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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 17 de junho de 2020

Interesse Nacional e Interferência Externa - Rubens Barbosa (OESP)

INTERESSE NACIONAL  E INTERFERÊNCIA EXTERNA 
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 17/006/2020

          O governo brasileiro deverá em breve anunciar uma das decisões estratégicas mais importantes do atual mandato. Estava prevista para ocorrer em 2020 a licitação do uso da tecnologia de quinta geração para telefonia móvel que terá forte impacto sobre as pessoas e sobre as empresas. Não é uma decisão fácil. Qual o problema ? Aceitar ou não a utilização da tecnologia chines, mais avançada, mais barata, mas vetada pelos EUA no contexto da disputa com a China. Segundo se informa, o governo, seguindo informe politico do Itamaraty, teria  cedido a pressão do governo Trump e decidido impedir, por razões geopolíticas, a participação de empresa chinesa da licitação para a instalação dessa tecnologia no Brasil
Caso se confirme, essa decisão se choca com interesses nacionais concretos. Em primeiro lugar, vai obrigar as empresas de telecomunicações a trocar os equipamentos da empresa chinesa que a muitos anos são utilizados no serviço 3G e 4G pelo de outros fornecedores com um custo adicional e um atraso na entrada em funcionamento da nova tecnologia. Em segundo lugar, vai prejudicar a modernização da indústria nacional na saída da pandemia A modernização da industria poderia ser acelerada com a utilização da 5G pela velocidade do uso de dados, da internet das coisas e da robotização. O interesse das empresas é o de iniciar o mais rapidamente possível a utilização do 5G. Em terceiro lugar, o Brasil vai tomar partido em uma disputa entre os EUA e a China, que apenas se inicia e que deverá se estender por décadas pela hegemonia global no século XXI. Haverá certamente muitas outras disputas em que países, como o Brasil, deverão decidir sobre de que lado vão ficar. Não atende ao interesse nacional o Brasil tomar partido agora de um lado ou de outro. Em quarto lugar, vai acrescentar mais um elemento negativo no relacionamento com a China, o que poderá acarretar consequências no campo comercial, com eventual reflexo nas exportações do setor agrícola.
          Nesse, como em todos os outros casos, a decisão deveria ser tomada segundo nossos próprios interesses e conveniências, acima de considerações ideológicas ou geopolíticas. Alguns países europeus (Alemanha, França, Itália) e a India decidiram não excluir nenhuma empresa e buscar as melhores condições de mercado. Setores sensíveis de governo, em especial de defesa, podem ser segregados, se for o caso. No Brasil, o presidente Bolsonaro, o VP Mourão e o Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcio Pontes, tinham se manifestado a favor da livre concorrência, sem exclusão de nenhuma empresa na licitação que a Anatel deverá realizar. O novo ministro das Comunicações deverá seguir a posição do Itamaraty.
       Com essa decisão, o Brasil estará perdendo tempo precioso. A licitação deverá ser adiada para 2021 com prejuízo para a indústria que só vai poder utilizar essa tecnológica em 2022 ou 2023.

terça-feira, 10 de março de 2020

5G DECISÃO ESTRATÉGICA - Rubens Barbosa (OESP)

