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domingo, 20 de dezembro de 2015

Racismo: suas origens, suas manifestacoes atuais - Jean-Christoffe Victor (Arte)

Para os que sabem, leem, compreendem o francês, um vídeo excelente sobre esse problema, que começa a atingir novas proporções calamitosas nos países desenvolvidos, não como se apresentava nos anos de imperialismo europeu, mas ainda assim insidioso e irracional.
Paulo Roberto de Almeida

Comprendre les origines du Racisme 2012

https://www.youtube.com/watch?v=fQJl-jxNnSY
Jean-Christoffe Victor, ARTE (canal franco-alemão)

domingo, 10 de agosto de 2014

Os LGBTs constituem uma raca? O STF seria capaz de decidir?

Ainda não li a matéria, mas só o título já me deixou surpreendido:

Gays vão ao STF contra o Congresso Nacional
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais requer à Corte que considere a homofobia e transfobia crime de racismo (leia mais)


Se eles são uma raça, e previsivelmente se veem também como uma minoria oprimida, vão certamente precisar de cotas, como os tais de afrodescendentes. Os augustos e preclaros ministros do nosso supreminho (deve ter aliados por lá...) vão aceitar o princípio do racismo, e já vão, na mesma encomenda (sempre é melhor decidir de uma vez) aprovar a questão das cotas?
Mas essas cotas seriam para o quê? Emprego público, ingresso na universidade, shows da parada gay, camisinhas gratuítas, o que, exatamente?
Por acaso, segundo a última pesquisa PNAD-IBGE, os afrodescendentes já constituem 53% da população brasileira. Previsivelmente vão aumentar na próxima pesquisa.
Como é que ficamos então?
Eu que sou totalmente branco -- mas desconfio que meu pai tinha uma pele, digamos assim, um tantinho morena -- estou portanto em minoria. Vou precisar de cotas eu também.  E todos os meus infelizes colegas da minoria branca opressora.
Mas eu dispenso essas pelas quais os afrodescedentes e os LGBs estão lutando.

A minha cota é simples:
Quero receber todas as publicações inteligentes produzidas pelas grandes editoras brasileiras. Mas só as inteligentes. Não deve ser muito. Dispenso auto-ajuda, soluções empresariais, conforto espiritual e recomendações para uma dieta saudável. Minha cota é só de livros inteligentes. Os editores sabem quais são...

Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Ironias da Historia: nazistas retrataram um bebe judeu como perfeito representante da raca ariana...

Os nazistas foram perfeitos criminosos, seres indignos da Alemanha, ou simplesmente da "raça" humana.
Eles o foram por preconceito, aliás debilóide, estúpido, ignorante no mais alto grau, ao pretenderem dividir a humanidade em raças, muito embora certa ciência do século 19 também afirmasse a existência de raças.
Até aí, seria apenas preconceito. Mas os nazistas foram além: pretenderam escravizar "raças inferiores" e exterminar uma raça em especial, além de várias outras categorias de seres humanos que eles julgavam indignos de continuar vivendo.
Mao Tsé-tung e Stalin mataram muito mais, infinitamente mais, do que Hitler, inclusive aliados e supostos inimigos de classe, e por diversas outras motivações, mas eles o fizeram contra o seu próprio povo, em nome de projetos de engenharia social e atendendo a uma ideologia violenta, como é o marxismo e sua teoria da luta de classes.
Mas só Hitler, como poucos na história da humanidade, pretendeu eliminar radicalmente todo um povo, ou mesmo mais de um povo, talvez uma civilização inteira, como eram os judeus europeus. Foi um monstro, sem dúvida.
O fato de que os nazistas estúpidos tenham sido enganados por um dos representantes de um povo submetido é altamente irônico, mas demonstra, mais uma vez, como são falhos os julgamentos humanos baseados nas aparências.
Os companheiros petistas, e os militantes da causa negra, estão cometendo mais um crime racial no Brasil, felizmente sem exterminação. Mas eles também dividem a sociedade em afrodescendentes e todo o resto, o que é um racismo estúpido e criminoso contra a história do Brasil. Fica sendo uma das heranças malditas dos companheiros, junto com os racistas da causa afrodescendente, que terá de ser superada mais adiante.
Por enquanto fiquem com esta boa história num dos blogs do Washington Post.
Paulo Roberto de Almeida
The ‘perfect Aryan’ child used in Nazi propaganda was actually Jewish
Morning Mix, July 7 at 5:12 AM
The newlyweds came to Berlin as students, a pair of Latvian Jews who wanted to make it big in singing. In 1934, just after Adolf Hitler took control of Germany, the young Jewish woman became pregnant with a child who would soon become known as the “perfect Aryan.”
The photo was everywhere. It first adorned a Nazi magazine that held a beauty contest to find “the perfect Aryan” and then was later splashed across postcards and storefronts.

