Um grande amigo e colega de carreira, Achilles Zaluar, acaba de estrear numa ferramenta social com um site que ele chamou de "Chateaubriando no Planalto", com uma primeira postagem altamente interessante sobre o grande escritor francês.
Isso me fez lembrar de uma postagem minha, feita no momento em que eu iniciava meu trabalho no IPRI, dois anos e meio atrás.
Ei-la aqui (para não acabar com as mesóclises, se o que precede faz parte da família):
Considerações sobre o caráter efêmero das memórias, e
das funções públicas (inspiradas em Chateaubriand)
Paulo Roberto de Almeida
Andei lendo, no período
recente, uma seleção de trechos das “Memórias de Além-Túmulo” de François-René
Auguste de Chateaubriand, numa compilação feita por Georges Readers,
antigo diretor do Lycée Franco-Brésilien de São Paulo, já autor de um livro saboroso
sobre Gobineau, O Inimigo Cordial do
Brasil. No Avant-Propos dessa compilação,
Les Plus Belles Pages des ‘Mémoires
d’Outre Tombe’ (Rio de Janeiro: Americ=Edit., 1945), Georges Readers relembra
que Chateaubriand, Chevalier de France, mais tarde Visconde, havia começado a
redação de suas memórias entre 1803 e 1809, mas que ele a interrompeu em 1814,
quando ingressou na vida política, sob a Restauração. Ele retomou sua escrita
entre 1821 e 1822, durante o lazer que lhe proporcionavam as embaixadas em
Berlim e em Londres, mas outras partes foram escritas bem mais tarde, abordando
as carreiras literária e política, além de suas viagens pela Europa, já mais
perto do final esperado de sua vida, nos anos 1840 (p. 7).
Chateaubriand, em um
trecho de suas memórias, disse mais ou menos o que eu mesmo poderia dizer, se
por acaso tivesse o seu estilo, a sua pompa, suas pretensões à glória e à
imortalidade, ou se me sentisse, como ele, perto de um projetado túmulo:
“J’écris
principalement pour rendre compte de moi-même... Aujourd’hui que je regrette
encore mes chimères sans les poursuivre, que parvenu au sommet de la vie je
descends vers la tombe, je veux avant de mourir remonter mes belles années,
expliquer mon inexplicable cœur...”
François-Auguste de Chateaubriand, Mémoires d’Outre Tombe.
En 1846, dois anos antes
de sua morte, Chateaubriand submeteu suas memórias, o trabalho de toda uma
vida, a uma última revisão, mas como lhe faltavam recursos, ele concedeu
entregar os originais a editores para aliviar suas agruras financeiras. Como
ele mesmo escreveu, ele “hipotecou sua tumba” a uma sociedade de acionistas por
uma soma de 250 mil francos, e uma ‘pension viagère’ (ou seja válida até sua
morte) de 20 mil francos anuais (p. 8, p. 43). De minha parte, não tive ainda necessidade,
graças a meu trabalho paralelo de professor, de hipotecar qualquer escrito vivo
ou póstumo, não só porque não escrevi, até o momento, minhas memórias, apenas
depoimentos esparsos, mas também porque nenhuma sociedade de acionistas se
disporia a comprar alguns dos meus escritos, pelo estilo pesado que é o meu,
falando de coisas totalmente aborrecidas.
Chateaubriand passou boa
parte do regime do Terror, sob o Diretório, refugiado em Londres, onde ele
começou, em 1796, a redigir um “Ensaio sobre as revoluções”, publicado no ano
seguinte sob o título de Essai historique, politique et moral sur les Révolutions
anciennes et modernes, considérées dans leurs rapports avec la Révolution
Française, livro que dedicou “a
todos os partidos” que dividiam então a França (p. 11).
Em 1799, Napoleão, então
“primeiro cônsul” da França, retirou-o da lista dos emigrados impedidos de
voltar, os banidos, e Chateaubriand retorna à França. Três anos depois,
Napoleão se torna “cônsul eterno”, nomeando Chateaubriand Secretário de
Embaixada em Roma, mas, um ano depois, como reação ao assassinato do Duque de
Enghien, sequestrado a mando de Napoleão no exterior, Chateaubriand renuncia ao
seu posto, mediante uma carta de demissão enviada diretamente ao primeiro
cônsul.
Em 1804, Napoleão se
autodesigna imperador hereditário dos franceses, título ao qual ele agregou o de
rei da Itália. Chateaubriand viaja novamente ao exterior, notadamente à Terra
Santa, e publica livros, além de reedições de suas primeiras obras. Em seu
retorno à França, em 1807, o exército de Napoleão invade Portugal e provoca a
fuga da família real para o Brasil. Pouco tempo depois, Chateaubriand começa a
redigir as suas memórias; eleito para a Academia Francesa em 1811, não lhe dão posse
no entanto. Quando Napoleão é derrotado pela primeira vez, por uma coalizão de
exércitos europeus em 1814, Chateaubriand publica De Buonaparte et des Bourbons. Luis XVIII entra triunfalmente em
Paris, e nomeia Chateaubriand embaixador na Suécia, mas ele não assume o posto,
devido à saída do rei de Paris, no seguimento da fuga de Napoleão da ilha de
Elba, ao mesmo tempo em que o Congresso de Viena iniciava seus trabalhos.
Depois de ser nomeado
embaixador em Berlim (em 1820) e em Londres (1822), Chateaubriand é designado
ministro plenipotenciário no Congresso de Verona, no qual desempenha um papel
importante, quando se decide restabelecer no trono da Espanha o absolutista
Fernando VII, contra a vontade dos espanhóis, revoltados em face de uma nova
intervenção armada estrangeira. No final de 1822, Chateaubriand se torna
ministro dos negócios estrangeiros, mas por pouco tempo, pois já em 1824 ele
cai novamente em desgraça, assumindo uma posição liberal. Ele passa quatro anos
escrevendo livros e publicando suas obras, antes de ser nomeado embaixador em
Roma, em 1828. No ano seguinte, no entanto, descontente com o ministério
Polignac, as querelas sobre o ensino e o restabelecimento da censura à imprensa
na França, ele se demite de seu posto. Em 1830, defensor da legitimidade
dinástica, ele se demite igualmente da Chambre des Pairs, protestando contra a
revolução de 1830 e a posse de Louis-Philippe d’Orleans como novo rei. Condenado
por complô contra o Estado em 1832, ele consegue a anulação da sentença e
retorna à França, se instalando em Paris, voltando a escrever livros que
confrontam o novo regime. Em 1836, ele vende suas memórias a uma sociedade
comercial, sob promessa de que elas só seriam publicadas após sua morte. Em
1848, logo após a revolução de fevereiro e a queda de Luis Felipe, as Mémoires
d’Outre Tombe começam a ser
publicadas sob a forma de folhetim no jornal La Presse. Chateaubriand morre em 4 de julho, aos 80 anos, em
Paris, unanimemente reconhecido como um dos maiores escritores da língua
francesa em todos os tempos.
De minha parte, nunca
tive qualquer pretensão de ser um novo Chateaubriand, certamente não pela
política, e menos ainda pela literatura, a despeito de que, como ele, eu sempre
me coloquei contra as tendências do momento, ao afirmar minhas opiniões e
argumentos, mesmo quando eles podem provocar desconfortos ocasionais, ou até
perda de posições possíveis na corporação que é a minha. Como ele, também
enfrentei meus exílios, aliás dois: minha formação superior foi toda feita em
francês, ainda que eu não tenha conhecido, como Chateaubriand, un séjour
instructif dans un pays de langue anglaise, o que teria certamente ajudado a melhorar meu inglês,
que, até hoje, permanece um tanto quanto déplorable.
Mas como Chateaubriand, eu
me dediquei, ferozmente, às artes da escrita, não nos diversos gêneros literários
que ele cultivou, sem exibir, em qualquer momento, sua crença romântica em
algum “gênio do Cristianismo”, mas voltado unicamente aos temas da política, da
economia e da sociologia. À diferença dele, entretanto, nunca pretendi vangloriar-me
da beleza do meu estilo, que é terrivelmente pedante, em vez da elegância empolada
das frases de Chateaubriand. Paul Hazard, da Academia Francesa, que introduziu
a compilação das mais belas páginas das Memórias
de Além Túmulo, não hesita em dizer que o escritor confundia,
frequentemente, “verité avec beauté”
(p. 32).
