Minhas considerações iniciais:
Por que o ministro atual insiste em expor a
instituição na qual trabalha, à qual ele deve tudo, ao ridículo de afirmações
estapafúrdias, ideias esquizofrênicas, projetos mirabolantes, ao descrédito
universal? Provavelmente porque não é ele que manda na política externa: está
apenas cumprindo um dever imposto por seus patrões. Nisso, comprendo a postura
gaguejante, cheia de "éééés" e "hum, hum", os
balbuciamentos hesitantes, as frases incompletas, o suor no rosto, a
gestualidade desconfortável, o nítido olhar angustiante sobre a audiência, o
temor das perguntas incômodas, a raiva ante desafetos e críticos, o horror
contra iconoclastas (como eu, por exemplo), uma atitude por vezes desafiantes,
outras vezes fugidias, tudo isso se deve ao fato de que tem de cumprir um
papel, exibir uma postura que não corresponde ao seu "eu". Uma banca
de psiquiatras provavelmente faria um julgamento arrasador para a sua
autoestima. Lamento
por ele, mas lamento muito mais pelo Itamaraty, submetido a um período sombrio,
caótico e autoritário.
Paulo
Roberto de Almeida
Ele disse que ministro Ernesto Araújo causa gargalhadas no exterior e que danos à imagem brasileira podem demorar para serem reparados
Revista Examen, 15 abr 2019, 19h57 - Publicado em 15 abr 2019, 19h14
São Paulo – Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e embaixador nos Estados Unidos em dois períodos (1974-1977 e 1991-1993), não poupa críticas à atuação internacional do governo Bolsonaro: o Itamaraty “faz uma política da destruição” que é “essencialmente ideológica”.
Em evento de VEJA e EXAME sobre os 100 dias da gestão, ele disse que ficou impressionado com uma declaração de Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, e do presidente sobre a necessidade de desconstruir antes de fazer algo novo.
“Me espantou porque nós todos sempre olhamos o Brasil como uma obra em construção contínua e o passado como algo que trouxe a cada fase e cada governo uma contribuição”, disse ele. “É a primeira vez que eu vejo um governo que chega com essa ideia da destruição e da desconstrução”.
As declarações de Araújo sobre o nazismo ser um movimento de esquerda, repudiadas por historiadores e pelo governo alemão, são outro exemplo:
“Um pais que tem um ministro que diz isso provoca gargalhadas. Na Alemanha, gargalhadas com indignação”, diz ele, completando que “não há nada mais humilhante para uma chancelaria do que ser alvo de ridículo”.
Ricupero também afirmou que a visita do presidente aos Estados Unidos foi “caracterizada pela bajulação e pela subserviência” e que “a agenda americana não coincide com a nossa”.
A ideia do bolsonarismo de colocar o presidente americano em um papel de defensor da civilização judaico-cristão é algo que nem ele defenderia: “O Trump só pensa nele próprio e na America First”, diz Ricupero, e se associar diretamente à ele é alienar automaticamente a metade dos EUA que não o apoia.
Os benefícios de uma possível entrada na OCDE existem mas estão sendo exagerados pelo governo, diz Ricupero, cita o exemplo da Grécia como país que sempre faz parte da organização e viveu um desastre econômico.
O embaixador também destacou que os danos são duradouros pois no campo das relações internacionais não é tão fácil traçar uma linha clara entre políticas concretas e o que é mera retórica.
“Em política internacional as palavras e as fotos às vezes contam mais do que o conteúdo”, explicou. “Cada declaração em diplomacia às vezes leva 10 ou 20 anos para desfazer”.
No entanto, destacou que está em um curso uma espécie de “intervenção branca” no Itamaraty e um processo de tutela e redução de danos pelos militares, incluindo o vice-presidente General Hamilton Mourão, e pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
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