domingo, 1 de janeiro de 2023

Bolsonaro lidera lista dos malas que atravancaram a vida nacional em 2022 - Mario Sergio Conti (FSP)

Bolsonaro lidera lista dos malas que atravancaram a vida nacional em 2022

Nomes que servem para esta época podre incluem Carla Zambelli, Padre Kelmon, Aécio, Moro, Neymar e Guedes

MARIO SERGIO CONTI

Folha de S. Paulo, 1/01/2023 


Dando seguimento a uma tradição ancestral, iniciada há um ano, eis os malas de 2022. A inspiração vem de Artur Xexéo, que por décadas arrolou os sem rodinha que atravancavam a vida nacional. Como chega ao fim o quadriênio em que quadrúpedes fizeram do Planalto sua estrebaria, a lista de tralhas serve para a era podre inteira.


Rodeada de estrelas verdes, amarelas, azuis e vermelhas está a imagem de Jair Bolsonaro. Nesta representação feita em linhas o presidente chora de boca aberta, mãos a meia altura e semblante desesperado. Ao fundo em letra cursiva os dizeres tá na hora do Jair, já ir embora..!


Ibaneis Rocha. Desconhecido fora de Brasília, já a partir do nome é o governador mais feio do Brasil, quiçá da América Latina. Fez corpo mole e foi meigo com bolsonaristas que queimaram carros e ônibus. Ao ver que podia se estrepar, dançou uma polca para disfarçar que é de extrema direita.


Bananinha. O terceirogênito da famiglia orientou sua turba a clamar por um golpe na frente de quartéis —e fugiu à sorrelfa para o Qatar. Os otários tomavam chuva e ele pegava um bronze. Foi flagrado alimentando camelos com pen drives.


Micheque. Oficiou rituais de magia negra para se perpetuar como grã-sacerdotisa do Alvorada. Debalde: o Chifrudo tinha muito que fazer no Planalto. Agora precisará dos pré-datados do Queiroz para promover urucubacas. O PT cogita banho de sal grosso, descarrego, exorcismo e desratização dos palácios de Niemeyer: pé de pato, mangalô, três vezes!


Kelmon da Silva. Não pode ser chamado de padre porque foi denunciado pela CNBB e deletado pela Igreja Ortodoxa do Peru. É um picareta com duplo timbre canônico.


Tucanos. Foram tão para a direita que não souberam mais voltar para o ninho. Tentaram pegar carona numa motociata protofascista e morreram atropelados. Requiescat in pace.


Neymar. Foi um ás em ostentar, se atirar no chão e pedir pênalti, esguichar lágrimas de crocodilo e descolorir a juba murcha. Apesar de pôr no bolso US$ 55 milhões no ano, rastejou e implorou a Bolsonaro que lhe perdoasse uma dívida de US$ 1,5 milhão com o Fisco. Eles se merecem.


Carla Zambelli. Quis ser a versão feminina de Billy the Kid, mas quem nasceu para Mazzaropi nunca chega a John Wayne. Embora lhe tenham cassado a pistola, todo cuidado é pouco: tem um arsenal com peixeiras, estilingues, chicotes, canivetes, bolas de gude, foices, zarabatanas e tacapes.


Aécio. Os ingênuos pedem sua opinião sobre teto de gastos, déficit fiscal e meio ambiente. Não é a praia dele, gente. O mineirinho maneiro pode falar de cátedra, isso sim, sobre carniceiros que desovam malas de bufunfa em pizzarias —mas gravam telefonemas.


Elon Musk. É o sem alça da devoção dos listados acima e abaixo. O über-ególatra lhes serve de exemplo para as virtudes cerúleas da livre iniciativa, do tecno-turbo-capitalismo que pariu essa toupeira topetuda. Ô cara chato.


Milton Ribeiro. Esqueceu? É o pastor que foi ministro da Educação. Aquele das Bíblias com sua foto. O do bolsolão do MEC, um esquema com carolas de quinta e barras de ouro de primeira. O condenado a pagar R$ 200 mil por jurar que gays são produto de "famílias desajustadas". Aquele que pintava o bigode: agora lembrou, né?


Moro. Quis ser o grande malandro da praça falando grosso com voz fina. Juiz inapto e ministro inepto, almejou aboletar-se no Supremo e —audácia do bofe— na Presidência. Rompeu com Bolsonaro com rugido de leão e voltou ao seu colo ronronando como um gatinho. Acabou o ano nas garras da Justiça Eleitoral.


Temer. O mordomo de filme de terror é uma unanimidade única no país polarizado. Nem Lula nem Bolsonaro quiseram seu voto. Se a Record fizer uma novela sobre o calvário do Nazareno, fará o papel do Iscariotes.


Guedes. Irascível, parece padecer de constipação crônica. Mas foram o fracasso e a presunção que fizeram dele um czar das batatadas. Se o desemprego despirocava, ficava enfezado, imitava seu capo e injuriava mulheres.Brigitte Macron e empregadas foram alvos da sua sanha.


Janaina Paschoal. A jiboia do impeachment foi tão sinuosa que deu um nó pescoço e se enforcou. Os eleitores mandaram a Medusa de volta ao Tatuapé ao som de Orlando Silva: "Tudo porém foi inútil/ Eras no fundo uma fútil".


Bolsonaro. Buáááá! Depois de quatro anos escarrando peçonha, atolou-se num charco de choro e chorume. O mala ao quadrado deixou para o crepúsculo do mandato a revelação do ácido em ebulição no âmago de sua alma amarga: o coitadismo boçaloide. Perdeu, mané, não amola. É mau que o Mal tenha sido endeusado por quase metade da nação. Mas em verdade vos digo: que ressoem em júbilo as trombetas porque a maioria o lançou "na fornalha ardente onde haverá pranto e ranger de dentes" (Mateus, 13:42).


Feliz ano novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.