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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Juras e juros: dois tratamentos "especiais"...

Leio no mesmo jornal, duas matérias totalmente contraditórias, aliás reveladoras da esquizofrenia econômica brasileira, ou da síndrome de transtorno bipolar que caracteriza nossa política econômica.
Se alguém conseguir me explicar por que, como e em quais condições um banco nacional de "desenvolvimento" (do quê, ou de quem, mesmo?) empresta 3 bilhões a uma companhia estrangeira, a juros de mãe para filho (digamos 6% ao ano), enquanto empresas nacionais pagam o triplo disso aos sanguessugas do sistema bancário nacional, eu agradeceria muitíssimo, pois poderia complementar meu conhecimento econômico sobre como funciona (ou não) a economia brasileira...
Paulo Roberto de Almeida


Custo do crédito para grandes empresas está em 16,2% ao ano, diz BC
DCI, 20/09/2011
São Paulo - O Banco Central (BC) divulgou ontem pela primeira vez dados da Taxa Preferencial Brasileira, que reflete os custos de financiamentos das grandes empresas junto aos bancos.
De janeiro de 2005 a abril de 2011, a taxa preferencial média foi de 16,2% anuais. O custo é o mais elevado de uma relação de seis países divulgada pelo BC, que inclui os países do BRICS - além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - e os Estados Unidos.


Vivo consegue empréstimo de R$ 3 bilhões junto ao BNDES
DCI, 20/09/2011
São Paulo - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou ontem que aprovou um financiamentode R$ 3 bilhões para a Vivo. Os recursos serão destinados a investimentos na expansão e melhoria da rede da operadora de telefonia, além da implantação de infraestrutura necessária para novas tecnologias entre os anos de 2011 e 2013, além de pesquisa e desenvolvimento. Segundo o banco de fomento, através do financiamento, a Vivo poderá ampliar o acesso aos serviços de telecomunicações no País e permitir que um número maior de pessoas possa se conectar à Internet.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Enrolacao cambial: governo repete as mesmas bobagens de sempre...

Alguém acredita que as recentes medidas do governo, anunciadas como a "salvação da lavoura" pelo ministro Mantega, serão capazes de corrigir os problemas estruturais da defasagem cambial brasileira?
Se alguém acredita, meus parabéns, já temos candidatos ao ingênuo da semana...
Mil perdões se ofendo alguém, sobretudo nossas autoridades tão preclaras, mas as razões de por que eu acho que o governo está enxugando gelo são muito simples, mas o governo não parece perceber.
Existe um problema de desvalorização do dólar? Claro que existe: quando o governo americano despeja bilhões de dólares nos mercados, ele está empurrando a crise para os demais países, ou seja, dividindo o prejuízo com todos aqueles que usam o dólar. Isso é normal, e já foi feito antes, com acordo ou sem acordo no âmbito do G7, do G20, do FMI, seja lá onde for, o governo americano conduz um processo de desvalorização administrada do dólar, para ganhar competitividade e reduzir sua exposição internacional (ainda que sob risco de ver outros países se afastarem do dólar, um risco mínimo estima ele).
Existe um problema de manipulação cambial por parte da China? Claro que existe, mas a China apenas faz aquilo que o Brasil ou outros países já fizeram dezenas de vezes no passado, no presente e que continuarão fazendo cada vez que tiverem necessidade de preservar empregos industriais, competitividade exportadora, ainda que sob risco de deixar sua população mais pobre, relativamente. Mas os efeitos emprego são julgados mais importantes do que os de renda.
Existe um problema de VALORIZAÇÃO DO REAL? Claro que existe, e ele é causado inteiramente por nossas (minhas não, deles) políticas, não tendo nada a ver com a desvalorização do dólar ou com a manipulação do yuan. Essa valorização é feita aqui, made in Brazil, e deriva inteiramente de nossa política fiscal esquizofrênica, mais do que nossa política monetária de flutuação, e não manipulação, como gostariam alguns malucos universitários.
Enquanto os juros no Brasil forem quatro a cinco vezes maiores do que no resto do mundo, ou do que nos principais países exportadores de capitais, pelo menos, a nossa moeda vai continuar se valorizando.
Existe alguma maneira de coibir, inverter, corrigir esse ciclo ascendente?
CLARO QUE EXISTE. Basta o governo PARAR de gastar mais do que deve, mais do que arrecada, ser um extrator líquido da poupança privada, ser um despoupador contumaz e um gastador inveterado. E também parar de arrecadar nesses níveis de país rico, para uma renda de país pobre.
O governo é sempre o culpado, não procurem outro responsável.
Repito para ficar bem claro: O GOVERNO TEM TODA A CULPA DA VALORIZAÇÃO CAMBIAL.
Os empresários que ainda não perceberam isto ou são ingênuos, ou são desinformados, ou são estúpidos, por vezes todos os três, ao mesmo tempo.
Sorry, empresários: parem de cultivar governos esquizofrênicos...
Paulo Roberto de Almeida

