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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty - livro quase pronto, Paulo R. de Almeida

Acabo de terminar a revisão deste meu livro: agora é esperar a diagramação e confecção de capa, para o lançamento.

ALMEIDA, Paulo Roberto.
Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty – Brasília: Edição do Autor, 2019.
100 p.


1. Política externa brasileira. 2. Relações internacionais. 3. Ideologias. 4. Itamaraty. 5. Diplomacia. 6. Paulo Roberto de Almeida.
Aguardem...

Sumário
  
Prefácio: onde está a política externa do Brasil?    11

1. Miséria da diplomacia, ou sistema de contradições filosóficas  17
     1. No reino das contradições filosóficas    17
     2. Quanto à forma de designação do chanceler     19
     3. Quanto à natureza do personagem designado   21
     4. Quanto à substância de alguns temas da agenda diplomática    23

2. O Ocidente e seus salvadores: um debate de ideias   27
     1. A decadência e o Ocidente: algum perigo iminente?  27
     2. Quais são as “teses” principais de “Trump e o Ocidente”?   30
     3. O grande medo do Ocidente cristão: realidade ou paranoia?  32
     4. Contradições insanáveis no projeto de salvamento do Ocidente cristão   34

3. O marxismo cultural: um útil espantalho?   37
     1. O renascimento de uma tendência: a parábola do marxismo cultural  37
     2. A trajetória do socialismo: o elefante que voou, via opressão dos trabalhadores 39
     3. O genérico substituto do gramscismo: em socorro do socialismo   41
     4. O marxismo cultural salvo do declínio pela paranoia da direita? 44

4. A destruição da inteligência no Itamaraty: dialética da obscuridade 47
     1. No começo era o verbo, depois fizeram-se as trevas...     47
     2. Nas origens da metapolítica: o romantismo alemão que derivou para o nazismo 49
     3. Tribulações de um antiglobalista improvisado: supostas “ameaças” ao Brasil   51
     4. Dialética da obscuridade: a diplomacia do antiglobalismo   60

5. O globalismo e seus descontentes: notas de um contrarianista   63
     1. Fixando os termos do debate: a contracorrente do pensamento único  63
     2. Nota pessoal do ponto de vista de quem pratica ativamente o ceticismo sadio  64
     3. Globalização real e globalismo surreal: da física à metafísica    66
     4. Do lado da direita: todo globalismo será castigado, mesmo sem doutrina   69
     5. Teorias conspiratórias sobre o globalismo: déjà vu, all over again  71
     6. A contrafação dos neo-Illuminati no Brasil: globalismo, climatismo, marxismo  73

6. A revolução cultural na diplomacia brasileira: um exercício demolidor  77
     1. Euforia e tragédia das revoluções culturais     77
     2. O pequeno salto para trás do chanceler   79
     3. A revolução cultural na prática    82

Apêndices:
Por que sou um contrarianista?    87
Breve nota biográfica: Paulo Roberto de Almeida    92
Livros e trabalhos de Paulo Roberto de Almeida   94


Prefácio: onde está a política externa do Brasil?