Image excerpted from the video testimony of Hessy Taft. (Courtesy of USC Shoah Foundation)

Less well-known, however, was the fact that the “Aryan” girl was actually Jewish.
As remarkable as that revelation is, more remarkable is the story that accompanies it. The girl, now 80 and named Hessy Levinsons Taft, recently presented the magazine cover, emblazoned with her baby photo, to the Yad Vashem Holocaust Memorial in Israel and offered her tale to the German newspaper Bild. But the extended version of what happened is found in anoral history she gave to the United States Holocaust Museum in 1990.
It begins in 1928 when her parents came to Berlin. Both were singers. The father, Jacob Levinsons, crooned a chocolate-smooth baritone. His wife, Pauline Levinsons, had studied at the renowned Riga Conservatory in Latvia.
Jacob had accepted a position at a local opera house and taken the stage name of Yasha Lenssen, his daughter recalled in the lengthy interview with the Holocaust Museum. It was the time of surging anti-Semitism in Berlin, and when “they found out that his name really was Levinsons,” she said, “they decided to cancel his contract.”
“Without any money” and living in a “very, very cramped one-room” apartment, the young couple gave birth to Hessy Levinsons on May 17, 1934. She was beautiful. So when she was 6 months old, the parents decided to have her picture taken. “My mother took me to a photographer,” she told the museum. “One of the best in Berlin! And he did — he made a very beautiful picture — which my parents thought was very beautiful.”
They liked it so much, they framed it and propped it up on the piano her father had given her mother as a present after Hessy was born. They had thought the picture was a private family photo. But soon after, a woman who helped clean the apartment arrived to deliver some surprising news.
“‘You know,’” the woman said, “‘I saw Hessy on a magazine cover in town.’”
Hessy’s mother found that impossible to believe. A lot of babies look the same, the mother explained, and surely the helper was mistaken. But she wasn’t.
“‘No, no, no, no,’” the helperexplained to Taft’s mother. “It’s definitely Hessy. It’s this picture. Just give me some money, and I’ll get you the magazine.”
Money changed hands, and the helper soon returned with a magazine. A headline that said “the Sun in the Home” stretched across the top with the same picture that was there, resting on the piano. “The magazine was published out of Leipzig [in central Germany] and was very definitely one of the few magazines allowed to circulate at the time,” Taft said in the oral history, “because it was a Nazi magazine.” She said the pages brimmed with images of “men wearing swastikas” and even one of Hitler himself “reviewing the troops.”
The parents were terrified. Why was their Jewish infant on the cover of a Nazi magazine lauding Hitler’s exploits?
They contacted the photographer, according to Hessy’s account. “‘What is this?’” the daughter says her mother asked. “‘How did this happen?’”
The photographer told her to quiet down. “‘I will tell you the following,’” the story went. “‘I was asked to submit my 10 best pictures for a beauty contest run by the Nazis. So were 10 other outstanding photographers in Germany. So 10 photographers submitted their 10 best pictures. And I sent in your baby’s picture.’”
“‘But you knew that this is a Jewish child,’” the mother exclaimed.
“‘Yes,’” he said, explaining there had been a competition to find the “‘perfect example of the Aryan race to further Nazi philosophy…. I wanted to allow myself the pleasure of this joke. And you see, I was right. Of all the babies, they picked this baby as the perfect Aryan.’”
Family stories are always prone to hyperbole, distortion and exaggeration — but this appears to be true. Taft has reams of photographs that show her in numerous publications and cards. “I can laugh about it now,” the Telegraph quotes Taft, now a chemistry professor at St. John’s University in New York, as saying. “But if the Nazis had known who I really was, I wouldn’t be alive.”
The parents were equally shocked and “amazed at the irony of it all.” In the weeks afterward, the picture was everywhere. It was in storefront windows, in advertisements and on postcards. One time, Taft says her aunt went to the store to buy a birthday card for her first birthday in May of 1935 only to find a card with Taft’s baby picture on it. “My aunt didn’t say another word, but she bought the postcard which my parents brought with them throughout the years.”
Eventually, the family fled Europe and found refuge in Cuba for years before immigrating to the United States in the late 1940s and settling in New York City. Hessy Levinsons got married and became Hessy Taft. But the father stayed behind in Havana to operate a business, which eventually foundered under the rise of Fidel Castro. “He always said, ‘I have survived Hitler; I will survive Castro,’” Taft said. “And he did. He did.”

Terrence McCoy is a foreign affairs writer at the Washington Post. He served in the U.S. Peace Corps in Cambodia and studied international politics at Columbia University. Follow him on Twitter here.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O racismo ao inverso, um tema controverso - Thomas Sowell

Intelectuais e raça - um estrago incorrigível
Thomas Sowell critica as falácias sobre raça, uma mais ridícula do que a outra. Convém lembrar que o economista norte-americano sempre criticou a política de cotas raciais nas instituiçoes de seu país. Boa leitura:

Há tantas falácias ditas sobre raça, que é difícil escolher qual é a mais ridícula. No entanto, uma falácia que costuma se sobressair é aquela que afirma haver algo de errado com o fato de que as diferentes raças são representadas de forma numericamente desproporcional em várias instituições, carreiras ou em diferentes níveis de renda e de feitos empreendedoriais.

