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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Roberto Macedo se pronuncia pelo centro, corretamente - Estadao

Roberto Macedo, meu amigo, escreveu o artigo que eu gostaria de escrever:


Roberto Macedo
O Estado de São Paulo, 20/09/2018

Não vejo o centro político já derrotado e o Brasil condenado à triste opção entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Na análise que se segue recorri ao psicólogo Daniel Kahneman, que ganhou fama ao contestar premissa básica do pensamento econômico tradicional, a de racionalidade do ser humano. Por sua contribuição à análise econômica, ganhou o Nobel de Economia em 2002. 
Com implicações além dessa análise, Kahneman argumenta que o ser humano tem racionalidade limitada e ao decidir tem duas formas de pensar, os Sistemas 1 e 2. O primeiro é rápido e usa instintos, crenças e comportamentos que muitas vezes levam a opções equivocadas. Como o comportamento de manada, em que a pessoa segue um grupo sem refletir sobre o caminho a que será levada. Por exemplo, ao comprar ações sem se informar bem sobre elas, só porque muitas pessoas estão a adquiri-las. O Sistema 2 toma mais tempo, é mais analítico e racional, procura informações sobre o objeto da decisão e como esta deve incorporá-las de forma a minimizar o risco de erros.
Muitos adeptos de Bolsonaro e Haddad decidem pelo Sistema 1, sem maior reflexão sobre esses candidatos, seus vices incluídos. Após 1960, vários vices assumiram pela renúncia, morte ou pelo impeachment do titular: Jango, Sarney, Itamar e Temer. Dessa turma, só Itamar saiu com prestígio. O eleitor já refletiu sobre o que pode acontecer se o vice substituir seu candidato? Voltarei ao assunto.
Estou no PSDB há uns 30 anos, levado poe seu programa e por personalidades como Montoro, FHC, Covas e Serra. Entendo que a social-democracia é adequada ao Brasil, num formato mais liberal para a economia para que realize efetivamente seu potencial e gere tributos para uma ação social condizente com a dívida desse tipo que o País carrega. Em particular, por não ter cuidado dos escravos libertados, deixando-os ao deus-dará. 
Utilizando o Sistema 2 para recolher informações, Geraldo Alckmin é um candidato fiel ao espírito da social-democracia e com perfil adequado para unir o centro. É sensato, tem história política, capacidade de granjear apoio na área – e precisamos dos políticos para sair desta encrenca em que o país se meteu –, larga experiência administrativa no governo paulista e resultados para mostrar, como nas áreas de segurança, educação, gestão das contas públicas e infraestrutura. Tentativas de rotulá-lo como ficha-suja não colaram. É de hábitos simples, muito apegado à família. Em particular, contrasta com o ex-candidato Lula, que ao se inscrever se revelou um proletário milionário, com patrimônio de R$ 8 milhões. O programa de Alckmin é muito adequado às necessidades do País. A versão completa é recente e está em www.geraldoalckmin.com.br. O programa tem dez áreas de atuação e é coisa para ler, guardar e... cobrar! 
Como já disse, muitos dos apoiadores do capitão Bolsonaro pensam pelo Sistema 1, sem buscar informações. O apoio veio também pelo comportamento de manada. Se usassem o Sistema 2, saberiam que ele é temperamental e propenso a enfrentar com mais violência a criminalidade que se esconde em comunidades de baixa renda, pondo-as sob um risco ainda maior. Como militar, é da corporação do funcionalismo, cujo enfrentamento é indispensável para reformar o Estado e torná-lo mais eficaz a um custo menor. Não tem experiência administrativa, é avesso a entendimentos políticos, nada entende de economia e quem o indaga sobre o assunto é instado a ir a seu posto Ipiranga, o economista Paulo Guedes. Este exagera no liberalismo, despreza as dificuldades políticas e mesmo de recursos para implementar suas propostas. Não passou por estágio em Brasília. E viriam conflitos com o seu próprio chefe, nada liberal. Poderia durar pouco como ministro da Fazenda.
Haddad é pessoa de fino trato pessoal, mas como candidato do PT, ou pior, do PL, o Partido do Lula, tem este como ídolo e mentor. Como presidente, Lula começou bem, mas depois teve culpa no processo que levou o País ao buraco em que se encontra. Como ao acomodar a corrupção no governo e não aproveitar, para também investir mais, a bonança econômica que recebeu do PC chinês, quase só apostando na expansão do consumo e levando as pessoas a desprezar a poupança e exacerbar o endividamento. E na saída fez feio, escolhendo Dilma para suceder-lhe. Tida como gerentona, foi uma tremenda trapalhona. Seu desastre ainda tem seus efeitos. E o PT também aparelhou a máquina do Estado com seus quadros corporativistas, prejudicando uma reforma dele. Assim, quem vai atrás do PT está igualmente operando pelo Sistema 1.
Olhando os vices, a de Alckmin, senadora Ana Amélia, também ficha-limpa, foi por muito tempo jornalista na área de economia, é experiente no trato com o Congresso e sintonizada com o programa da chapa. Bolsonaro tem como vice o general Hamilton Mourão, em tese submisso ao capitão. Não conheço seu temperamento, mas em termos administrativos e corporativos envolve os mesmos riscos de Bolsonaro, além do risco de agir por conta própria e no meio militar.
E a vice de Fernando Haddad, Manuela d’Ávila, do PCdoB, o Partido Comunista do Brasil? Não tem experiência administrativa. Supondo que seja coerente com seus princípios, passaria a conduzir o governo com ideias de um partido ultraminoritário – tem apenas 12 deputados federais, 1,6% do total, e um senador. Se eleita, terá sido pela chapa, como Temer. E o dano à confiança na economia, caso assumisse?
Concluo apelando ao voto pelo Sistema 2, sem crenças preconcebidas ou hoje mal concebidas. Cabe também apelar aos eleitores de Marina, Meirelles, Amoêdo e Álvaro Dias, bem como a esses candidatos, para que preguem a união em torno de Alckmin. Sem essa união, há um grande risco nesta eleição: o centro, desunido, então será vencido!
ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O Brasil dividido, com escolhas mais divisivas ainda - Revista Crusoe

A revista Crusoé, feita por jornalistas sensatos, e sobretudo bem informados, diz o seguinte, em sua edição de 13 de setembro (transcrevo excertos): 

(...)

