O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador mentiras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador mentiras. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Um diplomata precisa mentir por seu país? E pelo governante?

 Eu sempre achei completamente IMBECIL aquela frase de um embaixador inglês— a despeito de sincera — que afirma que um embaixador é um homem (já tem essa) enviado ao exterior para mentir pelo (ou sobre) seu país”. Além de imbecil, indigna de alguém que se respeite. Confesso que nunca fiz isso, nem nunca recebi instruções para fazê-lo (e se recebesse não as cumpriria). Lamento a postura daqueles embaixadores que, durante a ditadura, tinham de mentir para jornalistas e outros interlocutores, negando que no Brasil ocorressem torturas, desaparecimentos e assassinatos políticos. Aliás, antes de ingressar na carreira, em 1977, e depois, eu fazia exatamente o inverso (um dia vou publicar o meu material escrito sob outros nomes dessa época), e por isso fui fichado pelo SNI como “diplomata subversivo” (está no Arquivo Nacional de Brasília).

Mas acho que muito pior do que mentir pelo país é mentir em favor de um governante escroto, nojento, execrável.

Paulo Roberto de Almeida

"Nossa economia não depende do turismo", diz embaixador brasileiro

14/04/2021 10h05

Os dois últimos voos provenientes do Brasil antes da entrada em vigor da suspensão da ligação aérea entre os dois países decidida pela França aterrissaram na manhã desta quarta-feira (14) em Paris com medidas sanitárias reforçadas. O decreto do governo francês publicado hoje detalha que os voos permanecerão suspensos pelo menos até 19 de abril. O embaixador do Brasil na França, entrevistado pela BFM TV, negou a responsabilidade do presidente Bolsonaro nessa crise e minimizou o impacto econômico da suspensão.

A suspensão dos voos entre a França e o Brasil é notícia em todos os canais de TV e rádio franceses. Eles enviaram repórteres ao aeroporto Roissy-Charles de Gaulle para colher a reação dos passageiros que puderam embarcar nos últimos voos, antes do início da suspensão. A decisão foi anunciada nessa terça-feira (13) pelo primeiro-ministro Jean Castex, pressionado pela grave situação sanitária no Brasil, devido a variante brasileira, conhecida como P1, considerada a mais contagiosa e perigosa.

Os dois voos da Air-France, provenientes do Rio de Janeiro e de São Paulo, aterrissaram por volta das 7h30, horário local. O desembarque foi mais demorado que o previsto por causa da imposição de novas medidas. Além de apresentar um PCR negativo realizado 72 horas antes do embarcar, os passageiros tiveram que fazer um teste de antígeno e se comprometer a respeitar um isolamento de 7 dias. Mas todos estavam aliviados por terem conseguido viajar. Segundo eles, os aviões não estavam cheios e a viagem foi tranquila.

Um francês, residente no Brasil, ouvido pela Franceinfo, que veio de São Paulo, disse que "esperava um clima de pânico a bordo, mas que tudo foi tranquilo. "Meu problema agora vai ser voltar", indicou. Um jovem, também entrevistado pela Franceinfo, disse que preferiu antecipar a viagem para não ficar retido no Brasil. Essa foi a opção relatada por vários passageiros entrevistados pela mídia francesa.

O estudante Luan Santos afirmou ao site do Le Figaro, ainda no Brasil, que "estava aliviado por poder embarcar" porque vai estudar em Portugal e precisa chegar ao país com uma certa antecedência. Luan escolheu passar pela França porque os voos entre Brasil e Portugal estão suspensos desde o final de janeiro e pelo menos até 15 de abril.

A medida impediu a viagem de franceses que já estavam com passagem marcada para o Brasil. Capucine, entrevistada pela RFI, que iria ao Rio de Janeiro a trabalho e aproveitaria para visitar a mãe, se sente 'privada de sua liberdade" e critica a decisão "autoritária" do governo francês. Outra turista francesa, também entrevistada pela RFI, garante que "ela tem mais risco de pegar covid na França, principalmente em cidades como Paris, do que no Brasil".

Passar por um outro país europeu, onde os voos com o Brasil são permitidos, como a Suíça e a Holanda por exemplo, é uma solução imaginada por vários viajantes. Mas as autoridades alertam que esses passageiros podem ser impedidos de pegar a conexão para a França, uma vez que é o local inicial de embarque que será levado em conta.

Voos de repatriação 

Até o dia 19 de abril, quando os voos ficarão suspensos, o governo francês estuda a adoção de medidas mais restritivas que permitiriam a retomada da ligação aérea. Entre as pistas estudadas, está um isolamento obrigatório em um hotel, na região do aeroporto, com as despesas pagas pelo viajante. Atualmente, a França recomenda o isolamento de 7 dias e um novo teste PCR no final deste prazo, mas não tem como controlar o cumprimento da medida.

A suspensão provocou críticas. A deputada francesa para a América Latina, Paula Fortaleza, declarou em entrevista à RFI que impedir os franceses que estão no Brasil de voltar para a França representa "um risco sanitário grande" para essas pessoas. Ela pede a imposição do sistema obrigatório de quarentena como solução.

Enquanto isso, o governo francês examina a organização de voos para repatriar os franceses, turistas ou residentes no Brasil, que querem voltar para a França. "Nossos cidadãos têm o direito constitucional de retornar ao nosso território", afirmou o secretário de Estado para Assuntos Europeus, Clément Beaune, à TV France 2.

"A culpa é da esquerda" acusa embaixador brasileiro 

O embaixador brasileiro na França, Luís Fernando Serra, concedeu duas entrevistas ao canal BFMTV, a primeira na noite desta terça-feira (13) e a segunda nesta manhã. O diplomata disse respeitar a "decisão soberana da França", mas minimizou o impacto da mesma ao lembrar que "a economia do Brasil não depende do turismo”.

Questionado pelos jornalistas, negou categoricamente a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro nessa crise. "Vocês pensam que o presidente Bolsonaro faz pouco? Que a culpa é do presidente? Essa é uma boa oportunidade para dizer que o Brasil já vacinou 31 milhões de pessoas e é o 5° país que mais vacinou no mundo segundo a OMS", apontou Serra.

