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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Quadrilha partidaria nao constitui quadrilha criminosa, segundo altos juristas...

Claro, delinquir ocasionalmente não era o objetivo original, mesmo que tenham cometidos crimes continuados, como uma dessas quadrilhas que se organizam para assaltar um banco, que tampouco seria quadrilha no conceito dos doutos magistrados: eles só se juntaram para assaltar um banco, mas no resto não formam quadrilha, apenas estavam circunstancialmente juntos para cometer um crime, depois deram bye-bye e ficou por aí.
O partido quadrilheiro pode continuar a cometer crimes, pois estes serão considerados caso a caso, entenderam?
Paulo Roberto de Almeida

"É difícil afirmar, por exemplo, que José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil, ou José Genoino, dirigente partidário, tivessem se unido a outros agentes com o objetivo e o interesse comum de praticar crimes contra o sistema financeiro nacional ou de lavagem de dinheiro”, disse Zavascki.

 O voto que deu maioria a favor dos mensaleiros foi o de Rosa Weber. Ela argumentou que não há provas suficientes de que os réus associaram-se com a finalidade específica de cometer crimes: “Há diferença marcante entre pessoas que se associam para cometer crimes e pessoas que se associam com outra finalidade, mas que no âmbito dessa associação cometem crimes”, afirmou a ministra. No primeiro caso, complementou, trata-se de formação de quadrilha. No segundo caso, são crimes praticados em concurso de agentes.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Pequeno retrato da deterioracao institucional no Brasil (e do Brasil) - Gaudencio Torquato

O jornalista comenta, mas pouco fala dos responsáveis pela atual erosão do mores político no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida 

POLÍTICA

Gigantesca delegacia de polícia

Gaudêncio Torquato
O Estado de S.Paulo, 1/12/2013
Maracutaia, acochambração, falcatrua, artimanha, trapaça. As cinco sonoras palavras, que agasalham o corpo de nossa cultura, nunca deixaram o pano de fundo dos relatos que dão conta da vida social e política do país.
Nos últimos tempos, porém, ecoando locuções em defesa e ataque por parte de contendores que se preparam para disputar o campeonato eleitoral de 2014, frequentam com maior intensidade a agenda de manobras erráticas na administração pública. A sensação é inequívoca: o Brasil mais parece uma gigantesca delegacia de polícia.
De maneira proposital, atores variados tentam confundir o terreno da licitude com o espaço da ilicitude, o certo com o errado, em aparente estratégia de defesa de interesses de pessoas e grupos. Ao final dessa tentativa de embaralhar as cartas do jogo político, todos perdem: atores individuais e institucionais.
A impressão que fica é a de que a disputa eleitoral, nesse final de ano, dá o tom maior do discurso, abrindo espaço para acusações e retaliações e expandindo a desconfiança social nos poderes constituídos.
Vejamos exemplos, a começar pela questão da saúde do deputado José Genoíno. Trata-se de paciente com problemas cardíacos a merecer cuidados. A espetacularização montada em torno do caso conferiu ao ex-presidente do PT a imagem de vítima que deve ganhar solidariedade.
O contraditório formado mostra, de um lado, ele, José Dirceu e Delúbio Soares como “presos políticos”, conforme se lê na faixa de um grupo sem terra, dissidente do MST; de outro, “foram julgados e cumprem penas por condutas políticas”, no dizer de um próprio petista Olívio Dutra, ex-governador do RS.
Um laudo clínico produzido por cinco cardiologistas da Universidade de Brasília atesta que Genoíno “é portador de cardiopatia que não se caracteriza como grave”, não carecendo permanecer necessariamente em prisão domiciliar. O STF dará a palavra final, mas é evidente que o processo de vitimização não terminará com o veredicto.
O imbróglio foi despejado na cúpula da Câmara Federal, a quem caberá a decisão de conceder aposentadoria por doença do parlamentar. Caso concedida, livrar-se-ia ele do processo de cassação, não sem suspeitas de acochambração.
Dirceu foi contratado por um hotel de Brasília para trabalhar como gerente, sob uma chuva de críticas. Em regime semiaberto, o detento pode sair de manhã e voltar no fim da tarde à prisão. A polêmica se instala pela inusitada decisão de um perfil portentoso do PT vir a gerenciar um estabelecimento hoteleiro. Ora, não há impedimento legal para que amigos façam um contrato de trabalho com ele.
Possivelmente, os contratantes (com sua ética) viram nele instrumento de marketing para alavancar vendas. Versões de um lado e de outro, com novas acusações de produção de dossiês, aparecem no entorno da questão dos trens em São Paulo, forma de atenuar impacto das prisões de mensaleiros.
O assunto alimenta ódios e paixões entre adversários e admiradores. E o que esperar da decisão do STF de julgar em 2014 a constitucionalidade dos planos econômicos editados nas décadas de 1980 e 1990?
Parlamentos de sistemas democráticos convivem bem com a influência dos Poderes Executivos, particularmente no que concerne à aprovação de normas voltadas para aperfeiçoamento de seu desempenho (funcional/financeiro/contábil etc). Já o exercício do lobby sobre o Poder Judiciário tem sido cauteloso por este simbolizar a balança da Justiça.
No caso dos perdedores da poupança, tal preocupação de assédio inexiste. Autoridades passaram a abordar os ministros da Corte Suprema com um discurso catastrófico: o sistema financeiro ameaça desmoronar; 150 bilhões de desembolso dos bancos poderiam chegar a 600 bilhões de reais com a cobertura a todos os poupadores, não apenas aos que entraram com recursos. Mas o Instituto de Defesa do Consumidor apresenta uma conta de cerca de 8,4 bilhões. O caso será emblemático.
O STF já julgou ações e estabeleceu parâmetros sobre a feição jurídica do sistema monetário e qualquer decisão terá forte repercussão, eis que, de um lado, se ouvirá o barulho de um contingente que há 20 anos espera a decisão, e, de outro, a voz forte do Estado em defesa do status quo bancário.
Suas Excelências aprovarão as fórmulas usadas para calcular a correção da caderneta de poupança? Os bancos ganharão? Eventual reversão das expectativas sociais terá consequências eleitorais? Como se vê, nem o Poder Judiciário escapa ao cerco do jeitinho brasileiro de ser.
Manobras para deixar as coisas conformadas ao patamar das conveniências invadem também o painel das estatísticas nacionais. A maquiagem sobre índices de crescimento e contas públicas é recorrente. No momento, a polêmica gira em torno da reavaliação do PIB de 2012, que teria passado de 0,9% para 1,5, apesar de o IBGE não ter divulgado a revisão.
Como pano de fundo, a proximidade do fim de mandato do governo Dilma e a comparação com administrações anteriores. E haja pressão para mudança de metodologia. Dados recorrentes, passíveis de correção, são os do balanço do PAC, mostrando, de um lado, cronogramas dentro do prazo e, de outro, obras empacadas, como a transposição do São Francisco e a Transnordestina, a par de projetos com cara de interrogação como o Trem de Alta Velocidade (TAV), suspenso em 2011.
O TCU, por sua vez, suspende concurso do Ministério do Planejamento por suspeita de favorecimento a indicados políticos. Ufa! O que esse painel tortuoso mostra sobre o país? Escancara a evidência de que a ausência de eficiente institucionalização política é o motor da corrupção.
Os papéis institucionais acabam subordinados a demandas exógenas. A modernização, que deveria puxar nova escala de valores, a partir da meritocracia, abre fontes de riqueza, fazendo ascender novos grupos, os quais, por sua vez, acumulam recursos para escalar os degraus do poder. O Brasil novo teima em vestir o manto roto do passado.

Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato

domingo, 1 de dezembro de 2013

O Partido da Corrupcao Institucionalizada - Editorial Estadao

Não só da corrupção; das tendências totalitárias também.
Só não implantam sua ditadura não porque não querem, mas porque não podem, do contrário já teriam amordaçado a imprensa, controlado todos os meios de comunicação, colocado todos os grupos de interesse da sociedade civil a seu serviço -- na verdade, já fizeram isso com muitos, dezenas, centenas de ONGGs e movimentos ditos sociais que vivem na folha de pagamento do Estado e do partido, com o nosso dinheiro claro -- e já teriam também eliminado os últimos focos de resistência ao seu poder totalitário. Mas conseguiram grandes vitórias: submeteram toda a velha direita, os coronelões atrasados, os sacripantas da político, os aproveitadores dos bens públicos, os penduricalhos do Estado, os oportunistas de sempre, os carreiristas, os trambiqueiros, e todos os tipos, espécies, gêneros e famílias de corruptos, tornando-os absolutamente servis a seus desígnios, pela ideologia, pelo dinheiro, pela chantagem, pela pressão, pela intimidação, por todos os meios ao seu alcance.
Ainda não conseguiram totalmente: alguns irredutíveis "gauleses" resistem ainda e sempre as forças do novo Império, e levam um combate de resistência intelectual contra o pensamento único dos novos totalitários e seus discursos mentirosos e de propaganda enganosa. Vai ser duro, mas é preciso resistir.
Eles têm muitos meios, muitos recursos, e corrompem ou ameaçam quem não está com eles.
Resistiremos.
Paulo Roberto de Almeida

Corrupção, essa irresistível

Editorial O Estado de S.Paulo, 01 de dezembro de 2013


"... temos enfrentado dificuldades em mudar o sistema político brasileiro, verdadeira camisa de força que impede transformações mais profundas e impõe um 'presidencialismo de coalizão' que corrói o conteúdo programático da ação governamental." Não, não se trata de excerto de um documento subscrito por forças que se opõem ao governo do PT. O eventual equívoco decorrerá da omissão do início da frase, que elimina qualquer dúvida: "Desde 2003, sobretudo, temos enfrentado dificuldades..." Sim, é um documento do Partido dos Trabalhadores, que diz mais: "... o partido é ainda prisioneiro de um sistema eleitoral que favorece a corrupção e de uma atividade parlamentar que dificulta a mudança". Que triste!
Essa pungente confissão de rendição às forças do mal, as mesmas que durante mais de 20 anos prometeram dizimar com destemor, é de tal modo falsa que sugere uma pergunta óbvia para Lula, Dilma e companheirada: afinal, por que esperaram 10 anos para condenar a corrupção que os transformou em "prisioneiros" (e não é que é verdade?), para profligar o "presidencialismo de coalizão" do qual sempre se gabaram e para repudiar "uma atividade parlamentar que dificulta a mudança"? A resposta também é óbvia: porque há 10 anos os petistas de Lula estão comprometidos até o pescoço, numa ação mútua de cooptação, com os mais notórios representantes do que há de pior no Congresso Nacional; com as lideranças retrógradas que se alimentam da corrupção, exigem "coalizão" para se locupletarem no exercício do poder e comandam uma "atividade parlamentar" que não quer saber de mudança porque acha tudo muito bom como está.
Essas "reflexões" serão oferecidas a debate no 5.º Congresso do PT, que se reunirá em meados de dezembro em Brasília. Conclaves políticos dessa natureza se destinam, por definição, à discussão de questões programáticas. Parece claro, no entanto, como se pode inferir do documento preparado por Marco Aurélio Garcia, que mais do que tratar de programas os petistas estão preocupados no momento em neutralizar os reflexos negativos do escândalo do mensalão e da prisão de seus figurões. Vão partir, portanto, para o ataque - sua melhor arma de defesa -, mais uma vez potencializando a síndrome de perseguição com a qual estimulam, até agora com grande êxito, o processo de sua identificação com as chamadas massas populares. É assim que o populismo funciona.
Há, porém, uma outra questão curiosa que o documento petista suscita, principalmente quando associada à recente e inesperada atitude de Lula de atacar com violência o Poder Judiciário e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, por conta da condenação e da prisão de seus companheiros José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. "Parece que a lei só vale para o PT", reclamou, em evento político em Santo André.
Lula vinha adotando nos últimos meses uma postura discreta e cautelosa a respeito do julgamento do mensalão. Segundo sua própria avaliação repassada aos comandos do PT e à presidente Dilma Rousseff, o melhor no momento seria minimizar o assunto, para que ele caia no esquecimento o mais rápido possível e não contamine o debate eleitoral do ano que vem. Mas isso era o que se dizia nos círculos petistas antes da prisão de sua elite. Depois disso, até por causa dos problemas de saúde de Genoino, a reação às prisões por parte de lideranças mais próximas dos encarcerados e da militância foi-se tornando a cada dia mais emocional e ruidosa.
José Dirceu, que jamais se conformou com a maneira "conciliatória" como entende que Lula sempre tratou o assunto, depois de preso teria radicalizado essa postura e cobrado duramente do ex-presidente, por meio de amigos comuns, uma manifestação clara de solidariedade aos prisioneiros. Aparentemente, agora teve sucesso, pois, além do discurso de Lula no ABC paulista, o PT, contrariando decisão anterior de ignorar oficialmente o assunto, teria decidido prestar solidariedade aos condenados na abertura do congresso do partido, dia 12 de dezembro.
Faz sentido. Afinal, se o PT é vítima de instituições corruptas, vítimas também são seus bravos dirigentes que enfrentaram "dificuldades" para resistir à corrupção.