5G DECISÃO ESTRATÉGICA

Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 10/03/2020

Em 2020, o governo brasileiro deverá tomar decisão altamente estratégica com profunda repercussão na vida das pessoas e no setor produtivo. Na área tecnológica, colocará o país no caminho de interesses conflitantes dos EUA e da China. Refiro-me à licitação da rede 5G para todo o pais e à participação da empresa chinês Huawey, que dispõe de equipamentos de alta qualidade e de baixo custo, quando comparados com a Ericson e a Nokia.
Na disputa geopolítica, a emergência da China como uma potência econômica, comercial e tecnológica nos últimos 25 anos, fez com que se acirrasse a disputa com os EUA pela hegemonia global no século XXI.
Visando a afastar a concorrência da empresa chinesa mais avançada do que as ocidentais, os EUA invocam questões de segurança das redes 5G da Huawey, que poderiam colocar em risco os sistemas de inteligência dos países. Essas alegações ocorrem no momento em que a própria CIA divulga informações sobre a Crypto, empresa suíça que os EUA utilizaram com esses mesmos objetivos durante décadas durante a guerra fria, inclusive no Brasil. 
Apesar da oposição de Washington, a União Europeia decidiu não barrar a Huawey. Reino Unido (com restrições na participação em áreas sensíveis), Alemanha e India aprovaram os testes e contratos com a empresa chinesa. Apenas Japão, Austrália e Nova Zelândia, membros do grupo “Five Eyes” de inteligência, com Washington e Londres, cederam à pressão dos EUA e proibiram a entrada da companhia chinesa. O governo norte-americano intensificou o lobby contra a entrada da companhia chinesa também no mercado brasileiro. Donald Trump conversou com o presidente Bolsonaro sobre o assunto, o Secretário de Comércio, Wilbur Ross, disse publicamente que o assunto é do conhecimento das autoridades brasileiras e reiterou que a vulnerabilidade das redes 5G pode afetar o sistema de segurança dos países e a cooperação com os EUA. Na mesma linha, subsecretário para Comunicações do governo norte-americano e representantes do Comitê de Investimento Estrangeiro (CFIUS) alertaram as autoridades em Brasilia que os EUA poderão reavaliar o compartilhamento de informações nas áreas de inteligência e de defesa, caso se opte pela empresa chinesa para atuar na rede móvel 5G no Brasil. 
Recentemente, foram dados passos concretos para permitir a realização da licitação. O governo estabeleceu as diretrizes para o leilão da quinta geração da tecnologia de telefonia móvel com ampliação da oferta. O edital da ANATEL não impôs qualquer restrição à tecnologia 5G da Huawey.
Segundo estudo da Boston Consulting Group, para cada 1% de aumento da penetração da banda larga, o PIB brasileiro cresceria 0,7%.
A empresa chinesa está instalada no Brasil há mais de 20 anos. Segundo conversa mantidas com dirigentes das operadoras de comunicação brasileiras, a empresa chinesa tem hoje uma forte presença no mercado brasileiro e uma mudança de tecnologia causaria muitas dificuldades para o setor. A presença da Huawei no nordeste é crescente e se desenvolve através do Consórcio do Nordeste.
Durante recente visita a China, o presidente Bolsonaro disse que aguardaria a melhor oferta no leilão e ouviu a promessa de o Brasil receber investimentos na área de tecnologia da informação. O Vice-Presidente Mourão observou que nosso pais não tem receios em relação `a segurança e que o Brasil não vetaria a participação da Huawei. O ministro Marcos Pontes afirmou que não haverá nenhum tipo de barreira `a empresa chinesa. O Itamaraty estaria se opondo para não se contrapor a Trump. No jantar em Mar-a-Lago, no sábado, na Florida, Trump deve novamente ter feito pressão junto a Bolsonaro para o Brasil não aceitar a participação da Huawey.
A licitação da Anatel deveria ser mantida para 2020 e efetivada logo que possível. O adiamento para 2021 não mudará o dilema do governo brasileiro. O atraso na decisão tornará mais demorada a incorporação das novas tecnologias de inteligência artificial e internet das coisas, por exemplo, para a modernização da indústria brasileira. Segundo estudos da Fiesp, apenas 1,3% das indústrias podem ser consideradas como 4.0, o que demonstra nosso atraso tecnológico nesse setor.
Dificilmente os EUA retaliarão o Brasil pela decisão que for tomada. Diferente do Reino Unido e da Alemanha, o Brasil não participa de qualquer rede de inteligência e não tem acesso a informações privilegiadas dos EUA. Por outro lado, o Brasil poderá ser afetado, caso a China decida reorientar suas importações de produtos agrícolas nacionais.
Dada a importância da tecnológica 5G para economias emergentes, como a do Brasil, o governo não pode deixar de examinar essa questão do exclusivo ponto de vista do interesse nacional e com visão estratégica de médio e longo prazo. A aproximação com Trump e a visão ideológica não deveriam influir em uma decisão que afetará o futuro do país.
A disputa EUA-China colocará o Brasil em outros dilemas no futuro e a melhor atitude seria, desde o início, manter uma posição de equidistância das duas superpotências e colocar os interesses brasileiros em primeiro lugar.

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)

domingo, 23 de fevereiro de 2020

A batalha do 5G: entre os EUA e a China - Eliane Cantanhede (OESP)

Acho muito simplista apresentar essa questão do 5G como uma batalha pela dominação mundial entre os EUA (que estão atrasados nessa tecnologia, mas ainda são uma grande potência tecnológica) e a China (que já fez um avanço inacreditável na 5a revolução industrial).
Para mim, não vai haver batalha nenhuma, ou será como a "batalha de Itararé", aquela que não houve.
O que temos até aqui é os EUA atrasados nessa corrida tecnológica (inevitável e bem vinda), tentando  segurar nacos de mercado para si mesmos, mas sobretudo sua capacidade de penetrar sistemas de difusão de dados entre as novas ferramentas de comunicações e informações.
Essa acusação de que os chineses vão nos roubar "segredos de Estado" é risível, pois é o que mais os americanos fazem, contra inimigos e amigos...
O Brasil não deve se deixar pressionar pelos americanos, ainda que o presidente seja um fiel sabujo de Trump, junto com sua família e o chanceler acidental.
Temos de fazer uma análise isenta do que está em jogo, e entregar a decisão aos técnicos e economistas industriais, não aos políticos.
Paulo Roberto de Almeida

O controle do mundo

Recado dos EUA: opção pelo 5G chinês pode comprometer negociações na área de defesa

