Embraer negocia 1ª linha do cargueiro KC-390 fora do Brasil
Empresa que fornecer avião para a Arábia Saudita, que tem demanda para maior frota do modelo
A Embraer negocia com a Arábia Saudita a criação da primeira linha de produção da estrela de seu portfólio militar, o avião de transporte multimissão KC-390, fora do Brasil.
"Nossa proposta é maximizar a presença da Embraer, com escritório de engenharia, linhas de produção", afirmou Caetano Spuldaro Neto, vice-presidente da Embraer Defesa para Oriente Médio e Ásia-Pacífico, durante conferência empresarial do Grupo Lide, do ex-governador paulista João Doria, em Riad.
Desde que assinou no ano passado um memorando de entendimento com o fundo saudita Sami para disputar a substituição da frota de cargueiros C-130 Hércules em operação no reino do golfo Pérsico, a empresa tem discutido opções para a fabricação local do seu avião devido às características da demanda árabe.
Riad embarcou em um projeto modernizador de sua economia e sociedade, chamado Visão 2030, que visa libertar o país da dependência do petróleo, hoje responsável por 40% de suas receitas, segundo Osmar Chofhi, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
Para bancar a ideia, contudo, o país conta com seus petrodólares. O setor aeroespacial é um dos principais pilares do Visão 2030 por proporcionar não só compras de prateleira, mas parcerias tecnológicas.
É aí que entra a campanha do KC-390 na Arábia Saudita. O reino está interessado não só em comprar o avião, mas fabricá-lo e capacitar mão de obra local no processo —o plano é ter 50% do conteúdo local. Analistas de mercado afirmam que a Embraer conseguiria escalonar uma produção do tipo, dado o dinheiro disponível aos sauditas: o país teve o sexto maior orçamento de defesa do mundo em 2023, equivalente a R$ 340 bilhões.
O Oriente Médio é, proporcionalmente em relação ao PIB, a região do mundo onde mais se gasta em defesa. A rivalidade entre sauditas e seus aliados com o Irã, a guerra entre Israel e o Hamas e outros conflitos inspiram tal realidade.
"Contemplamos no nosso projeto um plano de uma linha montagem final e produção do KC-390. É uma proposta de valor alinhada com a Visão 2030", disse Spuldaro. Ele disse que as conversas envolvem aeronaves civis da Embraer, como o jato comercial E2, e carros voadores elétricos de sua subsidiária Eve.
A demanda nominal dos sauditas no campo de transporte militar a substituição paulatina de sua frota de 52 Hércules, lendário aparelho norte-americano que voa em diversas versões desde os anos 1950. Dessas, 33 são mais antigos modelos H, sem capacidade de reabastecimento em voo.
O KC-390 tem mirado o mercado mundial de Hércules. Além dos 19 aviões vendidos para sua primeira cliente, a FAB (Força Aérea Brasileira), a Embraer engatou uma série de negócios recentemente: cinco países europeusencomendaram ou selecionaram 18 aviões, a Coreia do Sul irá comprar 3.
O negócio saudita é de outra magnitude, com uma frota potencialmente superior à brasileira. Spuldaro disse que a ideia é transformar a Arábia Saudita em um centro de distribuição para todo o Oriente Médio.
Dali para chegar a outros ricos países da região, com os Emirados Árabes Unidos, é um pulo —ressalvando que, nesse mercado, a medida de tempo é em anos e sujeita a diversas intempéries.
A própria Arábia Saudita tem um longo histórico de negócios soluçantes de defesa, sujeitos a questões geopolíticas, como a aquisição de 54 novos caças ora em debate mostra: Riad queria ampliar sua frota do europeu Typhoon, mas aceitou a entrada do francês Rafale na disputa para pressionar melhores condições.
Os fabricantes europeus do Typhoon, Alemanha e Reino Unido à frente, haviam decretado um embargo parcial a Riad devido às violações aos direitos humanos do reino, mas a chegada dos franceses na disputa os fez abandonar os pudores.
Há um fator adicional para a Embraer, que é o peso político da relação entre a Arábia Saudita e os EUA, fabricantes do C-130. No mercado de defesa brasileiro, poucos esquecem que a escolha de Riad pelo tanque americano Abrams nos anos 1980.
O blindado havia sido derrotado tecnicamente pelo tanque brasileiro Osório, da Engesa, então uma das grandes empresas de defesa do mundo, mas a seleção acabou sendo política —e a fabricante paulista acabou falindo pelo investimento no produto, entre outros problemas.
O KC-390 segue em outras campanhas, como em Singapura e na Suécia, onde está avançada a negociação para uma compra casada: a venda do cargueiro para Estocolmo e a ampliação da frota de caças suecos Gripen, fabricados em conjunto com a Embraer, de 36 para 50 unidades.
O jornalista viajou a convite do Lide
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.