"E as mortes, a decisão de não decretar lockdown, o caos nos hospitais?, perguntaram os apresentadores. "Proporcionalmente, em relação ao tamanho de sua população, o Brasil é o 19° país em número de mortes por um milhão de habitantes (...) A culpa dos hospitais lotados é da esquerda que não construiu hospitais durante os 24, 26 anos, que ficou no poder", respondeu o embaixador.

Sobre o lockdown, repetindo o que afirma Bolsonaro, ele explicou que a culpa é do STF. "O presidente Bolsonaro é solidário, mas quer que as pessoas trabalhem. Tem 35 milhões de brasileiros que vivem da economia informal e tem que sair de casa trabalhar. O Brasil não tem um sistema social como a França. Se não trabalharem, eles vão morrer de outra coisa, de fome, de depressão", insistiu Serra.

Mas se o embaixador fez questão de relativizar os 358 mil mortos pela covid no Brasil, ele não fez o mesmo com a vacinação. Proporcionalmente, o Brasil vacinou apenas 11,5% da sua população e está abaixo de 60ª posição mundial.

https://www.uol.com.br/nossa/noticias/rfi/2021/04/14/nossa-economia-nao-depende-do-turismo-diz-embaixador-brasileiro.htm

terça-feira, 30 de março de 2021

Uma carta patética de renúncia do chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

 Uma carta patética de renúncia do chanceler acidental

 

Paulo Roberto de Almeida

 

 

A inacreditavelmente patética carta do ex-chanceler acidental Ernesto Araújo (reproduzida in fine), sem qualquer dúvida o PIOR ministro das Relações Exteriores de toda a história independente do Brasil – e também do curto período de ministério dos Negócios Estrangeiros português já instalado no Rio de Janeiro desde 1808 –, colocando seu cargo à disposição do chefe de governo contém unicamente falácias e inverdades, sendo todo o seu conteúdo inapelavelmente falso e ridículo, como vou demonstrar nesta nota.

Numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo alguns dias antes, o infeliz e desequilibrado diplomata – cujo epitáfio na tumba deveria ser: “Aqui jaz um pária” – havia dito duas únicas verdades, que o jornal não deixou de sublinhar em seu editorial desta terça-feira, 30 de março de 2021, dedicado à sua saída. Seleciono imediatamente essas únicas frases que expressam alguma verdade, para depois me dedicar a desmontar mais um instrumento da série de falsificações que o submisso funcionário de uma família de ineptos conduziu na provecta instituição também conhecida como a Casa de Rio Branco. Eis as passagens: 

“O presidente Bolsonaro tem confiança no meu trabalho. Meu trabalho não é meu, é a implementação de uma agenda de política externa que o presidente traz desde a campanha. (...) Tenho respaldo (de Bolsonaro) porque desde o começo sempre propus ao presidente maneiras de implementar as ideias dele. (...) O presidente me nomeou por causa do meu compromisso de fazer a política que ele queria, implementar as coisas que ele quer, a visão de mundo”. 

Fecho as citações dessa entrevista que precedeu os últimos desastres conduzidos pelo destrambelhado diplomata colocado como um marionete de ocasião à frente do Itamaraty, e passo a examinar sua carta-renúncia de 29/03/2021.


1) No cargo..., lutei desde o início pela liberdade e dignidade do Brasil e do povo brasileiro, pela nossa soberania e grandeza em todos os aspectos.

 

PRA: Não, rigorosamente não. Conceitos abstratos como “liberdade” e “dignidade” são usados abusivamente por qualquer um desses ditadores de opereta que infernizam a vida de tantos povos, pois que fazem exatamente o contrário, ao retirar-lhes a liberdade e qualquer resto de dignidade. O chanceler, como sofista que é, seguindo nisso seu destrambelhado guru expatriado, o Rasputin de Subúrbio refugiado no exterior, pensa que engana o distinto público ao distorcer o vocabulário. Sem tem uma coisa que ele não defendeu, mas invariavelmente se empenhou em destruir, foi a soberania e a grandeza do Brasil, ao colocar a política externa e a diplomacia a serviço de um dirigente estrangeiro, nisso adotando para si o patético slogan de seu inepto chefe, que chegou a proclamar seriamente: “I love you Trump!”

 

2) Procurei... colocar o Itamaraty a serviço do sonho de um novo Brasil.

 

PRA: Esse “sonho” do desvairado chanceler acidental foi um pesadelo para a quase totalidade dos diplomatas profissionais, que viram o Brasil diminuir a olhos vistos no cenário internacional, até ser reduzido à condição de verdadeiro pária, numa obra conjunta dirigida pelo inepto chefe de governo, sendo que o submisso chanceler acidental era vigiado de longe pelo subsofista da Virgínia e administrado de perto pelo Bananinha 03 e pelo fanático fundamentalista conhecido como Robespirralho. O que ele fez, sim, foi colocar o Itamaraty a serviço de Trump, do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton e do igualmente patético e mentiroso Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, com os quais tratou do brancaleônico projeto de “invasão humanitária” da Venezuela, para tentar derrocar o governo Maduro. O que ele fez, de fato, foi reduzir o Brasil a um grau de subordinação automática ao governo Trump, o que jamais ocorreu em qualquer momento da Guerra Fria ou da política oficial de Estado no auge da luta contra o “comunismo mundial”. EA, na verdade, alienou completamente a soberania do Brasil a um governo estrangeiro.

 

3) Nessa luta, deparei-me... com correntes frontalmente adversas.

 

PRA: O ex-chanceler acidental é modesto: não foram apenas “correntes”. Jamais ocorreu na história da política externa uma tal unanimidade contra uma política externa subserviente e totalmente contrária aos interesses concretos do Brasil: desde o início, os mais diferentes setores da economia brasileira, da academia e da cultura, da mídia e da opinião pública em geral, alertaram contra as posturas absurdas que estavam sendo sugeridos ou implementados, e se opuseram contra as medidas mais estranhas e prejudiciais a esses interesses. Em raras ocasiões da história política do Brasil desde a independência se registrou tamanha oposição às orientações estapafúrdias do governo. 

 

4) Ergueu-se contra mim uma narrativa falsa e hipócrita, a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros, segundo a qual minha atuação prejudicaria a obtenção de vacinas.