Eliane Cantanhede
O Estado de S. Paulo, 23/02/202

O Brasil está sofrendo pressões dos dois lados de uma guerra pós-contemporânea que tende a ter grande impacto na humanidade e tem nome curto, na verdade, uma sigla: 5G. Por trás desse avanço revolucionário há uma disputa entre Estados Unidos e China pela dominação do mundo no futuro.  
Parece exagero? Pode ser, mas os estrategistas dos países desenvolvidos se debruçam sobre o tema e o governo brasileiro, providencialmente cauteloso, criou um grupo de trabalho para analisar a questão sob os vários aspectos que ela abrange: financeiro, tecnológico, econômico e político, considerando a segurança de dados públicos, privados e individuais. Não é pouco. E não é fácil.  
Tanto os chineses pressionam o Brasil a favor do 5-G da Huawei, alegando preços menores e capacidade maior, quanto os americanos trabalham em sentido contrário, alertando para a “ameaça” que pode representar para a soberania nacional uma empresa estatal da China na área de dados.  
Em resumo, há temor de que a China, hoje segunda maior potência, possa usar o 5G para não só coletar, mas manipular dados de defesa, comunicações, energia elétrica, estradas, controle aéreo e florestas. Além de reunir o maior banco de dados de indivíduos do mundo. O governo chinês, que não é exatamente uma democracia, teria o controle de algo preciosíssimo nas disputas entre potências: informação. E, pior: poderia ter o controle remoto do funcionamento de todo o País. Com um botão, desligar uma hidrelétrica.  
Evidentemente, nenhum dos dois lados é santo e os Estados Unidos não estão preocupados em preservar dados e bases estratégicas brasileiros, mas sim sua própria hegemonia. Aliás, faz pouco tempo, uns cinco anos, que se descobriu que a NSA, agência de espionagem americana, grampeava a presidente Dilma Rousseff, 29 membros do governo e estatais, como a Petrobrás.  
Já que o presidente Jair Bolsonaro vai aos EUA em março, é bom lembrar que a diplomacia, a economia e a agricultura brasileiras têm recolocado no eixo as relações com a China, que haviam sido ameaçadas pelo presidente, mas a prioridade das prioridades é a parceria com os EUA, ou melhor, com o governo Donald Trump.  
Essa parceria vai bem, com pelo menos dez pontos prioritários. Trump lota aviões de brasileiros ilegais (que aumentaram entre 700% e 1000% em 2019) para despejá-los de volta, mas Bolsonaro lava as mãos e até estimula, considerando que esse é um problema menor. Quem arrisca que se vire. O importante é o interesse nacional.  
Brasil e EUA, que se unem a regimes como o da Hungria Polônia tendo como pretexto uma tal de “Aliança pela Liberdade Religiosa”, estão na verdade construindo um eixo internacional ideológico, de direita. E isso serve de liga para uma aproximação bilateral crescente em comércio, investimentos, energia, uso da Base de Alcântara (MA), pesquisa, tecnologia, cooperação em diferentes áreas, inclusive defesa, tão cara a Bolsonaro.  
E é precisamente aí, nesse pacote, que o governo americano tem mandado um recado nada sutil para o brasileiro: as negociações e acordos vão de vento em popa, mas uma eventual adesão do Brasil à tecnologia 5G da China terá consequências e poderá prejudicar a aproximação, principalmente na área de defesa.  
As guerras já foram com soldados em terra, passaram a ser por mísseis, resvalaram para uma fase nuclear e agora caminham para ser mais sofisticadas. A nova guerra é digital, pelo controle do mundo via dados. Não tem jeito: o 5G veio para ficar e, assim como todos os países, o Brasil vai ter que optar pelo modelo que melhor lhe convier, estrategicamente. Mas todo cuidado é pouco na hora de decidir. Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

5G da Huawei: a luta de retaguarda dos EUA (NYT, The Atlantic, Asia Times)

Aqui o conjunto de três artigos selecionados por meu amigo e colega de carreira Pedro Luiz Rodrigues sobre a tentativa dos EUA de impedir que outros países aceitem e contratem a tecnologia 5G da Huawei.

The New York Times – 18.2.2020
Huawei Is Winning the Argument in Europe, as the U.S. Fumbles to Develop Alternatives
Germany seems poised to follow Britain in letting the Chinese maker build next-generation networks, despite last appeals from the United States.
David E. Sanger and David McCabe

