Guerra com a Otan seria uma catástrofe global, diz Putin
Russo abranda discurso sobre conflito na Ucrânia, sugere objetivo e anuncia fim da mobilização
14.out.2022 às 10h15
Atualizado: 14.out.2022 às 11h41
Igor Gielow
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta (14) que um confronto de seu país com a Otan provocaria uma "catástrofe global" e sinalizou um abrandamento na condução da Guerra da Ucrânia, negando a necessidade de mais ataques maciços e sugerindo novamente que pode se satisfazer com os territórios que anexou do vizinho.
Putin falou em uma entrevista coletiva em Astana (Cazaquistão), onde participa de uma conferência de líderes de países eurasianos. Depois de ter elevado a retórica nuclear, ao sugerir que armas atômicas poderiam ser usadas para defender suas conquistas na Ucrânia, ele jogou a bola de volta ao Ocidente.
Na véspera, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, havia dito que o Exército russo seria "aniquilado" se Putin empregasse armamento nuclear. "Eu espero que esses que estão dizendo isso [um confronto com a Rússia] sejam espertos o suficiente para não dar tais passos", afirmou, citando o risco de "catástrofe global" de um embate atômico.
Borrell disse que a reação ocidental seria com armas convencionais, mas a doutrina russa é clara ao dizer que artefatos atômicos serão utilizados caso haja risco existencial, nuclear ou não, ao Estado ou a seus aliados.
Em uma entrevista à rede de TV americana NBC, o ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, disse que a Ucrânia e o Ocidente não deveriam pressionar um país com armas nucleares. "Não encurrale seu oponente", afirmou ele, que acaba de montar uma nebulosa força conjunta de fronteira com o aliado russo.
Mordida dada, foi a vez de Putin assoprar, a seu modo, claro. "Nós não nos demos a tarefa de destruir a Ucrânia, claro que não. Não há necessidade de ataques maciços", afirmou, ao ser questionado sobre a continuidade dos bombardeios com mísseis e drones a alvos da infraestrutura civil do vizinho.
Ataques do tipo ocorreram ao longo de toda a guerra, mas foram concentrados numa grande ação na segunda (10), em vingança pelo ataque contra a ponte que liga a Rússia à Crimeia anexada em 2014. Putin reafirmou que seu bombardeio foi retaliatório e preventivo. "Para agora há outras missões porque, eu creio, só 7 de 29 alvos não foram atingidos [na segunda] como planejado, mas vamos atingi-los gradualmente", afirmou o russo.
Além disso, o presidente russo novamente sugeriu que o caminho para uma negociação passa pelo reconhecimento da anexação de quatro regiões que não controla totalmente no leste e no sul ucranianos, onde inclusive sofreu derrotas militares recentemente.
O fez dizendo que não há motivo para estender a mobilização de reservistas e que ela foi necessária porque "soldados profissionais não eram suficientes para manter as linhas", ou seja, as fronteiras que deseja ver desenhadas. Em votação na ONU, 140 países condenaram a anexação, 35 se abstiveram e 5, Rússia inclusa, rejeitaram a crítica.
Mais: disse que a mobilização vai parar em 222 mil homens, e não os 300 mil informados inicialmente. Destes, 33 mil já estariam em unidades militares e 16 mil, em combate na Ucrânia. Altamente impopular e com efeitos na sua aprovação em pesquisas, o alistamento deverá acabar em duas semanas.
Sobre conversas de paz em si, o russo voltou a dizer que seu país está aberto, mas com mediação internacional, dado que não vê interesse do lado ucraniano. E descartou conversar com o presidente americano, Joe Biden, em Bali, onde ocorrerá uma reunião do G20 em novembro.
Criticou a Alemanha pelo seu apoio a Kiev, em detrimento da parceria energética construída ao longo de anos com Moscou. "Ela precisa decidir o que é mais importante: cumprir obrigações de alianças ou seu interesse nacional. No caso, a Alemanha tem colocado suas obrigações com a Otan acima de tudo, e eu acho que isso é um erro", afirmou.
Putin admitiu que há ansiedade entre os países que, como a Ucrânia e a Rússia, compunham a União Soviética até 1991 —o anfitrião Cazaquistão entre eles. "Certamente nossos sócios estão interessados e também preocupados pelo futuro das relações entre Rússia e Ucrânia. Mas isso não afeta em nada a qualidade e a profundidade de nossa relação com eles."
Por fim, repetiu que não se arrepende da guerra. "Não. Quero deixar isso claro: o que está acontecendo hoje é desagradável, para colocar de forma branda, mas nós teríamos de fazer a mesma coisa um pouco depois, apenas em condições piores para nós, é isso. Então estamos agindo corretamente", disse.
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