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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O Brasil no limiar da podridao politica e da decadencia moral

Algum tempo atrás escrevi um texto que em nenhum momento menciona o Brasil, mas que tem tudo a ver com nosso caminho para a decadência. Este aqui:

Pequeno manual prático da decadência (recomendável em caráter preventivo...)
Relação de trabalhos originais n. 1717. Relação de trabalhos publicados n. 747.
Publicado em número especial sobre "O Brasil que saiu das urnas", da revista Digesto Econômico, revista da Associação Comercial de São Paulo (ano 62, nr. 441, jan-fev 2007, p. 38-47; ISSN: 0101-4218; disponível em duas partes no site da revista; http://www.dcomercio.com.br/especiais/digesto/digesto_03/05a.htm). Reproduzido na revista Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 71, abril 2007; link: http://www.espacoacademico.com.br/071/71pra.htm).
Resumo em Via Política (15.04.2007)
[Se não der certo em nenhum desses links, melhor me pedir em particular.]

Agora, vejo o Brasil se afundando, concretamente, no que chamei, no título deste post, na podridão política e na decadência moral dos que nos governam. Sei que o Brasil é um país moderno -- modernoso seria um termo mais exato -- ou seja, que aceita as inovações que outros povos e nações mais avançadas e tecnológica e cientificamente mais "contributivas" para a humanidade produzem, em nosso favor, mas que seu atraso é sobretudo mental. Pior, o atraso se aprofunda, pois ele vem envelopado nessa podridão moral já referida.
Não tenho tempo agora de escrever muito a respeito. Permito-me, por isto mesmo, reproduzir quatro posts de um jornalista conhecido, mais do que conhecido, odiado em certas áreas. Não concordo com toda a sua análise, nem concordo com todos os seus argumentos, mas o ponto não é este. O ponto exato é que ele toca nos pontos exatos da podridão moral e da decadência política brasileira, independentemente da "certitude" de seus argumentos. O debate está posto.
Mesmo não concordando com tudo o que vai transcrito abaixo, creio que uma discussão séria sobre o futuro do Brasil, sua regeneração moral, digamos assim, passa por todos esses pontos e outros mais, entre os quais eu coloco também a podridão intelectual e a desonestidade proverbial de certos setores universitários brasileiros. A academia brasileira, de modo geral, e com muito poucas exceções, me envergonha. Ainda vou escrever sobre isso.
No momento apenas transcrevo e preparo-me para receber protestos. Já vou avisando que só vou inserir comentários inteligentes, ou seja, substantivos. Xingamentos idiotas estão previamente excluídos.
Paulo Roberto de Almeida

1) O nome da doença que assola o Brasil é Luiz Inácio Lula da Silva
Reinaldo Azevedo, 18/08/2011 07:05:49

Quatro ministros caíram em menos de oito meses de governo Dilma. Se considerarmos que Luiz Sérgio deixou a coordenação política para não fazer borra nenhuma na pesca, são cinco, três deles porque não conseguiram explicar o inexplicável no terreno ético: Antônio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Wagner Rossi (Agricultura). Nelson Jobim (Defesa) foi demitido porque falou demais. As demissões se deram de junho pra cá, à média, portanto, de mais de uma por mês. São os sintomas. Afinal, qual é a doença que acomete a política brasileira? Chama-se Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que hoje atua de modo claro, desabrido e insofismável para desestabilizar o governo da presidente Dilma Rousseff, sua criatura eleitoral.

Esse modelo de governo necrosado, que recende a carniça, não chega a ser uma criação genuína de Lula. Ele não cria nada. Mas é o sistema por ele reciclado, submetido ao aggiornamento petista. Este senhor é hoje o maior reacionário da política brasileira. De fato, é o maior de todos os tempos: nunca antes na história destepaiz um líder do seu porte — e os eleitores quiseram assim; não há muito o que fazer a respeito — atuou de forma tão determinada, tão clara, tão explícita para que o Brasil andasse para trás, desse marcha a ré nas conquistas do republicanismo, voltasse ao tempo da aristocracia dos inimputáveis. Enquanto Lula for uma figura relevante da política brasileira, estaremos condenados ao atraso.

O governo herdado por Dilma é aquele que seu antecessor construiu. Aqui, é preciso fazer um pouco de história.

No modelo saído da Constituição de 1988, o presidente precisa do Congresso para governar. Se o tem nas mãos, consegue transformar banditismo em virtude, como prova o mensalão. É impressionante que Lula tenha saído incólume daquela bandalheira — e reeleito! Há diversas razões que explicam o fenômeno, muitas delas já conhecidas. O apoio do Congresso foi vital — além da sem-vergonhice docemente compartilhada por quem votou nele. Não dá para livrar os eleitores de suas responsabilidades.

Fernando Henrique Cardoso governou com boa parte das forças que acabaram migrando para o lulo-petismo — o PMDB inclusive. Surgiram, sim, denúncias de corrupção. Não foi certamente um governo só com vestais. Mas era uma gestão com alguns propósitos, boa parte deles cumprida. Era preciso consolidar as conquistas do Plano Real, promover privatizações essenciais à modernização do país, tirar o bolor da legislação que impedia investimentos, criar bases efetivas para a rede de proteção social. FHC percebeu desde logo que essa agenda não se cumpriria com um alinhamento do PSDB à esquerda. E foi buscar, então, o PFL, o que foi considerado pelos “progressistas” do Complexo Pucusp um crime de lesa moralidade. Em boa parte da imprensa, a reação não foi diferente. Falava-se da “rendição” do intelectual marxixta — o que FHC nunca foi, diga-se — ao patrimonialismo. Um “patrimonialismo” que privatizava estatais… Tenha paciência!

FHC venceu eleição e reeleição no primeiro turno e implementou a sua agenda, debaixo do porrete petista. Teve, sim, de fazer, muitas vezes, o jogo disso que se chama “fisiologia”. O modelo saído da Constituição de 1988, reitero, induz esse sistema de loteamento de cargos. O estado brasileiro, infelizmente, é gigantesco. Quanto mais cargos há a ocupar, pior para a ética, a moral e os bons costumes. Mas, repito, o governo tinha um centro e uma agenda das mais complexas.

Lula surfou no bom momento da economia mundial, manteve os fundamentos herdados do seu antecessor — é faroleiro e assumidamente bravateiro, mas não é burro — e foi muito saudado por jogar no lixo o programa econômico do PT (até eu o saúdo por isso; sempre que algo do petismo vai para o lixo, é um dever moral aplaudir). Procedam a uma pesquisa: tentem encontrar um só avanço estrutural que tenha saído de sua mente divinal; tentem apontar uma só conquista de fundo, que tenha contribuído para modernizar as relações políticas no país; tentem divisar um só elemento que caracterize uma modernização institucional.

Nada!