Bastidores Líderes
boletim do Forum dos Líderes, 28/07/2011

Na sexta-feira da semana passada, Dilma garantiu que o governo não tomaria mais medidas cambiais até que o cenário externo ficasse mais claro.

Na segunda-feira, Guido Mantega "desautorizou" a presidente e disse que tinha medidas duras no bolso e alertou: "Podem se preparar".

O ministro tinha razão.

Ontem o governo soltou uma série de medidas que podem afetar o câmbio. A que traz novidades é uma só, as demais são remendos nos furos dos diques de medidas anteriores. É a que introduz um IOF de 1% nos contratos de câmbio do mercado futuro - e autoriza o governo a aumentar o imposto para até 25%, caso o mercado não se comporte como ele quer.

A idéia é conter a especulação dos que apostam na desvalorização contínua do dólar e tentar segurar a valorização do real.

Como todas as ideias que surgem da cabeça de Mantega - se bem que essa, parece, foi dada ao ministro pelo economista Roberto Gianetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp - a nova taxação também é polêmica.

Primeiro, em relação à sua eficácia. Achando que foi um tiro de canhão para matar uma formiga, o mercado acha que é questão de dias para se encontrar brechas para driblar a taxação.

Sempre elegante, o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira deixa no ar a insinuação de que Mantega talvez não saiba, mas o mercado financeiro hoje é global. O que é proibido ou caro aqui, se faz ali. E diz que a medida pode ser um tiro no pé.

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, é mais direto: a medida é "péssima" e "desesperada". Concorda com Marcílio que ela tende a diminuir a liquidez no Brasil e aumentá-la no Exterior. Trocando em miúdos: as operações com dólar futuro saem da BM&FBovespa e vão para a Bolsa de Mercadorias de Chicago. "É contra o Brasil", diz Loyola.

Se você acha que Loyola pegou pesado demais, veja o que disse Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes da Nomura Securities em Nova York: "É uma insanidade, uma medida sem noção, pois vai destruir o mercado de hedge no Brasil".

Para o economista Roberto Troster, ex-Febraban, a medida é "como jogar uma xícara de água em uma fogueira". Amaina um pouco na hora e logo o fogo volta com toda a força.

A maioria dos analistas concorda que, para conter a valorização do real, é preciso fazer aquilo que o governo nem quer ouvir falar: cortar gastos, para poder reduzir juros.

O presidente da Abimaq, Mário Bernardini, sintetiza: "O que precisa é parar de pagar juros quatro, cinco vezes maiores do que em outros países. O resto é quebra-galho".

Joelmir Beting acha que a medida pode ser suficiente não para manter o dólar flutuando acima de R$ 1,60, mas para evitar que flutue abaixo de R$ 1,50.

Alguns jornais manchetaram que o dólar teve ontem a maior alta em um ano, 1,3%, em decorrência das providências governamentais. É mais ou menos verdade. Esqueceram de dizer que o dólar subiu no mundo todo. E "a maior alta em um ano" corresponde a exatos e minguados três centavos.

Aumenta a sensação nos Estados Unidos que não se chegará a um acordo no Congresso sobre a elevação do teto da dívida e que o calote virá. O governo já está trabalhando em um plano para o day after, para ver o que vai deixar de pagar, se não houver acordo.

