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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Ameaça de conflito militar entre Venezuela e Guiana mobiliza Itamaraty (Metrópoles)

 Ameaça de conflito militar entre Venezuela e Guiana mobiliza Itamaraty

Metrópoles Online | Últimas Notícias
20 de novembro de 2023

Brasil, por meio de sua diplomacia, busca cooperar para uma solução pacífica na disputa entre Venezuela e Guiana pela área da Guiana Essequiba. Num movimento que pode comprometer a estabilidade do continente, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, convocou um referendo sobre a anexação da região, que representa metade do território guianense.

Fontes dentro do governo brasileiro ouvidas pelo portal Metrópoles afirmaram que o país "defende uma solução pacífica a essa controvérsia" e que busca "relembrar o compromisso de consolidação de uma Zona de Paz e Cooperação entre os Estados americanos".

Apesar da tensão crescente, o Itamaraty ainda trata do assunto de maneira reservada com os envolvidos e com outros atores regionais, tentando evitar que o debate público esquente ainda mais.

O clima está ruim entre os dois países envolvidos. Nas redes sociais, o líder venezuelano, que vive a pressão internacional para participar de eleições livres, tem feito publicações em defesa da incorporação de parte do país vizinho.

"Acreditamos profundamente no diálogo e no acordo baseados no respeito do direito inalienável e histórico que temos como Povo. A Guiana Essequiba nos pertence por herança e séculos de luta e sacrifício. Vamos construir a verdadeira paz e prosperidade para os nossos meninos e meninas", escreveu Maduro sobre a região, que é rica em recursos como petróleo.

Dilema internacional

A situação na América do Sul é acompanhada pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), que se reuniu na última semana no Palácio da Paz - sede do tribunal em Haia, Holanda - para ouvir as representações das duas nações. O agente guianense na audiência, Carl B. Greenidge, repudiou a realização da votação nacional convocada pelo governo venezuelano.

"O referendo que a Venezuela marcou para 3 de dezembro de 2023 foi concebido de modo a obter um apoio popular esmagador, rejeitar a jurisdição e antecipar um julgamento futuro. Ao fazê-lo, querem minar a autoridade e a eficácia do principal órgão judicial", disse o representante da Guiana.

Em resposta, a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, acusou a Guiana de "colonialismo judicial" por ter recorrido contra a anexação no tribunal internacional. "Viemos derrotar a pretensão do colonialismo judicial da Guiana, que instrumentaliza esta Corte para frear o que não pode ser interrompido. No dia 3 de dezembro, os venezuelanos votarão", prometeu a venezuelana.

O processo com os dois países tramita na CIJ desde 2018, mas ganhou importância e celeridade devido à convocação da votação na Venezuela.

Resultado antecipado

Em entrevista ao Metrópoles, o professor Alcides Cunha Costa Vaz, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), avalia que o referendo convocado por Maduro tem alta chance de ser aprovado.

"A probabilidade de passar é muito elevada. A Venezuela caminha para eleições gerais em 2024. E essa é uma demanda histórica do país. Se você ver os mapas venezuelanos, a região aparece listrada e é chamada de 'zona de reclamação'. Algo assim pode unir a população. E as cinco perguntas do referendo são no sentido de endossar a incorporação", comentou.

Além disso, o acadêmico pontua que a Venezuela não reconhece o Tribunal Internacional de Justiça como instância competente ao julgamento do processo, o que dificulta as tentativas de negociação. "Mesmo que uma decisão prospere na Corte, ela jamais será reconhecida [pela Venezuela]", afirmou.

Guerra da Ucrânia na América do Sul?

Diante da escalada de tensões, uma das preocupações levantadas é que um cenário semelhante ao do conflito Rússia e Ucrânia aconteça novamente, só que na América do Sul. Vaz comenta que essa também não é uma alternativa distante.

Do lado guianense, há forte apoio dos Estados Unidos, que visa proteger interesses comerciais. "Em 2022, a Guiana ofereceu pontos de exploração de petróleo nas águas rasas do território. Uma das primeiras candidatas foi a petrolífera Exxonmobil. O governo americano respalda esse interesse, com sinalização clara da embaixada em Georgetown (capital da país sul-americano) de cooperação militar", explicou Costa Vaz.