O atual processo de sucessão presidencial desponta como o mais frenético e indefinido da história brasileira.
Se por um lado temos um oceano de indecisos que torna impossível antecipar o desfecho destas eleições…
Por outro, não resta a menor dúvida: apenas um desses caminhos irá selar o seu destino pelos próximos anos:
1— Ou o país retoma as rédeas do crescimento, com a aprovação das reformas estruturais necessárias para resgatar a economia do limbo;
2— Ou retrocede à antiga matriz populista, responsável pelas atuais mazelas como desemprego, inflação, falência da indústria e total desajuste nas contas públicas.

(...)

Às vésperas da reeleição de Dilma Rousseff, em outubro de 2014, as verdadeiras intenções da ex-presidente não eram plenamente conhecidas.
E o resultado foi catastrófico:
O que Dilma prometeu em outubro de 2014
Impacto na economia até o impeachment
Baixar a conta de luz
Apagão e tarifaço
Retomada do crescimento
O PIB despencou e chegou a 3,85% negativos
Controlar a inflação
A inflação saltou de 6,40% para 10,67%
Não elevar juros
A Selic chegou a 14,25%
Geração de emprego
A taxa de desemprego cresceu 90%

Economia não admite experiências de laboratório. Erros cobram seu preço e as consequências podem se estender por gerações.
Acrescento (PRA):
 Se chegarmos às eleições com o país dividido entre dois extremos, e com os dois lados, eventualmente vencedores, contestando o resultado das eleições, com acusações de fraudes, estaremos no olho do furacão, inclusive porque militares (da ativa e da reserva) se pronunciam abertamente sobre o panorama eleitoral e político.
Em qualquer hipótese, o país permanecerá dividido, com possível crescimento da contestação política, manifestações mais do que ruidosas, e instabilidade agregando à deterioração da situação econômica.
Ou seja, o pior dos mundos...
Como muitos eleitores bem informados e ponderados, não tenho nenhuma via muito clara à nossa frente, e tampouco tenho soluções para o impasse.
Meu temor é o de que nos arrastemos penosamente no pântano político e na mediocridade econômica pelos próximos quatro anos, chegando moralmente debilitados ao segundo centenário de nossa independência, em 2022.
O Brasil não terá sido o único país na região a decair, em todos os quesitos, num continente que já carrega exemplos espetaculares de decadência, de crise e até de tragédia.
Espero que consigamos, ao menos, preservar instituições de governança para uma recuperação mais adiante.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 17 de setembro de 2018

domingo, 16 de setembro de 2018

Apelo para um voto realmente util, benefico e necessario - Paulo Roberto de Almeida

Apelo para um voto realmente útil, benéfico e necessário

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: reflexão eleitoral; finalidade: esclarecimento sobre as opções]


O eleitor brasileiro, com todo o respeito que se lhe deve, é um cidadão imprevisível e não racional, ou seja, mal informado, mal educado, preconceituoso, impulsivo e outras más qualidades não detectadas. Não tenho nenhuma ilusão quanto a isso. Sou apenas um realista cético.
O que eu gostaria que ocorresse seria um reagrupamento centrista, mas isso depende de que os eleitores do Amoedo, Meirelles e Dias se convençam de que eles precisam renunciar e repassar seus votos para o Alckmin, em nome de uma vitória da única candidatura racional e sensata, em lugar de se ter uma vitória de um dos dois extremos. Pode ser também uma vitória da meia esquerda (Ciro ou Marina), o que significa mediocridade, confusão, pântano por mais 4 anos...
Que me desculpem os eleitores dos três – que acho razoáveis, até excelentes em diferentes dimensões –, mas chega uma hora em que um cálculo de probabilidades é necessário.
Por mais distorcidos que possam ser os resultados das pesquisas de intenções, os resultados das preferências, os indicadores de rejeição a candidatos específicos, todos eles revelam alguns comportamentos de massa, por vezes concordando com nossas percepções, em outras ocasiões delas discordando frontalmente.
Nossos desejos não vão se realizar por algum Fiat do acaso, por isso há que se refletir sobre os números disponíveis.
Esses números parecem indicar o seguinte: a sociedade brasileira, a nação de eleitores cidadãos está dividida entre os extremos, alguns acreditando no autoritarismo e populismo de esquerda, outros de direita. Nenhum dos dois vai produzir um Brasil liberal, próspero e igualitário, pois a visão estatista e dirigista de ambos é prejudicial a um país dotado de ordem e progresso. 
A essa altura do processo eleitoral, parece evidente que o "curso natural" das coisas vai levar o Brasil para um impasse, tanto mais destruidor que a sociedade vai continuar dividida, pela ação mesma dos que podem alcançar o poder.
Daí o meu apelo para o reagrupamento centrista em favor do único candidato que pode garantir uma saída sensata, razoável, necessária. Extremismos, em épocas passadas, sempre levaram os países a derrocadas espetaculares, senão a guerras e destruição.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de setembro de 2018


domingo, 2 de setembro de 2018

Bolsonaro revoluciona a política externa brasileira - Matias Spektor (FSP)


Bolsonaro propõe guinada pró-Trump na política externa

Candidato do PSL à Presidência produziu uma plataforma diferente de tudo o que já se viu

