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quinta-feira, 3 de junho de 2021

Charles Gauld: Farquhar, o último titã, um empresário americano na América Latina - Book



Charles A. Gauld: 
FARQUHAR, O ÚLTIMO TITÃ
Tradução de Eliana Vale
Editora de Cultura / ISBN: 85-293-0100-5
536 páginas – 16 x 23 cm

FARQUHAR, O ÚLTIMO TITÃ

Odisséia de um homem de visão

Percival Farquhar (1864-1953), um dos mais persuasivos empreendedores do ramo ferroviário na história econômica das Américas, foi um dos últimos construtores de impérios da época moderna.

Ronald Hilton, professor emérito da Universidade Stanford, apresenta o livro


durante a Conferência WAIS naquela universidade, em 2006. 

(Foto: Eliana Vale)


Está à disposição do público brasileiro um dos clássicos mais raros do brasilianismo. Esgotado nos EUA, onde só existe um exemplar disponível para consulta na Universidade Stanford, ele chega às livrarias por obra da Editora de Cultura após mais de uma década de negociações sobre direitos autorais, pois seu autor, Charles Gauld, faleceu sem herdeiros nos anos 1970. A obra utilizada na tradução foi emprestada de um colecionador.

Tido pelos nacionalistas do século passado como encarnação do imperialismo, o americano Percival Farquhar sonhou enriquecer, colocando o Brasil na trilha do desenvolvimento à moda americana. E não mediu esforços para realizar seus sonhos, encarando as derrotas como obstáculos contornáveis e se dispondo a iniciar uma empresa já na altura dos 70 anos.

Segundo o jornalista Elio Gaspari, Farquhar “foi o maior empresário de serviços públicos da história nacional. Em negócios de hoje, ele seria o controlador ou grande acionista da Light, da Eletropaulo, Embratel, Telefônica e Telemar. Isso e mais a Vale do Rio Doce, a Acesita, os metrôs do Rio e de São Paulo, dez ferrovias e um porto. Suas PPPs contribuíram para a explosão da revolta sertaneja do Contestado (três mil mortos) e para a mortandade da Madeira-Mamoré”.

Em 2007, três grandes empreendimentos de Farquhar completam o centenário de início de obras: o Porto de Belém, no Pará; a Madeira-Mamoré, em Rondônia (cidade criada em função das obras da ferrovia), e a Brazil Railway, cujo projeto era se tornar um sistema ferroviário transcontinental, interligando o sul do Brasil ao Pacífico.

Charles A. Gauld, jornalista e historiador, escreveu a biografia originalmente como tese de doutorado, que apresentou à Universidade Stanford. Seu orientador, Ronald Hilton, considerando o trabalho “minucioso e rico em fontes e detalhes”, apoiou sua publicação pelo California Institute of International Studies, de Stanford em 1964.

A obra, finalizado em 1962/1963, reflete bem as preocupações dos EUA em relação ao futuro político da América Latina em um momento em que Cuba se voltava para a União Soviética e o presidente do Brasil – João Goulart – era considerado “esquerdista". O clima que precedeu o golpe militar de 1964 no Brasil fica ali muito claro. Por outro lado, as fotografias que ilustram a obra dão conta da vastidão dos interesses de Farquhar e das dificuldades que ele enfrentou.

Um preview do livro aconteceu na Livraria da Universidade Stanford em 31 de julho de 2006, durante a Conferência Internacional do World Association of International Studies (WAIS). Na ocasião, o professor Ronald Hilton, do alto de seus 96 anos, festejou o lançamento da obra de seu aluno para o público brasileiro. (Foto)


Press Release: 

 

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Elaborei uma resenha desse livro quando ele foi lançado no Brasil: 

1666. “O imperador americano das PPPs”, Brasília, 20 setembro 2006, 2 p. Resenha de Charles A. Gauld: Farquhar, o último titã: um empreendedor americano na América Latina (São Paulo: Editora de Cultura, 2006, 520 p.). Publicada em formato resumido e revisto na revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília, IPEA-PNUD, a. III, n. 27, out. 2006. p. 63). Relação de Publicados n. 707.

Eis a resenha em versão integral: 

O imperador americano das PPPs

 

Charles A. Gauld

Farquhar, o último titã: um empreendedor americano na América Latina

São Paulo: Editora de Cultura, 2006, 520 p.; tradução de Eliana Nogueira do Vale.