Ao contrário. Lula fez o Brasil marchar para trás algumas décadas nos usos e costumes da política e atuou de maneira pertinaz para engordar ainda mais o balofo estado brasileiro, o que lhe facultou as condições para elevar a altitudes jamais atingidas o clientelismo, o fisiologismo, a estado-dependência. E aqui é preciso temperar a história com características da personagem,

Déficit de credibilidade
Lula e seu partido chegaram ao poder em 2002 com um déficit imenso de credibilidade. Muita gente pensava que eles próprios acreditavam nas besteiras que diziam sobre economia. Daí a especulação enlouquecida na reta final da eleição e no começo de 2003. O modelo, insisto, requer uma base grande no Congresso. E Lula, por intermédio de José Dirceu, foi às compras. A relação do PT com os outros partidos passou a sere mais ou menos aquela que existe no mercado de juros: se o risco oferecido pelo tomador do empréstimo é alto, a taxa sobe; se é baixo, desce. Os petistas eram considerados elementos um tanto tóxicos. Eles haviam se esforçado durante anos para convencer disso seus adversários. Logo, os candidatos à adesão levaram o preço às alturas.

Lula aceitou lotear o governo como nenhum outro havia feito antes dele. Os ministérios eram oferecidos de porteira fechada — prática que continuou e se exacerbou no segundo mandato; nesse caso, já não era déficit de credibilidade, não. Lula, o sindicalista, que fazia discurso radical para as massas e enchia a cara de uísque com a turma da Fiesp, viu-se feliz como pinto no lixo quando passou a ser o doador das benesses oficiais. Ele se encontrou. Descobriu seu elemento. Gostava mesmo era daquilo. E não foi só com os políticos, não!

Parte importante do empresariado e do mercado financeiro viu nele o lampejo do gênio. Com ele, sim, era fácil negociar, dizia-se a pregas largas, não com aquele sociólogo metido… Com Lula, tudo podia, tudo era permitido, tudo era precificável. Políticos e empresários se surpreenderam coma a facilidade com que ele fazia concessões. Não! Nada de tentar baixar carga tributária, por exemplo. O modelo consolidado pelo PT é outro: é o dos incentivos a setores escolhidos, o dos empréstimos subsidiados a rodo, o da escolha de “vencedores”. Lula não formava a sua clientela apenas com os miseráveis do Bolsa Família (que ele não criou; só lhe deu viés politiqueiro). Os tubarões também passaram a ser clientes do lulo-petismo. Tinha bolsa pra todo mundo.

O grande gênio
Surfando num momento formidável da economia mundial, Lula pôde, então, se dedicar à sua obra: revitalizar o clientelismo; profissionalizar o aparelhamento do estado; comprar apoios loteando ministérios, estatais e autarquias. Mas para fazer qual governo mesmo? Para deixar qual herança de fundo, destinada às gerações futuras? O homem transformou-se num quase mito agredindo alguns dos fundamentos do republicanismo, que foram duramente construídos ao longo dos oito anos de seu antecessor. Lula avançou contra a herança bendita de FHC para deixar uma herança maldita a seus sucessores e a várias gerações de brasileiros. Nessas horas, os petralhas sempre entram para provocar: “Ah, mas só uma minoria acha isso; o povão apóia”. E daí? “Povões” já endossaram gente até mais nefasta do que Lula história afora.

Essa gente asquerosa que se demite ou é demitida e faz esses discursos patéticos, em que sugerem que só estão deixando seus cargos porque pautados pela mais estrita decência e por uma competência inquestionável, é expressão do modo lulista de governar. Eu, pessoalmente, ainda não estou convencido de que estamos diante da evidência da incompatibilidade de Dilma com esse padrão moral. Afinal, ela era a “gerente” do governo anterior, certo? Mas estou plenamente convencido de que ela não tem a devida destreza par comandar isso que se transformou NUMA VERDADEIRA MÁQUINA CRIMINOSA de gestão do estado.

A rataiada com a qual Lula governou o país durante oito anos tinha certo receio dele, de sua popularidade — até as oposições evidenciaram esse temor mais de uma vez —, mas não reverencia Dilma. Para se associar, mais uma vez, ao PT, o PMDB, por exemplo, exigiu participar efetivamente do governo, e isso quer dizer liberdade para executar a “sua” política nos ministérios. O mesmo se diga dos demais partidos. A infraestrutura já foi à breca há muito tempo, mas o país que se dane. Os “aliados” têm de cuidar dos seus interesses porque assim combinaram com Lula.

Em 2010, o prêmio exigido para a adesão foi alto não porque o PT padecesse daquele déficit de credibilidade de 2002. A candidata é que se mostrava difícil. A costura da aliança, por isso, elevou o preço de novo. A tal “base” está revoltada porque o modelo de Lula não comporta a ingerência do poder central nos feudos dominados por partidos. Afinal, quem Dilma pensa que é? O acordo não foi feito com ela. Os patriotas se dizem, sem qualquer constrangimento, traídos. “Lula pediu para a gente apoiar essa mulher, e agora ela acha que pode se meter no nosso quintal?” Eles se consideram credores da presidente e acham que o governo os trata como devedores.

Nostalgia
Eles todos estão com saudade de Lula. Querem retomar a tradição. Consideram que roubar dinheiro público é uma paga natural pelo apoio, é parte das regras do jogo. Não deploram em Dilma a sua falta de projeto, de norte, de rumo. Estão inconformados é com o que a “falta de apoio” do governo contra esta maldita imprensa, que insiste em apontar irregularidades. Cadê o Apedeuta para pedir o controle dos meios de comunicação? Cadê o Franklin Martins para articular a “resistência”? Até o secretário de Imprensa do Planalto parece cobrar um “confronto” com a “mídia”. Eles querem Lula. E Lula quer de volta o lugar que acha que lhe pertence.

Encerro voltando aos tais intelectuais e àquela parte do jornalismo que ajudou a fundar o quase-mito Lula. Quando FHC fez a coligação com o PFL, falaram em crime de lesa democracia. Quando Lula se juntou à escória mais asquerosa da política, saudaram o seu pragmatismo. O pragmatismo que transformou a cleptocracia numa categoria progressista de pensamento.

Lula é o nome da doença. É para ela que precisamos de remédio.

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2) Eu não sou a supernanny disso a que chamam “povo”. Ou: de novo uma doença chamada “Lula”
Reinaldo Azevedo, 18/08/2011 15:34:23

Escrevi nesta madrugada um texto em que afirmo que o nome da doença da política brasileira é Luiz Inácio Lula da Silva. Está dando o que falar. E está porque tenho milhares de leitores. É assim mesmo. Quem escreve só pra si não tem ninguém a espiá-lo a não ser o silêncio, e o texto vira um exercício de expiação da própria irrelevância. Deve ser difícil. Um leitor ou outro me enviam ataques de fúria desse ou daquele: “Você viu o que disse fulano, como reagiu Beltrano?” Não vi. Eles me lêem; não os leio. Não enviem os links porque não lerei. Não tenho tempo. A opinião de bem pouca gente da imprensa — ou da subimprensa — me interessa. Meu diálogo é com OS MEUS LEITORES, não com quem tenta usar os meus textos para conseguir leitores. Faltam horas no meu dia para ler o que presta. Por que desperdiçar as que tenho com quem não presta? Faz tempo que me atacar é uma boa forma de tentar aparecer. A torcida é para que eu reaja. Mas essa decisão é minha. Às vezes, decido me divertir um pouco. Ponto. Parágrafo.