Washington - America’s global campaign to prevent its closest allies from using Huawei, the Chinese telecom giant, in the next generation of wireless networks has largely failed, with foreign leaders publicly rebuffing the United States argument that the firm poses an unmanageable security threat.
Britain has already called the Trump administration’s bluff, betting that officials would back away from their threat to cut off intelligence sharing with any country that used Huawei equipment in its network. Apart from an angry phone call between President Trump and Prime Minister Boris Johnson, Britain appears to be paying no price for its decision to let Huawei into limited parts of its network, under what the British say will be rigorous surveillance.
Germany now appears ready to follow a similar path, despite an endless stream of cajoling and threats by Secretary of State Mike Pompeo, Defense Secretary Mark T. Esper and other U.S. officials at a global security conference in Munich last weekend.
In public speeches and private conversations, Mr. Pompeo and Mr. Esper continued to hammer home the dangers of letting a Chinese firm into networks that control critical communications, saying it would give the Chinese government the ability to spy on — or, in times of conflict, turn off — those networks. The security risks are so severe, they warned, that the United States would no longer be able to share intelligence with any country whose network uses Huawei.
 “If countries choose to go the Huawei route,” Mr. Esper told reporters on Saturday, “it could well jeopardize all the information sharing and intelligence sharing we have been talking about, and that could undermine the alliance, or at least our relationship with that country.”
Yet officials sense their continued drumbeat of warnings is losing its punch in Europe, so the administration is shifting its approach. The United States is now aiming to cripple Huawei by choking off its access to the American technology it needs and trying to cobble together a viable American-European alternative to compete with it.
The Huawei fight is just one part of a bigger U.S.-China battle, as Washington tries to contain Beijing’s influence and power and ensure that the world’s second-largest economy does not come to dominate advanced industries that could give it an economic and military edge. That includes the next-generation telecommunications networks that Huawei is building, known as 5G. Those superfast networks will control communications, critical infrastructure and, most worrying for American officials, the “internet of things” devices that are already controlling factories, autonomous vehicles and the day-to-day operations of military bases.
The United States is also trying to limit China’s access to American technology more broadly and is considering restricting sales of microchips, artificial intelligence, robotics and some types of advanced software, along with preventing tech companies from teaming up — or even sharing research — with Chinese firms.
Last week, the United States turned up the legal pressure on Huawei by announcing new charges of racketeering and theft of trade secrets, including allegations from more than a decade ago. The new charges were added to a sweeping indictment filed in 2019 that accused the company and its chief financial officer, Meng Wanzhou, of fraud and sanctions evasion. As part of that case, the Trump administration has been pressing Canada to extradite Ms. Meng, who was arrested in late 2018 in Vancouver at the behest of American officials, so that she can face charges in the United States. Ms. Meng is the eldest daughter of Huawei’s founder, Ren Zhengfei.
This month, the administration is expected to try to squeeze Huawei even further by closing a loophole that has allowed the firm to continue buying parts and products from American companies, despite a Trump administration ban on selling to Huawei. While the Pentagon initially opposed the effort, fearing it could hurt defense suppliers, it has now reversed its position amid pressure from other administration officials.
But the effort to handicap Huawei has been complicated by the lack of an alternative to the company, which offers low-cost telecom equipment partially subsidized by the Chinese government. Right now the only real competitors are Nokia and Ericsson, two European firms that claim they have deployed more 5G networks than Huawei, but are clearly struggling to match its prices or keep up with the Chinese firm’s research and development.
That has sent the administration scrambling to present European and other nations with another option. Over the span of 10 days, Attorney General William P. Barr, Vice President Mike Pence and other officials have offered differing American strategies to build a credible competitor to Huawei. Yet at times, they have contradicted one another’s ideas, often in public.
In private meetings, Mr. Trump has been urging American firms to get into the competition themselves. But the administration is deeply divided internally over whether the United States needs to invest in the technology or leave the market to sort it out.
Mr. Barr further confounded things with a speech this month where he called for American acquisition of Nokia and Ericsson “through American ownership of a controlling stake, either directly or through a consortium of private American and allied companies.”
“We and our closest allies certainly need to be actively considering this approach,” Mr. Barr said.
American officials have gently walked back Mr. Barr’s comments. Asked about the prospect of a “controlling stake,” Robert Blair, an assistant to Mr. Trump for international telecommunications policy, told The New York Times that “we are focused more on putting everyone in the tent than putting U.S. taxpayer dollars in the midst.”
