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sexta-feira, 5 de abril de 2019

A nova Guerra Fria Econômica: retomada e respostas a questoes, nove anos depois - Paulo Roberto de Almeida

Incrível como a gente pode permanecer distraído durante anos e anos. Preciso, antes de mais nada, apresentar minhas humildes desculpas aos três perguntadores, de oito anos atrás, mas o fato é que eu nunca fui avisado das questões apresentadas e, assim, nunca pude responder a eles. Mil perdões: Alex Neves, Bruno e Senna Madureira.
Nem sei se aceitariam, agora, respostas tardias às questões apresentadas, já que pelo menos dois já podem ter abandonado este espaço de Mundorama, por outras terras e "profissões", que não aquelas temporárias de estudantes de RI. Quanto ao terceiro, Senna Madureira, permanece no cenário e fiel leitor de meus anárquicos escritos. Minhas desculpas especiais a ele, mas peço a compreensão: como estou sempre escrevendo, e publicando, os textos vão se acumulando, e outros vão se apresentando, com alguns ficando para trás e invariavelmente submergindo na enxurrada de novos escritos e novas publicações. Essa é a maldição dos "drogados na escrita", como eu sou, para deleite de alguns e desprazer de outros, como podem ser os frustrados leitores que enviaram suas perguntas para o site de Mundorama, esperando receber prontas respostas que nunca chegaram.
Pois vão chegar agora, pois, depois de postar novamente o meu artigo (na verdade, feito inicialmente em inglês um ano antes, ou seja, em 2010), publicado em português em Mundorama em 2011.
Essa repostagem vai me permitir inclusive verificar se as ideias principais do meu artigo ainda mantêm a sua validade, ou se já soçobraram no dilúvio de novos desenvolvimentos nas relações internacionais, com novos líderes na China, na Europa, nas Américas, sobretudo nos EUA, onde um despreparado, ignorante e... (bem, deixa para lá...) presidente, está empenhado em destruir tudo aquilo que o seu país fez em favor de uma ordem econômica internacional desde Bretton Woods.
Vou postar abaixo exatamente o que retirei de Mundorama, e ao final vou me dedicar a responder às perguntas de meus três leitores, aos quais apresento novamente minhas desculpas. O link para a publicação é este aqui: http://www.mundorama.net/?p=7197.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de março de 2019