Escrevi aquele texto de madrugada, ainda estava meio escuro. Agora eu o reli à luz de um sol um tanto pálido que entra pela janela — saudade de todos os verões, Deus Meu!, do verão ancestral! Sim, agora que o releio sob nova luz, concluo: o nome da doença da política brasileira é Luiz Inácio Lula da Silva. É ele quem comanda hoje a RESISTÊNCIA — no seu partido, na base aliada, nos setores pouco salubres da imprensa — a isso a que chamam (eu jamais o fiz de própria pena) “faxina” na administração. A exemplo de Dilma, também eu não gosto muito da palavra. Faz supor que é só uma questão de espanar a poeira, pôr pra fora o lixo e passar um lustra-móveis. Não é! Há mudanças de natureza estrutural que precisam ser feitas. Tenho tratado delas. O voto distrital, por exemplo, representaria um ganho formidável de qualidade.

Sim, eu afirmei que Lula escapou do mensalão, entre muitos fatores, porque tinha maioria no Congresso, destacando outro elemento: a “sem-vergonhice docemente compartilhada por quem votou nele”. E emendei: “Não dá para livrar os eleitores de suas responsabilidades.” E não dá mesmo! Não sou a supernanny do “povo”. Aliás, eu nem mesmo reconheço a existência dessa categoria. Quem gosta de especular sobre o “espírito do povo” são os descendentes intelectuais e políticos do fascismo, seja o fascismo de direita, seja o de esquerda. É aquela turminha esquerdopata do que chamo “Complexo Pucusp” (é bem possível que “Pucusp” seja uma palavra criada por Bruno Tolentino, mas não estou certo). Eu reconheço a existência de pessoas. Quem votou em Lula, mesmo sabendo do mensalão e do esquema que era comandado pelo seu partido — e, exceção feita a alguns bolsões de ignorância extrema, era impossível não saber — endossou aquelas práticas, entregou-se à “sem-vergonhice docemente compartilhada”. A democracia é o regime de responsabilização disso a que chamam “povo” — e que eu chamo “pessoas”.

Foi só isso? Claro que não! Não dá para escrever todos os textos num só. Há centenas deles neste blog cobrando a responsabilidade das oposições, por exemplo, os erros cometidos, a falta de combatividade e de clareza ao longo dos quatro primeiros anos do governo Lula, com repeteco nos outros quatro etc. Mas essa entidade sacrossanta a que populistas dos mais variados matizes classificam como “povo” é responsável pelos governos que elege, ora essa! E se torna co-responsável por seus métodos. Se a maioria do eleitorado tivesse achado o mensalão grave o bastante, não teria dado um segundo mandato a Lula. “Ah, para a população, os benefícios que ele representava eram superiores aos malefícios”. Não seria difícil contestar tal afirmação no terreno dos argumentos objetivos. Mas digamos que tenha sido essa a percepção. Não só não muda o que escrevi como referenda: fez-se uma escolha. E essa escolha compreendia acolher a lambança.

Eu não me considero superior a isso a que chamam “povo”; não sou seu intérprete, seu psicanalista, seu educador ou o que seja. Por isso mesmo, não preciso vê-lo com compreensiva e compassiva generosidade. Acima da linha da sanidade, qualquer homem da rua é meu igual, é meu irmão. Tenho asco do paternalismo de qualquer natureza. Dei aula durante muito tempo. Meus alunos estão por aí, alguns deles na imprensa. Nunca fui um professor “gugu-dadá”, “cúti-cúti”… Tenho horror a essa postura. E, como sabem os que me lêem, não puxo o saco nem mesmo dos leitores. Mais de uma vez contrariei algumas expectativas. Lê quem quer.

Se alguém está tentando desestabilizar o governo Dilma Rousseff, esse alguém é Luiz Inácio Lula da Silva, que se apresenta como o condestável da República e que exerce uma coordenação paralela da aliança que conduziu Dilma ao poder. O recado é mais do que claro: ou ela joga segundo as regras que ele estabeleceu — que supõem aquela penca de malefícios que elenquei no texto anterior — ou ele se apresenta como a alternativa, que é o que tem feito de maneira sistemática, organizada, metódica.

E encerrei aquele post assim: “Lula é o nome da doença. É para ela que precisamos de remédio.”

Mas qual é o remédio?

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3) O remédio contra Lula. Ou: Ameaças de morte
Reinaldo Azevedo, 18/08/2011 16:45:20

Há muito tempo não recebia tantas ameaças de morte — acontece todo dia, saibam — como voltei a receber hoje, por causa daquele texto da madrugada. Leitores me enviam comentários publicados em alguns blogs, sites e afins que são de arrepiar. É claro que alguns ditos “colunistas” estão dando corda, como sempre. A eliminação do adversário, considerado um inimigo, passou a ser um valor no país. Lula ajudou a cultivar esta, digamos, metafísica. Sua prática política é pautada por um permanente assassínio da história e da biografia política de seus opositores. Note-se à margem que ele também tem o dom de ressuscitar moribundos, como sabe José Sarney.

E por que essa gente fala em “morte” com tanta desenvoltura? Bem, porque sua moral comporta — não faz tempo, um desses “intelectuais” de esquerda escreveu um texto em que o terrorismo era tratado como expressão política legítima. Embora sejam bestas morais e éticas, têm ao menos conhecimento do certo e do errado. Ameaçam-me, mas atribuem a mim a responsabilidade pelo molestamento, entenderam? Afinal, dizem, no texto da manhã, eu teria defendido golpe de estado e, o que é espantoso!, até mesmo a eliminação física de Lula. Logo, quem tem de ser eliminado sou eu! Não é fantástico?

O remédio contra Lula é a democracia e a democratização da sociedade. Acreditam na morte como resposta para conflitos os que mataram Celso Daniel, os que mataram Toninho do PT, de Campinas, os que mataram milhões de adversários história adentro. O meu papo é de outra natureza. Alguns bostalhões que vêm me dar aula de democracia nunca levantaram a bunda do sofá para combater a ditadura, enquanto eu tomava algumas borrachadas. Abordo pouco essa questão porque isso, por si, não torna ninguém certo ou errado. Mas há as pessoas que têm uma trajetória comprometida com as liberdades públicas e há as que não têm; há as que estão sempre alinhadas com a defesa da liberdade de expressão, e há aquelas que modulam essa defesa segundo os interesses a que atendem na hora.

O petismo empobreceu dramaticamente o debate político no Brasil, inclusive no terreno da esquerda. Se digo que Lula é o nome da doença política, é evidente que não bastaria eliminá-lo, ainda que isso fosse moralmente aceitável (não é!), para que tudo estivesse resolvido. Ele não se resume ao homem que é; representa um conjunto de procedimentos; simboliza uma forma de ver a política; expressa uma visão das relações do estado com a sociedade. Fez-se um emblema, cheguei a usar esta expressão, do não-republicanismo.

Lula é o símbolo da farsa moral — e ética — segundo a qual, em nome da promoção da igualdade, tudo é permitido. E não é!