 

PRA: O ex-chanceler acidental se engana e pretende enganar novamente: todos aqueles preocupados com os reais interesses do país não deixaram de alertar o quanto a sua política externa caótica, feita de agressividade contra os que não partilham de suas teorias conspiratórias, levantou oposição em praticamente todos os setores, sobretudo quanto a ausência completa de uma política concreta de combate à pandemia, e em face da total inoperância do chanceler e do Itamaraty na mobilização de apoios a um programa de prevenção e vacinação que simplesmente não existia, e de um rotundo fracasso na obtenção de um volume suficiente de vacinas, fracasso que é igualmente partilhado com os incompetentes do Ministério da Saúde (mas que, em última instância pode ser atribuído ao negacionismo persistente do chefe de governo).

 

5) ... infelizmente, neste momento da vida nacional, a verdade não importa para as correntes que querem de volta o poder – esse poder que, durante as décadas em que o exerceram, só trouxe ao Brasil atraso, corrupção e desgraça.

 

PRA: A únicas correntes que já trouxeram, de fato, atraso (que é a volta a um tipo de anacronismo anti-iluminista), corrupção (ainda que familiar) e desgraça (e não só por causa da pandemia, mas no armamentismo, na flexibilização dos controles ambientais e do tráfico), foram e são os fanáticos do bolsonarismo mais ignorante e grosseiro, ao qual o chanceler se tem esforçado para se alinhar completamente (inclusive gritando “MITO!”, “MITO!”) e com isso se rebaixa intelectualmente, numa triste demonstração de como maças podres conseguem contaminar todas as outras. Não se tem notícias de que forças políticas adversas ao desgoverno do capitão estejam ativamente empenhados em tirá-lo do poder: nenhum das seis dezenas dos pedidos de impeachment foi sequer considerado pelo anterior ou atual presidente da CD.

E agora chegamos ao ponto alto da alucinante e alucinada carta do chanceler: 

 

6) A verdade liberta e a mentira escraviza. Hoje, a mentira é despudoradamente utilizada para um projeto materialista que visa a escravizar o Brasil e os brasileiros, a escravizar o próprio ser humano e roubá-lo de sua dignidade material e, principalmente, espiritual.

 

PRA: O infeliz e fracassado diplomata, guindado por engano e de forma fraudulenta (uma vez que EA mentiu para o presidente e para os seus patrocinadores), acredita que só ele tem o direito de distinguir entre a verdade e a mentira, o que é próprio dos egocêntricos e dos autoritários. Mas ele vai além: ele pretende que só eles podem ter o monopólio da salvação do país e da população, como se o Brasil e os brasileiros estivéssemos ameaçados a cair sob o domínio de alguma ditadura comunista, caso os ineptos do poder atual não possam impor sua versão dos fatos, a sua “verdade”. EA fez isso diversas vezes ao longo de seus infelizes dois anos à frente do Itamaraty, e não só em direção ao público interno, mas também em direção ao mundo. Ele pensa que engana o público em geral, quando suas mensagens se dirigem mais especialmente aos grupos de fiéis apoiadores do presidente atual. Numa palavra: ele é patético.

Finalmente, o chanceler acidental (e agora acidentado) conclui sua carta ao “querido Chefe”, em tom lacrimoso, dizendo que tem amor ao Brasil e ao seus povo, e que pretende continuar lutando em favor desse povo “até o fim dos meus (seus) dias”. Pode até ser, mas dificilmente ele o fará novamente nos quadros do Itamaraty ou do Serviço Exterior brasileiro, instituição que ele diminuiu sistematicamente, ao colocá-la a serviço de um pequeno grupo de aloprados, humilhando, no mesmo movimento, seus colegas profissionais de carreira. O ministério foi praticamente demolido pela desastrosa gestão do pior chanceler de toda a história independente do Brasil: o processo de reconstrução da política externa e de restauração da diplomacia será duro, lento e longo, pois que a demolição foi muito profunda, como argumentei em um livro precedente: Uma certa ideia do Itamaraty.

Se eu fosse macabro, o que não sou, eu apenas diria a EA: descanse em paz, e leve consigo seu título de pária, pois que ele não cabe ao Brasil e aos brasileiros. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30 de março de 2021

 



terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Joel Pinheiro da Fonseca* - Bolsonaro é incapaz da verdade

 Não é só Bolsovirus que é inimigo da imprensa: metade do seu ministério também, com especial “distinção” do patético chanceler acidental, um inimigo particularmente feriz.

Quando Bolsonaro, em meados de 2019, começou a atacar a imprensa (aliás antes, desde sempre), em especial a Folha de SP, e mandou cortar as assinaturas da FSP, o furibundo e desvairado chanceler acidental mandou cortar, na mesma hora, na mesma tarde, a assinatura da FSP. Acostumado a ler os jornais diários na biblioteca do Itamaraty, onde me exilei depois de demitido do IPRI, só tinha acesso a todos os demais, mas não à FSP. Mais ainda: cortou a FSP do clipping diário da imprensa nacional.

Não contente: mandou cortar totalmente os dois clippings diários da imprensa nacional e internacional, deixando todos os diplomatas, todos os servidores do Serviço Exterior, completamente desprovidos de qualquer fonte de informação sobre o Brasil e sobre os assuntos da política mundial.

Não hesito em classificar sua censura como CRIMINOSA, pois priva os diplomatas de uma ferramenta essencial ao seu trabalho, que é a informação: um embaixador lotado, digamos, na Ásia central, ou no interior da África, se não dispuser dos seus próprios meios de informação, não poderá comentar com seus colegas, ou na chancelaria local, o que está se passando no seu próprio país. CRIMINOSO!

Paulo Roberto de Almeida 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Joel Pinheiro da Fonseca* - Bolsonaro é incapaz da verdade

- Folha de S. Paulo

Como o presidente corrói a liberdade de imprensa no Brasil

A ONG Repórteres Sem Fronteiras, que milita pela liberdade de imprensa em todo o mundo, lançou uma campanha publicitária crítica a Jair Bolsonaro, representado sem roupa. Nela, a ONG mostra a "verdade nua" dos mortos da Covid, tema que o governo busca esconder.