Mr. Pence, in remarks to CNBC, said the best response to Huawei was to free up airwaves for use in 5G networks operated by American carriers.
Frustration with America’s anti-Huawei campaign is building. Speaking in Munich, Mr. Esper trotted out the same security warnings the United States has been using for more than a year, telling a packed conference hall of European diplomats and business leaders that the People’s Liberation Army and Chinese intelligence were trying to extend their authoritarian state and that Europe must fight back.
“Huawei and 5G are today’s poster child for this nefarious activity,” he said. “Let’s be smart. Let’s learn from the past and let’s get 5G right so we don’t regret our decisions later.”
Yet his audience remained skeptical.
“Many of us in Europe agree that there are significant dangers with Huawei, and the U.S. for at least a year has been telling us, do not use Huawei. Are you offering an alternative?” asked Toomas Hendrik Ilves, Estonia’s former president. “Are you going to subsidize Nokia and Ericsson? I mean, what do we get? What is it that we should do other than not use Huawei?”
Huawei has proved increasingly effective at pushing back against the United States. After U.S. officials said last week that they had long ago found a “back door” that would allow the company to siphon information off any network, without American telecommunications firms knowing it, the company called it “impossible” and demanded evidence. But none has been declassified.
Andy Purdy, a former homeland security official who now works for Huawei, said the company has suggested a way around security concerns by offering to license its technology “so the Americans or Europeans can build it themselves.” The United States has not responded to the offer, Mr. Purdy said.
The fight over Huawei has put many European countries in a no-win position, forcing them to either rebuff a key intelligence ally’s warnings and risk their key alliance, or alienate China, a critical trading partner. Further complicating the decision is the lack of definitive U.S. intelligence showing that Huawei has ever gained access to data that flows across its networks during the two decades it has provided telecommunications equipment to Europe.
Fear of Chinese retaliation has gripped Chancellor Angela Merkel of Germany and her government. While Germany’s intelligence chiefs have largely joined the American assessment of Huawei’s national security dangers, Ms. Merkel is focused on the effects on German exports to China, especially after Chinese officials have hinted that Volkswagen, BMW and Daimler, the maker of the Mercedes-Benz, would bear the brunt of retaliation.
“I have always been more concerned about the possibility of network manipulation,” Norbert Röttgen, the chairman of the German Parliament’s foreign affairs committee, said at the Munich conference. “You don’t even have to actually take that step, if you control the network. The knowledge that you can is power in itself. How free would we really be in our choices with respect to protecting human rights and other issues if we know that the functioning of crucial parts of our economy depends on the good will of an external power?”
Yet European officials say Germany is likely to mirror Britain’s decision to use Huawei and engage in strict monitoring. Germany, like Britain, is expected to keep Huawei out of the most sensitive parts of the telecom network but allow the firm to provide equipment and software for the radio networks that control cell towers and base stations around the country.
That decision will still be a huge loss for the United States. Germany and Britain are America’s closest intelligence-sharing partners, and both nations sit atop critical points along fiber-optic cables that are key to intercepting communications from Russia to the Middle East. American officials, including the National Security Agency, have expressed concern about the Chinese government’s ability to infiltrate those communications.
The United States has had some success in keeping Huawei out of other networks. Australia has flatly banned Huawei and Japan has done so indirectly. Poland, eager for a deeper American alliance, is likely to keep Huawei at bay. Italy, lured by the promise of a $3 billion Huawei investment in its telecommunications system, at first announced it was giving Huawei a major contract to build its “radio networks,” the base stations and antennas that connect to cellphones and internet-of-things devices. Then it suggested it would review each of those deals, but has been murky about how.
In the absence of a cohesive U.S. strategy, a group of major wireless carriers has considered another approach that would allow more companies to challenge Huawei. The group is pressing for a common architecture for the software and hardware that run 5G networks — an idea that has gained traction with some U.S. policymakers.
Such a system would allow smaller companies to make individual pieces of networking equipment that interact with one another, breaking Huawei’s market dominance.
Mr. Barr, in his speech, said the idea is “just pie in the sky.”
The proposal has gained traction among others in Washington and the administration. The two top lawmakers on the Senate Intelligence Committee, Richard M. Burr, Republican of North Carolina, and Mark Warner, Democrat of Virginia, introduced a bill in January that would allocate at least $750 million to research and development of such an open system. It also allocates $500 million to “accelerate the adoption of trusted and secure equipment globally.”
Larry Kudlow, the director of the National Economic Council, recently told The Wall Street Journal that the United States was supporting efforts to use software to undercut Huawei.

