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domingo, 23 de abril de 2023

A proposta de criação de grupo de países amigos da Paz [sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia] - Vitorio Sorotiuk (Representação ucraniana no Brasil)

 A proposta de criação de grupo de países amigos da Paz [sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia]

 

      Vitorio Sorotiuk

Presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira

Curitiba 21/04/2023
 

      

    O Brasil voltou à cena internacional, diz o atual Presidente Luís Inácio Lula da Silva.  Na verdade, não saiu, estava ali como peso morto e omisso em questões vitais para a humanidade. A volta de uma presença mais ativa na cena internacional teve um primeiro round muito positivo com a assunção dos compromissos mundiais com a agenda ambiental e cresceu com a ação pronta e imediata no socorro aos índios Ianomani e aos vitimados pelas enchentes em São Sebastião e outras localidades. E veio, em seguida, a abordagem da questão da paz, da guerra na Ucrânia que geraram expectativas positivas. Porém, as declarações quando da visita a China e na recepção ao Chanceler Serguei Lavrov da Rússia em Brasília levaram o Brasil, objetivamente, a favorecer o agressor russo Vladimir Putin. E o Presidente Luís Inácio Lula da Silva começou a cair no crédito internacional. Já a comunidade ucraniana brasileira ficou indignada, tanto a parte que votou contra ele como a parte da comunidade que votou nele. 

Na visita de Serguei Lavrov, o Brasil somente fez uma declaração pedindo o cessar fogo, como continuidade da responsabilização por igual na continuidade da guerra para a Rússia e Ucrânia e responsabilidade da continuidade da guerra aos Estados Unidos e Europa por fornecer armas para a Ucrânia. A críticas se fizeram sentir por todos os lados e na recepção ao Presidente da Romênia o Presidente foi obrigado a ler texto onde afirmava o reconhecimento da integridade territorial da Ucrânia e Celso Amorim sair em campo para explicar o inexplicável. Antes enviou o Celso Amorim a Moscou, sem visitar Kyiv ao mesmo tempo, repetindo o que fez Bolsonaro.  Enfim, o Brasil ainda não firmou uma posição que o coloque no campo da democracia mundial e possa de fato favorecer o caminho da paz e da justiça.

Há um desconhecimento da história da Ucrânia e da Rússia e uma grande intoxicação não sanada pelas concepções estalinistas e da atual propaganda da FSB (ex KGB), sobre a expansão da OTAN, os Estados Unidos terceirizando a guerra contra a Rússia e outras. A responsabilidade pela expansão da OTAN é da própria Rússia. Basta ver as duas últimas adesões, Suécia em curso e Finlândia já efetivada. Elas se deram não por vontade dos membros da OTAN, mas por decisão dos povos desses dois países para terem segurança frente a ameaça que representa a vizinha Rússia. E assim foi com os países bálticos, a Polônia e era a vontade da Ucrânia. Ninguém buscou a OTAN para agredir a Rússia, mas para se proteger dela. O problema para a Rússia é a própria elite russa e seu projeto.

            A agressão da Rússia a Ucrânia vem desde a independência em 1991, não começou em 24 de fevereiro de 2022 e nem em 2014, mas antes, está fundada em um projeto desenvolvido no âmbito do governo russo após a dissolução da União Soviética. Não se pode também esquecer o passado imperial tzarista, a crítica dos revolucionários de 1917 a elite russa por sua concepção de superioridade racial, o Holodomor e o totalitarismo estalinista. Atualmente, verificando-se o círculo no entorno de Vladimir Putin encontramos os conservadores chauvinistas russos Vladimir Yakunine, o Padre Tikhone Chevkunov e Vladislav Surkov defensor convicto da narrativa “não há Ucrânia”, que levou Putin a escrever um texto de 20 páginas afirmando que a Ucrânia é uma invenção de Lenin. A citação mais frequente nos discursos de Putin é a de Ivan Illyn (1883-1954). Illyn foi expulso da Rússia soviética em 1922. No exílio, em Berlim e depois na Suíça, conectou-se aos emigrados russos contrarrevolucionários e abraçou o pensamento fascista. Em 1950, escreveu um ensaio que viria a ser repetidamente citado por Putin. Outros citados são Nicolas Danilevski, que pregou o messianismo da cultura eslava, Lev Gumilov expoente do euroasianismo ou Konstantin Leontiev, filósofo russo monarquista conservador que defendia uma união monárquica conservadora. entre a Rússia e o Oriente contra o que ele acreditava serem as catastróficas influências igualitárias , utilitárias e revolucionárias do Ocidente. Analisando-se atentamente os discursos dos últimos 20 anos de Putin constata-se um pensamento formado em um coquetel de superioridade étnica russa, conservadorismo e expansionismo. Daí porque a ocupação da Ucrânia é uma peça no projeto euroasiático com centro em Moscou por parte de Vladimir Putin. Oleksandr Dugin disse isso com todas as tintas “a guerra à Ucrânia como uma pré-condição para o renascimento do Império Russo.”

Sobre o dever de oferecer armas à Ucrânia. Uma situação é o fornecimento de armas para um país que agride outro e outra situação é o fornecimento de armas para a defesa de um país agredido. No caso, os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a China e a Irlanda do Norte têm obrigação de fornecer armas para a Ucrânia se defender. A razão está que a Ucrânia aparece no cenário internacional em 1991 como a terceira potência nuclear do planeta, pelo número de ogivas nucleares existentes em seu território.  Em 5 de dezembro de 1994, com adesão da Ucrânia ao tratado de não proliferação de armas atômicas, a Rússia reconheceu as fronteiras da Ucrânia, incluindo a Criméia. Em 5 de dezembro de 1994 é assinado o Memorando de Budapeste 1. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam seu compromisso com a Ucrânia, de acordo com os princípios da Ata Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, em respeitar a independência e soberania e as fronteiras existentes da Ucrânia”. Depois, aderem ao memorando a França e a China.

A Rússia não cumpre leis e tratados internacionais. Desde 1991 nenhuma das guerras da Rússia terminou em paz negociada estável. A Rússia tende a congelar conflitos, mantê-los como desestabilizadores enquanto chantageia o mundo. Foi assim com Moldávia em 1992, conflito congelado até hoje; Chechênia onde a Rússia forçou a aceitar a ocupação depois de vários anos; Geórgia em 2008 mais de 20% do território da Georgia permanece ocupado; a Rússia ocupou a Crimeia em 2014 e se infiltrou no leste em Donbass e Luhansk e depois de manter a guerra semi-congelada por 8 anos invadiu a Ucrânia em 2022 tentando derrubar o governo e ocupar o país. Portanto, se a Ucrânia parar de resistir só serve a tática e estratégia russa de manter conflitos para mais adiante avançar mais. Cessar fogo, com soldados russos em terras ucranianas, sem exigência de desocupação total do território ucraniano pelas forças armadas russas é favorecer a estratégia russa. 

Para a constituição e sucesso de um grupo de países amigos da Paz há que se redefinir rumos, enviar Celso Amorim de imediato a Kyiv, o Presidente deve aceitar o convite e ir a Ucrânia. E o Brasil precisa estudar mais a história da Ucrânia e considerar o que significa o governo russo para a democracia e o desenvolvimento social e cultural da humanidade e a sua política imperial belicosa. A Ucrânia precisa de amigos da paz e não de amigos da tática e estratégia russa. Os 10 pontos da fórmula da Paz proposta pelo Presidente Zelensky conduzem a paz e a formula de congelamento do conflito faz perdurar a instabilidade e a durabilidade da guerra de agressão. 

VITORIO SOROTIUK / Curitiba 21.04.2023

Presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira