Nada como acompanhar a realidade em sua lenta evolução para o desastre, e nada como relembrar como tudo foi sendo montado, com base em muita arrogância, e também, por que não dizer?, em muita estupidez econômica, típica dos Aedes Unicampi, aqueles keynesianos de botequim que não só nunca aprenderam economia, mas também se recusam a aprender com a experiência.
Reproduzo a partir de meus arquivos implacáveis os primeiros passos daquilo que eu chamo de Grande Destruição.
Quem estiver interessado em saber minha opinião, leia este trabalho:
“The Great Destruction in Brazil: How to
Downgrade an Entire Country in Less Than Four Years”, Mundorama (n. 102, 1/02/2016,
ISSN: 2175-2052; link: http://www.mundorama.net/2016/02/01/the-great-destruction-in-brazil-how-to-downgrade-an-entire-country-in-less-than-four-years-by-paulo-roberto-de-almeida/); disseminado no
Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1079351252128324).
Paulo Roberto de Almeida
As lições de Tia Dilma
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 21 de novembro de 2012
A
presidente Dilma Rousseff aproveitou a viagem à Espanha para oferecer
aos governantes europeus, mais uma vez, lições de política econômica.
Nenhuma autoridade local perguntou à visitante por que a economia
brasileira deve crescer tão pouco neste ano - talvez nem 2% -, depois do
fiasco dos 2,7% em 2011. Enquanto ela completava suas lições e propunha
maior autonomia para o Banco Central Europeu, em Brasília a ministra do
Planejamento, Miriam Belchior, divulgava mais um constrangedor balanço
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Desde o início do
governo até setembro, foram aplicados R$ 385,9 bilhões em "obras de
infraestrutura logística, social e urbana", segundo os dados oficiais.
Mas esse valor inclui R$ 154,9 bilhões de financiamentos habitacionais e
de subsídios ao programa Minha Casa Minha Vida. Esses financiamentos
correspondem a 40,1% do total contado como investimento. Faltou a
presidente explicar aos europeus se essa forma de contabilidade é parte
do pragmatismo por ela defendido durante a cúpula ibero-americana. Ou
dizer se é pragmático tentar impor sem conversa prévia os contratos de
renovação de concessões às companhias do setor elétrico. A depreciação
das ações da Eletrobrás, R$ 7,9 bilhões de 11 de setembro a 19 de
novembro, parece indicar uma resposta negativa.
Em seus comentários
mais sensatos, a presidente defendeu uma combinação de austeridade e
crescimento como a fórmula mais eficiente para o ajuste europeu. A
arrumação fiscal, ponderou, será muito mais difícil, penosa e pouco
frutífera, se depender apenas do corte de gastos e do aumento de
impostos. Mas esse comentário foi mera repetição do discurso apresentado
muitas vezes por dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), por
economistas de várias nacionalidades e por alguns governantes europeus.
Sem acrescentar a mínima novidade em relação a esse ponto, a presidente
permitiu-se, no entanto, reescrever a história econômica à sua maneira.
Para reforçar sua argumentação, citou a experiência latino-americana
dos anos 80 e 90, quando os governos do Brasil e de outros países foram,
segundo o seu relato, orientados pelo FMI a adotar políticas de ajuste
sem espaço para crescimento.
Essa versão é popular, mas a história é
um pouco mais complicada e inclui detalhes mais instrutivos. Dezenas de
países afundaram na crise da dívida externa, nos anos 80. O drama
começou quando o Federal Reserve, o banco central americano, iniciou um
drástico aumento de juros em 1979. O desastre generalizou-se em 1982,
mas vários países entraram em apuros bem antes disso. A renegociação das
dívidas foi vinculada a duros programas de ajuste, jamais cumpridos
integralmente por alguns governos, incluído o brasileiro.
O programa
inicial de ajuste adotado no Chile foi reformado e substituído, com bons
resultados, depois de algum tempo. O governo coreano iniciou a
arrumação em 1979. O país entrou em recessão em 1980 e em seguida voltou
a crescer velozmente, com déficit fiscal reduzido, grande aumento de
exportações e investimentos sempre superiores a 30% do PIB. Chile e
Coreia saíram da crise com as contas públicas em ordem, inflação baixa e
medidas fundamentais para competir e crescer.
Falta algo, portanto,
na versão popular, repetida pela presidente Dilma Rousseff, da história
da crise e dos ajustes dos anos 80. Falta explicar por que alguns países
- Coreia e Chile são apenas dois dos exemplos mais notáveis - emergiram
da fase de provação muito mais fortes do que antes. Outras economias da
Ásia atingidas pela crise da dívida também se tornaram mais eficientes a
partir da segunda metade dos anos 80. A maior parte dos países
latino-americanos ficou para trás porque os governos foram incapazes,
por muito tempo, de abandonar velhos vícios e de favorecer a eficiência.
Não se deve atribuir esse atraso a algum excesso de austeridade, mas à
insistência na prática de contemporizar em vez de enfrentar os
problemas.
Quando os governantes se dispuseram, afinal, a adotar
reformas e políticas sustentáveis, as contas públicas melhoraram, a
inflação caiu, as contas externas se tornaram superavitárias e as
reservas cresceram. Por essas mudanças, e nada mais, as ações de socorro
do FMI à América Latina foram bem menos frequentes nos primeiros anos
deste século do que nas três ou quatro décadas anteriores.
Nenhuma
dessas conquistas é irreversível. Em alguns países, o grande risco é a
tentação do populismo. No Brasil, a tentação mais perigosa é a dos
controles autoritários. A intervenção nos preços dos combustíveis, as
pressões para corte de juros, o jogo perigoso de tolerância à inflação e
as trapalhadas na política do setor elétrico são elementos desse
quadro. O atraso nos projetos da Petrobrás é uma das consequências. A
presidente seria provavelmente menos propensa a dar lições se pensasse
um pouco mais sobre esses fatos.
* JORNALISTA
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.