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quarta-feira, 10 de abril de 2019
Chantecler remove embaixador do Brasil em Washington - Revista Veja
Decisão vem a público na semana em que chanceler é acusado de deslealdade e traição pelo embaixador Mário Vilalva e o demite da Apex
PorDenise Chrispim Marin
Site da revista Veja,10 abr 2019
Depois de exonerar seu colega diplomataMário Vivalvada presidência da Agência de Promoção de Exportações (Apex) e deixar outros veteranos embaixadores sem postos noItamaraty, o ministro das Relações Exteriores,Ernesto Araújo, decidiu retirar Sérgio Amaral da embaixada do Brasil em Washington e dar-lhe uma posição de menor envergadura. A transferência de Amaral para o Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo foi publicada na edição desta quarta-feira, 10,no Diário Oficial da União(DOU).
A saída de Amaral deWashingtonjá era carta marcada e deverá lhe trazer imenso alívio. Aposentado, depois de um longo período de licença durante os governos petistas, ele fora indicado para o principal posto do Brasil no exterior pelo então chanceler José Serra durante o governo deMichel Temer.
Embaixador Sérgio Amaral: retorno a São Paulo pode ser alívio para veterano diplomata.
Embaixador Sérgio Amaral: retorno a São Paulo pode ser alívio para veterano diplomata. (Roque de Sá/Agência Senado)
O embaixador é historicamente conectado ao PSDB. Foi porta-voz do Palácio do Planalto e, depois, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) na gestão deFernando Henrique Cardoso.
Embora no Itamaraty haja nomes à altura para substituí-lo, o chanceler Ernesto Araújo e o presidenteJair Bolsonarotendem a escolher uma pessoa ideologicamente afinada para o principal posto do Brasil no exterior. O guru do governo do PSL,Olavo de Carvalho, é um dos nomes cotados, além do de seu discípulo Nestor Forster, nomeado e exonerado em apenas sete dias por Araújo como seu chefe de gabinete, em dezembro. O setor militar do governo, porém, insiste no cientista político Murillo Aragão.
A mudança em Washington vem a público apenas um dia depois do episódio da demissão do embaixador Mário Vilalva do comando da Apex, ao final de noventa dias de gestão nesse feudo do deputadoEduardo Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República. A VEJA, Vivalva afirmou ter “caído em uma grande arapuca” ao aceitar o convite de Araújo para assumir essa posição e se sentir “aliviado e frustrado” com sua saída.
Com 43 anos de carreira diplomática – catorze anos a mais que Araújo -, o embaixador deverá se licenciar do serviço público. Sua atitude, porém, o tornou mais um dos heróis do Itamaraty, onde perseguições a quadros não vinculados ideologicamente ao novo governo estão na ordem do dia e uma corrida a postos no exterior – em especial, para consulados – tem sido a válvula de escape. O último diplomata a enfrentar Araújo foiPaulo Roberto de Almeida, exonerado do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) por suas críticas à condução do Itamaraty neste governo.
“Foram noventa dias de luta insana para colocar as coisas nos devidos lugares na Apex e tocar o trabalho de promoção do comércio e da boa imagem do Brasil”, afirmou Vilalva, um dos mais experientes nessa área do Itamaraty. “Acabei sozinho e alvo de jogadas desleais e traiçoeiras desferidas pelos meus colegas da cúpula do Itamaraty”, completou, referindo-se a atitudes consideradas surpreendentes do chanceler Ernesto Araújo e do secretário-geral das Relações Exteriores,Otávio Brandelli.
Vivalva disse não ter sido chamado nenhuma vez por Araújo para conversar reservadamente sobre o funcionamento da Apex que, na gestão de Dilma Rousseff, esteve subordinada ao MDIC. Recebera apenas uma visita de Eduardo Bolsonaro, acompanhado de um guarda-costas armado. Do chanceler, afirmou o embaixador, recebeu o “golpe” inesperado.
Golpe
Vilalva acusou publicamente Araújo de ter se engajado com os dois diretores da agência,Márcio CoimbraeLeticia Catelani, na elaboração de um novo estatuto para a agência “na calada da noite”. O documento, registrado em cartório, esvazia a presidência da Apex e repassa boa parte de suas atribuições aos dois diretores. Embora Araújo, como ministro, presida o Conselho Deliberativo da Apex, o novo estatuto não foi submetido à aprovação dos demais membros desse órgão.
Ao denunciar o “golpe”, Vivalva estava ciente das consequência. Foi demitido por telefone na terça-feira. O Itamaraty limitou-se a publicar uma nota na qual agradeceu os serviços prestados pelo embaixador. Seu sucessor ainda não foi designado.
Segundo o embaixador, desde o início do governo, a Apex tem sido controlada por Coimbra e Letícia Catelani, mais conhecida como Catel. Ambos são ligados às colunas bolsonaristas e, como diretores da Apex, recebem salário de cerca de 45.000 ao mês. A empresária Catelani, sócia-administradora da empresa Liderusi, é conhecida amiga do deputado Bolsonaro desde os tempos de faculdade e tem sido protegida por Araújo.
Embora não tivesse experiência em comércio exterior nem no serviço público federal, ela fora nomeada pelo chanceler para a Diretoria de Negócios, a pedido do filho do presidente. A área sob seu controle é responsável por 81% do orçamento da agência, de 700 milhões de reais ao ano.
Desde sua chegada à Apex, Vivalva viu-se minado pela atuação dos dois diretores. Não conseguiu alterar o estatuto da Apex para reduzir o poder financeiro da área de Negócios nem substitui-los por quadros profissionais. Tampouco teve sucesso em suas iniciativas de trazer para a Apex um auditor com carreira na Corregedoria Geral da União, um militar para a área de gestão, uma diplomata como sua chefe de gabinete e uma jornalista para a área de Comunicação Social. Viu-se ainda amarrado pela determinação estatutária de que as decisões deveriam ser tomadas com as assinaturas do presidente da Apex e de um diretor – ou dos dois diretores, na ausência do líder.
Em uma das armadilhas dos diretores, Catelani desapareceu no dia da assinatura da renovação do contrato da Apex com a empresa de marketing Terroá, responsável naquele momento pela montagem de um estande do Brasil na feira de móveis de Milão, com a presença dos irmãos Campana, célebres designers brasileiros. A diretora insistiu para que Vivalva enviasse o contrato, já com a assinatura dele, para o local onde estava.
“Eu expliquei que não poderia fazer isso, que um contrato público deve ser assinado conjuntamente pelos seus responsáveis e com a presença de testemunhas. Fiquei até as 20 horas esperando por ela, que não apareceu. No dia seguinte, ela acusou a empresa Terroá de ter sido disse mencionada na Lava Jato, fato que eu não conhecia e que deveria ter sido apresentado por ela para nossa reunião prévia”, afirmou.
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