Cem anos atrás, o fato de pessoas de diferentes antecedentes raciais apresentarem taxas de sucesso extremamente discrepantes em termos de cultura, educação, realizações econômicas e empreendedoriais era visto como prova de que algumas raças eram geneticamente superiores a outras.

Algumas raças eram consideradas tão geneticamente inferiores, que a eugenia foi proposta como forma de reduzir sua reprodução. O antropólogo Francis Galton chegou a exortar "a gradual extinção de uma raça inferior".

E as pessoas que diziam essas coisas não eram meros lunáticos extremistas. Muitos deles eram Ph.D.s oriundos de várias universidades de ponta, lecionavam nas principais universidades do mundo e eram internacionalmente reputados.

Reitores da Universidade de Stanford e do MIT estavam entre os vários acadêmicos defensores de teorias sobre inferioridade racial — as quais eram aplicadas majoritariamente aos povos do Leste Europeu e do sul da Europa, uma vez que, à época, era dado como certo o fato de que os negros eram inferiores.

E este não era um assunto que dividia esquerda e direita. Os principais proponentes de teorias sobre superioridade e inferioridade genética eram figuras icônicas da esquerda, de ambos os lados do Atlântico.

John Maynard Keynes ajudou a criar a Sociedade Eugênica de Cambridge. Intelectuais adeptos do socialismo fabiano, como H.G. Wells e George Bernard Shaw, estavam entre os vários esquerdistas defensores da eugenia.

Foi praticamente a mesma história nos EUA. O presidente democrata Woodrow Wilson, como vários outros progressistas da época, eram sólidos defensores de noções de superioridade e inferioridade racial. Ele exibiu o filme O Nascimento de uma Nação, que glorificava a Ku Klux Klan, na Casa Branca, e convidou vários dignitários para a sessão.

Tais visões dominaram as primeiras duas décadas do século XX. 

Agora, avancemos para as últimas décadas do século XX. A esquerda política desta era já havia se movido para o lado oposto do espectro das questões raciais. No entanto, ela também considerava que as diferenças de sucesso entre grupos étnicos e raciais era algo atípico, e clamava por uma explicação única, vasta e arrebatadora.

Desta feita, em vez de os genes serem a razão predominante para as diferenças nos êxitos pessoais, o racismo se tornou o motivo que explicava tudo. Mas o dogmatismo continuava o mesmo. Aqueles que ousassem discordar, ou até mesmo questionar o dogma predominante em ambas as eras, era tachado de "sentimentalista" no início do século XX e de "racista" na era multicultural.

Tanto os progressistas do início do século XX quanto os novos progressistas do final do século XX partiram da mesma falsa premissa — a saber, que há algo de estranho quando diferentes grupos raciais e étnicos alcançam diferentes níveis de realizações.

No entanto, o fato é que minorias raciais e étnicas sempre foram as proprietárias — ou gerentes — de mais da metade de todas as principais indústrias de vários países. Dentre estas minorias bem-sucedidas, temos os chineses na Malásia, os libaneses na África Ocidental, os gregos no Império Otomano, os bretões na Argentina, os indianos em Fiji, os judeus na Polônia, os espanhóis no Chile — entre vários outros.

Não apenas diferentes grupos raciais e étnicos, como também nações e civilizações inteiras apresentaram níveis de realizações extremamente distintos ao longo dos séculos. A China do século XV era muito mais avançada do que qualquer país europeu. Com o tempo, no entanto, os europeus ultrapassaram os chineses — e não há nenhuma evidência de ter havido alterações nos genes de nenhuma destas civilizações.

Dentre os vários motivos para estes diferentes níveis de realizações está algo tão simples quanto a idade. A média de idade na Alemanha e no Japão é de mais de 40 anos, ao passo que a média de idade no Afeganistão e no Iêmen é de menos de 20 anos. Mesmo que as pessoas destes quatro países tivessem absolutamente o mesmo potencial intelectual, o mesmo histórico, a mesma cultura — e os países apresentassem rigorosamente as mesmas características geográficas —, o fato de que as pessoas de determinados países possuem 20 anos a mais de experiência do que as pessoas de outros países ainda seria o suficiente para fazer com que resultados econômicos e pessoais idênticos sejam virtualmente impossíveis.

Acrescente o fato de que diferentes raças se desenvolveram em diferentes arranjos geográficos, os quais apresentaram oportunidades e restrições extremamente diferenciadas ao seu desenvolvimento, e as conclusões serão as mesmas.

No entanto, a ideia de que diferentes níveis de realização são coisas atípicas — se não sinistras — tem sido repetida ad nauseam pelos mais diferenciados tipos de pessoas, desde o demagogo de esquina até as mais altas eminências do Supremo Tribunal.