 

Quem imagina que as PPPs sejam uma moderna contribuição do governo petista para reagir a uma suposta “privataria da era neoliberal”, faria bem em revisar sua lição de história. Elas começaram mais de um século atrás, em pleno império, como solução à crônica falta de capitais, no Brasil, para obras de grande porte. A monarquia e a velha república viveram de PPPs por décadas, em modalidades não muito diversas das que hoje são mobilizadas para assegurar um retorno adequado ao investimento privado: à época, os investidores estrangeiros (na maior parte ingleses) tinham direito à famosa “garantia de juros”, tipicamente de 6% ao ano.

Percival Farquhar foi, segundo Gauld, o “maior vulto americano da história do Brasil”, demonizado pelos nacionalistas, incompreendido pelos políticos, hostilizado pelos xenófobos e nada conhecido pelos atuais promotores das PPPs “republicanas”. Nos países vizinhos ele seria chamado de gringo explorador, o típico ianque imperialista que todos adorariam odiar. No Brasil, foi respeitado no início de seus muitos investimentos em obras públicas e empreendimentos extrativistas, passou a ser temido quando adquiriu as dimensões de um Mauá estrangeiro e foi impiedosamente expropriado ao longo da era Vargas. Poucos sabem que a Vale do Rio Doce começou pelas suas mãos: a Itabira Iron Ore Company, que, aliás, já existia antes dele adquiri-la, em 1919. A Vale, a Acesita, a Ports of Pará – construída para exportar a borracha da Amazônia e que começou a funcionar no momento mesmo da crise trazida pela concorrência da Malásia, em 1913 – e várias outras companhias fundadas por Farquhar foram nacionalizadas no decorrer da dura batalha que ele travou contra os demolidores do formidável império econômico que foi construindo a partir de 1904. 

A despeito do tom encomiástico, Gauld reconstrói, além do itinerário desse imperialista exemplar, vários capítulos de nossa história econômica: quase não há setores – que os militares chamariam de “estratégicos” – em que ele não tenha colocado os capitais de seus associados estrangeiros: bondes, ferrovias, navegação, portos, hidrelétricas, pecuária, processamento de carne, agricultura e silvicultura, extração mineral, indústrias de papel e siderurgia. Como Mauá, ele enfrentou inúmeros problemas, a maior parte vinda do próprio Estado brasileiro, mesmo se ele praticou a arte (não inusitada) de “comprar” deputados e jornalistas para defender os seus interesses. Imperialista bizarro, Farquhar apreciava mais o risco do investimento do que a cor do dinheiro; foi um verdadeiro pioneiro, como seus ancestrais quackers, podendo até ser equiparado, sem nenhum exagero, aos nossos bandeirantes. 

“Os brasileiros”, disse uma vez Farquhar, “chamaram minha atenção pela rapidez de raciocínio, embora estejam igualmente prontos a chegar a conclusões apressadas”. Em 1906 ele já se queixava da “constante flutuação da taxa de câmbio” e, no final da vida, em 1952, registrava a “vã manifestação de esperança”, mantida durante meio século, de que algum dirigente corrigisse a “instável economia do Brasil, em perpétua inflação”. A obra reflete o momento em que foi escrita (1962), quando os EUA consideravam que o Brasil corria o risco de tornar-se uma “grande Cuba”. Gauld não esconde uma incontida admiração pelo seu herói e certa impaciência com os nacionalistas brasileiros. Os editores e a tradutora estão de parabéns pela corajosa iniciativa de publicar esta obra esquecida sobre o mais poderoso capitalista estrangeiro da história do Brasil, cujos historiadores parecem querer continuar mantendo no anonimato. 

Candidatos a uma boa dissertação doutoral estão convidados a reescrever, de maneira não apologética, sua fabulosa história de vida, que se confunde com meio século de história econômica brasileira, mas os próprios editores brasileiros desconhecem que os papéis de Farquhar e os manuscritos de Gauld estão depositados na biblioteca da universidade de Yale. Ao garimpo, historiadores...

 

Paulo Roberto de Almeida

[Brasília, 20 setembro 2006, 2 p.]

Publicada em formato resumido e revisto na

revista Desafios do Desenvolvimento

(ano 3, nº 27, outubro 2006, p. 66.

 




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