*

The Atlantic, Washington D C – 19.2.2020
America’s Allies Are Unconvinced
Uri Friedman

In the contest between the United States and China over who gets to shape the world in the coming century, America seems to be playing to win. But it’s running into a big problem. Despite the global network of alliances Washington has built up, it’s been unable to convince those allies to hop aboard the “great-power-competition” express and leave China behind.
U.S. officials are learning just how challenging it is to persuade friendly nations that America is a reliable partner capable of providing them with viable alternatives to what China has on offer—that the rewards of drawing closer to Washington outweigh the risks of alienating Beijing. That’s in part because of the mixed messages from the American president himself: He’s notoriously iffy about his commitment to allies, even as he often expresses his adoration of the Chinese president (notwithstanding the ongoing U.S.-China trade war).
The consequences of all these doubts have been especially evident in the past few weeks, as America’s closest ally in the world (the United Kingdom) and one of the most pro-American countries in the world (the Philippines) have essentially declared, “We’re good, thanks.”
In not following America’s lead, these allies have set precedents for how countries caught between the superpowers could act in the future. They have also signaled that international relations today are too intertwined, and Chinese power too magnetic, for them to enlist in a U.S.-led coalition and usher in a Cold War–style bifurcated world. If the United States is intent on reconstructing that world, it will likely find itself largely isolated. If the United States wishes to not be isolated, it will have to develop compelling alternatives for allies to stick with it instead of China.
The countermovement against a U.S.-China cold war gained strength in late January, when British Prime Minister Boris Johnson announced that the United Kingdom would allow the Chinese telecommunications company Huawei to provide equipment for Britain’s next-generation 5G mobile network.
This was a slap in the face to the U.S. officials who had spent months lobbying their British counterparts to ban Huawei because of alleged security risks associated with its connections to the Chinese government. The Trump administration reportedly went so far as to share classified intelligence with the United Kingdom indicating that Huawei could potentially spy on and disrupt foreign networks—a claim Huawei denies.
Ultimately, the U.K. chose to split the difference between China and the United States. The British government said it would keep Huawei technology out of the most sensitive parts of the country’s new 5G network, but it won’t follow the United States, Australia, and Japan in outright prohibiting the provider.
But the fact that the U.K., which famously enjoys a “special relationship” with the United States, went with that option—with intelligence sharing and trade talks with Washington on the line after Brexit, no less—emboldened other allies. The European Union and France swiftly disclosed similar plans, and Germany looks poised to do the same. Other conflicted allies, such as India and South Korea, are undoubtedly watching the cascade.
For these countries, the benefits of partnering with Huawei—the dominant player in the global 5G market, and also the cheapest because of Chinese government subsidies—are obvious while the costs are more opaque, if no less real. As Johnson put it, “If people oppose one brand or another then they have to tell us what is the alternative, right?”
U.S. Attorney General William Barr has recognized this weakness in America’s message to allies, proposing that the U.S. government quickly offer a “market-ready alternative” to Huawei by taking a controlling ownership stake in Huawei’s European competitors Nokia or Ericsson.
But Barr also acknowledged that the Trump administration’s grievances with Huawei are about more than security risks—amounting to a battle over which superpower will dominate the backbone of the future digital economy, with trillions of dollars in new opportunities in play. This is true, but it’s also an admission that is likely to strengthen allies’ suspicions that the United States’ position is really about maintaining America’s technological leadership, not securing partners.
Hence the transatlantic divergence. While the Trump administration claims that a rising China poses an existential threat to American preeminence, my colleague Tom McTague has written, “London appears to have already calculated that China is a land paved with gold it cannot afford to stay away from.”
Many countries around the world are now caught between the United States as their main security ally and China as their top trading partner. And this past week one of those countries, the Philippines, a former U.S. territory, began backing out of its decades-old security alliance with Washington.
President Rodrigo Duterte, a critic of the United States ever since coming to power in 2016, served notice that his government will terminate an accord that governs the rules for U.S. forces participating in joint military exercises and training in the Philippines. The parties may still find a way to salvage the pact before the termination takes effect in 180 days. And even if they don’t, other elements of the military alliance, such as a separate mutual-defense treaty, may endure.
But Duterte’s decision nevertheless constitutes the gravest threat to the alliance in years and jeopardizes the U.S. military’s efforts to deter Chinese aggression in the region. As the Asia scholar Brad Glosserman has written, Duterte’s move was in part motivated by his doubts about America’s commitment to the Philippines’ defense and concerns about antagonizing an ascendant China. In fact, the country’s military chief has suggested that the Philippines could broker new military-cooperation agreements with China despite their maritime territorial disputes. Even if this is just a troll of the United States, it’s working. As Defense Secretary Mark Esper noted, the Duterte government is heading “in the wrong direction.”
But one U.S. official who doesn’t seem especially concerned is Esper’s boss. Asked about Duterte’s announcement, Trump told reporters that he was “fine” with it and even thanked the Philippines for saving the United States “a lot of money.”
It’s the kind of gripe from Trump that countries that share long-standing military alliances with America have grown accustomed to. But now they’re also concluding that despite what administration officials say, Trump himself thinks about competing with China in the narrow terms of not getting fleeced on trade rather than in the broader terms of contending with the Chinese geostrategically as a superpower.
His administration is also torn between the impulse to scale back America’s investments abroad and prevailing over a China that is ramping up its own investments. While China is investing more than a trillion dollars in Belt and Road infrastructure projects across Eurasia, the Trump administration’s 2021 budget proposal suggests setting aside a relatively measly $800 million to provide an alternative to “predatory Chinese international lending.” Similarly, Secretary of State Mike Pompeo is currently on a trip to Senegal, Ethiopia, and Angola that is intended, as one State Department official briefing reporters phrased it, to emphasize America’s interest in “dramatically increasing U.S. trade and investment” in these and other African countries. But all three countries have close ties with China, whose diplomatic and economic investments in the region far outweigh America’s.
More broadly, allies are less inclined to side with the U.S. now that they’ve witnessed how major foreign-policy initiatives are no longer likely to carry over from one administration to the next. This is the case even with what is arguably the most bipartisan belief in Washington these days: that competition between a rising China and a dominant United States will define the 21st century. During a recent visit to London, for example, Pompeo described the Chinese Communist Party as “the central threat of our times.” Matt Duss, Bernie Sanders’s foreign-policy adviser, told me around the same time that a Sanders administration would consider climate change “the number-one security threat” facing the United States, which would make China, as the world’s largest greenhouse-gas emitter, a crucial partner. Why go out on a limb and pick a side when one U.S. election could scramble the sides?
In a new report on U.S. policy toward China, the Center for a New American Security noted that while U.S. partners generally don’t want to be part of a new international system led by an authoritarian China, they also cannot ignore Beijing as a mammoth “economic opportunity and geographic reality.” Any American strategy needs to recognize that, the authors advised.
The guidance also came with a warning: “Attempts to construct an explicitly anti-China alliance will fail.” On the day the report was released, the United Kingdom announced its Huawei decision.

*


Asia Times, Bangkok – 20.2.2020
Can US export controls on chips stop Huawei?
Trade restrictions might push the company to accelerate the use of advanced chip-making techniques
David P. Goldman