Não! Eu não imagino qualquer outra maneira de combater o lulo-petismo que não seja pela via eleitoral. Eles podem, ainda que apenas retoricamente (tomara que seja só isso!), me querer morto; eu só os quero derrotados nas urnas. Mas também cobro que as LEIS DEMOCRÁTICAS QUE ESTÃO EM VIGÊNCIA SEJAM APLICADAS. Quando lembro que Lula, na presidência da República, mudou uma lei só para permitir a fusão de duas empresas de telefonia e que o BNDES decidiu financiar a operação antes mesmo da existência da tal lei — comprometendo-se, pois, com uma operação ainda ilegal —, eu me dou conta do grau de esculhambação legal e institucional a que chegamos.

As próprias instituições foram contaminadas pelo “espírito companheiro”. E isso tem de ser permanentemente denunciado. Lula é o nome da doença porque é o fundador de uma espécie de nova aristocracia, à qual tudo é permitido, com privilégios que se estendem à descendência. Renovou o que há de mais nefasto entranhado na cultura política brasileira: a desigualdade dos homens perante a lei — com a diferença de que essa desigualdade que ele cultiva seria uma forma de resistência. Essa cultura já chegou ao Supremo!

Qual o remédio contra o que Lula simboliza? O aprimoramento dos mecanismos da democracia representativa e a aplicação das leis previstas na democracia, tudo o que os vagabundos dos mais diversos matizes ideológicos, hoje pendurados nas tetas do estado, não querem: no capital, no trabalho, na academia, no subjornalismo, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé (é a variante paulista, também admitida, de “sapê”).

Eu quero é democracia. E combato a canalha que decide usar o regime democrático para solapá-lo. O nome da doença é Lula.

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4) O mito Lula precisa morrer se o Brasil contemporâneo quiser nascer. Ou: #DesencarnaLula!
Reinaldo Azevedo, 19/08/2011 05:59:24

As palavras fazem sentido. Essa é uma das mais antigas batalhas deste escriba. Têm aquele sentido estanque, do dicionário, elucidado por sinônimos ou perífrases. E têm o sentido que lhes conferem as circunstâncias, o contexto. Luiz Inácio Apedeuta da Silva, a face mais visível da doença que toma conta da política brasileira, esteve ontem em Minas. E, mais uma vez, nos deu a oportunidade de ler as palavras pelo sentido que elas têm e interpretá-las pelos silêncios que enunciam. Voltou a negar que possa ser o candidato em 2014. E se pergunta então: “Por que um ex-presidente da República, que já havia anunciado que não seria candidato, nega que pretenda se candidatar se não for com o objetivo de que sua candidatura seja debatida como realidade plausível?” Vale dizer: as palavras de Lula devem ser lidas pelo avesso. Ele afirma o que nega; nega o que afirma.

Foi adiante: “Dilma só não será candidata se não quiser”. A oração subordinada adverbial condicional — “se não quiser” — traz uma hipótese com a qual ninguém contava até outro dia, muito menos os petistas, especialmente quando a mandatária não concluiu ainda o seu oitavo mês de governo. Então está dado que existe a possibilidade de Dilma não querer. É Lula quem sustenta isso. Em política, “querer” ou “não querer” depende mais da vontade de terceiros do que da própria. O Babalorixá, ele próprio, faz de tudo, já está claro a esta altura, para que ela não queira. Ou não se moveria no tabuleiro da política com tanta saliência.

Não estamos diante daquela situação em que a criatura se volta contra o criador, como o monstrengo criado por Doutor Victor Frankenstein. De certo modo, é o contrário: Lula padece de uma inveja patológica da sua criatura. Considera-se o dono de Dilma de Rousseff. E está profundamente insatisfeito com os rumos que as coisas estão tomando. A imagem da faxina, ainda que uma expressão usada pela imprensa, colou. Só se limpa o que está sujo. E a sujeira foi, sim, a herança maldita que caiu no colo da sucessora. É evidente que ela era da turma. E figura de proa. Tanto é que foi escolhida para conduzir o navio — ou, ao menos, para representar esse papel. Mas a dinâmica da política não depende, reitero, só de vontades. A sujeira começou a aparecer. E os “descontentes” só não estão na rua porque os nossos esquerdopatas transformaram sindicatos, ONGs, movimentos sociais e entidades de classe em sucursais do partido. O PT está hoje mais presente na sociedade do que o Baath no auge do poder de Saddam Hussein. Os tolos dirão: “Mas foi pela via democrática”. O aparelhamento é sempre uma afronta à democracia, jamais a sua expressão.

É inaceitável que um ex-presidente da República se coloque, de peito aberto, como uma espécie de articulador informal do governo, seu intérprete mais avalizado, seu condestável. E é o que Lula está fazendo, tentando empurrar Dilma para fora do tabuleiro, embora reafirme, claro, seu apoio à sucessora.

Ele é popular? E daí?
Eu estou pouco me lixando se o Apedeuta é ou não popular. Aliás, falar mal de impopulares é coisa que qualquer covarde pode fazer. Lula é, sim, o nome da “doença” da política brasileira — e vamos, então, ampliar a briga, porque aí o barulho fica bom —, assim como Getúlio Vargas já foi um dia e, em muitos aspectos, ainda é. As pessoas têm os seus valores, e eu também. Não nutro a menor simpatia por um líder fascistóide, que prendeu, torturou e matou nas masmorras. “Ah, mas ele fundou o Brasil moderno!” Que Brasil moderno? O Getúlio do Estado Novo compôs com todas as forças reacionárias com a qual a dita Revolução de 30 prometia acabar — de fato, em certo sentido, Lula mimetiza Getúlio… Não leio a sua carta de suicídio sem atentar para o seu lado patético, sua literatice chula, seus contrastes vigaristas entre os “bons” e os “maus”, sua irresponsabilidade fundamental. Não se deve especular, por pudor, sobre a razão dos suicidas — desde que o sujeito não decida “sair da vida para entrar na história”. Arghhh… Politicamente, e é de política que falo, teria sido bem mais corajoso enfrentar seus acusadores. Era grande a chance de que terminasse deposto e na cadeia.

Essas almas “intensas”, “amorosas”, ” passionais”, “carismáticas” deseducam o povo e conduzem os países, com freqüência, ao desastre. Muito bem: Getúlio era fruto de um tempo que produziu varias formas do fascismo mundo afora — e aqui também, portanto. Mas os outros países exorcizaram seus fascistas. Nós amamos os nossos. Ou melhor: “eles” (porque não sou da turma) amam os deles. É claro que a “moral revolucionária” das esquerdas, muito especialmente dos comunistas, colaborou para isso. Luiz Carlos Prestes saiu da cadeia, onde tinha sido barbaramente torturado pela polícia de Getúlio — sua mulher, Olga, tinha sido deportada grávida para a Alemanha, onde foi morta — para subir no palanque do ditador contra “as forças do imperialismo”. Olga estava longe de ser a heroína pintada pelo chavista (e agora biógrafo de Lula) Fernando Morais. Mas isso não livra a cara de Getúlio.