Em declaração recente, a nova embaixadora dos EUA no país, Nicole Theriot, reiterou a perspectiva de presença militar estadunidense. "[ ] trabalharemos para apoiar nossa parceria bilateral, melhorar os objetivos de segurança mútua, enfrentar ameaças transversais e promover a segurança regional", declarou a diplomata norte-americana.

Do lado venezuelano, a Rússia, principal fornecedor de armamento do país, também observa a região. "Durante a administração Trump, nos EUA, quando foi ventilada a possibilidade de uma intervenção estadunidense, o governo russo pousou dois bombardeiros em Caracas (capital da Venezuela) e deixou clara sua oposição. Aqui temos algumas das maiores reservas de petróleo do mundo, o que é de interesse russo", relembrou Vaz.

Num cenário de superpotências de lados opostos em um conflito militar, até mesmo o Conselho de Segurança das Nações Unidas ficaria de mãos atadas. Isso acontece, porque junto com China, França e Reino Unido; EUA e Rússia fazem parte dos assentos permanentes, que têm poder de veto. Isso lhes permite barrar resoluções, independente do apoio da comunidade internacional. Assim, há margem para que bloqueiem medidas, mesmo que essas estejam no sentido de cessar o enfrentamento.

E o Brasil?

Apesar de a discussão não envolver diretamente o Brasil, analistas políticos afirmam que a disputa pode fazer com que o Itamaraty tenha que assumir posicionamento mais contundente. Do contrário, a escalada das tensões poderia afetar regiões próximas, como avalia André César, cientista político da Hold Assessoria.

"São vizinhos, que sempre tiveram uma relação pacífica conosco. Então, um eventual embate entre os dois se tornaria um problema que poderia respingar nas populações próximas e na nossa própria política. É um assunto que, literalmente, bate à porta. Lembre-se do caso de venezuelanos entrando aqui via Roraima. Tudo que é assunto fronteiriço é delicado. Não tem como escapar dessa", avalia.

Entretanto, essa visão não é unânime. Outros especialistas entendem que o Brasil não tende a ser diretamente afetado. "A controvérsia já se estende há anos e o nunca tomamos uma posição muito clara, além, claro, da tendência histórica da diplomacia de dar ênfase à resolução pacífica dos conflitos", diz Nicholas Borges, analista de política internacional da BMJ Consultores Associados.

Paz estratégica

"Há interesse brasileiro em jogo também. A recuperação venezuelana beneficiaria o comércio bilateral e, além disso, daria margem a investimentos bilaterais no setor petrolífero", pontua o professor Alcides Cunha Costa Vaz.

O plano brasileiro é relembrar o compromisso de se estabelecer uma Zona de Paz e Cooperação - tratado iniciado pelo Brasil que tem como objetivo promover cooperação regional e a manutenção da paz na região do Atlântico Sul.

No entanto, há temor de que isso não seja o suficiente. "A diplomacia brasileira precisaria ir além dessa narrativa, reforçando que a eventual anexação poderia prejudicar as negociações que a Venezuela vem tratado com os Estados Unidos sobre os embargos econômicos", comentou Borges.


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985) (2016) - Paulo Roberto de Almeida

 Um documento de planejamento, para uma nova obra coletiva na Funag, à qual não foi dada continuidade prática, que deveria servir de continuidade à obra em 3 volumes sobre o Pensamento Diplomático Brasileiro (2013). 

3012. “Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985)”, Brasília, 13 julho 2016, 43 p. Proposta de trabalho para a Funag, no seguimento do primeiro projeto, que cobriu o período 1750-1964. Entregue ao presidente da Funag, sem intenção de participar. Partes servindo de subsídio para redação de um capítulo sobre as relações internacionais do Brasil durante o regime militar brasileiro, para obra coletiva sob a direção de Jorge Ferreira (jorge-fer@uol.com.br) e Lucilia de Almeida Neves Delgado (lucilia.almeidaneves@gmail.com), Brasil Republicano (Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003, 4 vols., várias edições e reimpressões). Projeto em curso. Utilizado para compor trabalho para a II Jornada de Pensamento Político Brasileiro (IESP-UERJ), em 2017 (n. 3112).Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/108623382/3012_Pensamento_Diplomático_Brasileiro_o_período_autoritário_1964_1985_2016_).



Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985)

 

Paulo Roberto de Almeida (pralmeida@me.com)

Brasília, 3012: 14 de julho de 2016.

  

“A melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se.”