Quando finalmente reconhecermos que as grandes diferenças de realizações entre as raças, nações e civilizações têm sido a regra, e não a exceção, ao longo de toda a história escrita, restará ao menos a esperança de que haja pensamentos mais racionais — e talvez até mesmo alguns esforços construtivos para ajudar todas as pessoas a progredirem.

Até mesmo um patriota britânico como Winston Churchill certa vez disse que "Devemos Londres a Roma" — um reconhecimento de que foram os conquistadores romanos que criaram a mais famosa cidade britânica, em uma época em que os antigos bretões eram incapazes de realizar esta façanha por conta própria.

Ninguém que conhecesse os iletrados e atrasados bretões daquela era poderia imaginar que algum dia os britânicos criariam um império vastamente maior do que o Império Romano — um império que abrangeria um quarto de toda a área terrestre do globo e um quarto dos seres humanos do planeta.

A história apresenta vários exemplos dramáticos de ascensão e queda de povos e nações, por uma variada gama de motivos conhecidos e desconhecidos. Mas há um fenômeno que não possui confirmação histórica, um fenômeno que, não obstante esta ausência de exemplos práticos, é hoje presumido como sendo a norma: igualdade de realizações grupais em um dado período do tempo.

As conquistas romanas tiveram repercussões históricas por séculos após a queda do Império Romano. Um dos vários legados da civilização romana foi o alfabeto latino, o qual gerou versões escritas dos idiomas da Europa ocidental séculos antes de os idiomas do Leste Europeu serem transformados em letras. Esta foi uma das várias razões por que a Europa ocidental se tornou mais desenvolvida que a Europa Oriental em termos econômicos, educacionais e tecnológicos.

Enquanto isso, as façanhas de outras civilizações — tanto da China quanto do Oriente Médio — ocorreram muito antes das façanhas do Ocidente, embora a China e o Oriente Médio posteriormente viessem a perder suas vantagens.

Há tantas reviravoltas documentadas ao longo da história, que é impossível acreditar que um único fator sobrepujante seja capaz de explicar tudo, ou quase tudo, do que já aconteceu ou do que está acontecendo. O que realmente se sabe é que raramente, para não dizer nunca, ocorreram façanhas iguais alcançadas por diferentes pessoas ao mesmo tempo.

No entanto, o que mais temos hoje são grupos de interesse e movimentos sociais apresentando estatísticas — que são solenemente repercutidas pela mídia — alegando que, dado que os números não são aproximadamente iguais para todos, isso seria uma prova de que alguém foi discriminatório com outro alguém.

Se os negros apresentam diferentes padrões ocupacionais ou diferentes padrões gerais em relação aos brancos, isso já basta para despertar grandes suspeitas entre os sociólogos — ainda que diferentes grupos de brancos sempre tenham apresentado diferentes padrões de realizações entre si.

Quando os soldados americanos da Primeira Guerra Mundial foram submetidos a exames mentais durante a Primeira Guerra Mundial, aqueles homens de ascendência alemã pontuaram mais alto do que aqueles de ascendência irlandesa, sendo que estes pontuaram mais alto do que aqueles que eram judeus. Carl Brigham, o pioneiro do campo da psicometria, disse à época que os resultados dos exames mentais do exército tendiam a "desmentir a popular crença de que o judeu é altamente inteligente".

Uma explicação alternativa é que a maioria dos imigrantes alemães se mudou para os EUA décadas antes da maioria dos imigrantes irlandeses, os quais por sua vez se mudaram para os EUA décadas antes da maioria dos imigrantes judeus. Alguns anos depois, Brigham viria a admitir que a maioria dos mais recentes imigrantes havia sido criada em lares onde o inglês não era a língua falada, e que suas conclusões anteriores, em suas próprias palavras, "não possuíam fundamentos".

Nessa época, os judeus já estavam pontuando acima da média nacional dos exames mentais, e não abaixo. 

Disparidades entre pessoas do mesmo grupo, em qualquer área que seja, não são obviamente uma realidade imutável. Mas uma igualdade geral de resultados raramente já foi testemunhada em qualquer período da história — seja em termos de habilidades laborais ou em termos de taxas de alcoolismo ou em termos de quaisquer outras diferenças — entre aqueles vários grupos que hoje são ajuntados e classificados como "brancos".

Sendo assim, por que então as diferenças estatísticas entre negros e brancos produzem afirmações tão dogmáticas — e geram tantas ações judiciais e trabalhistas por discriminação — sendo que a própria história mostra que sempre foi comum que diferentes grupos seguissem diferenciados padrões ocupacionais ou de comportamento? (Continua no site do Instituto Mises).

sábado, 17 de maio de 2014

Book review: o racismo cientifico num livro que pode ser cientificamente racista

Concordo com o resenhista: o livro é uma má construção de um problema real: pessoas estão sempre refletindo o ambiente em que foram criadas...
Paulo Roberto de Almeida 

A TROUBLESOME INHERITANCE
Genes, Race and Human History
By Nicholas Wade
278 pages. The Penguin Press. $27.95.

