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quarta-feira, 10 de abril de 2019
Chanceler acidental chega aos 100 dias de governo questionado por diplomatas e militares - Ricardo Della Colleta (FSP)
Araújo chega aos 100 dias de governo questionado por diplomatas e militares
Ao alinhar Itamaraty a governantes de direita, chanceler obtém respaldo do presidente Jair Bolsonaro
A última demonstração de que Araújo tem respaldo do presidente ocorreu nesta terça (9), quando anunciou ademissão de Mario Vilalva da presidência da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
A guinada na política externa encontra resistências entre militares do Planalto e é questionada por acadêmicos, que preferem uma abordagem mais pragmática, mas tem forte apoio no núcleo ideológico do governo, principalmente entre osseguidores do escritor Olavo de Carvalho.
Os esforços de Araújo nesse sentido foram coroados pelas visitas presidenciais aosEUA, aIsraele aoChile.
Os acenos do governo Trump vieram a um preço, como a exigência de que o Brasil abandone otratamento diferenciadoa que tem direito na Organização Mundial do Comércio e a abertura do mercado nacional para o trigo daquele país.
Mas, apesar das críticas de que o Brasil saiu entregando mais do que recebendo, as concessões americanas deram a Araújo um discurso político de que o alinhamento ao trumpismo traz resultados.
Além disso, o chanceler direcionou a diplomacia brasileira para pautas caras à base mais leal e conservadora do presidente.
Entra nessa lista obate-bocaprotagonizado pela embaixadora Maria Nazareth Azevêdo com o ex-deputado Jean Wyllys (PSOL), antigo desafeto de Bolsonaro, em uma reunião da ONU em Genebra.
O Brasil também assumiu umaposiçãopró-Israelem uma votação Conselho de Direitos Humanos da ONU, em outra mudança da tradição diplomática do Itamaraty.
Em outro exemplo, diplomatas brasileiros foram orientados avotar contraa inclusão de menções ao acesso universal à saúde reprodutiva em um documento da ONU. Araújo disse que a intenção dos apoiadores da inclusão era fazer promoção do aborto.
A forma como Araújo vem impondo a nova orientação no Itamaraty, no entanto, está gerando desgaste na pasta. Diplomatas que conversaram com aFolhasob condição de anonimato afirmaram que várias posições do chanceler têm gerado desconforto.
O incômodo vai desde decisões administrativas —como a indicação de diplomatas menos graduados para cargos de chefias— até posições políticas de Araújo.
Um diplomata relata, por exemplo, que há apreensão com a decisão do ministro de “colar em Trump”, uma vez que o mandatário em algum momento deixará a Casa Branca.
Outro diplomata conta que a decisão deenviar um telegrama à ONU argumentando que não houve golpe militar em 1964 deixou grande parte dos servidores do Itamaraty “desconfortáveis”. Para ele, esse tipo de episódio revela um tipo de “aparelhamento ideológico” que o ministério ainda não tinha presenciado.
Diplomatas dizem que nem mesmodurante o governo do PT, quando houve casos de servidores afastados das suas funções, a guinada ideológica foi tão intensa.
Apesar da clara ênfase na chamada política de cooperação Sul-Sul, eles alegam que não houve um afastamento completo da tradição diplomática brasileira, como hoje.
Quando perguntado pelaFolhasobre como avalia seus primeiros cem dias, Araújo disse, por meio de assessoria, que “o Brasil elevou seu perfil internacional e voltou a ser um ator relevante em todos os cenários”.
Ele citou medidas como o apoio dos EUA à entrada do país na OCDE e a “aproximação com a Otan”, que “colocam o Brasil dentro do espaço geopolítico e econômico ocidental.”
“O Brasil passa a defender a soberania e os valores do povo brasileiro nos foros multilaterais.”
Dentre as duas metas do Itamaraty para os primeiros cem dias, diplomatas negociam no âmbito do Mercosul a revisão datarifa externa comum.
A segunda ação deve ser adotada nas próximas semanas: a retirada do Brasil dopadrão do Mercosul para a emissão dos passaportese a reinserção do brasão da República “para fortalecer a identidade nacional e o amor à pátria.”
Venezuela Abandonando a tradição brasileira, Araújo usoutermos durospara se referir ao regime do ditador Nicolás Maduro
Mudanças O ministro demitiu os diplomatasPaulo Roberto Almeida(em março), que comandava o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, eMario Vilalba(em abril), que dirigia a Apex, a agência de promoção de exportações
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