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domingo, 21 de abril de 2019

Minha mensagem no dia do diplomata - Paulo Roberto de Almeida


Estatísticas do Diplomatizzando no Dia do Diplomata

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: reflexões num dia do diplomata; finalidade: verifica papel do instrumento]


O dia 20 de abril, dia do nascimento de José Maria da Silva Paranhos Jr., futuro Barão do Rio Branco, serve como data comemorativa do serviço exterior, quando se aproveita a ocasião para a cerimônia de formatura dos novos diplomatas, egressos do Curso de Preparação à Carreira Diplomática, mas também para agraciar, com a Ordem do Rio Branco, diplomatas e não diplomatas (alguns jamais mereceriam a comenda a não ser por eventual função exercida no governo). Nem sempre foi assim: o Instituto Rio Branco foi criado em 1945, no centenário de nascimento de Juca Paranhos, e o dia do diplomata, com formatura de cada nova turma de alunos, jovens diplomatas, deve ter sido consagrado em ocasião ulterior, e mesmo suspenso por algum tempo durante o regime militar.
A despeito de ter sido professor do Instituto Rio Branco, de ter feito inúmeras palestras – geralmente no quadro do Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas, para segundos secretários – e de ter produzido alguma bibliografia complementar aos estudos empreendidos no âmbito do IRBr ou de pesquisas pertinentes, nunca fui distinguido com convites para paraninfo ou qualquer outro tipo de homenagem no Dia do Diplomata. Conservo a mesma comenda inicial da Ordem, no grau de Cavaleiro, com que fui agraciado ainda como segundo secretário, nunca recebi nenhuma outra, e até cogitei de devolver a minha, quando um desses mequetrefes da área política foi por ela agraciado, sem qualquer mérito (e até com desonra para a Ordem). Devo o fato de não ter sido cogitado para honrarias e outras homenagens provavelmente à minha atitude contrarianista, senão dissidente, das grandes definições conceituais de nossa diplomacia: o desenvolvimentismo, o nacionalismo, o protecionismo, o estatismo, o cepalianismo, o unctadianismo, o terceiro-mundismo, o antiamericanismo (ainda que moderado), o anti-imperialismo (este mais afirmado) e outros ismos que sempre considerei nefastos para a condução de uma diplomacia liberta de certos fantasmas de nossas ideologias maiores, inclusive e principalmente o traço distintivo do Itamaraty, além e acima de possíveis inclinações políticas momentâneas: o feudalismo.
Sim, o Itamaraty, antes de ser de esquerda, de direita ou de centro, ou alinhar-se a quaisquer outras tendências disponíveis no supermercado das velhas manias ou das novas modas ideológicas, é, básica e fundamentalmente, feudal, com o seu soberano empoleirado na cadeira de Rio Branco e os barões da Casa circulando em volta, segundo os sacrossantos princípios da hierarquia e da disciplina, que eu, aliás, nunca respeitei devidamente, consoante meu natural contrarianista. Não apenas por isto, porque também eu sempre fui um crítico das principais posturas adotadas pelo Itamaraty ao longo de sua história contemporânea, e nunca deixei de expressar ideias próprias a respeito dos grandes temas da agenda, bem mais no tocante à política econômica externa e às relações econômicas internacionais do Brasil, nos planos multilateral ou regional. Tendo aderido cedo a outros postulados de economia política e de “alinhamentos” internacionais – sobretudo distanciando-me precocemente dos arroubos latino-americanistas ou terceiro-mundistas, e mesmo do tabu da recusa absoluta do Tratado de Não Proliferação Nuclear, ou do Clube dos Ricos, a OCDE –, eu passei a achar canhestros certos posicionamentos do Brasil nessas vertentes, e tampouco deixei de expressar tais opiniões em meus artigos e livros, o que incluía um outro sagrado princípio da nossa diplomacia, o desenvolvimentismo.
Em meus estudos de economia, por ocasião do mestrado em desenvolvimento econômico, mas também depois, no próprio exercício da diplomacia aplicada, cercando-me de livros e teses alinhadas com certo liberalismo econômico, mas sobretudo com o simples racionalismo pragmático, terminei por descrer de certas “teses” defendidas pelo Itamaraty, e não me eximi de expressar tais “dissidências”. O papel exercido pelo pensamento e posturas de Roberto Campos, cujos artigos comecei a ler precocemente, ademais de outros pensadores liberais – Raymond Aron, por exemplo – foi com toda certeza decisivo nessa recusa dos principais “dogmas” do Itamaraty e na produção de minhas posturas própria com respeito à agenda diplomática do Brasil e sua aplicação pelo Itamaraty. Roberto Campos, por ter aderido também precocemente a essas teses, num momento em que o Itamaraty também se inclinava entusiasticamente pelas ideias e posturas do prebischianismo, cepalianismo, unctadianismo, terceiro-mundismo, em resumo, desenvolvimentismo dentro do arcabouço onusiano da divisão Norte-Sul, tinha algumas frases cruéis contra essas teses que ele julgava profundamente equivocadas.