Reviewed by Arthur Allen
The New York Times Book Review, May 15, 2014

Few areas of science have contributed more to human misery than the study of racial difference. In the 1920s, eugenicists from top American universities promoted the sterilization of the unfit and later praised Hitler’s racial codes while advocating laws that would exclude thousands of Jews from our shores.
Contemporary researchers have found it useful to examine genetic variations that affect traits like diabetes in Native Americans or high blood pressure in African-Americans. But in the shadow of the Holocaust, scientists in the United States have largely avoided the classification of races as a “futile exercise,” in the words of the population geneticist Luigi Luca Cavalli-Sforza; the very concept of race is a matter of scientific debate.
In “A Troublesome Inheritance: Genes, Race and Human History,” however, Nicholas Wade argues that scientists need to get over their hang-ups and jump into studies of racial difference. “The intellectual barriers erected many years ago to combat racism now stand in the way of studying the recent evolutionary past,” he writes. 
Mr. Wade, a longtime science writer for The New York Times, draws on the wealth of evolutionary data that has emerged from the decoding of human genomes. This research has enabled scientists to imagine our prehistory with more precision, and the picture is one of unexpectedly significant genetic change since many of our ancestors left Africa. Since this evolution affected traits such as skin color, body hair and the tolerance of alcohol, milk and high altitude, why not intelligence and social behavior as well? Mr. Wade asks. 
The central problem here is that if significant genetic-controlled behavioral differences exist among races, with scant (at most) exception they haven’t been discovered yet. To build a case with the evidence at hand requires a great deal of speculation, with the inevitable protrusion of the nonscientific worldview. 
Mr. Wade presents a few scattered genetic studies and attempts to weld them into a grand theory of global history for the past 50,000 years. Where Jared Diamond argued in  “Guns, Germs and Steel”  that environment and geography enabled Europe to develop a highly successful civilization, Mr. Wade says environmental pressures led to genetic differences that account for much of that advantage. “The rise of the West,” he writes, “is an event not just in history but also in human evolution.” 
Conservative scholars like the political scientist Francis Fukuyama have long argued that social institutions and culture explain why Europe beat Asia to prosperity, and why parts of the Mideast and Africa continue to suffer destabilizing violence and misery. 
Mr. Wade takes this already controversial argument a step further, contending that “slight evolutionary differences in social behavior” underlie social and cultural differences. A small but consistent divergence in a racial group’s tendency to trust outsiders — and therefore to accept central rather than tribal authority — could explain “much of the difference between tribal and modern societies,” he writes.
This is where Mr. Wade’s argument starts to go off the rails.
At times, his theorizing is merely puzzling, as when he notes that the gene variant that gives East Asians dry earwax also produces less body odor, which would have been attractive “among people spending many months in confined spaces to escape the cold.” No explanation of why ancient Europeans, presumably cooped up just as much, didn’t also develop this trait. Later, he speculates that thick hair and small breasts evolved in Asian women because they may have been “much admired by Asian men.” And why, you might ask, did Asian men alone prefer these traits?
Mr. Wade occasionally drops in broad, at times insulting assumptions about the behavior of particular groups without substantiating the existence of such behaviors, let alone their genetic basis. Writing about Africans’ economic condition, for example, Mr. Wade wonders whether “variations in their nature, such as their time preference, work ethic and propensity to violence, have some bearing on the economic decisions they make.” 
For Mr. Wade, genetic differences help explain the failure of the United States occupations in places like Iraq and Afghanistan. “If institutions were purely cultural,” he writes, “it should be easy to transfer an institution from one society to another.” It’s hard to know how to begin to address such a puzzling statement. 
Mr. Wade acknowledges that specific evidence for the influence of “social behavior” genes is quite limited. The one example he presents repeatedly is the MAOA 2R variant, the so-called warrior gene that has been linked to violent behavior in men abused as children and is more common in blacks than whites or Asians. Mr. Wade admits that such genes at most create a tendency to violence, and adds that there may be other, yet undiscovered violence-susceptibility genes that could skew the racial picture.
Mr. Wade’s distinctive focus is on how evolution, in his view, shaped different races’ “radius of trust,” or ability to assume loyalty to, say, a nation rather than a tribe, and to punish those who violate social rules. Modern civilizations select out violent individuals and their genes, which might be more valuable in tribal societies, he argues.
When it comes to his leitmotif — the need for scientists to drop “politically correct” attitudes toward race — Mr. Wade displays surprisingly sanguine assumptions about the ability of science to generate facts free from the cultural mesh of its times. He argues that because the word “racism” did not appear in the Oxford English Dictionary until 1910, racism is a “modern concept, and that pre-eugenics studies of race were “reasonably scientific.” This would surely surprise any historian of European colonies in Africa or the Americas. 
“Science is about what is, not what ought to be,” Mr. Wade writes. “Its shifting sands do not support values, so it is foolish to place them there.” Yet he acknowledges that views of scientific truth are highly contextual. The philosopher Herbert Spencer “was one of the most prominent intellectuals of the second half of the 19th century, and his ideas, however harsh they may seem today, were widely discussed,” Mr. Wade writes. Why does he suppose that Spencer was so popular? Was it science’s “shifting sands” that gave his ideas credibility, or their tendency to support what powerful people wanted to believe? 
The philosopher Ludwik Fleck once wrote, “ ‘To see’ means to recreate, at a suitable moment, a picture created by the mental collective to which one belongs.” While there is much of interest in Mr. Wade’s book, readers will probably see what they are predisposed to see: a confirmation of prejudices, or a rather unconvincing attempt to promote the science of racial difference. 

