quinta-feira, 3 de junho de 2021

A inserção econômica internacional do Brasil em perspectiva histórica (1999) - Paulo Roberto de Almeida

Um trabalho antigo mas que ainda se sustenta no longo prazo do processo histórico de desenvolvimento do Brasil, em perspectiva histórica com outros países que se desenvolveram nos últimos dois séculos.

713. “A inserção econômica internacional do Brasil em perspectiva histórica

Washington, 20 outubro 1999, 15 p. 

Versão revista do primeiro capítulo do livro O estudo das relações internacionais do Brasil. Publicado em Cadernos Adenauer 2, “O Brasil no cenário internacional” (São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000, p. 37-56). 

Relação de Publicados n° 252. 

Sumário: 

1. O Brasil de 1820 a 1870: partida difícil, baixa dispersão mundial 

2. O Brasil de 1870 a 1900: crescimento modesto, ascensão do café 

3. O Brasil de 1900 a 1913: aumentam as distâncias internacionais 

4. O mundo entre 1913 e 1950: catástrofes econômicas e sociais 

5. O grande crescimento de 1950 a 1973: a Ásia e o Brasil decolam 

6. Crise e crescimento de 1973 a 1992: as diferenças se acentuam 

7. Desempenho do Brasil e da economia mundial: visão geral 

Bibliografia e tabelas estatísticas


A inserção econômica internacional do Brasil

em perspectiva histórica

 

 
Paulo Roberto de Almeida

Sociólogo. Diplomata.

Cadernos Adenauer 2, “O Brasil no cenário internacional”

São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000, pp. 37-56).

 

 

O crescimento da economia brasileira registrou grande dinamismo no século XX, pelo menos até seu último quarto: a taxa de expansão do PIB, entre 1870 e 1987, foi de 4,4% ao ano, em média, desempenho poucas vezes igualado na história mundial (Maddison, 1989). Entre 1870 e 1987, o PIB brasileiro foi multiplicado 157 vezes, contra apenas 84 vezes para o Japão e 53 para os Estados Unidos, as duas outras economias de grande dinamismo desde o início da segunda Revolução Industrial. Mesmo considerando-se apenas o período final desse corte temporal, o desempenho da economia brasileira foi impressionante: entre 1957 – data decisiva no processo de modernização brasileira, com a implantação da indústria automobilística – e 1986, a expansão do PIB brasileiro foi de 594,9%, contra um aumento acumulado de apenas 150,4% para o PIB dos Estados Unidos. Em consequência, a distância que separava o PIB nominal brasileiro do dos EUA foi encurtada: de mais de 44 vezes, em 1957, para “apenas” 16 vezes mais em 1986.

Entretanto, a despeito desse desempenho nominal, a economia que mais avançou em termos de renda per capita foi a do Japão, com um crescimento da ordem de 2,7% ao ano no mesmo período, contra apenas 2,1% para o Brasil, este penalizado pelo seu “dinamismo” demográfico. Com efeito, a razão para a diferença de crescimento líquido em relação ao Japão e aos Estados Unidos se situa na vertente do crescimento demográfico, duas vezes mais importante no Brasil ao longo do período, o que reduziu a expansão do seu PIB per capita. Entre o terço final do século XIX e meados do XX, o número de brasileiros triplicou: de um total de 10 milhões de habitantes em 1872 – primeiro recenseamento –, a população brasileira alcançou 41 milhões de pessoas em 1940 e 51 milhões em 1950, tendo triplicado desde então. A taxa de crescimento demográfico, que era de 2,34% ao ano entre 1940 e 1950, passou a 3,17% nos anos 50. Ela caiu para 2,91% ao ano entre 1960 e 1970 e mais ainda a partir dos anos 80 e 90, situando-se num patamar de relativo equilíbrio (menos de 1,6% ao ano), embora com taxas significativas para as zonas rurais e os estratos mais pobres da população.

Adicionalmente à “bomba demográfica”, que diluiu os frutos da expansão do produto, fatores externos a partir dos anos 70 (choques do petróleo em 1973 e 1979, crise da dívida externa em 1982) e obstáculos internos (aceleração da inflação, ruptura de confiança na administração e desorganização da economia) atuaram no sentido de reduzir o ritmo de crescimento. Em consequência, a distância entre o PIB nominal e o PIB per capita do Brasil em relação aos países mais avançados voltou a aumentar.

A estabilização econômica iniciada em 1994 não permitiu a retomada dos índices de crescimento que tinham caracterizado a economia no período mais intenso do processo industrializador. A globalização financeira ofereceu acesso aos capitais (para financiar os déficits em transações correntes), mas criou novos focos de instabilidade em virtude da inversão repentina de alguns desses fluxos. A fase de crises e de turbulências financeiras nas economias emergentes dos anos 1997-99, invertendo a (até então) “irresistível ascensão” das economias asiáticas – e levando muitas delas a um relativo declínio –, ainda está muito próxima para permitir ao observador uma análise isenta e de maior profundidade quanto à verdadeira tendência do ciclo econômico naquela região e, de modo geral, nas economias emergentes. Não há certeza quanto à natureza dos desenvolvimentos nessas economias, inclusive na brasileira, razão pela qual uma análise de tipo estrutural deve se deter na fixação das grandes tendências de desenvolvimento conhecidas no passado. Para a análise do desempenho econômico do Brasil no contexto do sistema mundial desde 1820 valemo-nos da metodologia e das informações compiladas em estudo comparativo do Prof. Angus Maddison (1995), cujos cálculos econométricos, apresentados na Tabela 1, formam a base dos parágrafos seguintes.

 

1. O Brasil de 1820 a 1870: partida difícil, baixa dispersão mundial

(...)


Ler a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/49115167/A_insercao_economica_internacional_do_Brasil_em_perspectiva_historica_1999_


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