domingo, 24 de novembro de 2013

Paraguai: boicote do comercio a politicos coniventes com a corrupcao

Bom exemplo de comportamento civico, a ser seguido no Brasil, embora Brasilia possa ficar esvaziada se tal medida for de fato aplicada. 
Paulo Roberto de Almeida 

Paraguai

Restaurantes proíbem entrada de senadores que protegem corrupto

Cerca de 50 pontos comerciais prometeram não prestar serviços para congressistas que votaram contra perda de imunidade do senador Victor Bogado

Victor Bogado
Victor Bogado (Divulgação)
Restaurantes, academias, mercados e outros 50 pontos comerciais de Assunção, capital do Paraguai, se uniram neste sábado para proibir a entrada de 23 congressistas paraguaios que votaram, na última quinta-feira, contra a perda de imunidade do senador do Partido Colorado Victor Bogado, investigado por corrupção.
Cerca de três mil pessoas protestaram na última sexta-feira em frente ao Congresso, ao qual acusam de salvar Bogado de enfrentar a Justiça, que pediu que fosse investigado por contratar uma babá com dinheiro público. No mesmo dia, quando o também senador colorado, Óscar González Daher, foi expulso de uma pizzaria, entre xingamentos e gritos, segundo o jornal local ABC Color.
O jornal relatou que Daher chegou acompanhado de uma mulher e que, logo após sentar-se, começou o murmúrio das pessoas. Em seguida, um garçom se aproximou para pedir-lhe que deixasse o local porque não eram bem-vindos os senadores que votaram contra a perda de imunidade de Víctor Bogado.
"'O povo já não aguenta mais, não são bem-vindos. Já somos 35 restaurantes, além de academias e outros locais, Se isto continuar assim, não vão ter onde comer", disse Pedro Valente, proprietário do restaurante Bolsi, localizado a poucos metros do Congresso. Valente assegurou que por seu restaurante costumam passar vários congressistas e explicou que manterão o protesto por tempo indefinido. Além de restaurantes, bares e casas noturnas, uma agência de viagens prometeu que também não venderá passagens a esses senadores, segundo o jornal Última Hora.
(Com agência EFE)

sábado, 31 de agosto de 2013

L'Ambassadeur et son argent, peu: un demi million de dollars - Le Monde

Boris Boillon, ancien ambassadeur à Tunis, arrêté avec 350 000 euros en liquide

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Boris Boillon, l'ancien ambassadeur de France en Tunisie, le 17 février 2011, à Tunis.

Selon des documents consultés par Mediapart, Boris Boillon, ex-conseiller deNicolas Sarkozy à l'Elysée et ancien ambassadeur de France en Tunisie, a été interpellé par la douane à la gare du Nord le 31 juillet, alors qu'il s'apprêtait àembarquer à bord d'un Thalis en direction de Bruxelles.

Sans document d'identité ni téléphone portable, vêtu d'un jean et d'un polo, ce diplomate de 43 ans à la personnalité fougueuse transportait dans un sac 350 000 euros et 40 000 dollars en espèces, raconte Mediapart, qui a pu accéder auprocès-verbal.
"J'AI OUBLIÉ MES DOCUMENTS D'IDENTITÉ EN BELGIQUE"
En vertu de l'article 464 du code des douanes, le transfert dans un autre pays de l'Union européenne de sommes supérieures à 10 000 euros est interdit sans déclaration préalable. En cas d'infraction, le contrevenant peut être puni "d'une amende égale au quart de la somme sur laquelle a porté l'infraction ou la tentative d'infraction""Le service de police judiciaire de la douane a été saisi et une enquête est en cours. Elle devrait notamment déterminer l'origine des fonds", précise Mediapart.
Lors de son audition, l'ancien diplomate, désormais résident belge reconverti dans les affaires, a tenté de justifier le transport de ces fonds par sa volonté d'ouvrir une filiale de son entreprise de consulting Spartago en Belgique. Il affirme que cette somme lui vient de ses activités auprès de sociétés irakiennes, qui lui ont été rémunérées en "numéraire" à Paris en raison du sous-développement du système bancaire en Irak.
Il affirme également avoir "oublié" ses papiers d'identité en Belgique en partant pour Paris le matin même, "justement" parce qu'il n'était "pas à l'aise avec cet argent", dont une partie était stockée dans une mallette "enterrée à côté de [s]a cave", et qu'il voulait "régulariser la chose au plus vite".
"DÉGAGEZ, PETIT SARKO !"
Cet ancien ambassadeur a été débarqué après l'élection de François Hollande, alors que son passage à Tunis avait été marqué par de multiples bévues. Lors de sa première rencontre avec la presse tunisienne en février 2011, il avait refusé de répondre aux questions des journalistes sur la ministre des affaires étrangères Michèle Alliot-Marie, les qualifiant de "questions débiles" ou de"n'importe quoi".
Aussitôt, des centaines de Tunisiens avaient demandé son départ devant l'ambassade de France à Tunis, sous les slogans : "M. Boillon, vous occupez un poste diplomatique et vous n'avez rien d'un diplomate""Dégagez, petit Sarko !","Boris dégage !". Le diplomate avait été contraint de s'excuser publiquement.
La défiance entre Tunis et cet ambassadeur dynamique et atypique, qualifié de"Sarkoboy" par Marine Le Pen, ne s'est pas démentie par la suite, renforcée par des photos malencontreuses, comme celle tirée du réseau social Copains d'avant le montrant en play-boy en maillot de bain. En septembre 2011, l'ambassadeur n'avait pas arrangé son cas en posant à la une du magazine tunisien Tunivisions, en smoking noir, façon James Bond. Dans cet entretien un rien complaisant, il faisait sienne la devise d'Henri Bergson : "Agir en homme de pensée et penser en homme d'action." Les Tunisiens avaient peu apprécié.