Arthur Allen is the author of “The Fantastic Laboratory of Dr. Weigl,” to be published by W. W. Norton in July.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Racismo em construcao: o Brasil se degrada ao votar a favor do Apartheid (cotas no servico publico)

Existem momentos em que é preciso sentir vergonha pelo seu país, ao mesmo tempo em que se pergunta se as pessoas em geral, representantes do povo em particular, que juraram defender a Constituição, que proíbe qualquer tipo de discriminação entre pessoas, se essas pessoas enlouqueceram, ou se elas pensam estar fazendo o bem, para a sociedade em geral, para os negros, pardos, mestiços em especial, ao votar cotas racistas para o ingresso no serviço público.
O Brasil se degrada ao criar um instrumento racista para regular um concurso que deveria ser universal, baseado unicamente no mérito, ou seja, sem qualquer tipo de requerimento ou distinção, apenas fundado no concurso em si, sem qualquer tipo de papel, sequer um diploma de alfabetização.
A posição da Deputada Benedita, que se elegeu com o slogan de "preta, pobre e favelada" -- mas que hoje é só preta, e não poderia ser de outro modo -- é insustentável: se dá oportunidade a todos, mediante uma educação de qualidade. Ao premiar alguns com cotas, mesmo com mérito inferior ao de outra pessoa, se está premiando a baixa produtividade do setor público, o que atinge a todos, independentemente da cor da pele. Se trata não de oportunidade, mas de uma ofensa que se faz aos negros, aos lhes dizer: você não tem condições, mas eu vou lhe ajudar, dando alguns pontos a mais.
Aliás, se trata mais do que isso: se trata de uma reserva de mercado, pois um determinado número de cargos só poderá ser ocupado quem for classificado como negro, ou assemelhado. Isso não é racismo?
Não tenho nada a ver, tampouco, com o deputado Bolsonaro e lamento suas outras posições políticas e opiniões sociais. Mas acredito que ele tem razão ao acusar esse projeto de racista.
Aliás, não depende dele, nem de ninguém. Quando se pretende distinguir pessoas pela aparência, com base num critério autodeclarado de algum pertencimento racial --  que é extremamente difícil, embora existam pessoas brancas, negras, mestiças, de todos os matizes e misturas possíveis -- se está praticando racismo, uma coisa abominável em si.
Sinto vergonha pelo meu país, e o vejo caminhando para o racismo e o Apartheid...
Paulo Roberto de Almeida

Câmara aprova cotas para negros em concursos

Serão reservadas 20% das vagas a pretos e pardos. Projeto, que precisa ser analisado pelo Senado, dividiu opiniões e ficou mais restrito que o aprovado horas antes por comissão.

Catarine Piccioni
Foram 314 votos a favor e 36 contra. "Projeto é racista", bradou Bolsonaro
Com 314 votos favoráveis, 36 contrários e seis abstenções, a Câmara aprovou nesta quarta-feira (26) projeto de lei que reserva aos negros 20% das vagas em concursos públicos para cargos efetivos e empregos na administração pública federal e autarquias, fundações e empresas públicas e sociedades de economia mista controladas pela União. O projeto segue para o Senado.
Os deputados derrubaram emendas que ampliavam o alcance da medida e prevaleceu a versão original apresentada pelo Executivo. O texto aprovado reserva 20% das vagas para negros, mas não permite que a cota seja estendida para cargos em comissão, como propôs o deputado Luiz Alberto (PT-BA).
Também ficou de fora a emenda que previa o aumento da cota para 30%, incluindo índios, proposta por Domingos Dutra (SDD-MA).
Mais cedo, em comissão, parlamentares tinham acatado sugestão da deputada Janete Pietá (PT-SP) para que o preenchimento de cargos comissionados observasse percentuais paritários para negros, pardos e brancos. Outra alteração sugerida previa que a reserva fosse dividida entre estudantes de escolas públicas e privadas. Tudo isso “caiu” no plenário. Se sancionada, a cota vai vigorar por dez anos. Caberá aos candidatos se autodeclararem pretos ou pardos.
O tema dividiu opiniões dos parlamentares. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) criticou o projeto no plenário. “Esse projeto é racista, separatista e imoral”. Já a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) defendeu a medida. Para ela, a ação afirmativa não pode virar alvo de “chacota”. “O que falta ao negro é a oportunidade. E esse projeto vai dar oportunidade”.
O deputado Sílvio Costa (PSC-PE) argumentou que a questão racial não é mais importante do que a questão social. “No sertão de Pernambuco, onde tem colonização holandesa, os brancos é que são pobres. E então os filhos dos negros ricos serão privilegiados em detrimento dos filhos dos brancos pobres”. No entanto, a maioria dos líderes partidários defendeu o projeto. “Infelizmente, fui acompanhado pelo deputado Bolsonaro nesse tema”, afirmou Sílvio Costa aos jornalistas, depois.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Martin-Luther King: Americano, nao Afro-Americano - Demetrio Magnoli

E ele não disse 'África' 
Demétrio Magnoli
O Estado de S. Paulo, 29/08/2013

Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.