Eu não opero com uma balança em que a canalhice é posta num prato, e as conquistas, noutro, em busca de um equilíbrio. Findo o estado novo, o lugar de Getúlio era a cadeia, não tentando voltar ao poder, aí pela via democrática, com o apoio dos comunas, que odiavam a democracia… Que circo nojento! Por que falo de Getúlio? Porque estepaiz ainda vive à mercê desses redentores — e Lula ocupou esse papel, à custa de uma máquina de mentiras e de manipulação da informação de fazer inveja ao DIP getulista. Não! Não tenho absolutamente nada de pessoal contra o Babolorixá. Até me policio um pouquinho para não me deixar tocar minimamente por sua inegável simpatia pessoal — quando não está sobre um palanque, possuído pelo ogro eleitoral. É a sua figura política que é nefasta, que deseduca, que desinforma, que dá sobrevida ao que há de mais atrasado na política .

O mito Lula precisa morrer — não o Lula! Que tenha tataranetos, mas sem passaporte diplomático! — se um Brasil minimamente afinado com a contemporaneidade quer nascer. O homem está mobilizando o seu partido e outros da base aliada contra um movimento — ainda incipiente, que é mais da sociedade do que de Dilma, é óbvio — contra a corrupção! Esse Shrek do Mal está tentando nos convencer de que a sem-vergonhice é um preço que o Brasil precisa pagar para avançar. E não é! Uma coisa é admitir que o malfeito existe, é parte da política e precisa ser extirpado. Outra, distinta, é encará-lo como virtude.

No momento em que ministros atolados em lambanças perdem seus cargos, o que faz o “pai do povo”? Sai por aí estimulando, na prática, o debate sobre a sucessão de Dilma, que está no poder há menos de oito meses. Em defesa do que mesmo? De quais princípios? Se isso não é uma forma de chantagem política, é o quê?

O Brasil avança, sim! Avança apesar da corrupção e do permanente assalto ao dinheiro público. Avança pela força dos brasileiros que trabalham, apesar dos vagabundos que vivem do esforço alheio; avança pela capacidade empreendedora dos seus empresários, apesar daqueles que vivem do compadrio e dos favores do estado; avança pela força — e eles existem — dos políticos honestos, apesar da escória que entra na vida pública para se arrumar.

E é isto que precisamos ter muito claro: OS DEFEITOS DA VIDA PÚBLICA BRASILEIRA DEFEITOS SÃO, E NÃO VIRTUDES! Por mais que pareça absurdo a muitos, O BRASIL AVANÇA APESAR DE LULA, NÃO POR CAUSA DELE.

Ele havia prometido “desencarnar”, vocês se lembram. Mais uma vez, não cumpriu uma promessa. É chegada a hora de fazer uma campanha pública: #DesencarnaLula!

[Fim, provisório]

A frase da semana, alias de sempre: distinguir o bem do mal...

Cabe à imprensa, de fato, distinguir o bem do mal - e escolher entre um lado e outro.

Final do editorial desta quinta, 18/08/2011, do jornal O Estado de S.Paulo (que aliás, não é a melhor coisa que já li no Estadão), que transcrevo abaixo:

Dilma segue a Lei de Johnson
Editorial - O Estado de S.Paulo
18 de agosto de 2011

Quando vieram lhe pedir a cabeça do todo-poderoso chefe do FBI, J. Edgar Hoover, porque mandara espionar os líderes do movimento pelos direitos civis, sem respeitar nem o reverendo Martin Luther King, o presidente Lyndon Johnson, que governou os Estados Unidos de 1963 a 1969, rejeitou a ideia com um argumento que se tornaria um marco do pragmatismo político, quanto mais não fosse pela forma que o desbocado texano encontrou para se expressar. "É melhor ter o Hoover dentro da nossa tenda, urinando para fora", ensinou, "do que tê-lo fora, urinando para dentro".

A presidente Dilma Rousseff pode, ou não, conhecer a história - e decerto não usaria tais termos em circunstâncias similares. Mas, aconselhada pelo expoente do pragmatismo na política brasileira, o seu antecessor Lula da Silva, a presidente aplicou a Lei de Johnson para recompor as suas relações com os partidos aliados, a começar pelo mais forte deles, o PMDB do vice Michel Temer, com seus 80 senadores e 20 deputados. Reunida na segunda-feira à noite com a cúpula da sigla e a do PT - a "espinha dorsal do governo", como disse -, Dilma parecia o seu patrono.

Enquanto os convivas sorviam um alentador caldo verde, anunciou o descongelamento imediato de R$ 1 bilhão para as emendas parlamentares da base, prometeu evitar novos atritos, manifestou "confiança" no peemedebista Pedro Novais, titular da escrachada pasta do Turismo, e considerou nada menos do que "exemplar" a conduta do colega dele na Agricultura, Wagner Rossi, outro correligionário alcançado por denúncias de corrupção. (No dia seguinte, exsudando felicidade, ele desfilaria pela repartição com os braços erguidos e os punhos cerrados, repetindo, pateticamente: "Estou firme, estou firme". Em menos de 24 horas viu-se obrigado a deixar o governo.)

Não menos exultante, também por motivos pessoais, como não poderia deixar de ser, ficou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves, que vinha reclamando do frio na tenda dilmista. A reunião, entoou, representou um "novo marco". Pudera: a anfitriã chancelou o acordo pelo qual o PT ficou de ceder ao PMDB, ou seja, a Alves, a presidência da Casa em 2013. Era o que ele mais queria para se sentir reconfortado e pronto para fazer o equivalente ao que o americano Johnson queria que o indócil Hoover fizesse "para fora". E Dilma, que imaginara ingenuamente que bastaria um encontro daqueles por semestre, vai fazer um por mês - sem deixar de fora nenhuma legenda aliada.

Poderá, quem sabe, convidar até os senadores do PR que divergiram da decisão do seu presidente, o ex-ministro Alfredo Nascimento, de retirar o partido da coalizão, em represália à limpeza ética que o apeou e aos seus apaniguados dos Transportes. O capixaba Magno Malta, por exemplo, anunciou que não tem a menor intenção de sair da base. O seu irmão Maurício, a propósito, usufrui de uma boquinha no famigerado Dnit. Outro perrepista dissidente, o mineiro Clésio Andrade, tem um afilhado na superintendência local do órgão. A rigor, não havia motivo para ansiedade: o PR não pediu a ninguém que se demitisse; apenas que deixasse os cargos "à disposição".

O pano de fundo da conversão de Dilma ao pragmatismo lulista combina dois tons. Um é a ficha que enfim caiu: a base não pertence à presidente; é uma aquisição do seu mentor, cedida a ela em comodato e sujeita a panes se não for administrada como os seus membros foram acostumados a esperar. O outro tom são as circunstâncias: Dilma precisa de votos no Congresso não apenas para a "governabilidade", em abstrato, mas para aprovar medidas que poupariam o País do contágio da crise externa e derrubar aquelas que, no seu entender, tenham efeito oposto. Nessa conjuntura, a higiene johnsoniana na tenda é tida como crucial pela presidente.

