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sábado, 7 de dezembro de 2019

O sujo mundo das milícias digitais que impulsionam o gabinete do ódio do bolsonarismo conspiratório

Parte de robôs bolsonaristas usados em ataques tem origem no exterior

Apresentação usada por Joice Hasselmann (PSL-SP) na CPMI das Fake News - Reprodução/UOL
Apresentação usada por Joice Hasselmann (PSL-SP) na CPMI das Fake News Imagem: Reprodução/UOL
Uma parcela dos robôs que atuam na militância virtual bolsonarista tem origem no exterior, de acordo com integrantes da comissão mista que investiga a disseminação de notícias falsas.
Assim como ocorreu nos EUA, na França e no México, as eleições e os debates políticos brasileiros podem estar sendo influenciados por forças externas, contratadas desde o Brasil ou diretamente pagas no exterior.
O uso de robôs políticos está em destaque desde o depoimento da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) nesta quarta-feira na CPMI das Fake News.
Antes aliada da família Bolsonaro, a relevância da narrativa de Hasselmann está na fissura que provocou na máquina de promoção e linchamento virtual governista.
Hasselmann revelou que 1,4 milhão dos 5,5 milhões de seguidores do presidente Jair Bolsonaro corresponde a robôs, ou seja, 25% são usuários artificiais geridos por computador. A deputada do PSL apresentou estudo que indicou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, a quem qualificou de chefe do "gabinete do ódio", tem 468 mil robôs em meio ao 1,7 milhão de seguidores que possui, o equivalente a 26% de perfis falsos.
De acordo com a deputada, servidores e recursos públicos alimentam a máquina virtual, com uma só hashtag a ser lançada na rede custando R$ 20 mil.
Houve momentos constrangedores no depoimento como quando Hasselmann disse a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) que Bolsonaro questionara se a parlamentar fora prostituta na Espanha ou aquele em que o plenário da CPMI ouviu gravação de assessor de Eduardo Bolsonaro fazendo referências chulas a ex-aliados.
Decoro e elegância parecem coisas ultrapassadas quando a militância virtual está em questão. Os robôs bolsonaristas adoram trocadilhos com aqueles que apoiaram ou tinham a admiração do presidente e em algum momento saíram do tom. Trump vira Trapo; Lobão é rebatizado de Lobostão; Alexandre Frota de Fruta. Estes são alguns dos apelidos publicáveis porque há uma dezena deles com trocadilhos com alusões genitais a nomes como o do general Santos Cruz ou ex-ministro Gustavo Bebbiano.
Os robôs têm sido usados por todo o espectro político não apenas para conquistar seguidores, mas também para conduzir ataques a opositores. São contas de redes sociais controladas por software que gera artificialmente conteúdo e estabelece interações com não robôs. As contas buscam imitar o comportamento humano, interferir em debates espontâneos e criar discussões forjadas. Criam a falsa sensação de amplo apoio político a certa proposta, ideia ou figura pública, modificam o rumo de políticas públicas, interferem no mercado de ações, disseminam rumores, notícias falsas e teorias conspiratórias, geram desinformação e poluição de conteúdo. Um quinto das discussões políticas em momentos importantes como as eleições têm origem em robôs, contabilizou a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV.
É difícil, entretanto, que a partir do relato de Hasselmann haja punição aos mentores de linchamentos virtuais. O crescimento da ação de robôs representa riscos concretos à democracia ao manipular o processo de formação de consensos e do estabelecimento das agendas públicas e ao influenciar na escolha de representantes no Executivo e no Legislativo.

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