Jair Bolsonaro apresenta ideias sobre relações internacionais que põem em xeque os conceitos de política externa concebidos nos últimos anos pelo condomínio tucano-petista.  
O projeto do deputado para a diplomacia brasileira é produto de sua intuição pessoal e de um condicionante estrutural —a ausência de militância, máquina, fundo partidário, tempo de televisão e apoio de grandes conglomerados empresariais. 
Tentando energizar a sua base, Bolsonaro produziu uma plataforma de política externa diferente de tudo o que já se viu.
Ele promete aproximar-se para valer do governo de Trump. Ao contrário de Sarney, FHC, Lula e Dilma, que optaram por manter os EUA a distância, Bolsonaro quer alinhamento. Isso significa redobrar a aposta em cooperação com os americanos em temas como narcotráfico e crime organizado.
Bolsonaro também pretende sacudir a relação com a China. Para ele, a ascensão acelerada do gigante asiático é uma ameaça. O fluxo de comércio permanecerá intocado, mas ele promete condicionar o crescimento dos investimentos chineses no Brasil. Nessa visão, nossa dependência de Pequim não é inexorável e tem de ser manipulada em benefício próprio. 
O presidenciável quer intervir nas fronteiras para estrangular o comércio ilegal que alimenta a insegurança pública no país. Embora não tenha dito como, tudo aponta para uma aposta redobrada em diplomacia militar junto à tríade composta por Argentina, Bolívia e Paraguai.
O deputado ainda promete fazer campanha permanente contra compromissos internacionais em direitos humanos e mudança do clima. Sua preocupação é manter energizado o eleitor que se identifica com o mote de Lei e Ordem e aquele que vive do agronegócio. O eleitor evangélico será atendido pelo alinhamento com Israel. 
Por fim, Bolsonaro tem uma concepção singular sobre o lugar do Brasil na economia global. Na sua visão, derivada do guru da campanha Paulo Guedes, o protecionismo beneficia grandes grupos econômicos em detrimento da maioria do eleitorado, composta por cidadãos de baixa renda. 
Segundo essa lógica, uma diplomacia comercial que abrisse a economia à competição internacional logo no primeiro ano de governo traria bem-estar para a população em geral e, de quebra, enviaria um sinal ao mercado de que Bolsonaro está comprometido com a agenda de reformas. 
O problema dessa escolha é que o capitão reformado teria de enfrentar lobbies de grupos rentistas que capturaram a política externa, como é o caso da indústria de automóveis. 
As dificuldades para implementar tal agenda são enormes, e nada na biografia de Bolsonaro sugere preparo ou diagnóstico preciso para travar essa batalha.

domingo, 19 de agosto de 2018

Ciro Gomes atribui altos salarios a legislação, nao produtivididade - Samuel Pessoa

Ciro Gomes e a Alemanha

Não ocorre a Ciro que o salário na Alemanha é alto porque a produtividade é alta

Ciro Gomes tem criticado muito a reforma trabalhista do governo Temer. Também tem citado a Alemanha como a economia com boas práticas no mercado de trabalho.

Todo o argumento surpreende. A reforma não foi feita pelo governo Temer, mas resulta de esforço do Congresso Nacional. A partir de um projeto tímido enviado pelo presidente Temer, o Congresso desenhou uma lei muito mais abrangente.

Adicionalmente, Ciro confunde totalmente a causalidade. Parece que considera que foi a legislação trabalhista da Alemanha que produziu os elevados salários do país. Não lhe ocorre que a produtividade no país é alta —bom ambiente institucional e escolaridade de excelente qualidade, entre tantos outros motivos— e que essa é a causa dos elevados salários. 

De fato, o produto por hora trabalhada na Alemanha em 2017, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), foi de US$ 60 (R$ 236), US$ 3 (R$ 11,8) a menos do que o mesmo indicador para os EUA.

Ou seja, salários altos ou baixos resultam do fato de a produtividade do trabalho ser alta ou baixa. A legislação trabalhista ajuda (ou atrapalha) à medida que estimula (ou desestimula) a elevação da produtividade.

Surpreende também Ciro utilizar a Alemanha para criticar a reforma brasileira de 2016. Entre 2003 e 2005, a Alemanha implementou a reforma Hartz —Peter Hartz, diretor de recursos humanos da Volkswagen, foi chefe da comissão que desenhou as medidas— com inúmeras medidas que liberalizaram o mercado de trabalho alemão.

A natureza da reforma Hartz foi a mesma de nossa reforma de 2016: criaram-se outras figuras de contrato de trabalho assemelhadas ao contrato intermitente e temporário introduzido na reforma de 2016, além de a reforma alemã ter restringido os critérios de elegibilidade ao benefício do seguro-desemprego em prazo, valor e contrapartidas para o beneficiário.

Em reportagem de 1999, a revista The Economist se referia à Alemanha como a economia doente da Europa: baixo crescimento com elevado desemprego. O desemprego, após o pico de 11% em 2005, atingiu a mínima de 4% recentemente. 

No mesmo período, Itália, Espanha e França vêm lutando para reduzir suas taxas, que, apesar da queda recente, encontram-se em níveis muito superiores aos observados na Alemanha.

Estudo recente de meus colegas Bruno Ottoni (Ibre/FGV e Idados) e Tiago Barreira (Ibre/FGV) sugere que três reformas trabalhistas, que liberalizaram o mercado de trabalho em moldes semelhantes ao de nossa reforma de 2016, tiveram impactos significativos sobre a queda do desemprego, a elevação da população ocupada (PO) e o aumento da população economicamente ativa (PEA), isto é, ampliação da oferta de trabalhadores.

Bruno e Tiago estudaram a reforma Hartz na Alemanha, a reforma de Menem na Argentina, entre 1989 e 1990, e a reforma australiana de 1994. Compararam o ocorrido 12 anos após as reformas com um cenário contrafactual no qual elas não teriam sido implantadas. 

Os resultados indicaram que as reformas levaram a expressivas quedas das taxas de desemprego: de 3,4, 1,2 e 2,9 pontos percentuais, respectivamente, para Alemanha, Argentina e Austrália, a aumentos expressivos da PEA, de 6, 3 e 7 pontos percentuais, e da PO, de 10, 5 e 9 pontos percentuais.

Tudo indica que a nossa reforma de 2016 deixará saldo positivo, como foi o caso das outras. 

Ajustes podem ser necessários, mas o sentido geral da reforma de 2016 é amplamente positivo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Politica externa brasileira após as eleições - Serguey Monin (Sputniks Brasil)

Nada a comentar, vindo do Sputniks Brasil...
Paulo Roberto de Almeida 

Do apagão à retomada: qual será o papel do Brasil no mundo após as eleições 2018?

Serguey Monin
Sputnik Brasil, 7/08/201

Em edição especial sobre as eleições presidenciais de 2018, a Sputnik Brasil traz uma análise sobre o papel da diplomacia brasileira no atual cenário político. Os brasileiros podem esperar uma ruptura e maior engajamento do país nos assuntos internacionais?