Mohamed El-Erian, executivo-chefe da Pimco, um dos maiores investidores globais, acha que o acordo acontecerá, mas não evitará que os Estados Unidos percam a nota triple A, a mais alta das agências de classificação de riscos. O que, além das consequências internas, causará turbulências não previsíveis no mercado financeiro global.

Ainda sobre a medida de Mantega, Tutty Vasquez diz que não se fala em outra coisa nos pontos de ônibus. Uma passageira sintetiza a opinião do povão: "Tudo isso é muito relativo".

Boa leitura.

Teodoro G. Meissner
Editor

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sindrome de transtorno (agricola) bipolar; ou teoria da jabuticaba...

Já escrevi alguma coisa sobre a teoria da jabuticaba. Deve estar em algum lugar do meu site. O Brasil agrava a condição (aliás, desde vários anos), desenvolvendo, no mesmo governo, políticas absolutamente contraditórias, senão opostas e inimigas uma da outra...
Paulo Roberto de Almeida

AGRONEGÓCIO FAMILIAR
Xico Graziano - AgroBrasil
O Estado de S. Paulo, 26/07/2011

Funcionam no Brasil, estranhamente, dois Ministérios da Agricultura. Um se dedica ao agronegócio e o outro, ao produtor familiar. Uma invencionice política difícil de entender. Parece jabuticaba, só existe aqui.

Uma safra, dois planos. Em Ribeirão Preto (SP), o governo anunciou as regras do financiamento da safra para a agricultura chamada empresarial. Semanas depois, foi a vez do plano da agricultura dita familiar, lançado em Francisco Beltrão (PR).

Uma agricultura, dois discursos. No palanque paulista, as lideranças ruralistas aplaudiam Wagner Rossi, ministro da Agricultura e Abastecimento. No Paraná, os camponeses reverenciavam Afonso Florense, ministro do Desenvolvimento Agrário. Presente em ambos os eventos, a presidente Dilma Rousseff seguiu o roteiro lulista, naquele estilo ambíguo que agrada a gregos e troianos.

Essa dubiedade na gestão governamental se manifesta em vários outros momentos. Nos fóruns internacionais, como na Organização Mundial do Comércio (OMC), frequentemente se percebem cadeiras expressando posições distintas, quando não contraditórias. Uma dá prioridade a abrir exportações, outra discute segurança alimentar. Enlouquece o Itamaraty.

Tudo começou em 1996, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso criou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Sua ideia básica, inédita, foi carimbar uma fatia dos recursos do crédito rural, obrigando sua aplicação nos pequenos produtores, incluindo os assentados da reforma agrária. Faz sentido.

Tradicionalmente, os grandes proprietários abocanham todo o dinheiro para financiamento rural. O Pronaf mudou essa história. Seu sucesso o tornou robusto dentro da política agrícola do País, executada pelo Ministério da Agricultura com apoio do Banco do Brasil.

Quando Lula assumiu, porém, achou por bem transferir a gestão do Pronaf, entregando-a ao Ministério que cuida da reforma agrária. Atendeu à gula da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e do Movimento dos Sem-Terra (MST). Entregou o ouro.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário passou a operar o Pronaf segundo critérios exageradamente ideológicos e partidários. Assim funciona o jogo do poder. Afinal, a oligarquia rural também sempre mandou no Ministério da Agricultura.

Um grave problema, porém, surgiu dessa tramoia. Ao apartar o atendimento aos pequenos agricultores em outra pasta, criou-se uma falsa dicotomia. A polarização acirrou a distinção, inexistente, entre agronegócio e agricultura familiar.

Gente que se imagina dadivosa combate o agronegócio, como símbolo do mal. Tal pensamento expõe um dos maiores equívocos produzidos pela esquerda brasileira. Por definição, nada opõe o pequeno produtor à modernização tecnológica nem ao mercado. Ao contrário. Investir em qualidade configura caminho único para o progresso no campo.