Não se trata, portanto, daquela que seria propiciada pela dedetização dos inumeráveis focos de corrupção no seu interior. Talvez Dilma já não reaja a novas denúncias da imprensa como reagiu no caso dos Transportes. Segundo uma versão, no ágape com o esfaimado PMDB, ela teria considerado "sectarista" (sic) a cobertura dos escândalos. No sentido que conta, é mesmo. Cabe à imprensa, de fato, distinguir o bem do mal - e escolher entre um lado e outro.

O "espirito da epoca": Keynesianism for dummies...

Não, não quero dizer que todos os keynesianos são idiotas, tem alguns até inteligentes, que ganharam o Prêmio Nobel de Economia (Paul Krugman, Joseph Stiglitz), que escrevem para os jornais e encantam zilhões de alunos e professores all round the world.
Mas alguém precisaria dizer que o que parece ser uma virtude dos governos -- guiar a poupança individual de indivíduos precavidos para uma gastança compulsória para "manter o nível de demanda agregada capaz de estimular o emprego na economia" -- pode se revelar prejudicial a todos no médio e no longo prazo.
Eu até me pergunto como é que os keynesianos mais inteligentes (sim, também tem) ainda não perceberam que a crise atual, caracteristicamente marcada por um sobreendividamento dos governos, nos vai levar a um buraco muito maior no futuro próximo (como aliás já está ocorrendo na Europa, e em parte nos EUA)?
Este artigo de um economista sensato explica como isso se dá.
Boa leitura a todos.

O "Zeitgeist" Keynesiano
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, Segunda, 15 Agosto 2011

Os alemães utilizam o termo "Zeitgeist" para descrever o clima cultural, intelectual, ético ou político de um lugar em uma determinada época. Numa tradução livre, seria a mentalidade, o "espírito de uma época". Pois bem, nada poderia refletir melhor o "Zeitgeist" econômico atual do que a gangorra que tomou conta dos mercados ultimamente.

É notável como as bolsas de valores mundo afora sobem e descem ao sabor de opiniões e comunicados dos governos. Declarações intervencionistas do BCE, do FED, do FMI ou de quaisquer autoridades públicas propondo aumento de gastos, aquisição de títulos de governos falidos ou políticas voltadas para injetar liquidez provocam imediato otimismo, enquanto sugestões em contrário são o prenúncio de cataclismos nos mercados. Definitivamente, vivemos o apogeu do keynesianismo.

Embora seja muito difícil para qualquer pessoa de bom senso entender como é possível que aumentos absurdos de gastos públicos ou endividamentos constantes e progressivos possam ser sadios ou benéficos, o que se vê atualmente é o mais absoluto desprezo às virtudes da prudência e da parcimônia, tão caras aos economistas clássicos.

De acordo com a teoria keynesiana, as recessões são causadas pela retração "exagerada" do consumo.

Se a sociedade está poupando mais do que seria desejável, o consumo e as vendas caem, os lucros minguam e produzem desemprego. Aos poucos, isto se transformará num círculo vicioso que só o governo poderá romper.

A base da teoria, portanto, é que os indivíduos, ao poupar seus recursos "em excesso", prejudicam a economia como um todo. Chamam a isso de "Paradoxo da Parcimônia". Segundo sua estranha lógica, algo benéfico para indivíduos, famílias e empresas de modo geral, ou seja, a parcimônia e a prudência nos gastos e o aumento dos níveis de poupança, é ruim para a sociedade.

Em resumo, e utilizando as palavras de Mr. Paul Krugman, atual keynesiano-mor, "a virtude individual pode ser um vício público... tentativas de consumidores de fazer a coisa certa, através do aumento da poupança, pode deixar todos em pior situação".

Entendeu, caro leitor?

No fundo, no fundo, o que ele está nos dizendo é que poupar pode ser uma atitude antipatriótica. O raciocínio em tela coloca em posições antagônicas a poupança e o consumo, sendo o consumo a virtude, enquanto a poupança seria o vício (aliás, é bastante sintomático que muitos dos que hoje defendem tais enormidades, no passado não paravam de vomitar vitupérios contra a chamada "sociedade de consumo").

Tudo balela! Numa economia de mercado, os preços (inclusive o preço do dinheiro) ditam a produção e o consumo ao longo do tempo. Os consumidores sinalizam a intensidade de suas preferências presentes e futuras através do incremento ou da redução de suas poupanças, com isso elevando ou reduzindo as taxas de juros.

Se o consumidor se retrai e poupa mais no presente, está sinalizando que provavelmente irá consumir mais no futuro e vice-versa. O sistema irá funcionar razoavelmente, a menos que o governo intervenha, deturpando os sinais do mercado e distorcendo a alocação intertemporal dos recursos.

A poupança pode ser induzida também por incertezas quanto ao futuro, caso em que os indivíduos reduzem seus gastos presentes em bens de consumo supérfluos – produtos cuja demanda é mais elástica –, com medo de que os recursos possam faltar-lhes até mesmo para o consumo de bens essenciais no futuro. Isso geralmente ocorre em épocas de crise recessiva, quando os níveis de desemprego crescem e, junto com eles, o temor quase generalizado de que o nosso emprego possa ser o próximo.

É nesta última hipótese que os keynesianos advogam mais e mais intervenções do governo. Só há um probleminha aqui: as pessoas passaram a consumir menos porque havia uma recessão instalada ou à vista, logo não foi a poupança que causou a recessão. Pelo contrário, aquela é provavelmente consequência desta.

As recessões são, na verdade, o "remédio" utilizado pelo mercado para esvaziar as famigeradas bolhas, normalmente induzidas por políticas intervencionistas, como manipulação das taxas de juros, financiamentos subsidiados, incentivos fiscais direcionados a setores específicos, políticas industriais paridas para beneficiar grupos organizados etc.

A liquidação dos maus investimentos, negócios equivocados e ineficientes, geralmente cria desemprego e outras privações temporárias, até que a estrutura de produção volte a estar em linha com as reais preferências dos consumidores.

Durante os períodos recessivos, os gastos do governo e outras tentativas de fomentar o consumo de forma artificial só irão postergar o realinhamento entre a demanda real e os investimentos, já que esses gastos não são guiados pelos sinais do mercado. Pelo contrário, normalmente são ditados por considerações políticas e, ainda pior, por grupos de interesses bem articulados. Em longo prazo, portanto, como diria Bocage, a emenda sairá muito pior do que o soneto.