L'interview de Boris Boillon dans le numéro de septembre du magazine "Tunivisions".

Pour finir, il y a eu les déclarations malvenues, sur un plateau de télévision français, du diplomate défendant Mouammar Kadhafi et l'idée "qu'on fait tous des erreurs et qu'on a droit au rachat". C'était avant que la France ne s'engage dans le conflit libyen. Lorsqu'il était conseiller Maghreb-Moyen-Orient de NicolasSarkozy à l'Elysée, Boris Boillon était surnommé "mon fils" par le dictateur libyen.
Très proche de Nicolas Sarkozy, dont il fut conseiller diplomatique entre 2007 et 2009, l'ancien diplomate arabophone a depuis quitté le Quai d'Orsay pourmonter deux sociétés de conseil, Spartago et French Group.

domingo, 21 de julho de 2013

O caso bizarro dos 100.000 reais do deputado que passeavam soltos por ai...

Então ficamos assim: o deputado, aliás primeiro deputado, faz um empréstimo de R$ 100.000 no banco e manda retirar em espécie. É um direito seu, como alega, mas certamente uma das decisões mais estúpidas que ele possa ter tomado.
Depois manda um assessor passear com o dinheiro de carro, certamente para arejar o dinheiro, já que as notas estavam se sentindo mal, coitadas, precisando se refrescar.
Por uma dessas coincidencias extraordinárias, um gatuno telepático, desses que tem instinto de cães farejadores, sentiu que as notas o chamavam, fresquinhas, mas desejosas de dar mais um passeio.
Finalmente, o deputado é obrigado a confessar sua burrice numa delegacia. Espera-se que a sempre amiga Receita Federal se interesse também pelo caso.
Paulo Roberto de Almeida

Câmara dos Deputados

Alves diz que R$ 100 mil roubados eram dele e que assunto é “privado”

Presidente da Câmara afirma que valor roubado de um de seus assessores seria usado para pagar parcela de apartamento comprado de outro deputado

Henrique Alves após ser eleito presidente da Câmara dos Deputados
Alves disse que dinheiro roubado é "assunto privado" (Ueslei Marcelino/Reuters)
O presidente da Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que os 100 000 reais em espécie roubados de um de seus assessores em junho seriam usados para pagar a parcela de um apartamento comprado pelo deputado em Natal.
A declaração foi feita em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Além, de confirmar que o dinheiro era seu, Alves disse que ele tinha como origem um empréstimo no Banco do Brasil. "É um assunto privado, particular, um dinheiro que era meu, tenho como provar. Fiz um empréstimo de 100 000 reais. Dinheiro meu, que estava sendo conduzido", disse Alves.
Ao ser perguntado por que não realizou uma transferência bancária, em vez de mandar seu assessor buscar o dinheiro em espécie, Alves disse que tinha “direito” de fazer isso. "É um direito que é meu. É um pouco de invasão de privacidade”, respondeu o deputado. 
Segundo a Folha de S.Paulo, o apartamento comprado pelo presidente pertencia ao conterrâneo e também deputado João Maia (PR-RN). A transação total chegou a 1 milhão de reais – de acordo com Maia, Alves pagou 500 000 reais à vista e ficou de pagar a diferença em parcelas.
Roubo – O roubo aos 100 000 reais ocorreu na tarde de 13 de junho, mas só foi revelado no início de julho.  Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, o assessor Wellington Ferreira da Costa teve seu carro fechado por outro automóvel em uma via da Asa Norte, na região central de Brasília. Do outro carro, desceram dois homens armados, que se identificaram como policiais civis e pegaram a mala com o dinheiro, além de objetos pessoais de Costa. 
Ainda segundo a Folha de S.Paulo, o inquérito instaurado na Polícia Civil sobre o caso corre em segredo, e o boletim de ocorrência e os depoimentos não podem ser consultados na Delegacia de Repressão de Roubos e Furtos da Polícia Civil do Distrito Federal. O jornal afirma ainda que não é habitual casos de roubo correrem em sigilo e que o delegado responsável recebeu ordens expressas para não falar sobre o caso. 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Equador: mais excessos de democracia, bananais - Mac Magolis

BananaLeaks
Mac Margolis
O Estado de S. Paulo, 11/02/2013

No princípio, havia os Pentagon Papers, os documen­tos sigilosos que escanca­ram os segredos de Wa­shington na malograda Guerra do Vietnã. O catatau escandalizou o pú­blico americano e acelerou o desfe­cho da Pax Americana do pântano do conflito asiático. Mais recentemen­te, conhecemos o WikiLeaks, razão social do exército de cibermilitantes dedicado a minar os computadores de governos ricos para descortinar os infames e o arbítrio dos poderosos.

Em comum, tiveram a convicção de que, entre a segurança nacional e o interesse público, prevalece o cida­dão. Alguns cidadãos mais que ou­tros, é verdade, já que o Wikileaks, em seu afã de embaraçar o império, acabou colocando em risco a vida de alguns inocentes. Mas a ideia se consoli­dou: os governantes nada podem ocul­tar dos governados.

Agora entra em cena o BananaLeaks, a melhor novidade do gênero na Améri- ca Latina .A publicação, que é 100% digi­tal, nasce do mesmo princípio dos seus antecessores - o compromisso de jogar luz aos porões oficiais. Seu lema, estam­pado no alto da sua página de boas vin­das: "Se não queres que ninguém saiba, não o faça".