Conceitualmente, o termo agronegócio refere-se ao conjunto das atividades produtivas geradas no meio rural. Na pecuária, por exemplo, as empresas de insumos e máquinas fornecem bens e serviços à criação animal. Na outra ponta, colocam-se os frigoríficos, as agroindústrias, os açougues. Eles processam e vendem. Somados aos pecuaristas, esse conjunto caracteriza o agronegócio da carne.

No Brasil moderno, dentro do segmento rural propriamente dito são gerados só 27% do PIB dos agronegócios. Outros 7% do valor econômico se localizam antes da porteira do agricultor, enquanto 66% do valor dos agronegócios - a maior fatia - rola depois da porteira das fazendas.

Na concepção do termo, portanto, somente não participa do agronegócio quem produz para si. E são muitos. Especialmente no semiárido nordestino, cerca de 1,5 milhão de pequenos agricultores pobres e rudimentares mal conhecem a economia comercial. Outro enorme contingente, cerca de 1 milhão de famílias assentadas pela reforma agrária se encontram isoladas.

Nada condena os agronegócios. O cultivo de subsistência, esse, sim, está ultrapassado pelos tempos, sofrendo na miséria. Aqui reside o grande desafio da política pública: conseguir modernizar a agricultura atrasada, integrando-a aos mercados, tornando-a empreendedora. Ao contrário do que vociferam os obscurantistas agrários, a saída da pobreza rural rema a favor dos agronegócios, não contra.

Esse caminho vitorioso tem sido trilhado por incontáveis pequenos agricultores que buscaram conhecimento, integraram-se às agroindústrias, vincularam-se às cooperativas agropecuárias. A produtividade deles cresceu, a renda melhorou. Pequenos, organizados, tornam-se grandes.

Essa emergente classe de produtores surge exatamente da inserção positiva no agronegócio, fundindo tecnologia e mercado com boa gestão familiar. Ela fornece hoje o dinamismo da agricultura nacional, puxado pelo sojicultor paranaense ou gaúcho, pelo cafeicultor mineiro ou capixaba, pelo suinocultor catarinense, pelo fruticultor paulista, pelo pecuarista goiano, entre tantos.

Fazendeiro graúdo chega a ter inveja desses progressistas agricultores. Sua área média gira em torno dos 50 hectares e, no conjunto, respondem por aproximadamente 70% da produção agropecuária do Brasil. Embora familiares, não prestam a mínima atenção ao discurso boboca que, ao intrigá-los com os agronegócios, os condena ao atraso.

O Brasil não precisa de dois Ministérios da Agricultura. Carece, isso sim, de uma política emancipadora no campo, livrando os agricultores pobres, resignados, da manipulação política de líderes que, disfarçados de salvadores, vivem de explorar a miséria alheia. Taí uma boa tarefa: desenvolver uma vacina contra esse terrível mal.

AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Brasil: querendo ser grande, mas desejando ficar pequeno...

Talvez algum psiquiatra chamasse esse tipo de comportamento de síndrome ou transtorno bipolar, ou seja, querendo ser uma coisa e outra, ao mesmo tempo.
Em outros termos, o Brasil quer ser grande, pretende ser tratado como grande, mas na área comercial quer ser pequeno, e tratado como pequeno.
Precisaria saber o que se deseja, finalmente...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil perde privilégios de país emergente
Jamil Chade
O Estado de S. Paulo, 19/04/2011

UE deve pôr fim a benefícios às exportações do Brasil em maio; EUA e Japão, em seguida

De tanto declarar que será a quinta maior economia do mundo, o Brasil agora começa a deixar de ser tratado como um país pobre e terá as preferências comerciais às suas exportações retiradas.

Europeus, japoneses e americanos estão usando o crescimento da economia brasileira como argumento para acabar com preferências dadas ao País por décadas. O primeiro a suprimir benefícios será a União Europeia (UE), em maio.

Bruxelas vai suspender as preferências tarifárias que dá para mais de 12% das exportações brasileiras, argumentando que o País não precisa mais de ajuda. Tóquio e Washington também já indicaram que farão o mesmo.