Este meu livro pode ser lido na sequência de dois outros anteriores sobre o mesmo tema: a diplomacia brasileira (tenho alguns outros, no meio, não exatamente neste mesmo campo): Nunca Antes na Diplomacia…: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014; e-book: 2016) e Contra a corrente: Ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Curitiba: Appris, 2019). Com uma peculiaridade, porém: como esse último, este tampouco teria vindo à luz, se não fosse pelo fato singelo, mas que pode ocorrer em carreiras hierarquizadas e disciplinadas como a diplomática, de eu ter sido exonerado, no Carnaval deste ano, do cargo que ocupei no Itamaraty, entre 3 de agosto de 2016 e 4 de março último, como diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI) do Itamaraty.
Como revelado no pequeno texto em apêndice, “Por que sou um contrarianista?”, tenho essa característica de manter uma atitude que eu chamo de “ceticismo sadio” desde a minha já longínqua adolescência, quando comecei a contestar aquilo que Gustave Flaubert, no Dictionnaire des Idées Reçues, chamava de verdades de senso comum. Sempre fui um contestador das verdades aparentes, até conseguir comprová-las por meio de um estudo mais inquisitivo, de evidências empíricas, de uma pesquisa sobre os seus fundamentos, raízes e derivações. Daí, também, essa outra característica que sempre mantive, desde essa época: o ato de anotar todas as leituras de estudo, de encher cadernos e mais cadernos de notas com resenhas, resumos de palestras, projetos de trabalho e tudo o mais que se apresentasse de intelectualmente interessante ou apetitoso.
Ainda conservo a maior parte desses cadernos – alguns perdidos em viagens, ou esquecidos em livrarias –, nos últimos anos, ou décadas, substituídos por registros eletrônicos em meu computador, que, no entanto, não substituem os dois Moleskines de bolso que sempre carrego comigo, um médio, para o paletó, outro menor, no bolso da camisa. Praticamente todos os meus livros brotaram dessas notas meticulosamente rabiscadas nesses cadernos ou cadernetas, inclusive a tese de doutoramento, que exigiu vários cadernos – cada um para cada assunto – e muitos outros livros espalhados pela mesa e pelo chão.
Mas, justamente pelo fato de ser um contrarianista, eu posso expressar certas opiniões e argumentos que se chocam com certas verdades de senso comum, ou opiniões de superiores hierárquicos. Pois foi justamente o que ocorreu recentemente, e que motivou a publicação destes dois livros mais recentes. Estava eu tranquilamente trabalhando no IPRI – uma espécie de think tank da diplomacia brasileira, mas com pouco think e nenhum tank –, quando fui surpreendido pela minha exoneração, decidida em pleno Carnaval pelo chanceler do governo Bolsonaro pelo simples motivo que eu resolvi ser contrarianista em relação às ideias de senso comum, mas absolutamente bizarras, que ele vinha expressando desde antes de ser designado – por obra e graça de um guru da Virgínia – para o cargo máximo da diplomacia brasileira.
Eu já esperava ser substituído naquele cargo, por notória incompatibilidade com a política externa que se anunciava desde meados de 2018, mas não esperava que tal ato se efetivasse de maneira tão rápida e tão abrupta. O fato é que essa exoneração me aliviou enormemente: eu me sentiria muito desconfortável em servir uma administração que, tanto quanto a diplomacia do lulopetismo, eu já julgava, antes mesmo do seu início, que seria nefasta do ponto de vista dos bons padrões sempre preservados pelo corpo profissional do Itamaraty. Esse selo de qualidade vem sendo atualmente conspurcado pela intromissão de amadores ou lunáticos, que trouxeram temas e posturas absolutamente desprovidos de sentido para a política externa, como o surrealismo do antiglobalismo, a novidade do anticlimatismo, um estranho anticomercialismo, a luta contra a ideologia de gênero e várias outras bobagens.
Já paralisado desde o início do governo por uma ordem tão estúpida quanto obscurantista – a de não empreender nenhuma atividade no IPRI, até que as “altas chefias” decidissem o que eu poderia ou não fazer, como se eu fosse apenas um executor de ordens superiores –, tive algum tempo, nas semanas anteriores ao Carnaval, para reunir alguns textos que repousavam em meu computador desde a publicação daquele primeiro, o Nunca antes na diplomacia, publicado em 2014. Os escritos cobriam os dois anos finais do lulopetismo diplomático e os dois seguintes, do governo de transição, uma transição para algo que ainda não sabíamos, exatamente, como seria. Os textos estavam todos reunidos, mas eu não sabia, com precisão, se iria publicar em seguida, tanto que a compilação sequer tinha título.
Pois, foi surpreendido pela exoneração intempestiva, que resolvi achar um título e publicar rapidamente esse livro, que de toda forma se estendia unicamente até o final de 2018, sem sequer tocar na nova administração, que eu já imaginava tempestuosa. O título definido, de forma algo provocadora, foi esse: Contra a Corrente: ensaios contrarianistas..., o que reflete exatamente meu ceticismo sadio e meu espírito levemente provocador em relação às verdades estabelecidas.
O presente livro sequer deveria existir, pois eu normalmente preparo muitas notas, faço reflexões, formulo um primeiro esquema e só depois me decido a empreender uma nova obra. Esta aqui traz, portanto, as marcas da rapidez, mas não do improviso. Desde meados de 2018, ao ler absolutamente de tudo – como digo sempre, da extrema esquerda à extrema direita, com muita bobagem pelo caminho –, eu já estava tomando notas sobre alguns dos absurdos que vão aqui comentados, mas não pretendia publicar nada de muito crítico antes de considerar que era chegada a hora, talvez no meio do mandato, salvo acidente de percurso. Os absurdos, primeiro os conceituais, depois os práticos, foram se acumulando, mas eu procurei guardar as peças analíticas para o futuro, contentando-me em reportar matérias de imprensa e trabalhos de terceiros. Alguma provocação pode ter ocorrido, quando eu reagi a bobagens desmesuradas do sofista da Virgínia – o patrono, repito, do chanceler designado – e me referi também a “fundamentalistas trumpistas” (o que estava dirigida ao assessor da Presidência em temas internacionais, mas o chanceler tomou a carapuça para si). O simples fato de ter reproduzido em meu blog, na madrugada do domingo de Carnaval, 3 de março, uma conferência do embaixador Rubens Ricupero especialmente crítica em relação à política externa, mais um artigo do ex-chanceler, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seguidos de uma resposta do próprio chanceler, tecendo ásperas críticas a ambos, trouxe a fúria do Olimpo: zás, no Carnaval...
Depois que fiquei livre das arbitrariedades dos novos mandarins – como a de proibir-me de trabalhar, e a de pretender censurar ex-post materiais do governo passado, o que eles deliberadamente fizeram – decidi reunir minhas observações eletrônicas e de cadernos e publicar este livro, que adota um outro título provocativo, mas que remete à minha herança de marxista cultural, quando na juventude eu lia toda a literatura hoje condenada pelos novos donos do pensamento único. Marx, em seu primeiro exílio, em Paris, escreveu uma réplica ao livro de Proudhon, Philosophie de la Misère, a quem ele chamou de “socialista utópico”.
Este meu Miséria da Diplomacia se dirige ao diplomata utópico que ocupa hoje a cadeira de Rio Branco – um realista objetivo –, mas não só a ele: considero que o chanceler se situa no terceiro escalão da cadeia alimentar da diplomacia brasileira, uma vez que ele ali se encontra apenas por ser um fiel servidor de certas “teses” – se este termo nobre se aplica – disseminadas naquele espectro difuso que já se convencionou chamar de olavo-bolsonarismo. Essa alcunha, sem qualquer respaldo em qualquer escola “filosófica”, cobre um amálgama insosso de posturas dúbias e opções francamente risíveis, tendo em conta não apenas os padrões tradicionais com que sempre trabalhou a diplomacia profissional, mas os interesses nacionais tão simplesmente.