The world’s semiconductor industry is struggling to understand reports from Washington that the Trump Administration may try to block sales of chips to Huawei Technologies if they are manufactured with American equipment.
It isn’t clear that the United States has the technological clout to make export controls work. The result might be to push Huawei and other Chinese companies to speed up the adoption of more advanced chip-making techniques that American companies do not offer, producing faster and more efficient chips.
The Wall Street Journal reported Feb. 17, “The Trump administration is weighing new trade restrictions on China that would limit the use of American chip-making equipment, as it seeks to cut off Chinese access to key semiconductor technology, according to people familiar with the plan. The Commerce Department is drafting changes to the so-called foreign direct product rule, which restricts foreign companies’ use of US technology for military or national-security products. The changes could allow the agency to require chip factories world-wide to get licenses if they intend to use American equipment to produce chips for Huawei Technologies Co., according to the people familiar with the discussions.”
In a separate action, the US Department of Defense reportedly suspended its opposition to a plan to block sales of components to Huawei if 10% of their value is derived from American technology. In January, the Pentagon reportedly blocked a Commerce Department proposal to impose a 10% threshold because it would harm US technology companies, and White House economic adviser Larry Kudlow said that the proposal was rejected because “We don’t want to put our great companies out of business.”
Taiwan Semiconductor, the world’s leading foundry and Huawei’s biggest supplier, has told the industry press that its most advanced chips embody US content under the proposed 10% threshold. “According to TSMC internal assessment, its 7 nm uses less than 10% of US technology thus it will have no issues. However, its 14 nm supply to Huawei may face some problems,” Gizchina reported on Dec. 23.
Taiwan Semiconductor already manufactures 7-nanometer chipsets for Huawei’s subsidiary Hsilicon – the Kirin 980 and 990 sets for 4G as well as 5G broadband. The chip architecture stems from Britain’s ARM, a subsidiary of Japan’s Softbank.
ARM declared last October that its technology was not of American but of British origin and therefore exempt from US controls. Huawei’s Ascend 910 Artificial Intelligence chip for high-speed servers also uses 7-nanometer fabrication from Taiwan Semiconductor. TSMC has been producing 7-nanometer chips since 2016 with what the company claims are acceptable yields. In October 2019, the Taiwanese firm announced that it already was delivering 7-nanometer chips to customers in “high volume.”
The 7-nanometer process requires Extreme Ultraviolet (EUV) lithography, which etches billions of transistors onto the chip’s surface. The denser chips provide 20% more processing capacity with lower power consumption than older chips. In 2020, TSMC promises to introduce 6-nanometer chips with yet another 20% gain in efficiency.
According to Huawei, the Ascend chip design is a game-changer in artificial intelligence. The company markets the Ascend chipset with its proprietary AI software framework Mindspore, and claims that the new development framework doubles the efficiency of developers through the use of natural language processing that requires fewer lines of code.
Most of Huawei’s products still use 14-nanometer chips, but the Chinese national champion can source the older chips on the Chinese mainland, Taiwan News commented Dec. 25: “In the event the US does go ahead with its plans, Huawei could either choose to buy 14-nm chips from China’s Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC) or switch to 7-nm or even 5-nm products from TSMC.”
Speaking on background, a senior Huawei executive said, “We, as do others, have plans to produce chips below 7 nanometers, to 5 and below over the course of several years. This is clearly the direction of all chipmakers. The important thing isn’t who gets there first, as long as you have your own independent capability.”
There are several technologies that can produce 7-nanometer and under chips, but the most promising is extreme ultraviolet lithography (EUV), now employed by TSMC as well as Samsung, the second-largest chip producer.
Although American companies like LAM Research and Applied Materials are the largest providers of chip-making equipment, the only producer of EUV lithography equipment is the Dutch firm ASML. Last year the United States persuaded the Netherlands to delay the sale of EUV equipment to China’s SMIC, but Taiwan’s TSMC has already purchased 30 lithography machines from ASML. Presumably, chips manufactured by TSMC for Huawei using Dutch equipment would not be subject to American controls.
Huawei started preparing a year and a half ago for intensified US sanctions, Nikkei Asian Review reported last September in a cover story headlined “Insight Huawei’s Secret Plan to Beat American Trade War Sanctions.”
According to reporters Cheng Ting-Fang and Lauly Li:
In the first few weeks of 2019, 20 engineers from Huawei Technologies arrived in the riverside town of Jiangyin in eastern China on a secret mission. They took up stations at the state-backed Jiangsu Changjiang Electronics Technology, China’s largest chip packaging and testing company, where they went to work upgrading the facilities and increasing the site’s capacity, ahead of a production surge in the autumn.
“These Huawei staff are on-site almost seven days a week, from day to night, nitpicking and reviewing all the details … demanding strictly that the local company meets global standards as soon as possible,” one chip industry executive familiar with the situation told the Nikkei Asian Review. “It’s honestly like preparing for wartime.”
All across Asia, companies in the computer chip industry were receiving similar messages from Huawei: Boost your production, and we will buy your product. In a slowing global market, Huawei made a commitment that was impossible to resist: The company guaranteed up to 80% utilization rates for the next two years to potential and current suppliers.

In April 2018, the United States punished the second-largest Chinese telecommunications company ZTE by suspending sales of US chipsets for its smartphone handsets, effectively shutting the company down.
President Trump intervened to allow ZTE to pay a multi-billion-dollar fine and accept American monitors in return for the restoration of chip sales. By December 2018, though, Huawei Technologies surprised the world by launching its own Kirin chipset, which competes with Qualcomm’s Snapdragon offering.
The speed with which China reached self-sufficiency in chip design surprised the United States. Washington has escalated its attempts to deny Huawei access to critical technology, including the April 2019 announcement that all component sales to Huawei would require special licenses from the Commerce Department. Through domestic substitutes and Asian suppliers, Huawei quickly produced handsets as well as 5G telecommunications equipment with no US components.
The trouble is that the United States stopped investing in high-tech manufacturing after the 2000 tech stock crash, which in part was occasioned by excessive investment in telecom hardware. Investment in physical production of electronics rapidly shifted to Asia. In 2019, virtually no venture capital commitments were assigned to manufacturing, as US investors preferred software.
After nearly two decades of neglect of the US high-tech industrial base, so much capacity and know-how have shifted overseas that the US may lack the clout to deny access to Chinese companies.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

5G: uma opinião bem informada e negativa - Hamilton Carvalho

Não dá para caracterizar a opinião deste articulista como luddita ou malthusiana, pois ele fornece os dados técnicos quanto à sua percepção negativa, em termos de energia, cabeamento, equipamentos em excesso e outros inconvenientes.
Mas o fato é que essa tecnologia virá, para o bem e para o mal.
Acredito que a tecnologia vai evoluir para minimizar ou eliminar certos efeitos negativos.
Mas eu não sou um expert.
Paulo Roberto de Almeida

5G é insanidade, escreve Hamilton Carvalho

5G é a promessa do momento
Aumentará emissões de gases
Gerará demanda por energia elétrica
Segundo a Anatel, a oferta do 5G deve ter início poucos meses após a assinatura dos contratos Anatel

O avanço da tecnologia vai fazer você trabalhar menos e ter mais tempo livre para o que importa na vida. Quantas vezes você já não ouviu isso?