Diante da nova realidade, a diplomacia brasileira agora é obrigada a reverter o discurso e alertar que, na realidade, ainda enfrenta desafios sociais e econômicos importantes.

Na prática, a UE promove o Brasil a uma nova condição e cria uma diferenciação entre a economia nacional e a dos demais países em desenvolvimento. Estabelecido há décadas, o Sistema Geral de Preferências da UE foi criado justamente como forma de incentivar as exportações de países em desenvolvimento.

Em 2010, 3,1 bilhões das exportações nacionais contaram com a ajuda da redução tarifária, permitindo que alguns produtos manufaturados ainda tivessem certa competitividade no mercado europeu, entre eles, têxteis, químicos, máquinas, autopeças e mesmo alguns agrícolas.

"Estimamos que o sistema precisa funcionar prioritariamente para aqueles países que mais precisam de ajuda", apontou uma fonte da Comissão Europeia. "Há países que, há uma década, estavam em um nível e, hoje, já estão em outro."

Para Bruxelas, há uma nova realidade internacional. "Todos temos de nos acomodar a essa nova situação", indicou o negociador europeu. "O Brasil e outros países precisam entender que não terão mais os mesmos privilégios."

No caso europeu, as medidas serão anunciadas no mês que vem, mas entrarão em vigor apenas em 2012.

Efeito dominó. O governo japonês já indicou que também suspenderá privilégios ao Brasil. Nos Estados Unidos, o Congresso já revê os benefícios que concede às exportações brasileiras e indica que não pode continuar tratando Brasil e Malawi da mesma forma.

Na Organização Mundial do Comércio (OMC), o País sofre com o mesmo problema. O governo americano insiste que o Brasil - além de China e Índia - precisa deixar de ser tratado como emergente e ter um tratamento mais parecido ao dado aos países ricos. O governo americano quer que o Brasil elimine tarifas de importação para milhares de produtos e pede "mudança de atitude" se quiser começar a fechar acordos comerciais.

Isso porque, segundo eles, o Brasil já se beneficiou do acesso aos mercados na última década, sem dar nenhum retorno. "Esperamos que o Brasil assuma sua responsabilidade no mesmo nível que tem sido beneficiado pela economia mundial. Ninguém questiona que uma parte significativa do milagre da economia brasileira seja atribuída à sua habilidade para exportar. Esse progresso é manifestação de trabalho duro, mas também de que existem mercados abertos. O Brasil tem tido benefícios por ter acesso a mercados e pelas concessões feitas pelos ricos na Rodada Uruguai há 16 anos, que criaram oportunidades para o País desenvolver indústrias de classe mundial", afirmou há poucas semanas Michael Punke, embaixador americano na OMC.

O governo brasileiro acredita que americanos, europeus e japoneses apenas estão usando a expansão da economia brasileira como desculpa para manter barreiras e frear as exportações nacionais. Mas tanto na UE, como em Washington, Tóquio e Genebra, o Brasil foi obrigado a mudar o tom ufanista e até explicitar a falta de competitividade do setor industrial nacional.

Em reuniões da OMC com americanos e europeus, o Itamaraty já começou a explorar os problemas do País para justificar a manutenção de tarifas de importação e para pedir concessões dos ricos.

Munição
Numa tentativa de manter os benefícios, o Itamaraty se municia de dados desfavoráveis ao Brasil. Com os EUA, por exemplo, as exportações industriais brasileiras caíram 40% em 2010.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Assaltando o seu bolso, caro leitor, de maneira esquizofrenica...

