Duas matérias, ou uma coluna e um editorial, basicamente sobre o mesmo assunto: as dificuldades (um a palavra muito leve para a realidade) que o Brasil vem passando para sua estabilização eventual, em algum momento do futuro NÃO previsível, e hipotética retomada do crescimento sustentado, com recuperação do emprego e da renda, o que calculo que demorará pelo menos três anos para conseguirmos voltar a uma situação em que estávamos mais ou menos em 1997 (estou sendo generoso, pois o recuo, sobretudo mental, pode ter sido maior).
O que desejo argumentar neste momento é que não se trata apenas de dizer que estamos numa grande recessão, como afirma este excelente colunista e jornalista do Valor, pois ela ainda virá, e ficará conosco por dois anos inteiros.
Na verdade, estamos contemplando agora a grande obra de DESTRUIÇÃO imposta ao país, desde o primeiro dia que os bárbaros assumiram o poder, em 1. de janeiro de 2003.
A despeito de terem mantido grosso modo a mesma política econômica herdada do governo anterior -- que eles desonestamente e depreciativamente chamavam de neoliberal, mas que não sabiam substituir por qualquer outra, por não disporem de pessoal qualificado e sequer de ideias claras -- os governos lulo-petistas que se seguiram, graças à bonança chinesa, empreenderam o mais gigantesco e irresponsável assalto aos cofres públicos de que se tem notícias em todas as épocas históricas do Brasil republicano, imperial e colonial, gastando sempre acima das possibilidades, criando empresas estatais, contratando mais pessoal, e, clandestinamente, desviando recursos por todas as vias possíveis.
O Brasil vai pagar, já está pagando, um ALTO PREÇO pela obra de DESTRUIÇÃO lulo-petista, que não é apenas fruto da incompetência, mas também o resultado de imensos, repetidos, recorrentes CRIMES ECONÔMICOS cometidos contra o país e a sua população.
Cristiano Romero
A recessão que o Brasil enfrenta neste momento pode vir ser a mais longa já experimentada pelo país. Isto equivale a dizer que o processo de recuperação será o mais demorado. Com crise fiscal, instabilidade política, governo fraco, confiança de empresários e consumidores nos menores níveis da história e diante de um mundo nada animador, a economia brasileira entrou definitivamente numa tempestade mais que perfeita.
O país cresceu, em média, 4,5% ao ano entre 1960 e 2014 e 3% entre 1997 e 2014. No último boletim Focus, elaborado pelo Banco Central (BC), a mediana das opiniões do mercado projetou contração de 1,76% neste ano e alta de apenas 0,2% em 2016. O curioso é que essas projeções já são vistas por muitas casas bancárias como otimistas.
O Credit Suisse (CS) costuma acertar com grande antecipação e precisão suas estimativas. O banco está prevendo crescimento negativo de 2,4% em 2015, a maior contração desde 1990, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do país diminuiu 4,4%. Para 2016, a previsão é de uma queda de 0,5%. Se isso de fato ocorrer, a retração trimestral (em relação ao trimestre anterior) no triênio 2014-2016 será, em média, de 0,2%, desempenho que só ocorreu duas vezes desde 1960.
Nilson Teixeira, economista-chefe do CS, e sua equipe analisaram, já com base na nova metodologia de cálculo das Contas Nacionais do IBGE, os seis períodos recessivos ocorridos desde 1996. Considerando o horizonte de suas projeções, que vão até 2016, eles estudaram o comportamento do PIB nos 11 trimestres seguintes ao trimestre anterior ao do início das recessões. Em seguida, compararam com as projeções que estão fazendo para o período atual, cujo marco inicial é o primeiro trimestre de 2014.
As conclusões são aterradoras. "Nossa avaliação é que o processo de retomada da atividade atual será o mais prolongado da série histórica. A retomada da atividade tinha ocorrido rapidamente nas recessões anteriores, com o nível da atividade retornando ao patamar do trimestre anterior ao do início do declínio do PIB em, no máximo, seis trimestres. Em três ocasiões, a retomada da economia para o nível pré recessão ocorreu em três trimestres", diz Teixeira. "Esperamos que o PIB na atual recessão permaneça abaixo do patamar do primeiro trimestre de 2014 por pelo menos 11 trimestres consecutivos."