Venho agora ao título deste prefácio: onde está a política externa do Brasil? Confesso que não sei. Nas horas e dias seguintes à minha exoneração do cargo de diretor do IPRI, vários jornalistas quiseram saber os motivos da demissão e a minha opinião sobre a política externa do Itamaraty. Tive de perguntar a eles: vocês conhecem alguma? Digam-me qual é, para que eu possa avaliar. Passados três meses, desde então, já existem algumas luzes, onde antes só havia frases em latim, grego e alemão, nenhuma muito esclarecedora sobre a política externa enquanto tal. Essas poucas luzes resultam apenas da necessidade de fazer ou falar algumas coisas, em função da agenda externa, não que tenhamos tido uma exposição clara, abrangente, sobre quais são, ou deveriam ser, as prioridades da política externa – além de lutar contra o marxismo cultural e a ideologia de gênero – em relação aos grandes itens da agenda internacional, dos compromissos regionais ou das oportunidades bilaterais.
O fato é que nunca, repito, nunca, nos foi oferecida uma apresentação abrangente, sistemática, completa, de qual seria a estratégia internacional do Brasil, quais as prioridades regionais e multilaterais, como pretendemos organizar a abertura econômica e a liberalização comercial, o que fazer com o Mercosul, como resolver os desafios da inserção global do país nos grandes circuitos da economia mundial, as relações com os vizinhos e todo o resto. Recapitulando: o discurso de inauguração do presidente apresentou poucas diretivas, apenas a da “política externa sem ideologia” e um comércio exterior idem. Já o discurso de posse do chanceler foi do grego ao latim, e até ao tupi-guarani, para dizer que tínhamos sido muito subservientes com o marxismo cultural e que cabia “libertar o Itamaraty” de todas as nefastas influências que subsistiam – descobrimos depois – desde os tempos do Barão do Rio Branco. Entre Tarcísio Meira e Raul Seixas, aprendemos que temos de nos desvencilhar da “ordem global”, e até fomos confrontados a algo vergonhoso para nós, diplomatas: a notícia de que a política externa “estava presa fora do Brasil”.
Aparentemente, o chanceler acidental ainda não conseguiu desvencilhá-la dos inimigos externos e trazê-la de volta ao país, pois ele continua insistindo no tal de marxismo cultural, o que foi mais um motivo para este meu retorno a Marx. Mas o fato é que, desde então, aguardamos uma manifestação mais concreta sobre qual seria essa política externa até aqui desconhecida de meus colegas diplomatas e dos brasileiros. O que tivemos, de modo altamente diáfano, foram eflúvios bizarros contra o globalismo, sustentados naquelas teorias conspiratórias do guru da Virgínia, que parece ter sido um grande eleitor do atual governo e que continua dando as cartas em certas áreas. Todo o resto foram recuos e tergiversações. Base militar americana no Brasil, como se anunciou no primeiro dia do governo? De forma nenhuma, alertaram os militares! Mudança da embaixada em Israel para Jerusalém? Alto lá, gritaram os agricultores e exportadores de carne halal para países islâmicos! Denúncia do Acordo de Paris? Mas os ecologistas e os próprios empresários já disseram que ele é até positivo para o Brasil e não implica em nenhuma renúncia de soberania. E onde está a China “maoísta” que representaria, supostamente, uma ameaça para nossa soberania? Essa China já não existe há mais de 40 anos: os chineses só querem importar matérias primas, exportar manufaturados, assegurar a sua segurança alimentar e energética, coisas que o Brasil pode fazer muito bem (com mais investimentos... chineses). Alinhar-se a Trump para “salvar o Ocidente”? Qual é o maluco que acredita numa coisa dessas?