Antônio F. Azeredo da Silveira

 

Sumário: 

Introdução

1. Um “pensamento diplomático” na era militar? Premissas e fundamentos

2. O que foi a era militar do ponto de vista da política externa e da diplomacia?

3. Pensamento Diplomático Brasileiro: a era autoritária (1964-1985) – esquema

4. Bibliografia sobre a diplomacia e a política externa da era militar

5. Apêndices

5.1. Principais atos multilaterais do período

5.2. Cronologia sumária do período

 

 

Introdução

Os objetivos desde documento preliminar de planejamento são os de apresentar algumas reflexões em torno do conceito e da temática indicados no título e de formular, tentativamente, propostas de organização e um esquema para a possível composição de um segundo conjunto de textos vinculados sequencialmente à obra Pensamento Diplomático Brasileiro, formuladores e agentes da política externa, 1750-1964 (Brasília: Funag, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2), organizada pelo ex-presidente da Funag (2012-2014), embaixador José Vicente Pimentel, da qual fui um dos primeiros propositores e um dos colaboradores, ao lado de diversos outros colegas de carreira e de representantes da academia. Trata-se da continuidade desse projeto exitoso, que parece ter encontrado vasto e positivo acolhimento por parte da comunidade brasileira trabalhando ou se exercendo academicamente na área, que justamente parece estar reivindicando o seu prosseguimento no período ulterior àquele da primeira obra, desta vez cobrindo as duas décadas do regime militar brasileiro.

Este texto está dividido nas seguintes partes: uma primeira, de reflexões sobre a noção de “pensamento diplomático brasileiro”, tal como suscetível de cobrir um amplo espectro de formulações e ações diplomáticas brasileiras, disseminadas por diferentes orientações de política externa, com atores diversos ao longo de um período bastante complexo – certamente excepcional – da história do Brasil; uma segunda, que busca capturar os elementos essenciais do período em questão (1964-1985), evidenciando alguns dos traços distintivos de sua política externa e da participação do estamento diplomático em sua formulação e execução; e uma terceira, que propõe um esquema preliminar sobre o que se poderia chamar de “índice de matérias” do que seria esse novo volume de um projeto que teve um início auspicioso, e que se espera possa apresentar continuidade adequada, antecipando, inclusive, uma possível continuidade (um terceiro volume) para o período subsequente, eventualmente chegando à atualidade. Segue-se uma bibliografia preliminar (baseada no livro de Fernando de Mello Barreto sobre o período militar) e, como apêndices, uma relação dos principais atos multilaterais instituídos no período e uma cronologia dos fatos mais relevantes ocorridos nos planos doméstico e internacional no mesmo período (tal como constante da obra de Eugênio Vargas Garcia de natureza cronológica, justamente).

As considerações que se seguem são puramente pessoais, representativas de minhas próprias concepções sobre quais seriam as bases ideais para a continuidade desse projeto, e não têm a pretensão de servir de guia para a execução de tal projeto. Mas elas balizam as condições sob as quais reputo ser possível conduzir um trabalho sério, metodologicamente sólido, substantivamente fundamentado, sem os parâmetros rígidos dos “policy papers” da diplomacia oficial, e sem as digressões teórico-abstratas normalmente encontradas nos textos puramente acadêmicos. O texto consolida uma experiência adquirida na pesquisa historiográfica e da documentação diplomática, bem como o saber adquirido em leituras, aulas e ampla vivência no mundo acadêmico, já registradas em inúmeros textos publicados ou inéditos no vasto campo das relações internacionais e da política externa do Brasil.

 

1. Um “pensamento diplomático” na era militar? Premissas e fundamentos

A primeira questão a ser considerada, no primeiro capítulo substantivo deste projeto de livro é justamente a existência de um “pensamento diplomático” na era militar, como de resto em qualquer outra época, antes ou depois dessa fase especial da história brasileira. Falar em “pensamento diplomático” implica necessariamente em se dispor de certa homogeneidade de conceitos e de formulações gerais nos planos dos princípios e dos valores, aplicados na frente externa, que mantenham certa consistência com as articulações políticas e diplomáticas durante pelo menos dois governos, apresentando, portanto, certa estabilidade temporal e suficiente coerência interna para justificar o epíteto. Em outros termos, significa haver um corpo harmônico de ideias, ou um conjunto de princípios organizadores da política externa que possa ser reconhecido, interna e externamente, como representativo do Estado ou da nação. 

(...)