Como sabem os que acompanham minha atividade de escrevinhador,
passei os quase três lustros do regime dos companheiros numa situação de ostracismo
absoluto, sem qualquer cargo na Secretaria de Estado, ganhando aproximadamente o
que ganhava um Secretario (já que sem qualquer “ajutório”), e fazendo da
Biblioteca meu escritório de preferência, de fato compulsório. Foi, digamos
assim, o meu segundo exílio, mas que durou o dobro do primeiro, que tinha sido
de “apenas” sete anos e meio, passado na Europa, durante a fase mais dura do
regime militar. Ao contrário de
Chateaubriand, no entanto, eu não precisei hipotecar a
minha tumba para sobreviver. Aliás, eu nem teria memórias para vender ou
hipotecar; a quase totalidade do que escrevo é gratuitamente colocada à
disposição dos interessados através de meu site pralmeida.org (atualmente em fase
de reconstrução) ou por meio do blog Diplomatizzando. Para compensar o prejuízo
salarial derivado da falta de alguma função na SERE, eu me exerci como
professor, o que aliás eu sempre fiz, com grande prazer e muita satisfação
intelectual.
Em todo caso, foram 13 anos e meio de travessia do
deserto, durante os quais aproveitei para ler muito mais do que eu teria feito
se inserido na máquina burocrática da diplomacia profissional durante os anos
de dominação companheira sobre a política externa. Tal situação de ostracismo me
poupou, aliás, do desprazer de ter de defender causas enviesadas e iniciativas
míopes, ou ter de representar um governo totalmente inepto, notoriamente corrupto,
literalmente podre, ao nível do patrimonialismo de tipo gangster, como infelizmente
só descobrimos bem tarde. Aproveitei esse tempo de lazer totalmente
involuntário para escrever vários livros e muitos artigos, assim como para
reforçar o que eu chamei de meu “quilombo de resistência intelectual”, que é o
blog Diplomatizzando, mesmo se muitos
da Casa não gostem e achem que eu exagerei ou que ataquei demais a política
externa dos companheiros, essa diplomacia partidária, medíocre, falsamente
altiva e mentirosamente soberana, de fato, submissa a ditaduras.
Num dos muitos tournants de uma carreira diplomática
razoavelmente feliz, na qual pude desempenhar funções profissionais, ou
funcionais, durante muitos anos, temporariamente interrompidos por
circunstâncias alheias à minha vontade, e combinar essas atividades com lides
acadêmicas igualmente gratificantes, exclusivas no período recente, retomo
agora o curso normal de atividades corporativas. Desde meu quilombo de
resistência intelectual a desvios em algumas das políticas públicas que
constituem o foco principal de meus estudos, reflexões e escritos, pude
perceber, algumas semanas atrás, traços de terra na beira do oceano, vestígios
de vegetação e de habitat humano ao final do deserto. Ao assumir o
IPRI, espero poder oferecer à Casa algum retorno pelos bons momentos que
desfrutei no serviço exterior, antes da chegada dos companheiros.
Tenho alguns, poucos, bons
hábitos, e muitos outros maus, um dos quais, talvez péssimo, que é o de nunca pedir
nada a ninguém, sequer audiências à administração, para cuidar, ou pedir, por
exemplo, cargos ou funções, promoção, postos; nada, quase jamais. Sempre
considerei que a Casa contasse com burocratas conscienciosos, que saberiam
desempenhar suas avaliações de desempenho em total independência, sem
interferências políticas externas e sem a influência nefasta dos chamados
“pistolões” e sem o famoso “quem indica”. Durante todos esses anos, apenas
tratei de fazer o meu trabalho, geralmente de maneira silenciosa, embora por
vezes estridente, mas bem mais pela pluma do que pela voz. Posso contudo
orgulhar-me de uma característica, talvez essencial em meu itinerário
profissional, para o bem e para o mal: jamais deixei o meu cérebro em casa,
quando saia para trabalhar, e nunca o depositei na portaria, quando ingressava
no trabalho. Existem riscos nesses hábitos, porém, como se tornou evidente.
Aqui chegamos, enfim, e depois
de anos e anos – na verdade os treze anos e meio da gestão lulopetista, quando
fiz da Biblioteca, quase todos os dias, meu escritório de trabalho –, volto a
exercer uma função na instituição diplomática, ainda que não de natureza executiva,
simplesmente acadêmica, talvez decorativa, como disse certa vez o
vice-presidente, hoje guindado à presidência interina. O cargo assumido não é porém
isento de riscos, pois um antigo diretor foi ingloriosamente defenestrado, como
se sabe, em pleno ancien régime
“tucanês”. Achei francamente exagerada, e muito autoritária, aquela decisão,
contra quem, aliás, não exercia nenhuma função executiva, certamente não
relevante do ponto de vista das principais definições de política externa, no
caso, na política comercial envolvida na questão das negociações em torno do
projeto americano para um acordo de livre comércio hemisférico.
Na ocasião eu me solidarizei
imediatamente, com o defenestrado, para ser por ele reciprocado poucos meses
depois ao ser, por minha vez, sancionado pela mesma administração por ter
concedido uma entrevista sem a devida autorização prévia, que na época
respondia à indecorosa circular da censura prévia, apropriadamente conhecida
como “lei da mordaça”. Minha entrevista, ao contrário das tomadas de posição do
ex-diretor do IPRI, se conformava inteiramente à política oficial do Itamaraty,
mas ainda assim a administração resolveu me sancionar, sob a justificativa
dúbia de que, tendo “punido um”, não poderia “deixar de punir outro”. Essa é a
lógica da Inquisição, se me permitem a comparação totalmente indevida, nos
efeitos práticos, mas creio que similar em espírito, senão em intenção intimidante
ou dissuasiva.
A despeito de minha
solidariedade com o primeiro punido pela “lei da mordaça” – que, ao sê-lo,
converteu-se imediatamente num dos mártires da causa justiceira, e como tal
manipulada pelos propagandistas do partido companheiro – tive a frustrante
surpresa de ser vetado, um ano depois (já no início de 2003), para um cargo no
Instituto Rio Branco, de coordenar o programa de mestrado, do qual eu já era
professor orientador, desde 2001, programa que só funcionou durante dez anos
apenas. O veto ocorreu quando o mesmo ex-diretor do IPRI, convertido em uma
espécie de porta-voz das causas petistas em matéria de política externa,
justamente em virtude de sua ejeção pelos “neoliberais”, foi guindado (depois
de uma mudança nas regras em vigor) ao cargo real de “oficial-maior” e virtual
de ideólogo-mor da diplomacia lulopetista. Essa diplomacia estranha e exótica,
complacente com as ditaduras e desdenhosa das grandes “potências hegemônicas”,
se encontra hoje felizmente desativada, mas provavelmente não de todo; como os
irredutíveis gauleses, ela resiste, encore
et toujours, nos corações e mentes dos gramscianos de academia. De fato, a
julgar pelos manifestos divulgados recentemente por quase todas as entidades
acadêmicas a propósito de um “golpe” em curso no Brasil, acredito que o
lulopetismo diplomático ainda esteja plenamente ativo e altivo no plano das
mentalidades gramscianas.
Fui vetado muitas outras
vezes, ao longo do longo período lulopetista, pois nunca deixei de exercer meu
direito de expressar minha opinião sobre as loucuras cometidas nestes anos bizarros,
tempos de diplomacia não convencional e de exaltação exagerada da figura do
“nosso Guia”. Não tenho porque esconder nada neste momento que poderia ser
classificado de um “renascimento profissional”; todo o meu itinerário pessoal a
longo desses anos, que eu chamei de um segundo exílio, apenas sobrevivendo no
plano intelectual, encontra-se perfeitamente documentado em minhas listas de
trabalhos, tanto as de originais quanto os publicados, disponíveis no meu site.
Aliás, em apêndice a este texto, vou listar os trabalhos mais contundentes a
esse respeito.
Não tenho ainda um
programa de trabalho, meu, para o IPRI, mas existe um, já aprovado oficialmente,
para secundar a diplomacia do governo, atuando como um canal de interação com a
comunidade acadêmica. Vou pensar em agregar algumas outras coisas, talvez um
pouco diferentes do programa que é desenvolvido oficialmente, ou dos debates
que ocorrem normalmente na academia, apenas com certo comedimento,
provavelmente. A razão da cautela é que, paradoxalmente, o ambiente
universitário não parece ser um exemplo de isenção e de equilíbrio, se
justamente medirmos os ânimos por todos esses manifestos divulgados nos últimos
tempos, em “defesa da democracia”, contra o “golpe”, e outras bobagens do
gênero. Vou tentar fazer algo em defesa dos valores e dos princípios da
diplomacia brasileira, tão lamentavelmente conspurcados, ambos, sob o regime
inacreditável dos companheiros. Digo inacreditável porque ainda não descobrimos
ou desvelamos todas as patifarias cometidas ao longo desses anos, talvez mesmo
no âmbito da política externa (não da diplomacia, cabe bem distinguir). Existe,
certamente, muita coisa a ser feita, num país que passou mais de uma década num
regime de mentiras constantes, propaganda fantasiosa, para nada falar dos
crimes – econômicos, políticos, comuns – praticados ao longo desses anos bizarros.