O autor é empresário e colunista do site www.midiaamais.com.br

Wikileaks Brasil-Peru-EUA: o triangulo pouco amoroso

'Revolution! South America and the Rise of the New Left'
Nikolas Kozloff
Huffington Post, August 15. 2011

WikiLeaks: U.S. and Brazil Vie for Power in Peru

In their correspondence with the State Department, U.S. diplomats in South America have been exceptionally paranoid about the activities of Hugo Chávez and the possibility of a leftist regional alignment centered upon Venezuela. That, at least, is the unmistakable impression that one is left with by reading U.S. cables recently disclosed by whistle-blowing outfit WikiLeaks, and it's a topic about which I have written widely in recent months. Yet, with President Hugo Chávez's health now fading fast and Venezuela looking like a rather spent force politically, it would seem natural that Washington will eventually turn its sights upon other rising powers -- countries like Brazil, for instance.
Judging from WikiLeaks cables, the U.S. doesn't have much to fear from this South American juggernaut in an ideological sense, and indeed leftist diplomats within Brazil's Ministry of Foreign Affairs are regarded as outmoded and anachronistic relics of the past. Nevertheless, Brazil is a rising player in the region and U.S. diplomats are keenly aware of this fact. For the time being, Brazil and the United States maintain a cordial, if not exactly stellar diplomatic relationship. As Venezuela fades and Washington struggles to maintain its crumbling hegemony in the wider region, however, Brazil and the U.S. will inevitably develop rivalries.
This geopolitical competition has fallen somewhat under the radar, but a close reading of WikiLeaks cables lays bare Washington's secret agenda. As far back as 2005 American ambassador to Lima Curtis Struble wrote that the U.S. was enmeshed in an "undeclared contest" with Brazil for political influence in Peru. "We are winning on most issues that count," Struble added, remarking that negotiations over a U.S.-Peru free trade deal had remained positive. However, the ambassador noted ominously, "the government of Brazil is still very much in the game" and had met with some success in pushing for the so-called South American Community of Nations or UNASUR which would diminish U.S. influence.

Run-Up to 2006 Election
Further cables indicate that the Brazilian administration of Luiz Inácio "Lula" da Silva pursued narrow-minded self interest in order to advance Machiavellian geopolitical and economic goals. In the run-up to the Peruvian presidential election in 2006, Brazilian foreign policy advisor Marco Aurelio García visited Peru where he met with members of the Alejandro Toledo administration. During his discussions, García sought to spearhead moves to establish the South American Community of Nations in the face of internal difficulties.
Chief amongst those "difficulties" was none other than Hugo Chávez, a regional rival. In order for the South American Community of Nations to progress, its two constituent parts, namely trading blocs Mercosur and Andean Community, would have to be "stabilized." According to García, however, the Andean Community was in "crisis" due to Chávez's "antics." Speaking to the Peruvians, García recommended that the Toledo government simply "ignore his [Chávez's] diatribes" [privately, the Brazilian added, Lula had helped to "rein in" the Venezuelan leader].
Meanwhile, García opposed Chávez's so-called Bank of the South, an institution designed to counter large financial entities like the International Monetary Fund and World Bank. According to a WikiLeaks cable, the Peruvians agreed that Bank of the South would not be suitable for the new South American Community of Nations. Like García, Toledo officials saw the more conservative Andean Development Fund as a more appropriate mechanism to enhance regional integration.

Handling Humala
García also met with nationalist presidential candidate Ollanta Humala, a kind of Chávez protégé. During the campaign, the Venezuelan leader had provocatively backed Humala while attacking the candidate's chief opponents. At campaign events, Humala had taken a leaf from his political mentor by sporting red T-shirts, calling himself "comandante" and boasting of plans to assert greater state control over energy resources.
None too pleased by Humala's tilt toward Venezuela, García reportedly told the candidate that Brazil disapproved of Chávez's actions which promoted "intranquility" in the region. Moreover, the diplomat remarked that he did not agree with Chávez's notion of countries belonging to different "axes" of powers. García added that he was very concerned about social, political and economic tensions in the Andean region and Brazil was intent on playing a larger stabilizing role.
The meeting took place at Humala's own house and the candidate's wife, Nadine Heredia, took great pains to graciously entertain the Brazilians [perhaps Heredia wanted to reassure her guests in light of her own reported links to Venezuela]. Humala meanwhile "was very polite, upright and not at all a firebrand." The candidate added that he wanted Peru to peacefully co-exist with both the U.S. and Brazil.

A More Assertive Brazil
In the event, Humala must have surely regretted his political associations with Chávez. During the campaign, the Peruvian was widely criticized for his ties to Venezuela, and the connection may have even cost him the election. The man who edged out Humala, former president Alan García, had a previous incarnation as a fiery nationalist. However, García was extremely critical of Chávez during the campaign and as he succeeded to the presidency the veteran politician went out of his way to court Brazil.
According to WikiLeaks cables, Brazil viewed the election as a necessary corrective which would help to restore "regional equilibrium" and to curb Chávez's increased geopolitical profile. In the wake of the contest, Lula met personally with García in Brasilia in what insiders termed a "love-fest." Though both leaders had political origins on the left, García and Lula had long since jettisoned such ideals in pursuit of their respective careers.
Perhaps, Lula sensed that Chávez's star had waned and that it was now time for Brazil to press its own strategic advantage. The Brazilian president stressed the need for greater physical integration between Peru and Brazil, including the dreaded Inter-Oceanic Highway which stood to exacerbate deforestation in the Amazon (for more on this, see my book No Rain in the Amazon: How South America's Climate Change Affects the Entire Planet). The project, which is being carried out by Brazilian construction giant Odebrecht, will ship Brazilian exports to China via Peruvian ports.
Lula also spoke of the need for a regional, military, and political alliance between Peru and Brazil. Lest García get the wrong idea about Brazilian intentions, Lula stressed that his country did not seek regional "hegemony" but merely wanted to transform South America into "a global actor on a par with China and India." Responding to Lula, García candidly admitted that he preferred Brazilian regional hegemony to that of the United States. Peru, the new president added, would surely be interested in forming joint ventures with Brazil and benefiting from Brazilian technological know-how.
Judging from other cables, García sought to extend cooperation in yet other areas. In 2009, U.S. diplomats reported that Lima was interested in purchasing a dozen Super Tucano combat support aircraft manufactured by Brazilian aerospace giant Embraer. Details of the deal were discussed during a Lula visit to Lima, "with a large commercial delegation in tow." The Peruvians may have been prompted to turn to Brazil out of pure frustration with the United States. According to leaked documents, the García government was dissatisfied with the "slow and complicated U.S. defense procurement process and high price tags for U.S. equipment."

Humala Act II
Perhaps recognizing that Chávez's star was on the wane, Humala saw fit to remake himself politically by cultivating greater ties to Brazil. Reporting on Peru's recent presidential election, the New York Times remarked, "in a transformation this year that points to the eclipse of Venezuela by Brazil, Mr. Humala has swapped the red shirts for dark suits, explicitly rejected talk of seizing private companies and celebrated Brazil's market-oriented economic model, while distancing himself from Venezuela's president, Hugo Chávez." In addition, Humala even hired campaign advisers tied to Lula's Workers' Party and paid a whopping four visits to Brazil.
Then, Humala went out of his way to praise Brazilian companies invested in Peru's mines, steel industry and hydroelectric projects, adding that the new boondoggle Interoceanic Highway connecting western Brazil to Peru's Pacific coast was a landmark achievement. Toning down the rhetoric, Humala started to refer to himself simply as Ollanta instead of "comandante." Perhaps, the more moderate image helped Humala, who edged out conservative challenger Keiko Fujimori. As soon as he was elected president, Humala flew to Brazil and met with Lula protégé Dilma Rousseff. It was Humala's first official trip abroad in his new office and sent a clear sign of Peru's geopolitical priorities moving forward.