O tema mais relevante das relações regionais, a terrível crise na Venezuela, recebeu num primeiro momento um tratamento pouco diplomático: primeiro a recusa de qualquer diálogo com o governo ditatorial; depois a “instrução” dada a nossos diplomatas em Caracas de que eles deveriam reportar-se unicamente a Guaidó, não a Maduro, quando aquele não tem qualquer controle sobre os mais modestos mecanismos administrativos do país; em seguida, a ruptura de quaisquer relações militares com os bolivarianos, o que justamente irritou nossos militares e levantou os alarmes ao seio do núcleo mais racional do atual governo. As inconsistências nessa área foram tantas que logo instalou-se um “cordão sanitário” em torno do chanceler para impedi-lo de fazer aquilo que está expressamente proibido pela Constituição: imiscuir-se nos assuntos internos de outros países, como planejado com a adesão ao plano americano de forçar a introdução de ajuda humanitária em território venezuelano. Foi preciso que o vice-presidente Mourão se tornasse o chefe da delegação brasileira na reunião do Grupo de Lima de Bogotá para impedir mais algum gesto tresloucado do chanceler: apoiar alguma aventura militar contra o nefando regime chavista-madurista.
Volto a perguntar: onde está a política externa do Brasil? Nos ridículos destemperos olavistas contra o globalismo? Na luta contra o marxismo cultural? Numa aliança com todos os regimes direitistas e xenófobos da Europa e com Trump? Na denúncia do Pacto Global das Migrações, quando o Brasil justamente possui dez ou vinte vezes mais emigrantes do que imigrantes e esse instrumento não afeta em nada nossa soberania? Um desses tresloucados chegou até a dizer nos EUA que os brasileiros apoiam a construção do muro que Trump continua insistindo em erigir na fronteira com o México!
O que pretende, exatamente, o chanceler? Ele começou subvertendo toda a hierarquia do Itamaraty, colocando “coronéis” dando ordens a “generais”, ou seja, ministros de segunda classe comandando embaixadores mais experientes, Depois impôs uma reforma autoritária, feita secretamente no bunker do governo de transição, inclusive por amadores externos, e alterou significativamente estruturas mais racionais, ainda que extensas, da administração anterior. Os EUA constituem agora um departamento exclusivo, mas a Europa encontra-se relegada à vala comum da África e do Oriente Médio, já que ela seria um “vazio cultural”, segundo um artigo surrealista publicado nos Cadernos de Política Exterior do IPRI, que eu dirigia até ser exonerado. Mas, e como fica a recomendação de ler menos o New York Times? Certas pessoas não se pejam do ridículo...
Sobre a minha exoneração, não há muito mais a ser dito. Permito-me apenas registrar que o chanceler atual pretendeu negar-me a mesma liberdade de opinião que ele teve, na gestão Aloysio Nunes, e que ainda tem, para alimentar seu blog com vituperações direitistas, quando ele nada tinha feito nos 13 anos da hegemonia companheira, durante os quais eu não tive nenhum cargo na Secretaria de Estado, fazendo da biblioteca do Itamaraty o meu escritório de trabalho, Foi num destempero que decidiu punir-me no direito de alimentar um blog com materiais que, aliás, são veiculados nos próprios clippings de notícias da Casa. Fui exonerado do IPRI, mas sigo sendo funcionário do Estado, agora humildemente lotado na Divisão do Arquivo do Itamaraty.
Cabe talvez um aviso aos que pretendem cercear-me a liberdade de opinar e de debater ideias e posturas da diplomacia brasileira. A despeito de várias punições funcionais, por publicar artigos que eu sempre entendi adequados à minha condição de diplomata e de acadêmico, creio ter adquirido o direito de dissentir das verdades reveladas. Depois do meu livro de 2014 – Nunca Antes na Diplomacia – e do seguinte, poucos meses atrás – Contra a Corrente: ensaios contrarianistas..., 2014-2018 –, este Miséria da Diplomacia pretende, como todos os outros, deixar registro de minhas reflexões sobre um método, o da diplomacia, e sobre um conteúdo, o da política externa.
O tempo que agora passarei na Divisão do Arquivo me permitirá consultar velhos maços de documentos históricos, em vista de mais um livro sobre a fase republicana da diplomacia econômica do Brasil, na primeira metade do século XX, até Bretton Woods. Mas não deixarei de acumular também material sobre o tempo presente, a história imediata, tantos são os desafios para, primeiro entender, depois interpretar a diplomacia miserável que estão obrigando os diplomatas profissionais a executar.
Esses novos materiais ficam reservados para um próximo livro, que não sei quando virá. Tudo depende das circunstâncias e do estado da nossa diplomacia...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de julho de 2019

