações de meus alunos, apenas motivo de satisfação. Sinto que estou
contribuindo, ainda que modestamente, para o seu enriquecimento
intelectual e, quiçá, para a elevação de seus padrões morais. Algumas
sementes só vão frutificar alguns anos à frente, mas isso não importa
para o professor, se ele tem certeza de que fez corretamente o seu
trabalho docente.
Por tudo isso, só tenho a agradecer sinceramente
aos meus alunos e prestar-lhes, neste dia, uma merecida homenagem por
permitir-me ser um simples professor.
Cheers...
Brasília, 15 de outubro de 2009
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