A campanha é bem-vinda. Mesmo antes e independente da pandemia, Bolsonaro já era hostil à imprensa livre. Xingou e caluniou jornalistas e usou —ou ao menos se gaba de usar— verbas do governo como arma para premiar veículos aliados e punir adversários.

Um subproduto dos ataques verbais diretos são agressões verbais e físicas contra jornalistas. Uma sociedade em que parte da população, por uma adesão servil ao presidente, sai de seu caminho para hostilizar ou infernizar jornalistas vistos como "inimigos" do regime não é uma nação com liberdade de imprensa plena.

Durante a pandemia, Bolsonaro também fez por merecer. No início, acusava a imprensa de aumentar a ameaça da pandemia. "No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo", disse em março.

Quando ficou claro que a crise era grande e o Brasil estava despreparado, tentou bagunçar o debate divulgando, não o número de mortos, mas o de curados. Assim é fácil! Os homicídios estão em alta? Basta celebrar todas as pessoas que não foram assassinadas. Depois de problemas na divulgação dos dados oficiais, coube à "malvada" imprensa tomar para si a responsabilidade de publicar os números diários de mortes e contaminações com transparência e agilidade.

Para Bolsonaro, não existem problemas reais; apenas de comunicação. Reduzir o contágio, adquirir uma vacina eficaz para o coronavirus não são medidas importantes. O importante é persuadir o eleitorado de que tudo vai bem. Falar dos vivos, promover a cloroquina. E quem cobra prova de eficácia é tratado como inimigo. O governo segue empurrando seu "tratamento precoce" (um coquetel de cloroquina e outros remédios) goela abaixo do Brasil, enquanto permanecemos acima das mil mortes diárias. O crime tem sido devidamente registrado pela imprensa.

Perseguição direta e indireta é uma maneira de prejudicar a liberdade de imprensa. Desinformar o público e melar o debate com tanta fake news que já não se sabe mais o que é verdade e o que é mentira, também. Estamos ainda longe do nível de repressão à imprensa de uma Cuba ou Venezuela, mas a deterioração é preocupante.

Os riscos para a imprensa num país como o nosso são dois: o primeiro é o de se aliar ao poder da vez, ceder às pressões do dinheiro e da proximidade com os poderosos. O segundo é o de, reagindo aos ataques do governo, tornar-se militante contra ele, retorcendo cada notícia para que desabone o presidente. Embora o primeiro seja claramente o pior, ambos se desviam da missão maior do jornalismo: a busca da objetividade, de modo a municiar o debate público com informações relevantes e verdadeiras.

Nesse contexto, é um privilégio fazer parte da Folha de S. Paulo, que completou 100 anos no dia 19. Em sua primeira encarnação, como Folha da Noite, chegou a ser tirada de circulação pelo presidente Arthur Bernardes. Eleita como uma das maiores inimigas de Bolsonaro, e com jornalistas seus ativamente perseguidos por gângsteres da milícia federal, continua fazendo jus à sua vocação de espinho na carne do poder. Bolsonaro é moralmente incapaz da verdade. Todos já sabem disso; o rei está nu. Cabe à imprensa nem tapar suas deformidades nem aumentá-las; basta mostrar a verdade nua e crua.

*Joel Pinheiro da Fonseca, economista, mestre em filosofia pela USP.

domingo, 27 de setembro de 2020

Odorico, Severino e Bolsonaro na ONU - Vera Magalhães (OESP)

 Odorico, Severino e Bolsonaro

Vera Magalhães

O Estado de S.Paulo, 23/09/2020

 Brasil se destaca na ONU pela caricatura, e não pela diplomacia


Desde 1947 cabe ao Brasil abrir a Assembleia-Geral das Nações Unidas, na sede da ONU, em Nova York. O primeiro a fazer uso da prerrogativa foi OswaldoAranha. De lá para cá, nossa representação só deteriora. Com Jair Bolsonaro já são dois anos de negacionismo, mentiras e blablablá ideológico. Em 2019, presencial; ontem, em vídeo. Não importa, a vergonha é a mesma.

Infrutífero comparar as falas de Bolsonaro com outras igualmente infelizes de presidentes que o antecederam. De jaquetão e bigode engomado, José Sarney exibiu um inglês macarrônico. Mas não mentiu nem criou fantasias persecutórias aos olhos do mundo, nem tampouco exibiu desconexão completa da realidade.

Dilma Rousseff discursou várias vezes e sua fala recebeu merecidas críticas, por edulcorar os escândalos de corrupção que ajudaram a pavimentar seu impeachment, logo depois, por tergiversar com ataques à democracia em países de esquerda. Mas ela se conteve, por exemplo, e não falou em golpe ao discursar em abril, já às vésperas de ser afastada, para não levar assuntos domésticos e, mais, uma interpretação dos fatos, a um palco internacional.

Com Bolsonaro não há paralelo possível. Quando se pensava que nada poderia superar a fala do ano passado, na deste ano o presidente brasileiro disse cinicamente que o Brasil tem um dos melhores resultados no enfrentamento da covid-19, isso com mais de 137 mil mortos nas costas, enalteceu nossa política ambiental mesmo com a Amazônia e o Pantanal queimando aos olhos do mundo, converteu o auxílio emergencial em dólar e somou todas as parcelas para vender uma bonança dos mais pobres que é falsa e ainda inventou um conceito, a “cristofobia”, que, se bem explorado pelos seus ideólogos reacionários, pode fornecer mais empulhação para as eleições de 2022.


Diante de tal acervo de sandices, os paralelos possíveis com Bolsonaro na ONU se situam na ficção e no baixo clero, de onde o nosso presidente veio e de onde nunca teria saído em condições políticas normais.

A primeira referência é a antológica passagem de Odorico Paraguaçu, personagem do genial Dias Gomes, pelas Nações Unidas. Cercado de um séquito que incluía beatas fervorosas (também há as Cajazeiras do bolsonarismo), um puxa-saco caricato (candidatos a Dirceu Borboleta não faltam no Ministério) e o “capitão” Zeca Diabo (versão anos 80 de miliciano), o prefeito de Sucupira queria oferecer um terreno na cidade para que fosse construída a nova sede da ONU. Megalomania, ridículo e nacional-populismo na veia. Em 1983, pelo menos, era dramaturgia.

