No dia 4 de março passado, redigi um texto para introduzir três textos sobre a diplomacia brasileira, para convidar a um debate sério sobre as novas orientações da política externa brasileira. Eram eles uma palestra do embaixador Rubens Ricupero na Casa das Garças, no dia 25 de fevereiro, um artigo do ex-presidente e ex-chanceler FHC sobre a questão da Venezuela, no domingo de Carnaval, 3 de março, e, finalmente, um raivoso artigo do chanceler acidental respondendo acerbamente aos dois primeiros, colocado em seu bizarro blog, "Metapolítica 17: contra o globalismo", cerca de 23hs desse mesmo dia.
Juntei os três num arquivo, fiz a introdução que segue abaixo, e coloquei no meu blog cerca de 1h30 da madrugada da segunda-feira de Carnaval, 4 de março. Não durou muito o meu sono; cerca de 8hs da manhã, fui despertado pelo Torquemada do chanceler, para dizer que meus dias, na verdade horas, estavam contados à frente do IPRI. [In fine, transcrevo a nota que elaborei no dia de minha exoneração.]
Os três textos referidos estão aqui:
https://www.academia.edu/38480507/A_politica_externa_brasileira_em_debate_Ricupero_FHC_e_Araujo
Na sequência de minha exoneração, publiquei o livro "Contra a Corrente: ensaios contrarianistas...", e fui cuidar da vida, como sempre na biblioteca. Fiquei lendo, como sempre faço, e daí resultou este meu novo livro: "Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty", pois é isso que os novos guardiães do pensamento único estão cumprindo zelosamente.
A partir de agora, vou tratar de escrever coisas mais positivas sobre a política externa e a história diplomática brasileira, deixando a mediocridade de lado.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de julho de 2019
A política externa brasileira em debate: Ricupero, FHC
e Araujo
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: textos para debate; finalidade: discutir as orientações da
diplomacia]
Sumário
1)
Introdução: Paulo Roberto de Almeida, 4 de março de 2019 1
2) Rubens
Ricupero, 25 de fevereiro de 2019 2
3) Fernando
Henrique Cardoso, 3 de março de 2019 13
4) Ernesto
Araujo, 3 de março de 2019 15
1)
Introdução: Paulo Roberto de Almeida, 4 de março de 2019
Em toda a minha carreira
diplomática, sempre defendi ideias próprias sobre as orientações de nossa
política externa, o que aliás foi objeto de algumas controvérsias e umas tantas
advertências de superiores quanto a certas posturas que mantive e mantenho em
discordância eventual com as orientações oficiais. Nunca me abstive de
expressar minhas opiniões a esse respeito, inclusive por escrito, o que aliás
suscitou uma ou outra “punição” em certas ocasiões, e um longo ostracismo sob o
lulopetismo, que sempre considerei a deformação maior de nossa política, não
apenas pela sua extraordinária inépcia administrativa e formidável corrupção,
mas também pelos equívocos de política econômica, que nos levaram ao que já
chamei de “Grande Destruição”, a inédita recessão que ainda penaliza o povo
brasileiro até muitos anos à frente.
Na área da política
externa – justamente a que motivou a minha longa travessia do deserto durante
toda a duração do criminoso regime –, minhas discordâncias eram conceituais,
operacionais, metodológicas, substantivas e de estilo, ou seja, em toda a
linha. Em qualquer hipótese, numa me eximi de manifestar essas discordâncias,
de forma mais discreta ao início, de maneira aberta ao final, e atualmente.
Mas, já estamos em outro regime, supostamente oposto em toda a linha ao regime
lulopetista anterior.
Isso não me exime, no
entanto, de continuar seguindo a política externa do atual governo, e de
formular eventualmente a minha opinião sobre as orientações em curso. No
momento, não disponho de nenhum texto estruturado sobre a atual diplomacia,
inclusive porque não tivemos, até o presente momento, nenhuma exposição
abrangente, sistemática e completa sobre os fundamentos políticos, as
orientações conceituais, as prioridades e as preferências táticas da política
externa do governo Bolsonaro, a não ser a emissão de alguns grandes slogans,
que não constituem um documento de política, mas apenas conceitos gerais, que
revelam intenções, mais do que uma estratégia precisa.
Mas, o debate já está
aberto, aliás desde antes das eleições, e desde antes da posse do novo governo,
em função de declarações do chanceler designado, o que suscitou uma série de
reações, favoráveis e contrárias, na comunidade interessada em política
externa. De minha parte não me pronunciei a respeito, mas venho seguindo
atentamente essas manifestações, e postando no meu blog Diplomatizzando os
textos mais relevantes. É o caso agora, com três exposições razoavelmente
abrangentes sobre essas orientações gerais em política externa, e mais especificamente
sobre a Venezuela; possivelmente o caso que servirá de teste para a diplomacia
brasileira na presente conjuntura. Além desse test-case, permanecem questões de fundo que ainda serão mais
debatidas. Transcrevo aqui os três textos mais significativos do debate atual,
os dois primeiros nominalmente mencionados no terceiro, do próprio chanceler,
que os acusa, de forma direta e nominal, de serem parte de uma diplomacia que
ele rejeita e abomina.
O debate está aberto, e
certamente teremos outros textos e outras polêmicas.
Minha função é esta: abrir
meu espaço público a ideias inteligentes para o debate de pessoas inteligentes.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de março de 2019
(...)
Ler o arquivo de debate e comentários neste link:
https://www.academia.edu/s/70710c9869/a-politica-externa-brasileira-em-debate-ricupero-fhc-e-araujo
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Transcrevo a nota que fiz no momento de minha exoneração:
Nota sobre minha exoneração como diretor do IPRI
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: esclarecimento público; finalidade: informação preliminar]
Durante os treze anos e meio do regime lulopetista, do início de 2003 até o impeachment de meados de 2016, permaneci à margem de qualquer cargo na Secretaria de Estado, por motivos que podem ser facilmente detectáveis por todos aqueles que acompanham meus escritos e minha atividade intelectual: nunca escondi minha postura em face de uma diplomacia que eu considerava, em termos objetivos, inadequada aos interesses do Brasil. Reflexos dessa grande travessia do deserto, um ostracismo até irregular no plano administrativo, apareceram em meu livro de 2014: Nunca antes na diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Appris).
Resgatado de um exílio totalmente involuntário, que durou o dobro de meu exílio voluntário durante o regime militar, assumi, em agosto de 2016, o cargo de diretor do IPRI, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, e tudo o que fiz nestes dois anos e meio pode ser visto em meu blog Diplomatizzando(relatório e programa de trabalho: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/relatorio-de-atividades-do-diretor-do.html). Aparentemente, esse mesmo blog, que me serviu como quilombo de resistência intelectual durante os anos do lulopetismo diplomático, abriu a justificativa, agora, para minha exoneração, pelo fato de ter postado artigos críticos à política externa atual – do ex-ministro Rubens Ricupero, e ex-chanceler e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – juntamente com um artigo do próprio chanceler atual, e convidando a um debate sobre a diplomacia corrente. Adicionalmente, meu blog trouxe críticas a uma personalidade bizarra do momento político brasileiro, totalmente inepta em matéria de relações internacionais, mas ao que parece grande eleitor nas circunstâncias atuais.
Voltarei a fazer da Biblioteca do Itamaraty o meu escritório de trabalho, como foi o caso durante os longos anos de ostracismo sob o lulopetismo. Aproveito para anunciar meu próximo livro: Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Appris). A vida continua...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de março de 2019
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