Uma dessas frases, retiradas de seu contexto expressamente político, mas aplicada ao tradicional partido da direita “liberal”, a UDN (União Democrática Nacional), segundo a qual ela seria um “partido burro de homens inteligentes”, foi convertida por Campos e aplicada ao Itamaraty, para quem a Casa seria uma “entidade burra povoada de homens brilhantes”. Reconheça-se que a frase não é nada elogiosa, ao contrário, mas para mim ela contém várias doses de verdade, não tanto pela eventual incapacidade dos diplomatas de se alinharem a teses mais “inteligentes”, mas pelo cerco que sobre ele exercem diferentes lobbies das chamadas “classes produtoras”, que sempre insistiram no protecionismo, no dirigismo, no mercantilismo, no nacionalismo rastaquera, no isolamento da concorrência internacional, de forma a defender reservas de mercado, bem como subsídios diretos e indiretos que lhes assegurem fluxos rentistas em detrimento do consumidor nacional. De forma que eu me coloquei a contra corrente das teses e opiniões dominantes na diplomacia, uma atitude perfeitamente capaz de me garantir certo nicho isolado no mainstream das ideologias diplomáticas com maior trânsito entre os diplomatas, sejam ele “barões”, sejam “servos de gleba” (que seriam os secretários, base técnica essencial da primeira camada do processo decisório).
A partir de certo momento, esse meu isolamento diplomático começou a ser rompido pelos instrumentos de comunicação social, primeiro um site pessoal (hoje menos utilizado, o www.pralmeida.org), depois diversos blogs pessoais, até culminar no Diplomatizzando, e finalmente em outras ferramentas (como Facebook e Twitter, mas utilizadas de forma algo aleatória). Tais instrumentos potencializaram tremendamente o acesso a meus textos por jovens estudantes e ampliaram minha audiência em meios que seque imagino existirem (uma vez que não costumo identificar origem dos acessos, apenas o seu volume e direcionamento a meus trabalhos disponíveis nessas ferramentas) e que constituem outras instâncias multiplicadoras sem qualquer controle de minha parte. Imagino que seja por isso que sou bem mais conhecido nesses meios do que posso aquilatar por quaisquer instrumentos de análise vinculadas a essas ferramentas.
Justamente, acessando hoje as estatísticas do meu blog Diplomatizzando, em diversos formatos, acabei constatando alguns números brutos e algumas preferências repetitivas dos leitores. A despeito do blog ter sido iniciado em meados de 2006, o resumo das estatísticas de acesso apresenta uma tabela gráfica válida apenas a partir de maio de 2010. Não importa, o fato é que sou seguido, formalmente, por 855 pessoas (e algumas entidades, provavelmente, inclusive a CIA, o FSB, o Mossad, etc., além daqueles que o fazem por obrigação e provavelmente com raiva do que escrevo), público que garante um volume mensal de acessos na faixa de 70 mil vezes, ou mais de 2.300 vezes por dia. Com isso eu cheguei a um número total de visualizações de quase 7 milhões (mais exatamente 6.906.344 em 20 de abril). O número total de postagens alcança quase 20 mil, sendo mais exatamente 19.876 publicadas e mais 58 em rascunho. Confesso que preciso revisar esses rascunhos para ver o que ainda subsiste de aproveitável em postagens preparadas e não postadas, por razões diversas.
O mais importante, porém, para aquilatar, não da quantidade, mas da qualidade de minhas postagens está na verificação dos temas mais procurados e, portanto, das postagens mais acessadas pelos frequentadores e visitantes ao meu blog, que não se resumem, obviamente, aos 855 cadastrados e identificados no painel pertinente (que eu raramente, ou quase nunca, acesso).  O quadro abaixo permite visualizar os itens mais acessados de meu blog, sendo que o primeiro, campeão absoluto, constitui uma crítica acerba às nossas instituições universitárias, mais pela improdutividade do que por quaisquer considerações ideológicas: quase 50 mil acessos, seguido de longe por uma curiosidade compreensível em nossos tempos, como citar obras digitais.