Em 28 de outubro o Brasil conhecerá quem governará o país até 2022. Enquanto vão se firmando as principais candidaturas para a presidência, se acirra o debate sobre os projetos de governo, bem como a incerteza sobre o futuro do país. Mas onde fica a política externa neste debate e qual será o papel do Brasil no mundo nos próximos anos? 
À margem das eleições
Mergulhado em uma crise política e econômica, o Brasil se arrasta na instabilidade desde que Michel Temer assumiu a presidência. Nesse processo, é bastante consensual que a política externa ficou marginalizada nos últimos anos, sendo quase inexistente, com atuações bastante pontuais. Com a proximidades das eleições, é notável o silêncio dos principais candidatos sobre a política internacional.
O professor de Relações Internacionais da UFRJ, Fernando Brancoli, conversou com a Sputnik Brasil sobre a relação das eleições presidenciais no Brasil e o trato que os assuntos internacionais tem recebido pelos candidatos e pela população. 
"A gente diz tradicionalmente que política externa não entra na eleição, independente do momento. Ela vinha aparecendo, mesmo que de maneira mais tímida […], com investimentos em países da região, com o papel do BNDES, e alianças feitas pelo PT que foram vistas como positivas, como o BRICS, que foi capitaneado pelo Lula. Mas no presente momento a política externa está completamente ignorada pela opinião pública", disse o especialista. 
Segundo ele, há uma relação entre o desinteresse da população em relação a assuntos internacionais e a atual projeção do Brasil na arena internacional. Com isso, até mesmo a tímida menção a temas internacionais durante a campanha eleitoral teria um cunho de preocupação interna. 
"A gente pode imaginar que ela vai aparecer um pouco mais reforçada no caso dos imigrantes refugiados venezuelanos no norte do país, mas isso vai ser muito localizado. A política externa está bem deixada de lado. Eu acho que isso também é um sinal de um certo desinteresse da população, desinteresse que está ligado a uma projeção cada vez menor do Brasil dentro do cenário internacional", acrescentou o acadêmico, destacando que com a saída do PT do poder, "a pauta da Venezuela foi internalizada para a política brasileira", criando   
Política externa X política interna
O mestre em Relações Internacionais e coordenador pedagógico do curso Clio Internacional, Tanguy Baghdadi, em entrevista à Sputnik Brasil, segue a mesma linha de raciocínio, observando que em períodos eleitorais a política internacional é tratada sob o prisma da preocupação interna. Para ele, mesmo quando assuntos internacionais são abordados, é o modelo de Brasil que está sendo discutido pelos candidatos. 
"Sempre em períodos eleitorais, a política externa perde um pouco de força e relevância. Se a gente pegar os últimos debates eleitorais, você pode perceber que a gente só fala em assuntos internacionais para falar sobre assuntos como Venezuela, Cuba. E no final das contas a gente não está falando nem sobre Venezuela, nem sobre Cuba, a gente está falando sobre o Brasil, sobre o modelo de Brasil. Quando se fala 'vai pra Cuba!', ninguém está falando sobre Cuba, mas sobre o modelo político e econômico brasileiro", argumentou. 
Já Fernando Brancoli lamentou o distanciamento entre a política interna e a política externa na opinião pública, argumentando que o sistema político brasileiro sairia mais fortalecido se houvesse uma maior compreensão da sociedade sobre os impactos das relações internacionais nas nossas vidas. 
"É uma falha do nosso sistema político a gente não conseguir explicar melhor à população os impactos profundos que o cenário internacional tem na nossa vida. Eu falo aqui do Rio de Janeiro, sou professor de uma universidade do Rio de Janeiro, e por exemplo, a variação nos preços do petróleo, que tem muito a ver com a política do Oriente Médio, tem um impacto direto na capacidade do Estado de pagar salários. Ou outro exemplo, se tratando de cidades grandes como São Paulo, Rio de Janeiro, a violência pública está ligada de maneira direta com o tráfico de drogas e com o tráfico de armas, que tem a ver com o Brasil controlar a suas fronteiras. Então é um tema internacional também", afirma Brancoli. 
"O Brasil exporta muita commoditie, para China principalmente. A variação no preço dessas commodities tem impacto nas nossas vidas. Então eu acho que cabe também à comunidade política, nós acadêmicos, conseguir divulgar melhor como é que uma mudança de política na China tem impacto no nosso preço do combustível, como que uma guerra na Síria vai ter uma variação do Estado do Rio de Janeiro de pagar os seus salários", exemplifica.  
O combate à corrupção como possível elo entre política interna e externa
A Sputnik Brasil também conversou com o pretendente à diplomacia brasileira, bacharel em Relações Internacionais pela PUC-Rio, Pedro Braga Soares, que se prepara para o concurso Rio Branco este ano. Ele comentou alguns pontos da política externa que considera importantes para o desenvolvimento do país, mencionando temas de grande interesse da sociedade brasileira que têm o potencial de transbordar para uma atuação mais pró-ativa do Brasil na esfera internacional.  
"Eu acho que certamente seria interessante que fossem debatidos mais temas de política externa, não tanto temas pontuais em relação a um acontecimento específico, ao posicionamento do governo brasileiro em relação a um evento em particular […] então eu acho que seria interessante sim democratizar mais a política externa, que às vezes é um pouco infensa ao debate público, justamente porque não suscita muito interesse das pessoas. Eu acho que seria sim interessante que houvesse um debate mais abrangente sobre a inserção brasileira no mundo e meio que uma doutrina de política externa mais geral, com repercussões para assuntos que são importantes para a população em conexão com a política interna, como, por exemplo, o desenvolvimento, que tem sido um tema historicamente importante na política externa brasileira", comentou.
Além disso, ele acrescenta que temas novos e muito próximos às preocupações políticas dos brasileiros poderiam ser uma plataforma para a política internacional ser mais presente no processo eleitoral, como o combate à corrupção. 
"O combate à corrupção é possivelmente uma frente de política externa na qual o Brasil poderia se empenhar mais, poderia ter mais protagonismo, seja celebrando acordos multilaterais, acordos bilaterais, e isso repercutir internamente", observa. 
"Até porque é um assunto muito atual na política interna brasileira e de muito interesse do público atualmente. Inclusive essa proposta de instrumentalização da política externa para o combate à corrupção já foi levantada, proposta pelo professor da FGV, Matias Spektor. Ele levantou essa questão de que o combate à corrupção poderia ser um tema interessante de interface entre a política interna e a política externa, mas que infelizmente ainda é pouco explorada", acrescentou Pedro Braga. 
Os projetos de política internacional na disputa eleitoral 
De acordo com especialistas, é difícil pensar no cenário da política internacional traçada pelo futuro governo brasileiro, mas é possível identificar três cenários a partir da trajetória dos candidatos e algumas declarações pontuais das principais candidaturas.  
O professor Tanguy Baghdadi observou que os projetos dos principais candidatos nas eleições presidenciais de 2018 indicam modelos bem distintos para a política externa brasileira. 
"É curioso, porque se a gente for pegar as eleições desse ano, não se tem ideia de quem vai ganhar, tudo pode mudar daqui para frente, e a gente tem 3 modelos absolutamente diferentes. A gente tem um governo que seria o do Ciro Gomes (PDT), que seria um governo mais de centro-esquerda, que talvez se aproximasse de uma política externa do Lula, muito provavelmente com uma proximidade a países latino-americanos, países periféricos, sem negligenciar de forma alguma os países centrais", comenta.  
De acordo com ele, os projetos de Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) possuem semelhanças pela tendência a se aproximarem da política externa adotada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por conta de "uma aproximação a países centrais". Baghdadi ressalta que este modelo pode indicar "uma certa revitalização da política brasileira, um reforço da credibilidade brasileira com organismos internacionais". 
Fernando Brancoli, por sua vez, reforça a projeção de que um eventual governo tucano olharia para a Europa e os EUA como aliados em potencial, alguém com quem o Brasil deve procurar uma relação especial. De acordo com ele, o governo de Marina Silva, identificada juntamente com Alckmin no bloco de centro-direita, seguiria a tendência de privilegiar uma política na órbita dos EUA, mas com uma ênfase nas questões ambientais. 