A Guerra Fria Econômica: um cenário de transição?, por Paulo Roberto de Almeida

A Guerra Fria geopolítica está encerrada definitivamente, ao que parece. A despeito de tensões políticas “normais” e fricções comerciais entre as grandes potências, não existem mais concepções totalmente opostas sobre como organizar o mundo, economicamente ou politicamente. Ninguém mais está dizendo algo semelhante a “nós vamos enterrar vocês”, como ocorreu no passado com um líder soviético. Daniel Bell, recentemente falecido, já tinha antecipado, desde meados dos anos 1950, o “fim das ideologias”, julgamento de certa medida confirmado por Francis Fukuyama. Mas, no que depender de gente como Eric Hobsbawm, e de inocentes úteis desse tipo, as ideologias ainda têm um brilhante futuro pela frente…
O que estamos assistindo agora, na verdade, é uma Guerra Fria econômica, ou algo próximo disso. De fato, não parece haver nada capaz de provocar uma confrontação em grande escala entre as maiores potências. O que temos, na presente conjuntura, são fricções comerciais e desalinhamentos monetários, num cenário de ajustes pós-crise. Existem disputas políticas sobre como as políticas econômicas nacionais devem levar em consideração seus impactos sobre a situação econômica de outros países. Como Mark Twain poderia ter argumentado, os rumores sobre uma guerra cambial global são grandemente exagerados. É certo que ainda não superamos totalmente a presente crise financeira; mas ela é apenas uma, dentre muitas outras, que afetam mercados dinâmicos de forma recorrente desde o começo do capitalismo. Profetas da crise final do capitalismo e outros utopistas do gênero vão novamente se sentir frustrados dentro de alguns meses (sem reconhecer o fato, claro).
Existem muitas concepções errôneas sobre as origens e o desenvolvimento da crise atual, várias delas propagadas pelos mesmos utopistas conhecidos. Não é exatamente verdade que esta crise tenha sido provocada pela desregulação dos mercados financeiros, ainda que a regulação flexível, ou mal implementada, possa ter facilitado a expansão de várias bolhas nos mercados. O maior responsável pela bolha que provocou o desastre, porém, foram as baixas taxas de juros definidas pelos bancos centrais, a começar pelo Federal Reserve, durante um período muito longo. Da mesma maneira, mas talvez por meios e instrumentos um pouco diferentes, que os velhos Lords of Finance dos anos 1920 criaram as condições que levaram à crise de 1929 e à depressão dos anos 1930, pela sua ação ou inação, a presente crise é o resultado de políticas inadequadas dos novos Lords of Finance (ver o livro de Liaquat Ahamed, Lords of Finance: the Bankers who Broke the World; New York: Penguin, 2009.)
Tampouco é verdade que a crise atual, ou as crises – já que são várias, interconectadas – são suficientemente severas para justificar o programa, que muitos recomendam, de um novo Bretton Woods, ou seja, um redesenho completo das relações econômicas mundiais, com a restruturação das organizações existentes. Menções a uma nova arquitetura financeira internacional, ou mesmo de redistribuição do poder econômico mundial, estão em contradição com as realidades mais prosaicas dos nossos dias. Comentaristas superficiais gostam de recorrer a grandes analogias históricas – que em geral são falsas – para falar dos eventos correntes, mas o fato é que não estamos vivenciando nenhum grande ajuste posterior a alguma crise de proporções monumentais, como gostariam alguns. Vivemos, é certo, uma transição, mas não uma revolução, qualquer que seja o sentido que possamos dar a esses conceitos. Vejamos os precedentes.
Não estamos em face de um reordenamento radical e completo da ordem mundial, após algum evento cataclísmico, afetando todos e cada um dos grandes atores da cena internacional, ou mesmo regional. Não estamos em Vesfália, em 1648; não estamos em Viena em 1815; tampouco estamos em Paris ou Versalhes, em 1919, sequer em Bretton Woods em 1944, e muito menos em São Francisco, em 1945. Definitivamente, não estamos em nenhum momento de refundação fundamental da ordem política e econômica internacional. Simplesmente estamos, atualmente, no meio de algo semelhante aos anos 1930, tentando administrar uma grande crise por meio de respostas nacionais, cada uma delas adaptada a circunstâncias específicas de cada país, e desvinculada dos maiores desastres afetando os demais e cada um dos países envolvidos no processo.