Nota: Todas as opiniões aqui expressas são da inteira responsabilidade deste autor, não coincidindo necessariamente com as posições do órgão público cujos quadros o autor integra nem de qualquer outro órgão do governo brasileiro.

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Uma cegueira persistente – o sentimento de uma superioridade ilusória – mantém a ideia de que todos os países de grande extensão existentes em nosso planeta devem seguir um desenvolvimento que os levará ao estado dos sistemas ocidentais atuais, teoricamente os melhores, praticamente os mais atrativos; que todos os demais mundos estão apenas impedidos temporariamente – por causa de governantes malvados ou por graves desordens internas, ou por barbárie e incompreensão – de se lançar na via da democracia ocidental, com partidos múltiplos, e de adotar o modo de vida ocidental. E cada país é julgado segundo seu grau de avanço nessa via. Mas, na verdade, esta concepção nasceu da incompreensão pelo Ocidente sobre a essência dos demais mundos, que são abusivamente medidos segundo o padrão ocidental. O cenário real do desenvolvimento em nosso planeta tem pouco a ver com isso.

Alexandre Soljenitsyn, discurso na 327ª. formatura na Universidade de Harvard, junho de 1978.

Este livro é dedicado a Carmen Lícia Palazzo, companheira exemplar de toda uma vida e de todas as nossas jornadas, plenas de viagens, de aventuras e de muitas leituras, com todo o meu amor...
Também a Pedro Paulo e Maira, e aos nossos netos queridos, Gabriel, Rafael e Yasmin, que encantam doravante nossas jornadas de felicidade, com a promessa de novas aventuras, de viagens, de mais leituras, com todo o nosso amor.


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