"Então, se a Marina vence certamente vai ter uma política ambiental não sei se mais positiva, mas certamente mas midiatizada. A presidente vai tentar de alguma maneira lidar com isso. Se a gente tiver o Alckmin eleito, certamente a pauta de liberalização econômica, de aproximação com a Europa e os EUA, vai aparecer como algo que o Brasil possa oferecer ao mundo", completa.  
Apesar dos presidenciáveis não se manifestarem claramente sobre um plano de política externa até então, é possível identificar dois cenários que seriam uma espécie de continuidade de governos anteriores. Por um lado, um governo de centro-direita, seja na presidência de Marina Silva ou Geraldo Alkmin, buscando uma liberalização econômica e promovendo uma aproximação com EUA e União Europeia. E, por outro, um governo de Ciro Gomes ou do PT (Lula ou Haddad) teria uma tendência de continuidade da política externa petista, promovendo um maior multilateralismo e relação internacionais não hierárquicas.   
'Trump brasileiro'?
Já o deputado Jair Bolsonaro (PSL), que aparece como um dos favoritos para chegar ao segundo turno das eleições, fez algumas declarações mais contundentes ligadas à política internacional, ora afirmando que queria refletir as posições nacionalistas do presidente norte-americano, Donald Trump, no Brasil, ora manifestando forte apoio a Israel — também invocando os passos do líder dos EUA ao dizer que transferiria a embaixada brasileira de Tel Aviv pra Jerusalém na primeira semana de governo. 
​Esse desejo de espelhar a trajetória de Trump ficou mais evidente na última semana, quando o filho de Jair Bolsonaro (PSL), Eduardo, publicou no Twitter uma foto com Steve Bannon, ex-braço-direito de Trump, e afirmou que Bannon é um entusiasta da campanha do pai. "Conversamos e concluímos ter a mesma visão de mundo", escreveu o filho de Jair Bolsonaro. 
Tal relação entre Bolsonaro e Trump, no entanto, soa contraditória para Brancoli, que identifica como paradoxal o caráter protecionista da política de Trump e a vontade de Bolsonaro de se aproximar dos EUA com um discurso liberal.
"Os investimentos seriam mais difíceis de serem feitos, já que o governo americano do ponto de vista econômico se fechou mais e, inclusive, tranca crianças brasileiras em centros de detenção de imigrantes. Não vi grandes manifestações do Bolsonaro a respeito disso. Mas o argumento dele é de que nós deveríamos nos aproximar desses países", completa.   
Já em relação aos comentários de Jair Bolsonaro sobre Israel e a contundente declaração de querer transferir a embaixada do Brasil para Jerusalém na primeira semana de governo, o especialista afirma que trata-se mais de uma forma de angariar um eleitorado evangélico do que uma compreensão sobre os conflitos no Oriente Médio, destacando que parte de comunidade evangélica no Brasil tem esse vínculo com o país de maioria judia.
Diplomacia do encolhimento
Ao comentar o processo histórico recente da política externa brasileira, Fernando Brancoli identificou uma ruptura do governo Temer em relação à gestão da política externa do PT, no sentido de aumentar o tom contra países de esquerda, principalmente a Venezuela, mas destaca que essa hostilidade foi discreta e "de uma maneira geral, muito discursiva", deixando a diplomacia brasileira muito apagada nos últimos anos.  
De acordo com ele, "a política externa depois da saída do [José] Serra ficou bastante apagada, tendo em vista que o governo Temer passou por uma crise atrás da outra, sobretudo com as denúncias dos irmãos Joesley e Wesley Batista". (…) "A política externa hoje no Brasil é uma política externa praticamente inexistente", destaca.  
Brancoli lembra que em nenhum momento o Brasil esteve envolvido ou chamado como mediador nas principais crises da região, como no caso do acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC, ou numa tentativa de mediação na Venezuela. "Isso tem a ver um pouco com o Brasil perder esse posto como alguém reconhecido para diálogo, o que tem a ver com o caos político que o país vem vivendo", argumenta.
A visão de uma política externa apagada nos últimos anos é compartilhada pelo mestre em Relações Internacionais e coordenador pedagógico do curso Clio, Tanguy Baghdadi, segundo o qual, "o Brasil suspendeu, de uma certa forma, a sua política externa desde que o Temer assumiu a presidência".
O coordenador do Clio, curso que prepara os alunos para o concurso Rio Branco, disse à Sputnik Brasil que, no contexto da crise política e econômica do Brasil, "a política externa acabou sendo a última das prioridades, o que já tinha começado no governo da Dilma, que já negligenciou bastante a política externa, mas vinha numa toada, numa certa tendência do governo Lula, que foi muito ativo na política externa". 
"Mas o Temer de fato não conseguiu dar nenhuma atenção a temas relacionados à agenda exterior do Brasil. Então já é um tema que normalmente não tem muita importância, não influencia muito o voto de ninguém, talvez até por um traço histórico, o Brasil nunca foi um país que teve um grande protagonismo internacional", destacou. 
Ruptura ou continuidade?
No que diz respeito à projeção para o futuro da diplomacia brasileira, o candidato a futuro membro do corpo diplomático brasileiro Pedro Braga comenta que, apesar da incógnita do processo eleitoral, os últimos anos indicaram uma ruptura na diplomacia brasileira após os governos do PT por ter ministros que não são diplomatas de carreira. Ele destacou, no entanto, a força institucional do Itamaraty como um fator de estabilidade para a condução da política externa brasileira, que pode ficar imune a certas posições mais extremadas, se referindo às declarações mais enfáticas de Bolsonaro e sua relação com Trump.   
"Certamente a ausência da política externa no debate público e eleitoral favorece uma certa continuidade, porque o tema acaba não sendo tão polarizado, e isso faz com que este tipo de extremismo que é muitas vezes não só eleitoral, mas que quer apelar para uma base de apoio do candidato acabe ficando mais isolado da condução da política externa. Certamente o Itamaraty desempenha um papel importante nessa continuidade dado que ele tem um corpo funcional que é de excelência conhecidamente, que conduz a política externa, e pela continuidade da instituição dá certamente alguma inércia em um sentido da condução da política externa, ou seja, evita rupturas muito grandes", destacou. 
Já Tanguy Baghdadi afirmou que "é muito difícil falar de ruptura ou continuidade, porque não tem política externa, o Brasil realmente não faz nenhuma política externa, absolutamente nada". 
"A palavra que eu diria é que vai ter uma retomada da política externa. As iniciativas de política externa que a gente têm tido são absolutamente pontuais. O próximo governo vai ter política externa, vai ser eleito, um governo mais legítimo. Se tudo se mantiver da maneira que estamos esperando, vai ter uma retomada de algum caminho de política externa", concluiu o coordenador do Curso Clio.  
Destino de potência média: 'Brasil não precisa ser superpotência'
Apesar da discreta atuação e limitada relevância nas grandes decisões da política internacional, sobretudo com a crise política e econômica que tomou conta do país nos últimos anos, é consenso entre os especialistas que o Brasil é uma potência média, que, por um lado, não tem peso para competir com superpotências na arena internacional, como EUA e China, mas, tem mais importância que países regionais menores, como Venezuela e Argentina.
Argumenta-se que o Brasil tem uma presença no exterior que é, no mínimo, condizente com os seus recursos de poder, sem ser uma superpotência, mas com uma atuação que condiz com os seus recursos de poder. É o que conclui Pedro Braga, que diz que a atuação do Brasil no mundo, inclusive, "talvez seja um pouco mais pronunciada do que se esperaria, olhando a economia brasileira, a renda per capita, indicadores de crescimento econômico, recursos militares". "Então dada a escassez do Brasil, eu acho que tem uma presença que é importante e tenta contribuir ativamente para vários temas da agenda internacional, além de ter como norte sempre a promoção do interesse nacional", completa.
Já o professor Fernando Brancoli reforça a tese de que o Brasil não precisa aspirar a ser uma superpotência na arena internacional, mas que é importante voltar a ter uma participação ativa, dado o "encolhimento" de sua presença nas relações internacionais.   
"Então o que eu reforçaria é que o Brasil não precisa virar uma superpotência, mas a gente pode ser relevante para a mediação de conflito, mandar tropas para operações de paz, a gente pode mandar diplomatas experientes para OMC para discutir liberalização econômica […] Se a gente fosse escutado nesses tópicos, e fazer o mundo escutar o Brasil nesses temas, já seria bastante relevante. O que acontece hoje em dia é que a gente não está sendo escutado em tópico nenhum", destacou o professor de Relações Internacionais da UFRJ.  