Outra passagem que lembra nos contornos patéticos as participações de Bolsonaro no fórum global foi a de Severino Cavalcanti em 2005, como presidente da Câmara, que cobri in loco. Então alvo do escândalo do “mensalinho”, em que era acusado de recolher propina de permissionários da Casa, o deputado pernambucano viajou com direito a séquito e limusine a Nova York e foi alvo de sistemática cobertura de imprensa.

O cerco a Severino, que se escondeu até no banheiro da ONU para fugir da imprensa, levou jornalistas de outros países a nos perguntarem quem era aquele homem para receber tanta atenção. Nos questionavam se ele estava envolvido no escândalo “Petróleo por Comida”. Mal sabiam que era comida por mensalinho mesmo, algo bem mais rastaquera.

Bolsonaro, com suas mentiras cínicas e deliberadas no momento mais grave da vida nacional neste século, rebaixa a Presidência a uma versão digital da Sucupira de Odorico. 

As agências de checagem já trataram de desmontar o discurso fake que ele fez. A mim restaram essas reminiscências envergonhadas. Levaremos anos para suplantar esse momento de rebaixamento do Brasil.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Bolsonaro na ONU: Um discurso recheado de mentiras: confronto com a realidade - Paulo Roberto de Almeida

Um discurso recheado de mentiras: confronto com a realidade 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoconfrontar o discurso de Bolsonaro à realidadefinalidadedebate público]

  

Um exercício de leitura linear a partir do canhestro discurso do presidente, com poucas platitudes, muitas mentiras e um pouco menos de agressividade do que o ridículo discurso de 2019, que foi mais dirigido para o público interno do que tratou da agenda internacional. Ele agrediu menos dirigentes estrangeiros desta vez, mas agrediu a imprensa, a verdade e não teve sequer o decoro de respeitar a inteligência de quem o ouviu, proclamando virtudes – em matéria de meio ambiente, pandemia – que certamente não possui.

 

Um exercício de confrontação: o discurso do presidente na 75ª. AGNU e seus problemas com a realidade observável

Discurso de Bolsonaro na AGNU, 22/10/2020

Observações, comentários e retificações de Paulo R. de Almeida

É uma honra abrir esta assembleia com os representantes de nações soberanas, num momento em que o mundo necessita da verdade para superar seus desafios.

DISTORÇÃO: verdade é o que menos teve no discurso do presidente na AGNU. Existem uma ou duas, apenas, e nenhuma delas se deve a seu governo; são platitudes, apenas e tão somente.

A COVID-19 ganhou o centro de todas as atenções ao longo deste ano e, em primeiro lugar, quero lamentar cada morte ocorrida.

MENTIRA: Nunca lamentou sinceramente as milhares de mortos no Brasil, e só o fez, de forma canhestra, quando instado a fazê-lo

Desde o princípio, alertei, em meu País, que tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade.

MENTIRA: Sempre negou a gravidade da pandemia, como negacionista que sempre foi, e tentou evitar por todos os meios quarentenas ou afastamentos, determinados unicamente com o objetivo de salvar vidas, por governadores.

Por decisão judicial, todas as medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27 governadores das unidades da Federação. Ao Presidente, coube o envio de recursos e meios a todo o País.

MENTIRA: É a Constituição que prevê essa repartição de responsabilidade. O STF apenas se limitou a respeitar a CF-1988. Enviou recursos em caráter muito precário, inclusive porque não houve comitê nacional de coordenação na área.

Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema “fique em casa” e “a economia a gente vê depois”, quase trouxeram o caos social ao país.

MENTIRA CALHORDA: A imprensa, no Brasil e no mundo, sempre fez o papel que se espera dela, refletindo objetivamente tudo o que governos e outras autoridades falam e fazem. Quem trouxe o caos foi ele mesmo, ao desafiar continuamente as recomendações de cientistas.

Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior:

– Concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente 1000 dólares para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo;

MENTIRA DESLAVADA: O governo queria dar apenas 200 reais, o Congresso aumentou para 500 e o presidente concedeu 600, apenas para prevalecer, de forma demagógica. Os 1.000 dólares são uma interpretação muito ampliada da realidade, juntando o máximo que alguns poderiam ganhar cumulativamente. Não houve tal generosidade de forma geral à população.

– Destinou mais de 100 bilhões de dólares para ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas, assim como compensou a perda de arrecadação dos estados e municípios;

MEIA VERDADE, DISTORÇÃO: Até parece que tudo se desenvolveu de forma perfeita, a todas as microempresas, quando a realidade está muito longe disso; existem fatos que o provam.

– Assistiu a mais de 200 mil famílias indígenas com produtos alimentícios e prevenção à COVID;

GRANDE MENTIRA: Inúmeras matérias de imprensa e relatos de ONGs atestam os desafios às populações indígenas, com muitas vítimas.

– Estimulou, ouvindo profissionais de saúde, o tratamento precoce da doença;

MENTIRA CALHORDA: Dois ministros da Saúde foram desmentidos, por falar a verdade;

– Destinou 400 milhões de dólares para pesquisa, desenvolvimento e produção da vacina de Oxford no Brasil;

DISCRIMINAÇÃO: Tal financiamento se fez apenas a UM dos projetos de vacina; a vacina do Instituto Butantã com a China não teve nada.

Não faltaram, nos hospitais, os meios para atender aos pacientes de COVID.

MENTIRA MAIS UMA VEZ: Hospitais nas regiões NO e NE ficaram sem equipamentos.

A pandemia deixa a grande lição de que não podemos depender apenas de umas poucas nações para produção de insumos e meios essenciais para nossa sobrevivência. Somente o insumo da produção de hidroxicloroquina sofreu um reajuste de 500% no início da pandemia. Nesta linha, o Brasil está aberto para o desenvolvimento de tecnologia de ponta e inovação, a exemplo da indústria 4.0, da inteligência artificial, nanotecnologia e da tecnologia 5G, com quaisquer parceiros que respeitem nossa soberania, prezem pela liberdade e pela proteção de dados.