Seu nome parece piada de mau gosto. Enfim, o Equador, alvo predileto de suas reportagens, é a capital mundial da bananeira e foi a globalização dessa fru­ta curvilínea que batizou aquele clássico da história latino-americana - a repú­blica de bananas.

Mas alguém o está levando a sério. O BananaLeaks tem pouco mais de um mês de existência e já sofreu golpes de mestre. Fundado em janeiro, ele saiu do ar dia 28, alvo de sabotagem de hackers sofisticados e bem financiados. Os re­beldes restauraram o portal com outro endereço na web, mas ele tombou de novo, vítima de outra cibersaraivada tão agressiva quanto anônima. Sua con­ta no Twitter também foi inutilizada.

Em jogo de gato e rato, os jornalistas do portal, que mantêm suas identida­des em sigilo (enfim, nesse jogo de ver­dades, o véu é para todos!), exportaram seu site para um servidor no Hemisfé­rio Norte e recalibraram o endereço na web. Hoje é bananaleaks.co e já contabiliza uma tempestade de acessos. Mas o que provocou tamanho alvoroço? Uma breve navegada na página não deixa dú­vidas. O site, declaram os autores, "con­centrará seus esforços em indagar e in­formar sobre a corrupção estatal, a li­berdade de expressão e direitos huma­nos nos países da região, onde as liber­dades e direitos fundamentais estão so­frendo restrições de maneira acelerada e brutal".

A equipe não é exclusivamente equa­toriana, mas o governo de Rafael Cor- rea, hoje em campanha acelerada para reeleição, é a pauta predileta da folha eletrônica. Uma reportagem conta que os irmãos Fernando e Vinicio Alvarado, ambos ministros do governo Correa, ti­raram diploma de doutorado com a mesma dissertação. Pior, nenhum dos dois seria o autor, pois a tese foi escrita por Fernando Savater, acadêmico espa­nhol conhecido como estudioso de éti­ca (!). Outros dois doutores da família Alvarado também teriam se servido da mesma tese.

Essa denúncia foi fichinha. Ao final de janeiro, uma manchete no portal acusou o presidente equatoriano de manter duas contas não declaradas na Suíça. Em questão de horas, o site en­trou em pane, seguida pela sua conta do Twitter. Mas as indiscrições bana­neiras continuam. "Conheça os depósi­tos secretos nas Bahamas do primo e conselheiro financeiro do presidente do Equador", clama outra manchete. Em outra cutucada, o site postou na íntegra um documentário do colombia­no Santiago Villa Chiappe, que acu­sa Correa de ajudar e aceitar ajuda da guerrilha marxista, as Forças Ar­madas Revolucionárias da Colôm­bia (Farc).

A ofensiva contra o BananaLeaks não tem autor assumido, mas sua pe­gada é bem conhecida. É mais uma agressão aos meios independentes de informação ness epaís andino, ins­pirado pelo socialismo do século 21 do presidente Hugo Chávez. O mes­tre bolivariano está ausente há dois meses, acometido pelo câncer num hospital cubano, mas seu estilo de governo - que mistura o rolo com­pressor com a mordaça - vai muito bem, obrigado.

Rafael Correa, um presidente po­pular, deve conseguir sua reeleição no próximo domingo. Tem cacife e caixa suficientes para conquistar votos nas regiões rurais e na periferia, e falta união e força política entre a ala da oposição. Mas a política é sempre uma incógnita e, quem sabe por isso, o melhor é garantir a vantagem, es­tancando as verdades inconvenien­tes, de onde quer que vazem.

sábado, 2 de junho de 2012

O que se vê, e o que não se vê, em política... - Paulo Roberto de Almeida

O que se vê, e o que não se vê, em política...

Paulo Roberto de Almeida

Em trabalho escrito no último dia de maio deste ano de 2012, divulgado no mesmo dia em meu blog, sob o título “Existem países perfeitamente fascistas, sem que se saiba...”, eu tecia algumas considerações sobre certas derivas “culturais”, mas de perigosas consequências práticas, que se manifestavam aqui e ali – segundo minha leitura do noticiário corrente – e que poderiam indicar uma infeliz inclinação involuntária de certos países para o fascismo ordinário, levado por uma série de comportamentos perfeitamente autoritários dos que detinham o poder, mas aceitos inconscientemente pelos que suportam esse poder de mando. Nem o título, nem o trabalho, em si, traziam qualquer referência ao economista Frédéric Bastiat, um liberal do século XIX, bastante conhecido pelos seus “Ensaios de Economia Política” (disponíveis na internet em diversas versões, em francês e em inglês, segundo escolha dos interessados).
No cabeçalho do post, contudo (ver este link do Diplomatizzando: http://diplomatizzando.blogspot.de/2012/05/o-fascismo-que-se-via-e-o-fascismo-que.html), eu fazia referência ao que tornou Bastiat famoso em suas preleções econômicas, em grande medida válidas ainda hoje: o recorrente recurso, em sua argumentação, ao que se vê em economia – preços, créditos, alugueis, juros, enfim, todos os grandes fluxos econômicos, apresentados segundo dados objetivos – mas também ao que não se vê, no mesmo terreno, que são, justamente, as consequências, muitas delas involuntárias, de certas ações humanas, geralmente governamentais, que visam interferir nos fluxos e relações econômicas, supostamente para “provocar” uma melhor situação de bem-estar, mas que invariavelmente acabando trazendo maiores prejuízos à sociedade e aos agentes sociais e econômicos do que se essas ações – por exemplo, fixação política dos juros, protecionismo comercial, subsídios estatais a indivíduos ou a um grupo, limites oficiais à variação dos preços de determinados bens ou dos alugueis, etc. – não tivessem sido tomadas. Ainda pensei em Bastiat, hoje mesmo, lendo a imprensa internacional, ao constatar que, depois de tantos bilhões – em alguns casos trilhões – em recursos públicos despejados no setor financeiro (e portanto acúmulo de dívida pública), na “retomada do crescimento e do emprego”, no “estímulo econômico keynesiano”, enfim, num sem número de medidas adotadas nos principais países em crise (e até em alguns que se vangloriam de não estarem em crise), depois de todo esse ativismo governamental, a economia continua depressiva e teima em não fugir do ciclo de recessão e de baixo crescimento. Até parece que a agitação não resultou em grande coisa, ou talvez em nada, para ser mais exato.
Trata-se do típico exemplo do que Bastiat chamaria do lado que se vê – ou seja, os tais de estímulos keynesianos, ou injeção de recursos para manter uma tal de “demanda agregada” – mas que se esquece do lado que não se vê, e ele vem aqui: de onde pensam os keynesianos que sai o dinheiro para tais estímulos?; quando se diz que o governo vai “estimular o crédito”, para manter o crescimento, de onde acham, esses mesmos tecnocratas governamentais, que sai o tal “crédito”? O crédito, por acaso, nasce nas árvores, vem do ar, fica num grande cofre à disposição dos governantes? Em outros termos: quando alguém lhe disser que o governo vai fazer isso e mais aquilo para não cairmos em recessão, pergunte, com Bastiat, pelo outro lado da história: de onde sairão os recursos para tais e tais medidas? Você já pensou na conta que o governo está deixando para você pagar mais adiante? Na próxima vez, pense nisso: saque seu Bastiat do bolso e diga: “alto lá: quero ver o outro lado, o que não se vê, justamente”. Essa é a melhor maneira de defender o seu bem-estar, e o seu futuro...