Leia a íntegra deste trabalho neste link: 

https://www.academia.edu/108623382/3012_Pensamento_Diplomático_Brasileiro_o_período_autoritário_1964_1985_2016_


sábado, 30 de setembro de 2023

Política externa e diplomacia brasileira: uma visão de três décadas - Paulo Roberto de Almeida (revista Crusoé)

Política externa e diplomacia brasileira: uma visão de três décadas

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor

Publicado na revista Crusoé (29/09/2023, link: https://crusoe.com.br/edicoes/283/politica-externa-e-diplomacia-brasileira-uma-visao-de-tres-decadas/)

 

 

Entre 1993 e 2023, o Brasil e sua política externa atravessaram turbulências políticas e fases de euforia ou de retraimento, para emergir com promessas de novas realizações, sob a liderança do mesmo presidente que tinha dado grande destaque à presença diplomática do país no decorrer de seus dois primeiros mandatos, no início do presente século. À diferença do “momento unipolar” dos anos 1990, com a visível hegemonia global dos Estados Unidos no quadro de uma fugaz “nova ordem mundial” no seguimento da derrocada do império soviético entre 1989 e 1991, o mundo desta terceira década do século 21 aparece como sensivelmente transformado, num cenário de uma possível “Segunda Guerra Fria”, sobretudo em função da fulgurante ascensão da China como grande ator global e do desafio da Federação Russa aos equilíbrios instáveis da ordem ocidental ainda dominante.

De fato, o contexto político e diplomático do período conheceu seguidas mudanças em relação ao antigo sistema de relações internacionais da Guerra Fria (1947-1991), passando de uma fase de unilateralismo imperial – que correspondeu à grande preeminência estratégica dos Estados Unidos, a partir da implosão e fragmentação da URSS e do declínio da Federação Russa nos primeiros dez anos de sua emergência como o mais importante membro do antigo império soviético – e de profundas alterações na geopolítica europeia, com a adesão da maior parte dos seus satélites da Europa central e oriental às “ferramentas” econômicas ocidentais (Gatt-OMC, União Europeia e OCDE) e militares (OTAN). Essa fase foi seguida pela lenta, mas decisiva, ascensão da China, economicamente um gigante comercial e industrial, e pela restauração da Rússia como poder militar, com capacidade de projeção em teatros regionais. 

Uma “Segunda Guerra Fria” foi anunciada pela postura de competição estratégica dos EUA em relação à China – que se tornou mais assertiva sob Xi Jinping – e, sobretudo, de novos desafios lançados pelo líder russo Vladimir Putin, querendo recompor antigas esferas de influência da finada União Soviética, a partir de sua guerra de agressão contra a vizinha Ucrânia. Abriu-se, assim, um cenário de definições dramáticas a serem tomadas pela diplomacia brasileira nesse novo contexto de vagos projetos de uma “nova ordem mundial”.

(...)


Ler a íntegra do artigo neste número da revista Crusoé: 

 https://crusoe.com.br/edicoes/283/politica-externa-e-diplomacia-brasileira-uma-visao-de-tres-decadas/


Entrevista para o Boletim de RI Acauã - Paulo Roberto de Almeida

 https://acaua.info/paulo-roberto-de-almeida-entrevista-para-o-numero-11/

Paulo Roberto de Almeida: Entrevista para o Número 11

Entrevista que ampara o Editorial de nº 11, conduzida pelo Editor do Boletim Marcelo de Almeida Medeiros com o Diplomata Paulo Roberto de Almeida. 

Entrevistado: Paulo Roberto de Almeida

Entrevistado: Paulo Roberto de Almeida 

Paulo Roberto de Almeida (São Paulo, 1949) é Doutor em Ciências Sociais (Université Libre de Bruxelles, 1984), Mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia, 1977). Diplomata de carreira, por concurso direto em 1977; aposentado em 29/10/2021. Foi professor no Instituto Rio Branco, na Universidade de Brasília e no Instituto de Hautes Études de l’Amérique Latine (Sorbonne). Ex-diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI). De 2004 a 2021 foi professor de Economia Política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito no Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Como diplomata, serviu em diversos postos no exterior e na Secretaria de Estado, inclusive na embaixada do Brasil em Washington, de 1999 a 2003. De agosto de 2016 a março de 2019 exerceu o cargo de Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag-MRE). É atualmente diretor de Relações Internacionais do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. Livros mais recentes sobre a política externa e a diplomacia do Brasil: Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior (LVM, 2022); Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira (Appris, 2021); Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Curitiba: Appris, 2019); Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (UFRR, 2019); Nunca Antes na Diplomacia (Curitiba: Appris, 2014).