quarta-feira, 28 de março de 2018

Eleicoes presidenciais 2018 - mais um blog Paulo Roberto de Almeida

Como costumo fazer a cada eleição presidencial, sigo atentamente os programas e propostas dos candidatos, para fazer minhas próprias análises, mas também posto notícias da imprensa em geral, apenas uma seleção das matérias que considero mais importantes, pois o volume seria enorme.
O que me interessa, na verdade, é a dimensão da Política Externa, e o impacto das eleições nas relações internacionais do Brasil.
Informo, por oportuno, que compilação numa edição de autor meus trabalhos mais importantes sobre a interface partidos, campanhas e política externa, neste registro:

Brasil, Eleicoes presidenciais 2018


Coloco aqui o sumário das mais recentes postagens neste blog especializado, pelas quais se pode registrar um fenômeno que já tinha ocorrido com a candidatura Trump nos EUA: o candidato mais atacado é o que vem sendo objeto de maior foco por parte da mídia:

IPSOS: popularidade de Bolsonaro segue consistente
FSP entrevista eleitores de Bolsonaro (25/03/2018)

Financiamento eleitoral: um abuso contra o contribuinte - Jairo Nicolau

segunda-feira, 26 de março de 2018

Jair Bolsonaro em entrevista diz que vai vencer no 1ro turno

Sem um delator, caso Marielle “dificilmente” será desvendado, diz Bolsonaro

Deputado mantém silêncio sobre crime
Se eleito, privatizará “umas 70” estatais
Bolsonaro já fala em vencer no 1º turno
o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) em seu gabinete, decorado com as fotos de presidentes-generais Fernando Rodrigues/Poder360 - 22.mar.2018
 