Meio século atrás, à sombra do Memorial de Lincoln, em Washington, Martin Luther King pronunciou 1.667 palavras. Nenhuma delas era "África" - ou "africanos", ou mesmo "afro-americanos". Nessa ausência se encontra a prova da atualidade do discurso mais célebre do século 20. Deveríamos ouvi-lo novamente, prestando atenção no contraste entre aquela linguagem e a utilizada hoje pelos arautos das políticas de raça.
King aludiu à Proclamação de Emancipação, de Abraham Lincoln, "um grande farol de esperança para milhões de negros escravos", mencionou as "algemas da segregação" e as "correntes da discriminação" que, cem anos depois, ainda aleijavam "a vida dos negros", e falou sobre a "solitária ilha de pobreza, em meio a um vasto oceano de prosperidade material", na qual viviam os negros. No discurso de agosto de 1963, os negros eram definidos por referências situacionais (escravidão, segregação, pobreza), não por uma essência identitária (raça, etnia, cultura ou origem).
Americanos, não "afro-americanos" - isso são os negros, na linguagem de King. Os negros, que experimentam "o exílio em sua própria terra", marcharam à "capital de nossa nação" para cobrar uma promessa de igualdade escrita "pelos arquitetos de nossa República" na Declaração de Independência e na Constituição. A luta para resgatar aquela "nota promissória" ergueria "nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a sólida rocha da fraternidade". Ela não deveria "conduzir-nos a desconfiar de todas as pessoas brancas", pois "muitos de nossos irmãos brancos (...) compreenderam que o destino deles está preso ao nosso" e que "a liberdade deles está inextricavelmente ligada à nossa".
A linguagem de King não desafiava apenas as leis de segregação, seu alvo imediato, mas uma narrativa sobre a origem dos Estados Unidos, seu alvo distante. Tal narrativa, uma versão da ideia do melting pot, se coagulara no final do século 19 como reação à libertação dos escravos e como chave lógica para a segregação racial oficial. Ela descrevia os Estados Unidos como uma nação de colonos brancos rodeada por minorias raciais (indígenas, asiáticos e negros africanos). No discurso que completa 50 anos, King contestava todo esse cortejo de noções identitárias emanadas do pensamento racial. Não, dizia, a nação é outra coisa - é aquilo que está escrito nos textos fundadores!
A contestação de King separava-o de uma longa tradição da política negra nos Estados Unidos. W. E. B. Du Bois entalhara o mito da raça na fachada da venerável NAACP, a principal organização negra americana. Ele não acreditava no valor explicativo de "grosseiras diferenças físicas de cor, cabelos e ossos", mas invocava "forças sutis" que "dividiram os seres humanos em raças claramente definidas aos olhos do historiador e do sociólogo".
"Nós", dizia Du Bois, "somos americanos por nascimento e cidadania" e "em virtude de nossos ideais políticos, nossa linguagem, nossa religião". Contudo, acrescentava, "nosso americanismo não vai além disso", pois, "a partir desse ponto, somos negros, membros de uma raça histórica que se encontra adormecida desde a aurora da criação, mas começa a acordar nas florestas escuras de sua pátria africana". Afro-americanos: o termo, cunhado muito depois na bigorna do multiculturalismo, foi concebido no início do século 20 como um fruto do pensamento racial. A atualidade do discurso de King encontra-se precisamente na sua ruptura com a visão de Du Bois, que era um reflexo da narrativa racista sobre a nação branca.
Du Bois, revisitado pelo multiculturalismo, não o universalismo de King, é a fonte das políticas oficiais de raça no Brasil. Um documento de "orientações curriculares" para a "educação étnico-racial" da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, datado de 2008, sintetiza as diretrizes que, a partir do MEC, disseminam entre os jovens estudantes a noção de divisão da humanidade em raças. O texto deplora a vasta diversidade de cores utilizada pelos indivíduos em declarações censitárias, que contribuiria "para diminuir o potencial político da população afro-brasileira".
"A pluralidade de cores no país diz quem é o povo brasileiro, mas não sua identidade étnico-racial", segundo os sábios da secretaria. A solução para a carência identitária residiria numa especial reinterpretação das palavras dos declarantes. Operando como "um agente social de reconhecimento eficaz do outro", transformando-se "em alguém mais ativo no processo de identificação", o recenseador produziria em tabelas e gráficos a "população afro-brasileira" que não emerge das autodeclarações. Em termos diretos, trata-se de manufaturar uma fraude censitária com a finalidade de gerar as tais "raças claramente definidas aos olhos do historiador e do sociólogo" de que falava Du Bois. Destinado a professores, o texto veiculava a mensagem inequívoca de que na sala de aula a linguagem da raça é um imperativo absoluto, em nome do qual se deve ignorar a informação censitária factual.
"Eu tenho o sonho de que meus quatro pequenos filhos viverão, um dia, numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo teor de seu caráter." A sentença nuclear do discurso de King não solicitava o reconhecimento de identidades étnicas ou de direitos raciais. Ela exigia que os Estados Unidos aplicassem o princípio, contido nos seus documentos fundadores, segundo o qual "todos os seres humanos são criados iguais". A igualdade entre indivíduos livres de todas as cores, não um acordo político entre coletividades raciais distintas, era a reivindicação do 28 de agosto de 1963. Eis por que aquele dia permanece tão atual, lá e aqui.