Mas hoje não pretenderia falar de economia, e sim de política, na continuidade do meu texto anterior, sobre a existência de países perfeitamente fascistas sem que disso a maior parte das pessoas tome consciência. Quero aplicar a regra de Bastiat aos dizeres, aos comportamentos e às práticas políticas. Assim, quando um político lhe disser “vamos fazer isso, porque é mais democrático, porque beneficia a maioria da população”, saque o seu Bastiat e pergunte pelo outro lado. Vamos fazer o exercício?

Em política, o que mais se vê, sobretudo em épocas eleitorais, são promessas, de todos os tipos e tamanhos, de todas as cores para todos os gostos, para todos e cada um, qualquer que seja o custo financeiro das promessas feitas: saneamento, hospitais, escolas, segurança, empregos, aumento de renda, enfim, não há limite para o festival de bondades. A primeira pergunta do nosso exercício de política aplicada, à la Bastiat, seria, portanto, atinente aos meios e instrumentos para a realização dessas promessas, ou seja, começar imediatamente pelo mais simples: “olha aqui candidato: está muito bem o que você nos promete, mas de onde virão os recursos para tudo isso?”. Sim, porque as promessas são baratas, mas sua realização é muito cara. Por isso mesmo, eu tenho em alta conta um blog francês, alojado no site do Institut Montaigne, de Paris, que se chama “Chiffrages et Déchiffrages” (http://www.chiffrages-dechiffrages2012.fr/); ele fornece uma estimação a mais precisa possível sobre o custo envolvido em qualquer promessa de políticos. Já seria um grande progresso se o Brasil viesse a ter algo do gênero em permanência. Seria uma maneira de ver o outro lado, em política e em economia.
Existem outras propostas, também, que são feitas independentemente do período eleitoral, mas uma supostamente se aplica perfeitamente aos gastos de campanha: por exemplo, o tal de financiamento público de campanha política, feito por meio dos partidos políticos. Você seria ingênuo o suficiente para acreditar que o financiamento público impediria, limitaria ou evitaria o financiamento privado (geralmente por parte de empresas interessadas em contratos públicos)? Se olharmos para o outro lado, se poderia facilmente constatar que uma empresa interessada nesse tipo de negócio não pode parar de fazer o que faz, pois do contrário como ela iria garantir novos contratos a partir da posse dos seus “ajudados”? Trata-se de um dado estrutural da maneira de fazer política no Brasil que não parece perto de terminar, com lei ou sem lei de financiamento público.
Ainda nessa esfera das propostas eleitorais, o que dizer das obras públicas, justamente, ou da promessa de criar mais empregos públicos para resolver tal ou qual problema na esfera dos serviços coletivos? O outro lado, que não se vê, já teria de se apresentar logo de partida: o Estado é capaz de fazer qualquer coisa, distribuir uma aspirina que seja, sem que antes ele recolha os recursos ou os bens que pretende “distribuir” em alguma parte? E quando ocorre esse recolhimento preventivo, uma parte, geralmente de 10 ou 15% (mas que pode ser maior), fica no próprio Estado, a título de administração, organização dos serviços, gastos com os “meios”, etc.; o que normalmente ocorre é que os meios se tornam mais importantes do que os fins, pelo menos do ponto de vista da burocracia do Estado, um praga renitente, que tem sua própria razão burocrática.
Tenho um exemplo particularmente idiota, completamente imbecil, de uma ação desse tipo, mas que foi proposta por burocratas – talvez mal intencionados, desde o início, visando provavelmente garantir empregos para os militantes da causa – com o objetivo de estimular a leitura no Brasil (reconhecidamente um país que lê pouco; menos eu, que devo ler por pelo menos cem brasileiros, talvez mais). Pois bem, como esses idiotas conceberam o plano para estimular a leitura, por meio de “agentes de leitura”, a serem espalhados por escolas e bibliotecas públicas? Ora, muito fácil, para os burocratas idiotas como os que tomaram de assalto a máquina pública: bastava instituir um “pequeno imposto” sobre a cadeia do livro para financiar a fabulosa figura do “estimulador de leituras” (geralmente companheiros desempregados, claro, que podem estar precisando de um emprego público qualquer, geralmente estável e com muito pouco trabalho). Não é perfeitamente idiota? O que se apregoa é a necessidade da leitura, e é isso que se vê e se proclama; o que não se vê é que o livro, já bastante caro no Brasil, ficaria um pouco mais caro para fazer com que os brasileiros lessem mais. Não é genial?
Quando algum outro político, ou partido, dizer que pretende “democratizar os meios de comunicação”, comece a pensar no que não se vê: o controle partidário, perfeitamente totalitário, daqueles meios de comunicação que não estão de acordo com as propostas de certos políticos e que até têm a petulância de investigá-los em seus hábitos privados satisfeitos com recursos públicos. Esta é, sem dúvida alguma uma variante do fascismo econômico que já detectamos em certos países no trabalho anterior desta série.
E a mania, consagrada por supremos aplicadores da lei, de instituir cotas para minorias raciais, na suposição de que, primeiro se trata de minorias, segundo que só por essa via as minorias que não são minorias poderão enfrentar a concorrência com as verdadeiras minorias de selecionados pelo mérito? Existe algo mais contrário ao teste de Bastiat do que isso? O que se vê é a “justiça” feita aos que não tiveram oportunidades na vida, por alguma deficiência herdada do meio social, da formação educacional, enfim, das diferenças que caracterizam nossa sociedade; o que não se vê, é a injustiça feita com quem não fez nada além de estudar e se preparar para um concurso qualquer, e que de repente se vê preterido por um cota racial de algum tipo. Existe injustiça maior do que a denegação dos direitos individuais de alguém, em nome de obscuros “direitos coletivos”, que não são exatamente coletivos, já que acabam beneficiando um outro indivíduo, tão individual quanto o primeiro?