Para ser mais preciso, estamos em algum ponto entre 1931 e 1933, ainda no meio de uma recessão, mas não numa depressão. O nível de desemprego não é tão alto quanto em 1933, e está provavelmente alinhado com os padrões dos nossos dias. Os fluxos comerciais e financeiros não foram tão desestruturados quanto nos anos 1930, ainda que a liberalização econômica tenha regredido: apenas revertemos a uma versão light do protecionismo comercial dos velhos tempos, mas sem cotas ou restrições quantitativas ao velho estilo.
Esta nova Guerra Fria Econômica emerge a partir de mudanças estruturais na economia mundial, já em curso desde os anos 1980, quando a China começou a flexionar os seus músculos novamente. Ao mesmo tempo, os países em desenvolvimento deixaram de implementar projetos nacionais, introvertidos, de desenvolvimento nacional e abriram-se aos investimentos estrangeiros. Desde então, o a economia mundial foi transformada irreversivelmente, embora gradualmente.
Mas nem tudo, obviamente, mudou. As principais instituições de tomada de decisões ainda continuam a ser o que sempre foram, com a mesma distribuição dos direitos de voto. O FMI e o Banco Mundial estão no meio de seus labores para definir uma nova repartição de votos, tendo já operado algumas acomodações. Os votos coletivos da China, da Índia e do Brasil é 20% menor do que os da Bélgica, dos Países Baixos e da Itália, a despeito do fato que o PIB conjunto do primeiros países é quatro vezes maior do que aquele de seus contrapartes europeus; eles têm uma população 29 vezes maior. Estas são algumas das razões para uma nova Guerra Fria econômica.
Como administrar estas novas realidades no terreno econômico, dispondo das mesmas alavancas políticas e das mesmas velhas estruturas de tomada de decisão como nos processos do passado? Esta é uma questão complicada, sem uma resposta clara ao dilema. Administrar a economia mundial é uma pretensão que mesmo o velho G7 nunca conseguiu alcançar nos seus tempos gloriosos. Os países desenvolvidos controlavam então uma grande proporção do PIB mundial e dos fluxos comerciais e financeiros. Mas eles nunca foram capazes de coordenar suas políticas macroeconômicas entre eles mesmos; menos ainda se poderia esperar que eles estabelecessem regras e metas para o resto do mundo.
Atualmente, com uma penosa queda nas economias avançadas, parece difícil visualizar o que poderia ser feito para restaurar o crescimento a partir de níveis próximos da estagnação em várias economias europeias. Além dos problemas cíclicos afetando as grandes economias (com as exceções da China, da Índia e de alguns outros países), existem vários desafios globais à frente, entre eles o da pobreza nos países menos avançados, e grandes decisões a serem tomadas em relação a questões ambientais, a violações dos direitos humanos em países não democráticos, e vários outros temas relevantes.
Uma estratégia singular poderia ser a definição de apenas uma grande meta global para a comunidade mundial: teria de ser a promoção do desenvolvimento global, não exatamente através da assistência (ou a tradicional Ajuda Oficial ao Desenvolvimento), mas prioritariamente através de uma real liberalização comercial, especialmente no setor agrícola, a única possibilidade efetiva para que os países menos avançados possam ser integrados à economia mundial. Os Estados Unidos e a União Europeia possuem, evidentemente, a maior responsabilidade nesse terreno.
É altamente improvável que propostas consensuais relativas ao desenvolvimento global possam emergir de um fórum tão amplo quanto o G20 financeiro, muito heterogêneo para ser capaz de alcançar posições comuns. Talvez fosse mais indicado lograr uma evolução informal do atual G8 para um novo G13, interrompendo o ciclo do atual G20 (o que talvez já seja difícil de se obter). Isso representaria agregar aos atuais membros do G8 outras cinco grandes economias, nomeadamente Brasil, China, Índia, África do Sul, e ou Indonésia ou México. A experiência demonstra que pequenos grupos informais estão mais próximos de se entenderam sobre ações concretas do que grandes órgãos institucionalizados que acabam dominados pela lerdeza burocrática e desentendimentos políticos.

Novas Perspectivas?

O que deve ser feito? O maior problema nessa modalidade organizacional de se ter um G20 diminuído seria o de como adquirir a legitimidade implícita ao ato de falar para toda a comunidade mundial partindo de um fórum de apenas 13 países. Para resolver essa limitação se necessitaria de um grau de confiança política entre os líderes desses 13 países, definindo um terreno de entendimentos recíprocos entre eles que teria de ser compatível com a função de representação mais ampla que eles pretenderiam assumir em nome de toda a comunidade de nações.
Encontrar terrenos comuns é uma tarefa dura de ser alcançada no estado atual das relações internacionais, caracterizada, como já se sublinhou, por uma guerra fria econômica típica das fases de transição. Parece ser bastante difícil de se lograr uma coordenação perfeita das agendas dos grandes países avançados e das economias emergentes e, mais ainda, entre eles todos e os demais membros das organizações internacionais que eles pretenderiam “substituir”. O mundo não é, simplesmente, tão globalizado como se requereria para alcançar esse tipo de interação. Disparidades de interesses, diferenças entre níveis de desenvolvimento, desequilíbrios entre os países, vários fatores se combinam para tornar praticamente impossível um exercício de coordenação desse tipo.
Uma proposta mais modesta poderia ser se obter uma interação mais frequente – uma vez ao ano – entre os líderes desse novo G13. Sherpas especialmente designados, encontrando-se duas vezes ao ano, poderiam ser mobiliados para discutir questões comerciais, assuntos ambientais, a proteção dos direitos humanos em países apresentando conflitos, missões de peace-keeping das Nações Unidas e outros temas do gênero, dotados de mandatos específicos de seus líderes políticos. Mas não se deve esperar pela ONU para organizar esse tipo de agenda. Já é difícil implementar qualquer coisa através da ONU, um órgão muito burocrático e passavelmente caótico. Melhor realizar a coordenação de agendas através das três mais importantes agências para a globalização contemporânea: o FMI, o Banco Mundial e a OMC.
A tarefa principal dos “novos sherpas” seria a de assegurar a coordenação econômica internacional em torno dos temas mais relevantes para a comunidade global. Uma sugestão possível seria tentar estabelecer um “global new deal”, um novo pacto mundial, intercambiando uma proteção extensiva aos investimentos e à riqueza proprietária (patentes e coisas do gênero), assim como outras condições apropriadas para o desenvolvimento da atividade produtiva no plano microeconômico, do lado dos países em desenvolvimento (ou recebedores de IDE), contra práticas de licenciamento extensivo e investimentos efetivos e liberalização comercial da parte dos países ricos e dos investidores privados. Esse tipo de pacto, ao ampliar os direitos proprietários para os ricos, poderia resultar no fortalecimento dos fluxos de investimentos financeiros e de comércio para os pobres, dando um grande impulso à globalização.
A assistência tradicional ao desenvolvimento, por ineficiente, deveria ser substituída, essencialmente, por um novo foco nas melhorias educacionais graduais, ou seja, um extenso programa para a qualificação de recursos humanos. A assistência, enquanto tal, deveria ser as limitada à implementação de um programa consistente de erradicação da maior parte das doenças infecciosas nos países africanos e em vários outras nações em desenvolvimento. A maior razão para a persistência da pobreza nesses países não é exatamente a falta de recursos, mas a ausência de governança e sua não-integração à economia mundial através de vínculos comerciais.
Considerando que questões de governança democrática e de proteção dos direitos humanos podem ser um desafio para países como a China, ou mesmo, talvez, para a Rússia, o alvo principal da agenda de um novo G13 poderia ser a adoção de altos padrões de governança pública na acepção técnica desta expressão. Na atual fase de guerra fria econômica pode ser precoce a tentativa de se fazer da governança democrática e do respeito pelos direitos humanos o critério decisivo para a cooperação bilateral ou multilateral. Mas estes devem ser os fins últimos de qualquer tipo governança global. Em última instância, a agenda de Fukuyama permanece atual e absolutamente necessária. Remeto, a propósito, ao meu artigo: “O Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?” (Meridiano 47, n. 114, janeiro 2010, p. 8-17; link: http://meridiano47.files.wordpress.com/2010/05/v11n1a03.pdf). Esse programa não tem nada a ver com o fim da história, e sim com o fim dos regimes autoritários e fechados economicamente. Se existe algum determinismo na História, este parece ser o único aceitável.
Paulo Roberto de Almeida é Doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1984); diplomata de carreira do serviço exterior brasileiro desde 1977; professor de Economia Política Internacional no Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário de Brasilia – Uniceub; autor de diversos livros de história diplomática e de relações internacionais (www.pralmeida.org – pralmeida@mac.com).
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  1. Gostaria de um esclarecimento do professor Paulo Roberto, se possível.
    O senhor é partidário da tese do fim das ideologias?
    Abraços.
  2. A minha e a sua adesão ao programa de Fukuyama mostra muito sobre nós ocidentais, e nossa obliteração do ego…
  3. Nobre Prof. Paulo
    Sem intenção de mudar o foco do seu artigo, e já mudando, gostaria de saber qual o seu fundamento de rotular o Prof. Eric Hobsbawm de “inocente útil”, apenas porque postula as ideologias como eternas ??
    Claro está que conhecendo seu talento como eu conheço, atrevo-me a pedir um artigo de sua pena sobre o assunto.
    As Ideologias ainda são necessárias “para viver” ?
    Senna Madureira
Minhas respostas aos perguntadores: 