Nos períodos recessivos anteriores, a reversão foi proporcionada pelo bom desempenho do setor externo. Este é um aspecto já abordado em algumas análises. Uma comparação rápida da crise atual com a vivida pelo Brasil em 1999, quando o mercado derrubou o câmbio quase-fixo, e em 2003, quando houve grave crise de confiança graças à ascensão do PT ao poder, revela que, naqueles momentos, o governo se preocupou menos com a taxa de câmbio num primeiro momento e mais com a inflação.
Aquelas estratégias permitiram à indústria compensar os efeitos negativos do ajuste sobre a atividade, acelerando exportações e ganhando competitividade para enfrentar as importações. No caso da notável crise de 2003, quando o país estava à beira de mais um calote na dívida externa, o PIB voltou a crescer no terceiro trimestre daquele ano. Agora, as mesmas condições não estão dadas, inclusive, porque o BC decidiu manter por tempo demasiado o programa de swaps cambiais, retardando o processo de correção da taxa de câmbio.
Teixeira e sua equipe analisaram de forma minuciosa todos os casos e concluíram que, em quatro das seis recessões, a retomada da economia se deu, em grande medida, graças à aceleração das exportações líquidas. Nos quatro períodos, a retomada dos investimentos das empresas e do consumo das famílias ocorreu de forma lenta.
A crise de 2008/2009 foi uma exceção. O que explicou a saída rápida da turbulência foram os fatores domésticos. Pela primeira vez, o Brasil enfrentou uma crise externa com a casa em ordem. A situação fiscal era favorável e isso permitiu ao governo adotar medidas anticíclicas tanto no front monetário quanto fiscal. Por causa disso, os investimentos e o consumo das famílias aceleraram, enquanto as exportações demoraram para reagir.
"Uma forte retomada da economia é pouco provável sem a participação do setor externo", diz Teixeira, admitindo as dificuldades em estimular o setor externo. Para piorar, os outros elementos que poderiam ajudar estão na seguinte situação:
1) a necessidade de equilibrar as contas públicas e reduzir a inflação impede a utilização das políticas fiscal e monetária para estimular a atividade. O atual endividamento das famílias e o nível de confiança muito baixo dificultam o estímulo via mercado de crédito;
2) a aprovação de reformas estruturais, para resolver o problema fiscal, aumentar a produtividade e acelerar o crescimento, é pouco provável. "As recentes dificuldades do governo federal em aprovar as medidas de ajuste fiscal no Congresso sugerem uma baixa probabilidade de avanços importantes nos temas da pauta econômica", lembra o economista-chefe do CS;
3) os esforços para elevar o crescimento potencial nos próximos anos terão pouco impacto sobre a dinâmica de curto prazo da atividade. Os investimentos em infraestrutura do Programa de Investimentos em Logística (PIL), de R$ 198,4 bilhões nos próximos anos, dificilmente impulsionarão a retomada da atividade. Parte expressiva do programa de concessões (R$ 129,2 bilhões) está programada apenas para depois de 2019. "Mesmo assumindo execução de 100% dos projetos programados no PIL, o impacto direto sobre o crescimento tende a ser reduzido (de apenas 0,3 ponto percentual ao ano entre 2016 e 2018)".
A aceleração das exportações, para compensar a ausência de outros vetores que impulsionem a economia durante o ajuste, demandaria maior desvalorização do real - desde o terceiro trimestre de 2012, a depreciação cambial foi de 22,1%, face à média de 29,4% ocorrida nos outros períodos de recuperação - ou mais deterioração do mercado de trabalho - a contração média dos salários reais nas recessões anteriores (excetuada a de 2008/2009) foi de 11,4%, face aos 3,9% já verificados agora.
Em outras palavras: para sair da encrenca em que se encontra, o Brasil precisaria, antes, ficar mais pobre e ter um maior número de desempregados. Este é o preço a se pagar pelos equívocos cometidos nos últimos quatro anos, quando se decidiu substituir uma política econômica razoavelmente exitosa por uma aventura cujos resultados se mostram trágicos.