Os exemplos poderiam ser multiplicados infinitamente, mas eu termino por uma perfeita manifestação do inconsciente coletivo que pretende beneficiar concretamente determinados grupos de pessoas, mas que não vê, como prejudica a todos, igualmente. Eles existem e se multiplicam no Brasil, infelizmente. Se trata da “bondade” feita por políticos com o dinheiro privado, e que consiste em assegurar meia entrada ou entrada livre para estudantes ou idosos em várias categorias de espetáculos ou serviços, a começar por cinemas e teatros, espetáculos musicais ou esportivos, transportes coletivos e muitas outras áreas que não cabe detectar aqui. Os políticos acreditam, realmente, que estão beneficiando essas categorias? Eles são ingênuos de acreditar no que se vê? Nunca pararam para considerar o que não se vê? Que o preço das meias entradas ou das prestações gratuitas de um serviço qualquer contribui para que o preço médio pago por todos seja bem mais caro na ausência dessas políticas, ou que se acaba induzindo à sobre-utilização de determinados serviços – pode ser até no setor de saúde – que de outra forma poderiam funcionar de modo muito mais racional, e econômico, para o conjunto da população, na ausência desses “estímulos” e subsídios perfeitamente idiotas.
Existe bem mais, do lado que não se vê, do que esse custo acrescido nas prestações que todos pagam, custo incorrido até pelos que não se utilizam desses ou de outros serviços. Se trata da demanda dos empresários afetados pela redução ou gratuidade  no sentido de obter determinadas “compensações” estatais (uma suspensão fiscal, por exemplo), ou então subsídios diretos à manutenção do serviço. Existe aí, ademais do custo direto da medida em si, uma imensa porta aberta para a corrupção, as combinações obscuras, a formação de pequenos e grandes carteis, enfim, todo tipo de patifaria a partir da seleção dos fornecedores de determinados serviços. O que não se vê é geralmente maior, e muito mais prejudicial, do que o que se vê como benefício.
Quando é que os brasileiros vão começar a prestar atenção no lado que não se vê da política corrente?
Seria preciso, provavelmente, organizar um curso elementar de Bastiat aplicado a todos os candidatos a cargos públicos, e também aperfeiçoar a educação política dos brasileiros. Mas esta, evidentemente, é tributária da educação em geral, aquela que supostamente se aprende na escola e que deveria servir para a vida toda. A julgar pelo constato quando ao estado atual – e próximo futuro – da educação no Brasil, ousaria dizer que não existe a menor chance desse quadro ser modificado para melhor no futuro previsível. Tenho razões para ser otimista, ao observar o quadro lamentável de nossa educação pública – e privada, também, pois os professores não são muito diferentes, com exceção das grandes escolas para ricos – e concluir que não há nenhum risco de melhorias positivas qualquer que seja o horizonte de nossas expectativas?
Quem tiver razões de esperança, pode escrever algum ensaio para me contradizer.

Dresden, 2399: 2 Junho 2012.

sábado, 26 de maio de 2012

Mensalao: a denuncia do PGR, o relatorio para o STF

Os fatos são conhecidos de todos, e se ouso resumir seria mais ou menos isto: a maior operação criminosa jamais conduzida no sistema político brasileiro, concebida por cérebros doentios, certamente treinados por serviços de inteligência, destinada a comprar consciências, vontades e votos, de parlamentares, de bancadas completas, quando não de partidos inteiros, consistindo de roubo do dinheiro público (por diversas vias e canais manipulados pelos quadrilheiros em conluio com seus serviçais partidários e quadros do Estado a serviço do partido corrupto), de lavagem de dinheiro, de contas clandestinas e operações criminosas, todas elas orientadas a garantir o monopólio do poder por líderes de comportamento e ideologia totalitários.
Sem dúvida foi a maior fraude política que o Brasil conheceu e se distingue totalmente da corrupção normal, de estilo quase artesanal, feita pelos políticos individualmente ou por partidos ocupando nichos de poder, no sentido em que se trata de uma "operação industrial", sistêmica, construída em escala gigantesca, para roubar, fraudar, corromper, desviar recursos públicos e privados, enfim, comportamento mafioso no mais integral sentido desse conceito.
Paulo Roberto de Almeida 
Quem quiser ler o relatório do ministro encarregado do processo, pode descarregá-lo neste link: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/relatorioMensalao.pdf


Alguns trechos do relatório, apenas para confirmar a gravidade do atentado à democracia no Brasil: 