Entrevistador: Marcelo de Almeida Medeiros

Entrevistador: Marcelo de Almeida Medeiros 

Editor do Boletim Acauã. Professor Titular do Departamento de Ciência Política da UFPE e Pesquisador PQ-1C do CNPq. Possui doutorado em Ciência Política.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Perguntas múltiplas aos companheiros (política externa e diplomacia) - Paulo Roberto de Almeida

Perguntas múltiplas aos companheiros:

1) Vcs tem certeza de que essa mania de Lula de confortar e de defender o criminoso de guerra Putin, em todas as circunstâncias, mesmo em face de provas irrefutáveis de que ele violou a Carta da ONU, já perdeu a guerra, e está agora unicamente interessado em destruir a Ucrânia e matar o seu povo, tudo isso serve realmente aos interesses nacionais do Brasil, aos de sua diplomacia, ao próprio Lula?

2) Vcs não desconfiam que ele já passou dos limites do aceitável nessas matérias?

3) Vcs não têm uma leve desconfiança que, depois do isolamento do Brasil sob o governo anterior, o atual governo também possa levar o Brasil a um novo isolamento?

3) Vcs acham, de fato, que o tal do Sul Global e as duas grandes autocracias do momento vão ajudar o Brasil a se tornar um país desenvolvido, plenamente integrado na economia mundial e dispondo de acesso a todas as tecnologias necessárias ao seu processo de crescimento econômico e de desenvolvimento social?

4) Vcs realmente acham que essa tal de "Nova Ordem Global", não-ocidental, é uma boa ideia?

5) Vcs acham possível uma "desdolarização" rápida, assim apenas na base do fiat money das moedas locais, e dependendo unicamente da vontade dos governantes?

6) Vcs acham que os exportadores e negociantes globais vão seguir essas ideias de "moeda comum" sem qualquer estudo técnico abalizado, e ainda afirmando que seu uso vai "baratear" as transações no tal de Sul Global?

7) Vcs realmente acreditam em tudo o que vem sendo dito nas altas esferas da política brasileira?

Parabéns! Vcs são grandes crédulos!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13/09/2023

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

O inevitável e o imprevisível: o Brasil e a questão da neutralidade num grande conflito global - Paulo Roberto de Almeida

 O inevitável e o imprevisível: o Brasil e a questão da neutralidade num grande conflito global

Paulo Roberto de Almeida

Nota sobre as posturas adotadas pelo Brasil nos dois grandes conflitos globais do século XX e agora em face da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. 


Certas coisas são previsíveis: o Brasil se declarar neutro ao início de um grande conflito, como em 1914 e em 1939. 

Mas terá sido inevitável o país ficar do lado dos agredidos contra as potências agressoras, como finalmente ocorreu em 1917 e em 1942-43? 

Para isso concorreram dois fatores, um objetivo, o outro subjetivo: o fato de termos sido igualmente agredidos pelas potências responsáveis pela guerra de agressão e o fato de contarmos com lideranças políticas com visão de estadistas nas duas circunstâncias, e aqui eu me refiro mais a Rui Barbosa e a Oswaldo Aranha do que ao presidente em 1917 ou ao ditador do Estado Novo.

Pode, agora, não ser mais assim e a questão crucial do ponto de vista diplomático é a de saber o que mudou em 2022-2023, em relação aos contextos de 1917 e de 1942-43?

O Brasil não foi diretamente agredido, como extensão de uma guerra de agressão deslanchada por impérios militaristas e expansionistas, como ocorreu depois de 1914 e 1939, mas sim tínhamos fortes vinculos comerciais, econômicos e até humanos, como havia naquelas duas primeiras circunstâncias e que continuaram existindo no atual contexto: Alemanha imperial ou Alemanha nazista mantinham grandes relações econômicas com o Brasil em suas respectivas épocas, assim como atualmente Rússia e China exibem tais capacidades, sobretudo no campo comercial (mas também, e de modo talvez imprevisível, no campo, da visão do mundo por parte das lideranças).

O que mudou foi provavelmente o fator subjetivo, a qualidade do capital humano em cada circunstância. Essa circunstância pode ajudar a explicar uma outra dimensão da postura diplomática, o fator moral, geralmente descurado em favor de razões propriamente econômicas ou materiais.