Não precisa ser uma
repetição de projetos já feitos anteriormente, mas pode-se pensar na
continuidade do que foi feito em 2013, na obra em 3 volumes Pensamento Diplomático Brasileiro, 1750-1964
(disponível no site da Funag), que resultou de um projeto original meu
(embora não exatamente da forma em que foi desenvolvido). Nessa obra assinei um
primeiro capítulo, metodológico, e um outro sobre Oswaldo Aranha, feito a
partir de um texto do embaixador João Hermes Pereira de Araújo, recentemente falecido.
Começo agora a desenhar a continuidade cronológica desse projeto, cujos
contornos exatos não estão ainda perfeitamente definidos. Mas já elaborei um
projeto sobre os valores e princípios da diplomacia brasileira, que pode
resultar num trabalho de reflexão sobre o que fizemos, na República, em matéria
de formulação e de execução da diplomacia governamental, por meio das ações e
escritos de alguns dos profissionais e intelectuais que se desempenharam nesta arena.
Divulgarei quando possível.
Neste momento, cabe uma
palavra final aos que não esmoreceram na defesa de um serviço profissional, em
condições por vezes adversas de manutenção dos princípios permanentes da
política externa brasileira, e que lutaram pela preservação dos valores da
carreira diplomática, por parte deste colega que, por acaso, é também
acadêmico, e que sempre levou um duplo combate, nas duas frentes, em prol de
valores tão simples como a ideia de honestidade intelectual, ademais do
princípio do interesse nacional. A minha palavra é apenas esta: vale
perseverar...
Talvez eu possa terminar
com uma frase atribuída a Talleyrand, contemporâneo quase exato de
Chateaubriand: Quand je me regarde, je me désole. Quand je me compare,
je me console… Mas o próprio
Chateaubriand fez uma avaliação final de sua vida, nas páginas finais das Mémoires
d’Outre Tombe:
Ainsi la vie publique et privée m’a été connue. Quatre
fois j’ai traversé les mers ; (…)
Pauvre et riche, puissant et faible,
heureux et misérable, homme d’action, homme de pensée, j’ai mis ma main dans le
siècle, mon intelligence au désert ; l’existence effective s’est montrée à
moi au milieu des illusions, de même que la terre apparaît aux matelots parmi
les nuages. Si ces faits répandus sur mes songes, comme le vernis qui préserve
des peintures fragiles, ne disparaissent pas, ils indiqueront le lieu où est
passé ma vie.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de junho e 7 de julho; São Paulo, 21 de julho de 2016.
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Apêndice sobre fontes e leituras adicionais:
As obras de Chateaubriand encontram-se disponíveis na seguinte
Wikisource, embora eu tenha retirado excelentes edições na biblioteca do
Itamaraty, como esta informada ao início deste texto:
Georges Readers
(org.), Les Plus Belles Pages des
‘Mémoires d’Outre Tombe’ (Rio de Janeiro: Americ=Edit., 1945)
Almeida, Paulo Roberto de:
Trabalhos sobre a política externa e a diplomacia
lulopetista (em ordem cronológica inversa de elaboração):
3004. “Crônica
final de um limbo imaginário?”, Brasília,
1 julho 2016, 2 p. Reflexões sobre o encerramento de uma etapa e o início de
outra. Divulgado no blog Diplomatizzando
(link: (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/07/cronica-final-de-um-limbo-imaginario.html).
2991. “Uma seleção de
trabalhos sobre a política externa brasileira na era Lula: Paulo Roberto de
Almeida, 2002-2016”, Brasília, 6 junho 2016, 13 p. Listagem seletiva, na ordem
cronológica inversa, dos trabalhos mais importantes, inéditos e publicados,
produzidos no período em apreço em temas da diplomacia e do sistema político
brasileiro. Disponível no blog Diplomatizzando
(http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/06/a-politica-externa-brasileira-na-era.html) e na plataforma Academia.edu (link: http://www.academia.edu/26393585/Trabalhos_PRA_sobre_a_politica_externa_brasileira_na_era_Lula_2002-2016_ (versão revista e atualizada); http://www.academia.edu/25901782/Trabalhos_PRA_sobre_a_politica_externa_brasileira_na_era_Lula_2002-2016_).
2983. “O
renascimento da política externa”, Brasília, 25 maio 2016, 14 p. Publicado na
revista Interesse Nacional (ano 9, n.
34, julho-setembro de 2016, link: http://interessenacional.com/index.php/edicoes-revista/o-renascimento-dapolitica-externa/).