Poder 360, 23.mar.2018 (sexta-feira) - 5h55
atualizado: 25.mar.2018 (domingo) - 0h12

O pré-candidato a presidente pelo PSL, deputado Jair Bolsonaro, 63 anos, acredita que o assassinato da vereadora do Rio, Marielle Franco (Psol), não terá uma solução fácil. “Se não tiver alguém denunciando e que tenha participado do evento, eu acho que dificilmente vai chegar a uma conclusão”.
Em entrevista ao Poder360 na 5ª feira (22.mar.2018), Bolsonaro preferiu manter sua decisão de não emitir juízo de valor sobre as motivações que possam ter levado ao assassinato.
Ele explica: “A gente conhecia a vida dessa parlamentar e suas bandeiras. Se eu falasse que ela era uma pessoa extremamente boa ou extremamente má, eu teria críticas de qualquer maneira. Então resolvi permanecer em silêncio, até para não politizar o assunto. Também poderia ser acusado de estar fazendo palanque em cima disso”.
Quando fala sobre economia, remete para o seu colaborador, o liberal Paulo Guedes, que defendeu numa entrevista recente a venda de todas as empresas estatais. Bolsonaro explica e matiza essa promessa: “Eu conversei com ele, que me falou: ‘Olha, como falavam que você era o estatizante, eu resolvi falar o contrário, mas se eu privatizar a metade, seriam umas 70 estatais, me dou por satisfeito’. Essa foi a intenção dele”.
Apontado nas pesquisas de intenção de voto como o 1º colocado quando Lula (PT) não está entre os candidatos, o capitão do Exército na reserva avalia que tem seguidores entusiasmados nas redes sociais porque quem entra em seu Facebook “sabe que não vai ter uma notícia fria ali”.
Não demonstra estar preocupado com o tamanho do partido, o PSL, que ontem (22.mar) tinha oficialmente apenas 3 deputados na Câmara. Diz que não cederá ao “toma lá dá cá” e acredita ser possível, se eleito, não repetir os problemas de relacionamento que Fernando Collor enfrentou ao chegar ao Planalto em 1990 –também com 1 partido minúsculo, o PRN.
O Collor de Mello chegou aqui um pouco jovem. Muito ímpeto e deu as costas para o Parlamento. Não quero dizer que você deva abraçar completamente o Parlamento, somos poderes distintos. Quando parlamentares chegam para conversar conosco nesse projeto, eles falam abertamente. Nós não podemos fazer política do ‘toma lá, dá cá’ ”.
Poder360 falou com Bolsonaro em seu gabinete na Câmara, decorado com fotos dos presidentes-generais que comandaram o país durante a ditadura militar e também 1 pato amarelo inflável, da campanha “não vou pagar o pato”. Indagado sobre qual candidato a presidente ele considera ter competitividade para ir ao 2º turno, o deputado respondeu o seguinte:
“No meu entender, dificilmente vai ter 2º turno. Acho que a gente encerra essa fatura no 1º turno. Os outros pré-candidatos são muito parecidos. Acho que a máquina de marketing não vai funcionar dessa vez. Vão funcionar a palavra e as mídias sociais. A calúnia, a meu entender, não vai colar. Batem em mim o tempo todo e a gente rebate. O pessoal acredita na nossa defesa. Vê que realmente setores da mídia me perseguem”.
Lembrado pela reportagem que o Brasil teve 7 eleições presidenciais diretas na atual fase democrática e que só duas terminaram no 1º turno, Bolsonaro emendou, sorrindo: “Vamos ter a 3ª, se Deus quiser”.:
A seguir, trechos da entrevista:
Poder360 – qual é a razão para o sr. ter um número tão grande de seguidores nas redes sociais?Jair Bolsonaro – Essa é a mídia mais viva que se tem conhecimento. Apesar das fake news, eu acho que tem que continuar livre. Procuramos fazer aquilo que toda a mídia deveria fazer: transmitir a verdade. Dificilmente a gente se equivoca ou erra. Quem abre o nosso Facebook, nossas redes sociais, sabe que não vai ter uma notícia fria ali. Acho que isso leva à nossa posição de estar na frente entre os políticos do Brasil.
O assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista teve grande destaque na mídia. O sr. preferiu não emitir opinião sobre o ocorrido. Por quê?A gente conhecia a vida dessa parlamentar e suas bandeiras. Se eu falasse que ela era uma pessoa extremamente boa ou extremamente má, eu teria críticas de qualquer maneira. Então resolvi permanecer em silêncio, até para não politizar o assunto. Também poderia ser acusado de estar fazendo palanque em cima disso.
Eu respeito as mortes no Rio de Janeiro. Respeito opiniões completamente contrárias à minha que ela [Marielle] sempre tinha.
Houve quase uma unanimidade por parte da mídia: me criticaram por causa do silêncio. A resposta que eu dou: eu tenho comparecido a enterros, basicamente policiais do Rio de Janeiro. Ontem [21.mar.2018], três ou mais perderam a vida lá.
São mortes de difícil apuração, mas é uma sinalização que a sociedade e aqueles que estão do lado da lei têm de se preocupar sobre o que está sendo feito de errado.
O meu diagnóstico é que [há uma] política de direitos humanos equivocada. As audiências de custódia, que não são uma lei, têm que acabar com isso aí. O politicamente correto, políticas de desencarceramento, de progressões de pena: você tem que mudar tudo isso aí. Até mesmo –apesar de estar garantido na Constituição– a questão do auxílio-reclusão. Tem que rever tudo isso aí.
E o mais importante de tudo: a questão do estatuto do desarmamento. O Estado que desarma apenas o cidadão de bem e deixa o outro lado a vontade, inclusive, com armas de guerra, é o Estado que não está preocupado com segurança pública.
No caso do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, qual a hipótese que o sr. teria para esse crime ter sido cometido?Pode ser uma coisa feita por pessoas extremamente amadoras. Pode ser também algo muito planejado. E com quais objetivos? Aí só com a apuração. Eu confio na apuração: nós vamos ter resposta para isso, se é amadorismo ou profissionalismo e com que interesse.
