Essas surpresas da história: o partido dos trabalhadores, dotado de uma ideologia típica do stalinismo industrial, e representante auto-nomeado dos trabalhadores industriais, foi o maior responsável, com sua política econômica aloprada, conseguiu desindustrializar o Brasil de maneira radical – a participação da indústria caiu à metade durante o período – e tornou a economia brasileira muito dependente da produção e exportação de produtos primários, uma situação "colonial" vergonhosa para o partido que, supostamente defendia o proletariado industrial.
Paulo Roberto de Almeida
Por Sergio Lamucci | De São Paulo
A concentração da pauta de exportações do Brasil em
produtos primários voltou a aumentar em 2017, depois de dois anos de queda. De
janeiro a novembro, cinco commodities responderam por 44% das vendas ao
exterior, acima dos 40% registrados no mesmo período do ano passado.
O maior peso é do complexo soja, com peso de 15,3% das
exportações no acumulado do ano, seguido por minério de ferro (8,8%), óleos
brutos de petróleo (7,7%), complexo carnes (6,9%) e açúcar (5,4%), segundo o
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
Num cenário de crescimento mais forte da economia global,
as vendas de produtos primários ganharam fôlego neste ano, ao mesmo tempo em
que as exportações de bens industriais avançaram em ritmo mais modesto, diz o
economista Fernando Ribeiro, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). "Isso evidencia os problemas de competitividade da
indústria", afirma. Com isso, as exportações se concentram nas
commodities, segmento em que o Brasil é mais competitivo.
Conquistaram espaço na pauta de vendas externas o
complexo soja (grão, farelo e óleo), o minério de ferro e o petróleo. No caso
da soja, o que cresceu mais net ano foi a quantidade embarcada. De janeiro a
novembro, o volume exportado da chamada soja mesmo triturada subiu quase 30% em
relação ao mesmo período de 2016, enquanto as cotações do produto avançaram
apenas 0,8%.
No caso do minério de ferro, o efeito predominante foi
dos preços, que subiram 47% de janeiro a novembro. Os volumes vendidos
cresceram 3,5%. Já as exportações de petróleo aumentaram devido à combinação de
expansão robusta tanto de preços como de quantidades. De janeiro a novembro, as
cotações subiram 31% sobre igual período de 2016, ao passo que os volumes
tiveram alta de 25%.
O pico da participação das cinco commodities na pauta de
vendas externas foi atingido em 2011, quando os preços de exportação do Brasil
atingiram a máxima histórica, puxada pela alta das cotações. De janeiro a
novembro daquele ano, o conjunto desses cinco produtos respondeu por 46,2% das
vendas externas totais. Em 2000, essa fatia não chegava a 20%.
O boom de commodities ganhou força especialmente a partir
de 2004. Depois de agosto de 2011, os preços de exportação passaram a recuar
gradualmente, caindo com mais força a partir de agosto de 2014. As cotações de
commodities começaram a se recuperar a partir de meados do ano passado, destaca
Ribeiro.
O aumento das exportações de soja, minério de ferro e
também petróleo teve um peso importante do "efeito China", como
destaca o economista Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre–FGV). Das exportações de soja mesmo
triturada, quase 80% se destinam ao país asiático, observa ele. No caso das
vendas de minério de ferro, a China absorveu 54% das exportações do produto no
período de janeiro a novembro; no do petróleo, 43%, de acordo com números do
Mdic.
Para o economista do Ibre, o inconveniente de um país só
ser o destino de boa parte das vendas de determinado produto é que torna mais
complicada a negociação de preços, dado o poder de mercado do comprador.
Observa, porém, que há grande complementaridade entre o que o Brasil produz e o
que a China demanda, o que torna o país asiático um destino natural para as
exportações brasileiras.
Ribeiro, do Ipea, observa que as exportações de produtos
industriais pelo Brasil mostram pouco fôlego, ainda que haja exceções. De
janeiro a outubro, o volume exportado de produtos manufaturados cresceu 4,6% em
relação ao mesmo período de 2016, alta inferior aos 11,9% dos produtos básicos,
segundo a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Não há dados
disponíveis ainda para novembro.
Uma das exceções da indústria manufatureira é o setor de
veículos automotores, reboques e carrocerias subiram, onde as quantidades
destinadas ao exterior subiram 32,2% no período de janeiro a outubro. O
economista do Ipea observa, porém, que essa alta se deu sobre uma base muito
fraca. Para comparar, ele diz que o volume de exportações de veículos, mesmo
com a alta acima de 30% neste ano, ainda deve ficar 10% abaixo do registrado em
2006.
Em 2016, as quantidades destinadas ao exterior de
manufaturadas cresceram 8%, num ano em que as de básicos encolheram 2,8%. Neste
ano, as exportações industriais avançam a um ritmo mais fraco, mesmo num
cenário de demanda global mais forte e com um câmbio que, se não é extremamente
desvalorizado, não parece inviabilizar as vendas externas, diz o economista do
Ipea, o que mostra as dificuldades de competição da indústria. Custo elevado da
mão de obra, deficiências de infraestrutura e defasagem tecnológica são alguns
dos obstáculos.
Nesse cenário, as exportações de produtos primários
ganham terreno na pauta, num ambiente de crescimento global mais forte. Para o
economista do Ipea, a tendência é que a fatia das cinco commodities continue a
avançar no ano que vem.
O problema de uma pauta tão concentrada em poucos
produtos primários o é uma parcela expressiva das exportações fica muito
sensível a choque de preços, diz Fernando Ribeiro. A questão é que as cotações
de commodities tendem a oscilar mais.
Já Livio Ribeiro considera que a concentração não é um
problema em si. O Brasil, lembra ele, tem grandes vantagens comparativas nos
segmentos de commodities. "A questão mais importante é usar de forma mais
eficiente um eventual ganho de renda proporcionado pelas exportações adicionais
desses produtos, atacando carências, por exemplo, em áreas como infraestrutura
e educação", afirma Ribeiro. "O ponto central é promover eficiência,
seja no uso do dinheiro, seja em toda a economia."