A ideia de que as máquinas trabalhariam no lugar do ser humano é antiga, mas começou a decolar especialmente depois da Revolução Industrial.
Já no final do século 19, o pioneiro da geração e transmissão de energia elétrica Lucien Nunn aplaudiria os benefícios da então revolucionária tecnologia, que passou a ser aplicada em suas minas de carvão nos EUA. Finalmente, disse ele, os trabalhadores teriam tempo e recursos para cuidar de suas famílias, de seu país e de si.

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Outro exemplo conhecido é o do influente economista John Maynard Keynes, que vislumbrava um futuro com semanas de trabalho de apenas 15 horas. Para ele, o aumento na produtividade proporcionado por novas tecnologias seria capaz de dar conta de todas as necessidades humanas. O tempo livre seria usado para o lazer.
É óbvio que nada disso aconteceu. Continuamos trabalhando pelo menos 40 horas por semana e assim continuaremos, pelo menos os que ainda têm emprego. Na média, a vida melhorou bem, mas os ganhos privados com o aumento de produtividade fluíram para o bolso de poucos.
A promessa do momento é a tecnologia 5G de telefonia celular. Já não se fala mais na perspectiva de menos trabalho e mais lazer. O discurso agora é outro: teremos cidades inteligentes, carros autônomos, fábricas com robôs que conversam entre si, geladeiras que encomendam comida diretamente ao supermercado. Alguns até falam que você vai trabalhar mais comprometido, direto da sua casa. Glorioso.
O discurso mudou e, sem dúvida, tem muita coisa boa que dá para ser feita com o 5G. O problema é que a tecnologia tem um inconveniente que não dá pra esconder em um mundo que já vive em emergência climática: ela vai aumentar bastante as emissões de gases do efeito-estufa.
Não existe almoço grátis. O 5G vai gerar uma forte demanda adicional por energia elétrica. E por mais que se espere rápida disseminação das fontes renováveis nas próximas décadas, as tomadas do mundo ainda vão continuar dependendo dos combustíveis fósseis por um longo tempo.
O pessoal da indústria certamente vai argumentar que estamos indo na direção correta. Dirão eles que essa tecnologia está associada com estações de transmissão mais eficientes em termos de consumo de energia e que o 5G pode diminuir as emissões de CO2 em cidades “inteligentes”.
Mas há duas verdades inconvenientes fora dessa narrativa. A primeira tem relação com aquelas bases com antenas de celular que costumam ficar no topo de edifícios. A questão é que o 5G, na sua versão mais poderosa (de frequência mais alta), requer muito mais antenas por mastro –de 10 a 30 vezes mais. E requer muito mais dessas estruturas– um mastro a cada 100 ou 200 metros. O conjunto da obra vai consumir mais eletricidade do que o sistema atual.
A segunda verdade inconveniente –e a mais importante– é o tsunami de dados que estamos encomendando com o 5G. Na medida em que bilhões de equipamentos e quinquilharias (como fraldas e escovas de dentes) passarem a embutir chips que conversam entre si, essa tagarelice precisará ser transmitida e processada à custa de muita energia elétrica adicional (fala-se em aumento de 1.000%).
Tem ainda um outro ponto de interrogação, menos relevante para o argumento aqui apresentado. Cientistas sérios têm alertado para o salto no escuro que estamos dando com o banho adicional de radiação trazido pelo 5G. Há muita pressa para movimentar os negócios e pouca precaução.

O jogo mudou 

Devemos muito à tecnologia, que transformou a experiência humana na Terra. Na longa escala de tempo planetário, foi em um piscar de olhos que passamos a viver em pequenas cidades, inventamos a agricultura, a imprensa, chegamos à Revolução Industrial, ao telefone, aos mainframes, aos computadores pessoais, aos smartphones. E agora desembocamos no que parece ser um novo paradigma, que inclui, além do 5G, a inteligência artificial.
Essas mudanças ficaram mais aceleradas, isto é, na nossa história os paradigmas foram sendo quebrados em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Isso é consistente com o fenômeno que a literatura chama de crescimento superexponencial.
Infelizmente, uma consequência inevitável desse fenômeno é o colapso –no caso, dos nossos sistemas socioeconômicos. É como correr em uma esteira que fica cada vez mais rápida.
Outra consequência desse aumento de velocidade é a dificuldade de perceber que as regras do jogo estão mudando. A humanidade continua jogando damas em um mundo que virou um tabuleiro de xadrez pegando fogo.
Mas nesse ponto sou otimista: acho que esta década vai marcar uma reviravolta na percepção coletiva, refletindo os efeitos cada vez mais dramáticos das mudanças climáticas. Com sorte, vamos perceber que virtualmente toda política pública ou privada, como o 5G, tem efeitos diretos no estrago que estamos fazendo no planeta.
E que nem sempre dá para acreditar em promessas utópicas.