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Levy e a herança de erros
Editorial O Estado de S. Paulo, 29/07/2015
A
presidente Dilma Rousseff terá de renegar 12 anos de política econômica
petista, se quiser consertar as contas de governo, tirar o País do
sufoco e reencontrar o caminho do crescimento. Com ou sem intenção, foi
essa a principal mensagem transmitida pelo ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, na entrevista publicada terça-feira no Estado.
Diplomático
tanto ao falar do Congresso quanto ao citar as práticas de governo, ele
foi muito claro, no entanto, ao destacar o caráter estrutural dos
principais problemas e ao mostrar como se acumularam. “O aumento de
receita dos anos 2000 foi em larga parte consumido pelo aumento das
despesas obrigatórias, que continuam crescendo”, disse o ministro. Um
dos maiores entraves à boa gestão das finanças públicas brasileiras, a
rigidez orçamentária, aumentou sensivelmente, portanto, nesse período –
e, é bom realçar o detalhe, continua aumentando.
“Temos
de melhorar a qualidade da despesa”, acrescentou o ministro”, repetindo
uma promessa feita pela presidente Dilma Rousseff, ao assumir o governo
pela primeira vez, e em pouco tempo esquecida.
No
meio de uma longa entrevista, essas poucas palavras sintetizaram a
pauta de qualquer programa razoavelmente ambicioso de reforma fiscal.
Não basta cortar esta ou aquela despesa, até porque, a curto prazo, os
itens mais fáceis de podar são os investimentos. Cortes desse tipo têm
servido, de tempos em tempos, para conter ou limitar a deterioração das
finanças públicas, mas apenas do ponto de vista contábil. Uma gestão
minimamente correta envolve mais que isso.
Além
do equilíbrio fiscal, indispensável aos objetivos de longo prazo, é
preciso buscar o uso eficiente do dinheiro público. O governo petista
aumentou seguidamente a folha de salários, agravando a rigidez
orçamentária, sem cuidar da qualidade da mão de obra. Sua prioridade foi
empregar companheiros e aliados, loteando e aparelhando a
administração.
Temas
como planejamento e política industrial apareceram de tempos em tempos
na retórica oficial. Resultados práticos: protecionismo comercial,
distribuição de favores, deterioração da infraestrutura, emperramento da
indústria, menor exportação de manufaturados e, enfim, uma combinação
devastadora de inflação, recessão e crise fiscal.
Não
se pode atribuir a recessão, disse o ministro, à busca de um superávit
primário nas contas fiscais. É verdade. A recessão é consequência dos
erros acumulados durante anos, pelo menos desde o segundo mandato do
presidente Lula. Alguns, como lembrou o ministro, vêm sendo corrigidos.
Ele mencionou o ajuste dos preços relativos (de combustíveis e de
eletricidade, por exemplo) e o esforço para eliminar subsídios e as
transferências do Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES).
Nem
tudo tem dado certo. A eliminação de subsídios e renúncias fiscais,
segundo ele, poderia resultar num alívio de R$ 25 bilhões. Seria mais
0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no ajuste fiscal. Mas para isso o
Executivo precisará de apoio político. Esse apoio, poderia ter dito o
ministro, nem os companheiros da presidente Dilma Rousseff têm
garantido. Tudo ficará mais fácil, afirmou, quando “os entendimentos se
alinharem”, isto é, quando o Executivo conseguir mobilizar suporte
suficiente.
Mas
o ajuste efetivo, isto é, necessário aos objetivos de longo prazo, é o
estrutural. O ministro usou várias vezes essa palavra. Isso envolve uma
alteração profunda nos critérios. “A taxa interna de retorno das
concessões, que foi anunciada, teve receptividade perfeita no mercado”.
Traduzindo: o investidor privado precisa de condições atrativas para
aplicar seu capital em infraestrutura. Houve, aparentemente, um avanço
nessa área, mas é preciso ir muito além.
Não
há fortes motivos para otimismo, por enquanto. A presidente Dilma
Rousseff ainda defende, por exemplo, a regra de conteúdo nacional nas
compras da Petrobrás – um convite à ineficiência e à corrupção. O
aprendizado pode ser muito lento. Pior para o País.