Bolsonaro e Lula, por razões notoriamente diferentes, acabaram adotando uma postura similar, se não semelhante (independentemente das orientações recomendas pela diplomacia profissional): uma falsa neutralidade, objetivamente favorável ao agressor, provavelmente evitável, se outros tivessem sido os condicionantes humanos em cada caso.

Interesses eleitoreiros, num caso, adesão a uma visão do mundo e a compromissos com um projeto político não exatamente condizente com nossos padrões políticos, culturais e diplomáticos mais tradicionais, levaram a uma postura que difere daquelas a que acabamos aderindo em 1917 e 1942.

No atual contexto, o fator humano talvez explique porque o Brasil se afastou de uma postura de se afastar, na prática, das potências agressoras e de continuar exibindo uma postura objetivamente favorável a estas, em contradição com os interesses de longo prazo do Brasil.

Estes são, na minha concepção, e com base nas tradições diplomáticas do Brasil, os de se alinhar preferencialmente ao campo das democracias defensoras das liberdades e dos direitos humanos.

Nem sempre, todavia, é assim: fortes inclinações personalistas à direita e à esquerda podem destoar daquilo que seria previsível e inevitável. 

A guerra de agressão de uma Rússia imperial declinante talvez fosse previsível, mas a Segunda Guerra Fria não era inevitável, fossem outros os condutores dos grandes impérios existentes (com a exceção do meio império europeu).

Não era imprevisível que o Brasil adotasse uma postura de neutralidade em face de grandes conflitos interimperiais.

Mas era evitável que suas lideranças circunstanciais adotassem, na prática, uma postura de neutralidade objetivamente favorável à parte agressora.

Não faz parte de nossas tradições e não condiz com nossos interesses nacionais de médio e longo prazos. Mas isto a História poderá confirmar oportunamente.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 7 de setembro de 2023


terça-feira, 8 de agosto de 2023

O estranho caso de afinidade eletiva do Brasil de Lula para com um dos parceiros diplomáticos do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

O estranho caso de afinidade eletiva do Brasil de Lula para com um dos parceiros diplomáticos do Brasil 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a obsessão de Lula em defender os interesses de Putin no caso da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. 

 

Lula deve ser um dos poucos, senão o único dos chefes de Estado de países relevantes do mundo que expressa cuidados e que defende as “legítimas preocupações da Rússia com sua segurança”! 

Defesa e segurança da Rússia?

DA RÚSSIA?!?!?

O BRASIL?!?!?

A Rússia, tão grande, com tantos recursos e um poderio bélico impressionante, não é capaz de se defender sozinha?

Alguém no mundo está atacando a Rússia?

Ela já pediu ajuda à ONU?

Já denunciou o sórdido ataque à sua soberania e a violação da Carta da ONU por esse vil atacante?

O Brasil precisa vir em seu socorro?

E Lula já determinou que sua diplomacia viesse ou fosse em socorro à “legítima preocupação de segurança da Rússia”?

 

Desculpem, mas tenho legítimas dúvidas sobre o sentido da preocupação de Lula e sobre os fundamentos da atuação, neste caso, da diplomacia brasileira.

Algum diplomata da ativa, desse setor ou de outro, poderia me explicar esse estranho caso de afeição particular do Brasil para com o maior país do mundo?

Tem alguma nota do Itamaraty sobre esse estranho caso de afinidade eletiva com um membro específico da comunidade internacional?

Alguma outra nota por acaso tratando do que vêm ocorrendo no território e com a população de um vizinho específico desse outro país específico objeto dessa estranha e bizarra afinidade?

Só queria entender essa preocupação especial do Brasil para com uma “operação militar especial” da Rússia.

Agradeceria explicações de quem de direito.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4454, 8 agosto 2023, 2 p.


domingo, 23 de julho de 2023

Dois pesos e nenhuma medida: a diplomacia brasileira está realmente de volta? - Paulo Roberto de Almeida

Dois pesos e nenhuma medida: a diplomacia brasileira está realmente de volta?

Paulo Roberto de Almeida


O Itamaraty costuma soltar notas de solidariedade a propósito de qualquer inundação mais forte em cantos remotos do planeta. 

Não entendo por que, até aqui, não soltou NENHUMA nota a propósito dos ataques desumanos cometidos por Putin na Ucrânia, até a Odessa, um patrimônio da Unesco. 

Por que isso?

Alguma bronca em relação a um país com o qual temos relações normais, até troca de embaixadores?

O Brasil exibe uma TOTAL indiferença ao mais devastador conflito militar que ocorre na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Onde estão as credenciais universalistas da política externa brasileira?

Escondidas atrás de algum biombo de um neutralismo absolutamente hipócrita?

Continuarei cobrando notas do Itamaraty: pelo menos para pedir alguma coerência do corpo profissional de diplomatas: me parece que estão sendo incoerentes no presente momento.

O que devo concluir?

(Não espero respostas de diplomatas, nominais ou anônimas.)

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23/07/2023


segunda-feira, 10 de julho de 2023

O significado maior da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia - Paulo Roberto de Almeida

O significado maior da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as implicações da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia para a Rússia, a China e o Brasil.

 

Nem Putin, nem Xi Jinping, contavam com um conflito prolongado no caso da Ucrânia, com uma terrível sangria humana (eles só pensam, claro, nos soldados russos) e consequências desastrosas no comércio e outras interações com o Ocidente. 

Devem estar preocupados com o custo econômico e diplomático. Até quando as duas autocracias vão sustentar o embate com a Otan (no campo militar) e com parte do Ocidente (no campo econômico)?

Para Putin, o custo maior é simplesmente o seu poder pessoal, e o custo imposto à Rússia no plano econômico. No caso de Xi, deve estar pensando no custo bem maior de uma aventura militar no estreito de Taiwan. Terá de refazer o se planejamento para o término (se houver) de seu terceiro mandato no novo Celeste Império.

E o que faz o famoso e diáfano “Sul Global”? Faz cara de paisagem? Sinal de que não existe de fato como suposta entidade diplomática.

Essa guerra de agressão, que se pensava rápida e terminativa, já deixou sua marca nos livros de História e nos manuais militares (a serem escritos).

O Brasil de Lula 3 tampouco sairá engrandecido de uma postura considerada como objetivamente pró-Putin no terreno diplomático de suas relações com o que se poderia chamar de “Ocidente global”.

Os atuais dirigentes brasileiros já pensaram seriamente no impacto maior dessa guerra, a todos os títulos desastrosa para contendores e “espectadores”?

Não se trata de uma proxy war como outras no contexto dessa “segunda Guerra Fria”, agora sim, oficialmente declarada…

Os processos militares, econômicos, diplomáticos e geopolíticos ainda estão em desenvolvimento…

 

Paulo Roberto de Almeida

Uberaba, 4432, 10 julho 2023, 1 p.


domingo, 21 de maio de 2023

Diplomacia brasileira: onde estávamos 4 anos atrás - Paulo Roberto de Almeida

 Não custa recordar o estado miserável de nossa diplomacia 4 anos atrás. Vejam o que escrevi, no Facebook, em 24 de abril de 2020: 

24 de abril de 2020 
Compartilhado com Público
Público

Uma declaração apenas pessoal, mas acredito que represento e expresso os mesmos sentimentos da quase totalidade da diplomacia profissional
Profunda vergonha de nossa atual diplomacia
Paulo Roberto de Almeida
sexta-feira, 24 de abril de 2020
Como diplomata, ou melhor, como simples cidadão brasileiro, estudioso de nossa história diplomática, lamento profundamente que a atual diplomacia bolsonarista tenha descido tão baixo na escala dos princípios e valores que sempre foram os nossos no trabalho normal da política externa, de um país outrora integrado e ativo nas frentes abertas à nossa inserção internacional pela via da cooperação em prol da humanidade.
O Brasil hoje virou um pária no cenário mundial, desprezado pelas mais vibrantes democracias, ignorado pelos chefes de Estado que possuem visão de ação conjunta em prol da Humanidade.
Como cidadão, mas também como servidor do Estado, declaro-me em total oposição a tudo o que o presente (des)governo representa supostamente em nome do povo brasileiro.
Solitariamente, apenas em função de minha própria consciência, mas também confiante numa função voluntariamente assumida de representação da quase totalidade do corpo diplomático do Brasil, declaro que essa diplomacia e esse governo não representam o povo brasileiro e, ao contrário, envergonham profundamente a nação.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de abril de 2020
Todas as reações:
Gustavo Bezerra, Egidio Lessinger e outras 15 pessoas
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