 

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Cabe registrar que uma postagem relativamente recente, a nota relativa à minha exoneração do cargo de diretor do IPRI, ascendeu rapidamente às primeiras colocações, em paridade com uma outra postagem bastante acessada, um conjunto de informações relativas à carreira diplomática, um tema muito buscado em minhas ferramentas de comunicação social, a despeito do fato que eu nunca estive no “mercado” de cursos preparatórios e jamais tenha escrito manuais ou guias de estudo para os exames de ingresso na carreira. Ao longo de minha já extensa (e intensa) carreira paralela de professor universitário tenho convivido de forma bastante frequente com estudantes de áreas afins à diplomacia, mas não me dediquei especialmente aos preparativos de acesso à carreira, tendo sempre me concentrado em estudos pós-graduados, em pesquisas de maior densidade conceitual e também à discussão dos problemas brasileiros (em diversas áreas). Uma nota ainda mais recente – na verdade terceirizada, uma vez que se trata de matéria relativa a um personagem do momento, o sofista da Virgínia – ascendeu igualmente às primeiras posições, quem sabe por curiosidade legítima ou malsã?
E qual o sentido de tudo isso, e como isso se conecta com o Dia do Diplomata? Não ouso responder de maneira peremptória a essa questão, a não ser para dizer que faço da minha dupla carreira, a profissional diplomática e a acadêmica, como professor, uma plataforma e uma alavanca para o que mais gosto de fazer: leituras, intensas, notas e reflexões sobre todos os temas de minha insaciável curiosidade intelectual, como forma de transmissão aos mais jovens. Tendo uma formação básica absolutamente ordinária na origem – vindo de uma família de avós analfabetos, imigrantes, e pais com escolaridade primária incompleta –, pude ascender ao que comumente se chama de elite do funcionalismo federal, ou às elites tout court, unicamente devido ao estudo, em escolas públicas e em bibliotecas idem, considero ser meu dever fundamental contribuir para que outros jovens em posições eventualmente similares às minhas possam também ascender a posições de maior relevo social graças ao estudo e à dedicação ao trabalho intelectual de qualidade. O fato de estar na carreira diplomática, e mais, numa posição totalmente independente da tradicional adesão aos “dogmas” da Casa, em relação aos quais sou um contrarianista convencido e profissional, me habilita a dizer o que quero, sem pagar nenhum “imposto” de fidelidade funcional, ou de repetição hipócrita e não assimilada ao linguajar padrão de meus colegas, que eu classifico, em total despudor, como sendo “bullshit diplomático”.
Estas são as motivações, e este é o trabalho que conduzo, no isolamento solitário do que já chamei de “quilombo de resistência intelectual”, que constitui o meu blog Diplomatizzando, e que me serviu de maneira excepcional quando, nas desventuras de uma carreira marcada, como já disse, pelos sacrossantos princípios da hierarquia e da disciplina, eu fui um dissidente aberto nos momentos não convencionais da política externa, sob o lulopetismo e, atualmente, sob o bolsonarismo. Meu blog, para eventual desgosto de meus “algozes”, sempre me serviu para continuar fazendo exatamente o que eu gosto de fazer: ler, anotar, refletir e repercutir minhas ideias em total independência em relação ao “Vaticano” do Itamaraty, com todos os seus “cardeais” e dogmas. Sou livre tanto quanto pode ser um “servo do Estado”, e orgulho de ser um contrarianista, que é o que me distingue fundamentalmente.
Por todas essas razões, recebo com satisfação mensagens de meus leitores, como esta que acabo de receber no Dia do Diplomata, uma entre muitas outras do mesmo teor ou vazada em termos similares. Transcrevo:
Obrigado, senhor Embaixador, por ter me aceitado em seu Face. Adorava ler seu blog Diplomatizzando na adolescência.
PRA: Puxa! Na adolescência? Então estou ficando velho.
Haha! Pois é. O senhor me salvou do esquerdismo no Ensino Médio.
PRA: Pelo menos uma boa obra. Mas eu mesmo fui esquerdista, pelo menos até os 30 anos...
Só queria agradecer ao senhor por tudo o que fez na minha vida. Sei que não me conhece, mas o senhor foi muito importante na minha formação intelectual. Que Deus o abençoe. Sempre. E à sua família.
PRA: Eu tenho em meu blog Diplomatizzando uma frase de um humorista americano, Will Rogers, que diz o seguinte: a gente aprende nos livros ou com pessoas mais espertas. Foi o que fiz: tive bons professores na infância e juventude e aprendi sobretudo nos livros, hoje internet. É isso: vá em frente. E hoje, confie mais em bons livros do que nos professores.
Ah, certamente. Se eu dependesse dos meus professores esquerdistas no [xxx] eu estaria ferrado, he, he...