1) Alex Neves: 
PRA: Não, não sou partidário da tese sobre o fim das ideologias, formulado em primeiro lugar pelo ex-trotsquista Daniel Bell, em meados dos anos 1950, inclusive porque aderir a uma tal "tese" – se ela merece essa classificação – seria negar o mundo como ele é, com comunidades inteiras, ou pensadores individuais, criando continuamente religiões e crenças políticas. Ideologias sempre vão existir, sobretudo uma que afirma que se pode fazer alguma coisa, qualquer coisa (política externa, por exemplo, ou comércio exterior) "sem ideologia". Os que assim afirmam – lembra alguma coisa ultimamente? – professam eles mesmos pelo menos uma ideologia, a do fim das ideologias, o que já torna ridícula tal postura.
Na verdade, Daniel Bell não tinha a intenção de opor-se a todas as ideologias; ele pretendia apenas afirmar (ou acreditar) que, depois de duas mortíferas guerras, nascidas em tempos diversos do nacionalismo extremado, do imperialismo mais despudorado, do hegemonismo tradicional de grandes potências arrogantes e de ilusões tendentes a fazer crer que, na era da grande indústria, seria possível ter guerras curtas e decisivas. Com a arma nuclear talvez, mas as guerras foram travadas justamente no conceito anterior: de mobilização total, com base em recursos, provisões, ferramentas e táticas bastante semelhantes umas às outras, antes que o instrumento nuclear viesse perturbar os cálculos estratégicos dos generais.
Daniel apenas acreditava que, depois de ideologias mortíferas, como foram, no século XX, os totalitarismos radicais – o fascismo italiano, o nazismo-hitlerismo alemão e o comunismo-bolchevismo-stalinismo da experiência soviética, sem esquecer o militarismo japonês, muito próximo do fascismo –, a humanidade estaria pronta para se livrar dessas pestes mortíferas, que não foram simples "doenças de pele", mas penetraram fundo na psicologia nacional, nos comportamentos sociais, nas posturas culturais, e que também influenciaram políticas econômicas e, mais importante, determinaram aventuras militares com ou sem estratégia.
Acredito que as ideologias vão continuar, como demonstrado mais recentemente, pelo chamado jihadismo, pelo trumpismo, e por novas vertentes da velha direita, sem que se possa afirmar que a esquerda já esgotou suas possibilidades de renovação. Esta última já está em baixa, mas eu não descarto um revival da esquerda, como sempre aparece, disfarçada de qualquer outra coisa (já tivemos o ecologismo anticapitalista).

2) Bruno: 
PRA: Não se tratou propriamente de uma pergunta, mas de uma confirmação de um possível acordo (se interpreto bem) com meus argumentos, e uma espécie de lamentação sobre nosso ego ocidental. Confesso que não sei como reagir, pois não posso me impedir de ser um ocidental, e de valorizar tudo o que o Ocidente fez de bem e de bom, em benefício da humanidade, e tampouco posso me impedir de ter ego, o que é uma postura bastante normal entre nós, humanos.

3) Senna Madureira: 
PRA: Caro e nobre amigo Senna Madureira. Desculpe-me se você admira o Eric Hobsbawm, certamente um dos maiores e mais importantes historiadores do século XX (e XXI), recentemente desaparecido, e fonte de conhecimento (e de formação de opiniões) para milhões de estudantes e leitores all over the world, durante mais de meio século. Reconheço a importância de Hobsbawm, como pesquisador histórico e como vulgarizador do conhecimento histórico, mas sou suficientemente informado (e treinado) no marxismo e no socialismo, no materialismo histórico, e sobre o próprio Hobsbawm, para também considerá-lo um ideólogo, defensor do socialismo, contra o capitalismo, que ele julgava injusto, criador de desigualdades, animado por desejos perversos de exploração dos trabalhadores em  benefício de uma burguesia vil.
Acho, sim, que as ideologias são inevitáveis, incontornáveis e até necessárias, uma vez que o homem não pode evitar ter de sonhar com o futuro, de interrogar-se sobre o passado e de tentar moldar não apenas o conhecimento sobre a flecha do tempo, mas igualmente a trajetória dos desenvolvimentos econômicos, políticos e sociais (até individuais), nos anos à frente. Eu mesmo, por exemplo, por mais objetivo que eu pretendo ser, pratica a ideologia do autodidatismo, pois tendo a acreditar que posso aprender tudo sozinho, apenas lendo meus livros e observando o mundo. Não é assim, claro, pois por mais "independentes" que acreditamos ser, somos sempre prisioneiros de algum ideólogo do passado ou do presente.
Não vou mais desenvolver esse argumento, pois precisamos marcar um encontro, com um bom vinho, para discutirmos sobre coisas mais agradáveis, justamente.

O grande abraço a todos os meus três leitores, na verdade perguntadores (pois imagino que os leitores tenham sido pelo menos o dobro desse número), e prometo prestar atenção ao que vem abaixo de meus artigos, da próxima vez.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de março de 2019

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