Eu também tenho um sonho. Sonho com o dia em que milhões de exemplares do discurso de Martin Luther King sejam distribuídos, clandestinamente, como material subversivo nas escolas brasileiras.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Joaquim Barbosa e o Itamaraty: repercussoes da entrevista sobre racismo

Entrevista de Joaquim causa polêmica no Itamaraty
Acusado de discriminação racial pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministério das Relações Exteriores diz ter ações afirmativas para combater racismo
Opinião e Notícia, 30/07/2013


“Fui discriminado, mas me prestaram um favor", disse Joaquim
As declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, que reportam racismo em concurso no Itamaray, causaram polêmica no Ministério das Relações Exteriores e na diplomacia brasileira. O ministro disse sofrer perseguição por ser negro e ter sido eliminado pela instituição injustamente, após passar na prova escrita. “O Itamaraty é uma das instituições mais discriminatórias do Brasil”, afirmou Joaquim em entrevista a Miriam Leitão, que o jornal O Globo publicou no domingo (28). “Fui discriminado, mas me prestaram um favor. Todos os diplomatas gostariam de estar na posição que eu estou. Todos”. Reservadamente, diplomatas consideraram “injustas” as críticas de Joaquim Barbosa.
Na noite de segunda-feira (29), o porta-voz do Itamaraty, o embaixador Tovar Nunes, disse aoCongresso em Foco que não comentaria as declarações por serem de caráter pessoal. Mas destacou as políticas de combate à discriminação existentes desde 2002 no órgão. “Esse esforço todo não vai parar por aí. Esse esforço foi feito, é preciso reconhecer”, disse ele, por telefone.
Tovar disse que ainda não há uma quantidade de mulheres e afrodescendentes desejável no Itamaraty. Por isso, o ministério executa ações afirmativas como a realização de cursos e entrega de materiais didáticos para afrodescendentes que se preparam para o concurso do Instituto Rio Branco. No concurso, há uma cota para negros. Segundo Tovar, o dia a dia do ministério é marcado por uma “preocupação” em combater toda forma de discriminação étnica, regional ou sexual. “Nosso desejo não é criticar quem quer que seja”, destacou o porta-voz.
Tribunal na praia
Não é a primeira polêmica em que Joaquim Barbosa é envolvido. Neste ano, ele divergiu asperamente dos presidentes das associações de juízes, que defendiam a PEC para criar quatro tribunais regionais federais. Em seu gabinete, o ministro disse que os juízes fizeram uma negociação “sorrateira” com parlamentares para aprovar tribunais em “praias” e “resorts”. As declarações causaram furor do relator da PEC, senador Jorge Viana (PT-AC).
Em março, Joaquim mandou um repórter do jornal O Estado de S. Paulo “chafurdar no lixo”. Depois, seu secretário de Comunicação pediu desculpas ao jornalista em nome do ministro. Na entrevista de domingo, ele voltou a abordar o assunto. “É um personagem menor, não vale a pena, mas quando disse isso eu tinha em mente várias coisas que acho inaceitáveis. Por que eu vou levar a sério o trabalho de um jornalista que se encontra num conflito de interesses lá no tribunal?”, questionou, referindo-se ao fato do jornalista ser casado com uma funcionária do STF. “Todos nós somos titulares de direitos, nenhum é de direitos absolutos, inclusive os jornalistas. Afora isso tenho relações fraternas, inúmeras com jornalistas”, arrematou Joaquim.
Antes, em 28 de fevereiro, o ministro disse que os juízes têm uma cultura “pró-impunidade”, ao contrário dos membros do Ministério Público, que teriam um sentimento de contestação ao status quo (veja a íntegra da entrevista). As declarações causaram o repúdio das associações de juízes, que acusaram Joaquim de não saber diferenciar a responsabilidade das funções dos magistrados, que devem buscar o julgamento justo, do papel dos procuradores, que têm o dever de apontar aquilo que consideram irregular.