Termino por aqui esta minha já longa digressão sobre o meu blog e sobre o dia dos diplomatas, que devem certamente ser homenageados, à sua justa medida, por suas contribuições à defesa do interesse nacional, junto com outras corporações do Estado, em primeiro lugar nossos irmãos das FFAA, ou militares individualmente, como forças identificadas com objetivos mais altos do que simples ambições particulares (embora estas por vezes prevaleçam sobre o interesse geral da nação), como acredito que fomos capazes de nos desempenhar nestes quase 200 anos de nação independente. O Brasil que temos hoje não é certamente o país de nossos sonhos, a nação desenvolvida e desprovida das gritantes mazelas sociais e políticas que contemplamos todos os dias, ao abrir os jornais, ao visualizar os instrumentos de mídia. De minha parte tenho procurado desempenhar o meu papel de cidadão consciente e ativo, engajado na melhoria social progressiva da nação e na elevação educacional e intelectual de nossos concidadãos. Se mais não fiz, foi por falta de meios e de oportunidades, tendo sido aliás afastado durante longos anos do serviço ativo na diplomacia justamente por divergir das orientações que pautavam nossa atividade diplomática, o que ocorre neste mesmo momento novamente.
Não vou esmorecer na tentativa, e volto a refugiar-me em meu quilombo de resistência intelectual, aguardando dias melhores. Enquanto não surgem novas oportunidades de me exercer em minhas competências funcionais, vou me exercendo em minhas atribuições tradicionais: ler, anotar, refletir, ponderar, escrever, divulgar, eventualmente publicar aquilo que considero relevante no debate público sobre os problemas mais relevantes do Brasil, que não são, obviamente, os da diplomacia, e sequer os das relações exteriores, e sim as questões sociais, em primeiro lugar, e nas cinco primeiras prioridades, a educação pública de qualidade.
Termino por aqui: desejo bom dia do diplomata a todos os meus colegas de profissão, a meus confrades de carreira, desejando bons estudos a todos os aspirantes à carreira, que, a despeito de burocrática e por vezes enfadonha, é gratificante, e, pelo menos para mim, certamente gratificante, por todos os seus aspectos intelectuais e de abertura às coisas do mundo que eu e minha mulher, a historiadora Carmen Lícia Palazzo, valorizamos tremendamente. Sempre fomos muito felizes, nós e nossos filhos, em todos os postos nos quais nos foi dado servir, nos mais agradáveis, e nos mais duros (que também existiram), e sempre retiramos de cada um ensinamentos para a vida e recompensas intelectuais, turísticas, gastronômicas, tudo o que fosse aproveitável.
Feliz dia dos diplomatas a todos e a cada um.
Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de abril de 2019

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