O crime ocorreu há uma semana. O sr. acha que vão realmente encontrar os mandantes e os executores?Até o momento não temos imagem de todo o percurso [do automóvel com Marielle e dos assassinos]. Temos apenas a questão do lote da munição, que não entenderam e não vai ajudar em quase nada no esclarecimento. Se não tiver alguém denunciando e que tenha participando do evento, eu acho que dificilmente vai chegar a uma conclusão.
E não é só o caso dela. Mais de 90% dos crimes não são elucidados no Brasil. É uma Polícia Civil que não tem meios para exercer seu trabalho e que foi também, em grande parte, politizada no Rio de Janeiro ao longo dos tempos.
Ou seja, é muito difícil encontrar.É muito difícil. O crime no Brasil compensa.
O senhor é pré-candidato a presidente da República. O seu partido, o PSL, é pequeno no Congresso. Como pretende contornar esse obstáculo para ter uma exposição maior na propaganda eleitoral?Eu tenho conversado com colegas parlamentares. Nós não podemos fazer a mesma coisa que os demais partidos fazem. Senão a gente vai entrar numa rotina e seríamos engolidos pelo sistema.
Qualquer partido que queira conversar conosco, a gente conversa. Mas não podemos lotear a máquina pública. As indicações políticas são a origem da ineficiência e da corrupção por parte do Estado.
Se for eleito, como será sua relação com o Congresso? Em 1990, Fernando Collor foi eleito por um partido pequeno e teve dificuldades. Como o sr. contornaria esse obstáculo?Primeiro que o Collor de Mello chegou aqui 1 pouco jovem. Muito ímpeto e deu as costas para o Parlamento. Não quero dizer que você deva abraçar completamente o Parlamento, somos poderes distintos.
Quando parlamentares chegam para conversar conosco nesse projeto, eles falam abertamente. Nós não podemos fazer política do ‘toma lá, dá cá’.
O sr. não acha que alguns congressistas falam só da boca para a fora sobre não pedir cargos agora?Eu não vou bater de frente com o Parlamento caso chegue lá. Buscarei sempre o diálogo para mostrar que não dá para continuar fazendo essa forma de política.
O sr. ou quem for eleito terá uma pauta impopular aos olhos da população no início de 2019. Por exemplo, a reforma da Previdência. Isso pode drenar as energias de quem chegar ao Planalto. Como o sr. faria para tocar reformas?Você tem que priorizar. Até questões de privatizações ou extinção de estatais –a grande maioria dessas feitas pelo PT e que serviram apenas como cabide de empregos.
Sobre a reforma da Previdência, você tem que priorizar a mais importante: a pública ou a privada? Eu acredito que seja a pública. Dá para conversar sobre esse assunto sem prejudicar ninguém.
Idade mínima. O senhor é a favor?Você não pode agora simplesmente jogar 65 anos. Você pode até pensar daqui a algum tempo.
Para servidor público pode ser o homem se aposentar com 60 anos de idade e 35 anos de contribuição. Se colocar 61 e 36, talvez dê para aprovar. Não é o que você quer. Depende do gargalo que é o Parlamento.
Quando você vai para a Previdência privada é necessário considerar o tipo de emprego. A pessoa que não tem muito conhecimento e tem 1 trabalho braçal não vai aguentar ‘virar massa’ com 60 anos de idade. Muito menos com 65. Então tem propostas que a gente vai discutir, mas ninguém quer inventar nada e falar: eu quero ou não quero. Você tem de procurar o consenso, mexer e melhorar.
O economista Paulo Guedes deu uma entrevista e defendeu privatizar todas as estatais no Brasil. O que o sr. achou dessa entrevista?Eu conversei com ele, que me falou: ‘Olha, como falavam que você era o estatizante, eu resolvi falar o contrário, mas se eu privatizar a metade, seriam umas 70 estatais, me dou por satisfeito’. Essa foi a intenção dele.
A Eletrobras deve ser privatizada?Não estudei com profundidade ainda. Isso jogo para o Paulo Guedes. Em teoria, [a Eletrobras] entraria no meu entender como empresa estratégica. Teria que ser redobrada a atenção.
No caso da Embraer, o que acha?Foi privatizada e o Estado tem uma “golden share”. Uma empresa americana, a Boeing, quer uma parceria. De acordo com o que ficar acertado, acho que é bem-vinda essa parceria.
Se eleito, nos seus 4 primeiros anos as estatais mais icônicas como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Eletrobras permaneceriam sobre o controle do Estado?Uma pergunta que eu fiz para o nosso economista: uma vez privatizado o Banco do Brasil, quem vai financiar nossa produção agrícola e com que taxa de juros? É 1 problema.
Ou seja, num 1º momento, seriam estratégicas essas empresas e não seriam privatizadas?Os setores! Quando você olha para a Caixa Econômica, qual é o grande problema ali? São as diretorias. Indicações políticas.
Uma ideia que surgiu aqui nos últimos dias e a gente vai adotar: para que Ministério das Cidades? Você pode pegar o dinheiro que está aqui e dar diretamente para o prefeito. Não tem dor de cabeça. É 1 problema do prefeito junto com seus vereadores e Tribunal de Contas do município.
No início de sua pré-campanha, seu discurso polarizava com o do ex-presidente Lula. Ele deve ser barrado pela Lei da Ficha Limpa. Quem seria o seu antípoda nessa eleição se Lula não estiver na disputa?O PT não estará fora das eleições. Eles têm uma massa e podem levar esse candidato ao 2º turno. Não vejo como nome do PT. Talvez seja para vice. Eu não posso estar preocupado com o que é melhor para mim.
E os outros pré-candidatos que têm mais de 5%: Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). Quais desse grupo o sr. considera competitivo para chegar ao 2º turno?No meu entender, dificilmente vai ter 2º turno. Acho que a gente encerra essa fatura no 1º turno. Os outros pré-candidatos são muito parecidos. Acho que a máquina de marketing não vai funcionar dessa vez. Vão funcionar a palavra e as mídias sociais. A calúnia, a meu entender, não vai colar. Batem em mim o tempo todo e a gente rebate. O pessoal acredita na nossa defesa. Vê que realmente setores da mídia me perseguem.
O Brasil teve 7 eleições presidenciais desde a volta à democracia. Só duas terminaram no 1º turno….Vamos ter a 3ª, se Deus quiser (risos).