DÚVIDAS: O retorno a práticas de autarquia não é a melhor solução para os problemas temporários trazidos pela pandemia; em breve prazo, as relações de interdependência e de abastecimento voltam a níveis normais.

inflação no preço da cloroquina se DEVE INTEIRAMENTE à recomendação demencial do próprio Bolsonaro pelo uso, sem qualquer comprovação científica de sua eficácia efetiva.

O Brasil é, dos países do G20, o mais fechado às cadeias de valor. Cabe ao presidente ordenar à abertura, se preciso UNILATERAL, do Brasil, já que é o Brasil que é fechado ao mundo.

No Brasil, apesar da crise mundial, a produção rural não parou. O homem do campo trabalhou como nunca, produziu, como sempre, alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas.

ABUSANDO DO TRABALHO ALHEIO: Nada dessa imensa produtividade do campo se deve ao atual governo, menos ainda ao se chefe, pois esse ciclo ascendente vem de longe.

O Brasil contribuiu para que o mundo continuasse alimentado.

IDEM: O Brasil é um grande ator na área, pelo trabalho dos agricultores, não do governo.

Nossos caminhoneiros, marítimos, portuários e aeroviários mantiveram ativo todo o fluxo logístico para distribuição interna e exportação.

INÓCUO: Uma economia normal funciona sem que o governo precise fazer qualquer concessão aos agentes reais da economia brasileira. Aliás, a infraestrutura que depende dele é péssima.

Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta.

IDEM:A construção da pujança do agronegócio é uma obra coletiva que vem de pelo menos três décadas de trabalho contínuo, não de 2019-20.

Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.

MENTIRA CALHORDA: Acusar o mundo de se entregar à desinformação deliberada sobre o Brasil, é uma mentira calhorda e insultuosa.

A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil.

IGNORÂNCIA: Confunde recursos naturais com riqueza; esta só existe quando existem meios de explorar de maneira sustentável. Essa noção de que que estrangeiros querem retirar a Amazônia de nossa soberania é errada e também ridícula; quem prejudica o Brasil é a postura destruidora do presidente e seu antiministro.

Somos líderes em conservação de florestas tropicais. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo.

ARROGÂNCIA: Não foi este governo quem fez a matriz energética diversificada; ela vem de longe; quanto a ser líder, resta provar...

Mesmo sendo uma das 10 maiores economias do mundo, somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono.

DADOS NÃO CONFIRMADOS: Emissões de carbono não têm relação direta com o tamanho da economia; emissões podem ser ambientais.

Garantimos a segurança alimentar a um sexto da população mundial, mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e usando apenas 27% do nosso território para a pecuária e agricultura. Números que nenhum outro país possui.

CANTANDO VANTAGEM: O governo não é o responsável por essa situação que vem de longe; outros países participam da oferta alimentar no mundo, e isso ocorre tanto por produtividade quanto por extensão de terras e outros recursos, que são dados da natureza.

O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos.

PLATITUDE: Trata-se apenas de uma simples constatação de fato, uma evidência primária.

E, por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente.

MENTIRA CRASSA: A mídia não tem nenhum interesse em propagar desinformações.

Estamos abertos para o mundo naquilo que melhor temos para oferecer, nossos produtos do campo. Nunca exportamos tanto. O mundo cada vez mais depende do Brasil para se alimentar.

EM TERMOS: Se acaso Brasil desaparecer, o mundo vai se arranjar de outra forma; existem outros países que podem fornecer os produtos que o Brasil produz; não há essa dependência.

Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas.

BOBAGEM: Os incêndios são em áreas já devastadas, não na floresta virgem. Caboclos e índios são absolutamente marginais para efeito do desmatamento e das queimadas; a maior parte é feita por grileiros, fazendeiros voltados para a pecuária e agricultura, desmatadores em geral; essa acusação é indigna de um presidente.

Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental. Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a regularização fundiária, visando identificar os autores desses crimes.

MENTIRA, MENTIRA! A tolerância zero é justamente com os desmatadores e grileiros. O governo não tem fiscalizado, não tem aplicado multas, tem sido leniente e conivente com os destruidores dos recursos naturais. A mentira é evidente para quem conhece a realidade.

Lembro que a Região Amazônica é maior que toda a Europa Ocidental. Daí a dificuldade em combater, não só os focos de incêndio, mas também a extração ilegal de madeira e a biopirataria. Por isso, estamos ampliando e aperfeiçoando o emprego de tecnologias e aprimorando as operações interagências, contando, inclusive, com a participação das Forças Armadas.

PROMESSAS: Todos sabem disso e estão dispostos a conceder essa condição ao Brasil, de não ser capaz de controlar um imenso território da Amazônia; mas até aqui não se viu qualquer providência governamental de PROTEÇÃO da Amazônia, apenas projetos de EXPLORAÇÃO não sustentável; FFAA não seriam necessárias se os órgãos tradicionais não tivessem sido objeto de cortes e cerceamentos de atuação.

Pantanal, com área maior que muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição.

MENTIRA: Grandes queimadas não ocorrem apenas naturalmente pela alta temperatura, e sim pela ação do homem, criminosa ou não; governo é feito para controlar essas ações em áreas expostas a esses riscos, na Califórnia, no Brasil, no Pantanal ou na Amazônia.

A nossa preocupação com o meio ambiente vai além das nossas florestas. Nosso Programa Nacional de Combate ao Lixo no Mar, um dos primeiros a serem lançados no mundo, cria uma estratégia para os nossos 8.500 quilômetros de costa.

CABE VERIFICAR: A Marinha brasileira há muito tempo vem se dedicando a esse projeto. Ela está de parabéns pelo seu trabalho. O governo quer tirar vantagem sobre aquilo que ele não fez, e sim que recebeu como legado das instituições e programas já existentes.

Nessa linha, o Brasil se esforçou na COP25 em Madri para regulamentar os artigos do Acordo de Paris que permitiriam o estabelecimento efetivo do mercado de carbono internacional. Infelizmente, fomos vencidos pelo protecionismo.

MENTIRA, ERRADO: O fracasso do Brasil na COP25 – que deveria ter sido REALIZADA no Brasil, e foi recusada desde 2018 – se deve basicamente à atitude irracional do antiministro do 1/2 Ambiente, que não conseguiu êxito em seu projeto de chantagear os países ricos. 

Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo.

CABE ESCLARECER: Até agora, a Marinha ou outros órgãos (PF, etc.) não conseguiram determinar a origem exata desse derramamento, que é efetivamente de petróleo venezuelano, mas provavelmente exportado ilegalmente. 

O Brasil considera importante respeitar a liberdade de navegação estabelecida na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.

PLATITUDE: Não precisaria afirmar o óbvio: que o Brasil respeita convenções internacionais que ele próprio soberanamente aceitou e cumpre como deve ser nas relações internacionais.

Entretanto, as regras de proteção ambiental devem ser respeitadas e os crimes devem ser apurados com agilidade, para que agressões como a ocorrida contra o Brasil não venham a atingir outros países.

OUTRA PLATITUDE: O Brasil pode contar com a colaboração da IMO e de outros órgãos para ajudar nisso, ou seja, precisa reafirmar sua adesão ao MULTILATERALISMO, o que vem sendo combatido por alguns IDIOTAS.

Não é só na preservação ambiental que o país se destaca. No campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil vem sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio prestado aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da fronteira no estado de Roraima.

MENTIRA, MENTIRA, MENTIRA: Como é possível ao presidente mentir tão abertamente, tão descaradamente? O Brasil é acusado por organismos internacionais e por ONGs por não respeitar, justamente, compromissos internos e externos no plano do meio ambiente e dos DH; o Brasil saiu do Pacto Global das Migrações.

A Operação Acolhida, encabeçada pelo Ministério da Defesa, recebeu quase 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana.

COMPROMISSOS EXTERNOS: Somos membros de convenções internacionais, ou seja, MULTILATERAIS, que comandam o refúgio e o acolhimento de pessoas em situação de perigo; temos de cumprir nossas obrigações.

Com a participação de mais de 4 mil militares, a Força Tarefa Logística-Humanitária busca acolher, abrigar e interiorizar as famílias que chegam à fronteira.

O QUE SE FAZ É O NECESSÁRIO: o Brasil estaria falhando a seus compromissos se não estivesse acolhendo refugiados em situação de extrema precariedade; é uma questão MORAL!

Como um membro fundador da ONU, o Brasil está comprometido com os princípios basilares da Carta das Nações Unidas: paz e segurança internacional, cooperação entre as nações, respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais de todos. Neste momento em que a organização completa 75 anos, temos a oportunidade de renovar nosso compromisso e fidelidade a esses ideais. A paz não pode estar dissociada da segurança.

PLATITUDE DIPLOMÁTICA: O que se diz aqui figura em todos os discursos de delegados brasileiros às AGNUs desde 1946, ou seja, não existe nenhuma novidade nessa repetição de platitudes que qualquer terceiro secretário da carreira diplomática aprende desde suas aulas no Instituto Rio Branco. O discurso aqui retoma, portanto, um tom e estilo, que deveria ser o do ano passado, quando o que tivemos foi uma VERGONHA anti-onusiana e agressiva.

A cooperação entre os povos não pode estar dissociada da liberdade. O Brasil tem os princípios da paz, cooperação e prevalência dos direitos humanos inscritos em sua própria Constituição, e tradicionalmente contribui, na prática, para a consecução desses objetivos.

MAIS PLATITUDES: Ou seja, pelo menos, desta vez, usaram alguns conceitos típicos da diplomacia profissional para incorporar num discurso que não deveria repetir PLATITUDES, mas tratar da agenda internacional, dos grandes problemas da humanidade.

O Brasil já participou de mais de 50 operações de paz e missões similares, tendo contribuído com mais de 55 mil militares, policiais e civis, com participação marcante em Suez, Angola, Timor Leste, Haiti, Líbano e Congo.

BLÁ, BLÁ, BLÁ: O presidente não tem a menor ideia do que o Brasil já fez na esfera das missões de paz da ONU, e apenas repete o que lhe foi servido por assessores internacionais um pouco menos idiotas do que em 2019. 

O Brasil teve duas militares premiadas pela ONU na Missão da República Centro-Africana pelo trabalho contra a violência sexual.

As FFAA cumprem com o seu dever: mais uma colaboração da diplomacia profissional para evitar que ele fale muita bobagem.

Seguimos comprometidos com a conclusão dos acordos comerciais firmados entre o MERCOSUL e a União Europeia e com a Associação Europeia de Livre Comércio. Esses acordos possuem importantes cláusulas que reforçam nossos compromissos com a proteção ambiental.

EQUIVOCADO: Não, o Brasil, ou o presidente não está minimamente comprometido com esses objetivos, pois vem se exercendo como touro desembestado numa loja de cristais; ele vem contrariando sistematicamente o espírito e a letra desses acordos, por sua atitude destrutiva no meio ambiente e em DH; o acordo não sai.

Em meu governo, o Brasil, finalmente, abandona uma tradição protecionista e passa a ter na abertura comercial a ferramenta indispensável de crescimento e transformação.

MENTIRA RIDÍCULA: até aqui não houve NENHUMA medida de abertura; a Tarifa do Mercosul continua alta e o Brasil continua aplicando restrições indevidas no comércio.

Reafirmo nosso apoio à reforma da Organização Mundial do Comércio que deve prover disciplinas adaptadas às novas realidades internacionais.

OUTRA MENTIRA: o chanceler acidental, submisso e servil ao governo Trump, vem aderindo à visão anti-OMC dos EUA; por isso mesmo, perdeu o Diretor Geral brasileiro.

Estamos igualmente próximos do início do processo oficial de acessão do Brasil à OCDE. Por isso, já adotamos as práticas mundiais mais elevadas em todas as áreas, desde a regulação financeira até os domínios da segurança digital e da proteção ambiental.

ILUDIDO OU IGNORANTE: O Brasil não tem nenhuma chance de ser admitido na OCDE se não corrigir sua postura contrária às medidas de luta contra a corrupção e à lavagem de cash; a sabotagem contra a COAF e a Lava Jata devem deixar o Brasil de fora da OCDE.

No meu primeiro ano de governo, concluímos a reforma da previdência e, recentemente, apresentamos ao Congresso Nacional duas novas reformas: a do sistema tributário e a administrativa.