O Procurador-Geral da República narrou, na denúncia, uma “sofisticada organização criminosa, dividida em setores de atuação, que se estruturou profissionalmente para a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta, além das mais diversas formas de fraude” (fls. 5621).
Segundo a acusação, “todos os graves delitos que serão imputados aos denunciados ao longo da presente peça têm início com a vitória eleitoral de 2002 do Partido dos Trabalhadores no plano nacional e tiveram por objetivo principal, no que concerne ao núcleo integrado por JOSÉ DIRCEU, DELÚBIO SOARES, SÍLVIO PEREIRA e JOSÉ GENOÍNO, garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, mediante a compra de suporte político de outros Partidos Políticos e do financiamento futuro e pretérito (pagamento de dívidas) das suas próprias campanhas eleitorais. (...) Nesse ponto, e com objetivo unicamente patrimonial, o até então obscuro empresário MARCOS VALÉRIO aproxima-se do núcleo central da organização criminosa (JOSÉ DIRCEU,
DELÚBIO SOARES, SÍLVIO PEREIRA e JOSÉ GENOÍNO) para oferecer os préstimos da sua própria quadrilha (RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO DE MELLO PAZ, ROGÉRIO TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS e GEIZA DIAS DOS SANTOS) em troca de vantagens patrimoniais no Governo Federal” (5621/5622).
Além disso, teria sido necessário contar com os réus KÁTIA RABELLO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, VINÍCIUS SAMARANE e AYANNA TENÓRIO, os quais, no comando das atividades do Banco Rural, juntamente com o Sr. José Augusto Dumont, falecido em abril de 2004, teriam criado as condições necessárias para a circulação clandestina de recursos financeiros entre o núcleo político e o núcleo publicitário, através de mecanismos de lavagem de dinheiro, que permitiriam a tais réus o pagamento de propina, sem que o dinheiro transitasse por suas contas.

De acordo com a denúncia recebida por esta Corte, o esquema teria sido arquitetado durante as eleições de 2002 e passou a ser executado em 2003. Já em dezembro de 2002, os réus do denominado “núcleo publicitário” da quadrilha – especialmente os réus MARCOS VALÉRIO, CRISTIANO PAZ e RAMON HOLLERBACH – já haviam sido apresentados para os réus do denominado “núcleo central” – formado pelos réus JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO, DELÚBIO SOARES e SÍLVIO PEREIRA -, com o fim de pôr em prática o plano de corrupção de parlamentares da então frágil base aliada, com intuito de “negociar apoio político, pagar dívidas pretéritas do Partido e também custear gastos de campanha e outras despesas do PT e dos seus aliados” (fls. 5621).
O Parquet esclarece que, durante as eleições de 2002, o réu JOSÉ DIRCEU era o Presidente do Partido dos Trabalhadores e, também, Coordenador da Campanha de seu partido à Presidência da República. O Secretário de Finanças do Partido, ou Tesoureiro, era o réu DELÚBIO SOARES, subordinado ao réu JOSÉ DIRCEU. Eles, juntamente com o Secretário Nacional do Partido, o réu SÍLVIO PEREIRA – cuja conduta não será analisada neste julgamento -, e com o réu JOSÉ GENOÍNO, que assumiu a Presidência do Partido dos Trabalhadores a partir de 2003, teriam formado o que o Procurador-Geral da República denominou de núcleo central da quadrilha (denúncia, vol. 27). Em março de 2003 o réu JOSÉ DIRCEU viria a renunciar ao cargo de Presidente do Partido dos Trabalhadores, segundo o réu informou em seu interrogatório (fls. 16.638/9, v. 77).

Segundo a acusação, os réus do núcleo político ou central, com intuito de permanecerem por longos anos no Poder, teriam optado por utilizar mecanismos criminosos oferecidos pelos réus dos núcleos publicitário e financeiro, os quais, segundo o Procurador-Geral da República, já vinham sendo praticados no Estado de Minas Gerais, especialmente a partir do Governo do atual Senador EDUARDO BRANDÃO DE AZEREDO, do PSDB, cuja conduta está em análise na AP 536.

Os réus do chamado núcleo central – JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO e DELÚBIO SOARES -, segundo a denúncia recebida por este Plenário, teriam sido os responsáveis por organizar a quadrilha voltada para a compra de apoio político, através dos votos dos parlamentares. Eles respondem, nestes autos, à acusação de crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa.
Para viabilizar seu intento, teriam se aproximado dos réus dos núcleos publicitário e financeiro, supostamente dando-lhes “carta branca” para agir da forma que fosse necessário para atingir o objetivo de abastecer a quadrilha com recursos que permitiriam a prática dos crimes de corrupção.
Assim, a denúncia afirmou que “a análise das movimentações financeiras dos investigados e das operações realizadas pelas instituições financeiras envolvidas no esquema demonstra que estes, fazendo tabula rasa da legislação vigente, mantinham um intenso mecanismo de lavagem de dinheiro com a omissão dos órgãos de controle, uma vez que possuíam o apoio político, administrativo e operacional de JOSÉ DIRCEU, que integrava o Governo e a cúpula do Partido dos Trabalhadores”.
(...)
[O PGR] Afirmou que “A instrução comprovou que foi engendrado um plano criminoso voltado para a compra de votos dentro do Congresso Nacional” (fls. 45.088). [p. 51]

Para o Procurador-Geral da República, relativamente ao réu JOSÉ DIRCEU, “Provou-se que o acusado, para articular o apoio parlamentar às ações do governo, associou-se aos dirigentes do seu partido e a empresários do setor de publicidade e financeiro para corromper parlamentares. As provas coligidas no curso do inquérito e da instrução criminal comprovaram, sem sombra de dúvida, que JOSÉ DIRCEU agiu sempre no comando das ações dos demais integrantes dos núcleos político e operacional do grupo criminoso. Era, enfim, o chefe da quadrilha. (...) Nesse sentido, há vários depoimentos nos autos. MARCOS VALÉRIO (...) confirmou que JOSÉ DIRCEU comandava as operações que estavam sendo feitas para financiar os acordos políticos com os líderes partidários (...)” (fls. 45.123/45.124). 
Sustenta, ainda, que “Outros fatos podem ser referidos para comprovar
que JOSÉ DIRCEU integrava e comandava o grupo criminoso. [p/ 52]

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Creio que basta isso para enfatizar a gravidade dos atos criminosos imputados aos denunciados.
A responsabilidade agora está com a corte dita suprema...
Paulo Roberto de Almeida