Vejam a matéria abaixo, anódina como pode ser um simples anúncio de unm "pequeno" aumento na sua conta de luz.
Eu disse que o Estado brasileiro, particularmente os governos que se sucedem, e se repetem, desde 1988, com ênfase agregada desde 2003, é esquizofrênico é porque ele é de fato esquizofrênico. Com crueldade redobrada a cada vez.
Todos os políticos e governantes falam que é preciso reduzir a carga tributária -- ops, perdão, todos não, Lula e o atual, ainda, presidente do Ipea, acham que ela é baixa e pode ser ainda aumentada, para supostos fins sociais -- e dizem que se empenham nisso e, no entanto, aumentam o grau de extorsão tributária a cada vez.
O governo atual ousou até dizer que pretende aumentar a competitividade das empresas brasileiras. Muito bem.
E a primeira coisa que ele faz é anunciar novos impostos ou aumento dos atuais, E ainda falam sorrateiramente na volta da CPMF. Contenho os palavrões...
Mas o caso abaixo é ainda mais esquizofrênico. Essa taxa adicional sobre a conta de luz foi criada EM 1973, para compensar os coitadinhos do Norte que não tem barragens ou usinas de qualquer tipo. Deveria ser temporária, até resolverem o problema, ou seja, construirem usinas, ou estenderem cabos e linhas de transmissão.
Pois bem, quarenta anos depois, nós ainda pagamos a dita taxa adicional, e parece que vamos pagar durante mais quarente anos, ou mais...
Não é esquizofrênico, caro leitor.
Agora você sabe porque você trabalha cinco meses para o governo. Por coisas como essa. E ainda querem recriar a CPMF...
Acho que deveriam impalar os políticos que começarem a defender a ideia...
Paulo Roberto de Almeida

Nova regra eleva contas de luz em R$ 1 bilhão
Renato Andrade
O Estado de S. Paulo, 22 de fevereiro de 2011

Aneel aprova por unanimidade mudança no cálculo da Conta de Consumo de Combustíveis, que banca a geração de energia para a Região Norte

BRASÍLIA - A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou nesta terça as novas regras para a cobrança de um encargo que pode encarecer as contas de luz este ano em pelo menos R$ 1 bilhão. Por unanimidade, os diretores aprovaram a nova fórmula de cálculo da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), uma espécie de tributo criado em 1973 que banca a geração de energia na Região Norte, que não é interligada ao sistema elétrico nacional.

Pelas novas regras, as distribuidoras dos chamados sistemas isolados poderão ser ressarcidas não apenas dos gastos com a compra de combustíveis - usados para gerar eletricidade -, mas também de despesas como investimentos e impostos.

O dinheiro depositado na CCC é usado para bancar as usinas termoelétricas que geram eletricidade para os moradores do Norte do País. Como a geração a partir da queima de combustíveis - como óleo - é mais cara, o governo precisa subsidiar as contas de luz da região. O subsídio é bancado, na prática, por todos os outros consumidores de energia no Brasil.

Para Lúcio Reis, diretor-executivo da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), a mudança no cálculo da CCC é mais um entrave para que o consumidor consiga pagar uma tarifa de energia mais barata. "Os encargos, como a CCC, são fatores que dificultam a modicidade tarifária", diz Reis.

Apesar de a regulamentação ter sido aprovada ontem, os consumidores já gastaram mais em 2010 para subsidiar as termoelétricas. Como a nova fórmula de cálculo foi incluída em uma medida provisória, transformada em lei no final de 2009, a Aneel optou em fazer um ajuste provisório no valor alocado para a CCC já em 2010, com base em projeções sobre quanto aumentaria a despesa.

Valor total. De acordo com técnicos da Aneel, a CCC consumiu cerca de R$ 3 bilhões em 2009, valor elevado para cerca de R$ 4 bilhões em 2010. A estimativa inicial da agência é que a despesa deste ano chegue a R$ 5 bilhões.

O valor exato só deve ser conhecido em abril, quando todas as distribuidoras da Região Norte já terão implantado seus sistemas de apuração dos custos. Especialistas do setor estimam uma despesa de R$ 5,5 bilhões.

Além de ampliar a lista de despesas que poderão ser ressarcidas, a medida aprovada ontem garante que o reembolso valerá durante todo o prazo de vigência dos contratos de compra de energia. Na prática, significa que, mesmo que a Região Norte seja interligada ao sistema nacional, os consumidores terão de bancar os custos de manutenção das termolétricas até o fim dos contratos.

A CCC é um dos 14 encargos setoriais que pesam sobre a conta de luz e sua extinção estava prevista para 2022.