RETÓRICA VAZIA: Reforma da Previdência não teve a nada a ver com o governo; já vinha da presidência Temer e deve mais ao Congresso do que ao ministro da Economia. As reformas tributária e administrativa ainda são promessas.

Novos marcos regulatórios em setores-chave, como o saneamento e o gás natural, também estão sendo implementados. Eles atrairão novos investimentos, estimularão a economia e gerarão renda e emprego.

PROMESSAS, PALAVRAS: Como ocorreu em presidências anteriores, algumas reformas se impõem pela própria situação calamitosa de certos serviços públicos que não podem contar com recurso públicos; daí a privatização.

O Brasil foi, em 2019, o quarto maior destino de investimentos diretos em todo o mundo. E, no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento do ingresso de investimentos, em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso comprova a confiança do mundo em nosso governo.

ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS: Como grande economia o Brasil sempre vai atrair maiores fluxos de IED; a desvalorização da moeda também ajuda, pois se pode “comprar” o Brasil com “descontos” de 40% sobre o passado e isso deve continuar; Investidores de fora já alertaram o governo para as posturas erradas.

O Brasil tem trabalhado para, em coordenação com seus parceiros sul-atlânticos, revitalizar a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul.

MAIS PLATITUDE DIPLOMÁTICA: Isso na verdade é apenas uma intenção; não quer dizer quase nada na prática.

O Brasil está preocupado e repudia o terrorismo em todo o mundo.

TERIA COMO SER DE OUTRA FORMA? Ser contra o terrorismo não é mérito nenhum...

Na América Latina, continuamos trabalhando pela preservação e promoção da ordem democrática como base de sustentação indispensável para o progresso econômico que desejamos.

SIM, QUAIS SÃO OS EXEMPLOS? Tirartodo o pessoal diplomático e consular da Venezuela ajuda nesse projeto? O Brasil atual se excluiu de qualquer solução diplomática para a tragédia venezuelana, se auto-excluiu. 

A LIBERDADE É O BEM MAIOR DA HUMANIDADE.

PRECISA COMENTAR? Alguém tem outra opinião? O presidente descobriu a pólvora?

Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia.

CONTRA A LAICIDADE DO ESTADO: O país tem outras denominações religiosas; caber dizer isso aos “aliados” da Arábia Saudita. 

Também quero reafirmar minha solidariedade e apoio ao povo do Líbano pelas recentes adversidades sofridas.

COMO EU SOU BONZINHO...: O Brasil tem a maior população de origem libanesa, e não faz mais do que a sua obrigação de solidariedade.

Cremos que o momento é propício para trabalharmos pela abertura de novos horizontes, muito mais otimistas para o futuro do Oriente Médio.

PRETENSÕES LULOPETISTAS? Bolsonaro também pretende fazer a paz entre israelenses e palestinos? Vai se meter em imbróglios eternos? Acha que tem capacidade para tanto? Ilusões? 

Os acordos de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, e entre Israel e o Bahrein, três países amigos do Brasil, com os quais ampliamos imensamente nossas relações durante o meu governo, constitui excelente notícia.

CONSTATAÇÃO ELEMENTAR: Será que a mídia não está enganando ninguém nesse tema? O fato de Israel e países supostamente inimigos do Irã estarem estabelecendo relações é uma boa notícia em si. Trump se aproveita disso, e o seu seguidor vai atrás, querendo tirar vantagem.

O Brasil saúda também o Plano de Paz e Prosperidade lançado pelo Presidente Donald Trump, com uma visão promissora para, após mais de sete décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada solução do conflito israelense-palestino.

SERVILISMO DIPLOMÁTICO: O Brasil foi um dos poucos países que apoiaram esse plano que não respeita os direitos dos palestinos e foi inclusive desativado pelas novas posturas que Israel vem adotando a esse respeito. Nenhum outro país importante apoiou o Plano Trump.

A nova política do Brasil de aproximação simultânea a Israel e aos países árabes converge com essas iniciativas, que finalmente acendem uma luz de esperança para aquela região.

WISHFUL THINKING: O Brasil já tinha boas relações com as duas partes há décadas, e foi esse governo que se inclinou para o lado de Israel, causando desconforto entre os árabes. A “luz de esperança” é apenas uma promessa. 

O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base.

NOVIDADE CONSTITUCIONAL: Desde a República o Brasil é um país laico e secular. 

Deus abençoe a todos!

VOTO: Podia começar iluminando ele mesmo.

E o meu muito obrigado!

UFA! Terminaram as mentiras...

Assista ao discurso de Bolsonaro:

https://www.oantagonista.com/brasil/leia-a-integra-do-discurso-de-bolsonaro-na-onu/

Quem tiver paciência, obviamente, para ouvir mentiras, meias verdades, falcatruas ridículas...

 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3759, 22 de setembro de 2020

 


Addendum: 

Complemento com o que recebi de Eduardo Fleming: 


Uau... parabéns pela espantosa paciência de retrucar frase a frase da mais boçal das criaturas que até agora subiu a rampa do Planalto. Eu, por minha curta paciência, apenas me limitaria a juntar tudo e escrever em todas as línguas e dialetos o mesmo texto:

- CUIDADO! MENTIRA PODE TRAZER DEMENCIA! O LIXO DESTE DISCURSO DEVE SER DESCARTADO CORRETAMENTE!

- CAUTION! LIE CAN BRING DEMENTIA! THE GARBAGE OF THIS DISCOURSE MUST BE DISPOSED OF CORRECTLY!

- VORSICHT! LÜGE KANN DEMENTIEN BRINGEN! DER ABFALL DIESES DISKURSES MUSS RICHTIG ENTSORGT WERDEN!

- alhdhr! alkadhib ymkn 'an yusabib alkhrf! yjb altakhalus min nifayat hdha altarh bishakl sahih!an

- MISE EN GARDE! LE MENSONGE PEUT APPORTER DE LA DEMENCE! LES DÉCHETS DE CE DISCOURSE DOIVENT ÊTRE ÉLIMINÉS CORRECTEMENT!

-注意!谎言可以带来痴呆!必须正确处置此垃圾的内容!