Vying for Power in Peru
Though Humala continues to forge a partnership with the United States, Brazil could overtake Washington in the Andes. To be sure, Peru has an important free trade agreement with the U.S. and both countries collaborate on combating drug trafficking. However, Humala sees Peru as a crucial Pacific gateway and strategic link between the two mammoth economies of Brazil and China. For years, Brazil and Peru ignored each other diplomatically but now trade has mushroomed into the billions of dollars.
A voracious energy consumer, Brazil is keen on building hydroelectric projects in Peru which would allow the South American juggernaut to stop importing diesel fuel and produce electrical power instead. A proposed 600 mile natural gas pipeline meanwhile is due to connect Peru's Camisea field with a petrochemical plant proposed by Odebrecht. Additional firms are operating port concessions and even steel operations. The owner of Brazilian company Gerdau, which acquired Peru's largest steel plant, is a friend to both Lula and Rousseff. What is more, an additional Brazilian operation has purchased Peru's largest metal refinery, Cajarmarquilla, which produces indium, a material used to manufacture flat-screen televisions and computer monitors.
In time, might Peruvian nationalists turn against Brazil? The more Brazil inserts its tentacles into the Andean region, the greater the risk that the South American giant will ruffle feathers and local sensibilities. Already, one hydro-electric project has led to major opposition and some fear that Humala might favor the Brazilians excessively as 80 percent of the operation's 2,000 megawatt output would be allocated to its giant South American neighbor.
Moreover, Brazil hardly has a sterling record when it comes to hydro-electric power (for more on this, recall the controversy swirling around Hollywood director James Cameron), and one proposed Peruvian dam on the Inambari River would flood 158 square miles of rain forest, displacing some 7,000 people in the process. Old foreign policy hand Marco Aurelio García, who now serves as Rousseff's top foreign policy adviser, and who had earlier warned Humala about cozying up too much to Chávez, has declared that the project is "very important" for Brazil. Humala meanwhile says that locals' needs will be respected when it comes to deciding whether to move ahead with the project. That is, for the time being.

Christ Statue of Lima
Overlooking the Pacific cliffs of Lima hangs a potent symbol of Brazil's rise on the world stage: a towering statue of Jesus which at first glance looks remarkably similar to Rio de Janeiro's Christ the Redeemer, a famous icon lying on the Atlantic side of the continent. The statue, which rises 118 feet into the air, was sculpted in Brazil at a cost of $1 million and the cost was footed almost entirely by Brazilian construction conglomerate Odebrecht.
The "Christ of the Pacific" statue was erected even before Humala came into power by outgoing president Alan García, and there was no public consultation surrounding its construction. For Lima Mayor Susana Villarán, the donated Christ statute is a tasteless eyesore, while Humala has diplomatically remarked that the structure "would improve the Lima panorama." Odebrecht told the Associated Press defensively that it funded the statue because it "contributes to the diffusion of artistic expression" wherever it does business and because the statue could promote tourism for the poor who live in the vicinity.
In a tweet, Peruvian playwright César de María exclaimed, "I have nightmares in which I see that Peru's president is Odebrecht and all we do every five years is elect its representative." Speaking to Caretas magazine, outgoing Brazilian ambassador to Peru Jorge Taunay remarked "there is not the least risk of Peru becoming a satellite. It's not in Brazil's nature." Others, including Guillermo Vásquez, a retired professor at Peru's Center for Advanced National Studies, is alarmed by Brazil's presence but is resigned to his country's fate. "Brazil is coming," he told the Associated Press. "What are we going to do about it?"

Nikolas Kozloff is the author of Revolution! South America and the Rise of the New Left and No Rain in the Amazon: How South America's Climate Affects the Entire Planet. Visit his website, www.nikolaskozloff.com

Ouro vai escassear na Venezuela (aliás vai desaparecer...): Chavez nacionaliza o ouro

O primeiro título é meu; o segundo da imprensa.
Poderia ser também algo assim:

Ouro: de "relíquia bárbara" a relíquia dos bárbaros (com licença de, e perdão a, Keynes)

Bem, a última nacionalização-estatização de Chávez foi o da água mineral, um produto estratégico, como todos sabem. Assim como o petróleo, aliás, um produto tão estratégico quanto amaldiçoado, pois deforma completamente a economia da Venezuela. Não deforma todas as economias, claro (vide os casos da Grã-Bretanha e da Noruega), mas especialmente aquelas mal geridas, corruptas, cleptocráticas, enfim, petroditaduras.
Governos responsáveis podem gerir o petróleo em benefício do país. Governos rentistas, corruptos, demagógicos e populistas transformam o petróleo num monstro devorador de todos os recursos vivos da nação. Acresce-se a não existência de um orçamento digno desse nome e de procedimentos arbitrários de execução das despesas públicas do Estado.
Depois de ter destruído a economia do país, com o seu "socialismo do século XXI" (na verdade, do século XVIII, seria mais exato), e de não conseguir sobreviver sem um petróleo a menos de 80 dólares o barril (o da Venezuela deve estar rodando em torno de 50 dólares), o governo venezuelano (bem, não tenho certeza de que existe governo, creio que só existe o caudilho, que decide soberana e arbitrariamente sobre qualquer coisa) se prepara agora para viver um pouco das rendas do ouro, cujos preços subiram extraordinariamente, à raiz do recrudescimento da crise financeira internacional (para ser mais exato, americana e europeia).
Creio que será, como nos outros caso, um surto de renda, seguido de aumento da corrupção, esgotamento da produção, dívidas acumuladas, mais problemas, enfim.
Aí temos o nosso "Midas ao contrário", transformando em m.... tudo o que toca...
Paulo Roberto de Almeida

Venezuela: Chávez nacionalizará el oro y saca las reservas internacionales de EE.UU. y Europa
Infolatam/Reuters/Efe
Caracas, 17 de agosto de 2011

Las claves
Chávez: "vamos a nacionalizar el oro y vamos a convertirlo, entre otras cosas, en reservas internacionales porque el oro sigue incrementando su valor".

El presidente Hugo Chávez, confirmó que sacará las reservas internacionales en oro de Estados Unidos y Europa para ponerlas en economías “sólidas” como China, Rusia y Brasil, además de anunciar que nacionalizará el oro para convertirlo en fondos nacionales.

El mandatario explicó que sacar el oro “del norte” es una medida “sana”, tomando en cuenta la crisis económica que azota a Estados Unidos y Europa y que naciones “aliadas” como China, Rusia y Brasil están sólidas, dando por cierto lo dicho por diputados opositores que ayer indicaron que habría una movilización de las reservas.

Chávez irrumpió telefónicamente en una rueda de prensa que ofrecieron el ministro de Finanzas, Jorge Giordani, y el presidente del Banco Central de Venezuela (BCV), Nelson Merentes, a quienes les pidió que ofrecieran toda la información relativa al traspaso de reservas.

Indicó, además, que el total de oro venezolano en el exterior llega a 11.000 millones de dólares, y que la mayor parte fue enviado en los años 80 aunque también durante su mandato “se ha colocado algo” en un banco de Inglaterra.

Dijo que Venezuela tiene 99,21 toneladas de oro en bancos de Inglaterra, lo que equivale, con una onza a 1.800 dólares, a 4.595 millones de dólares.

“En Estados Unidos tenemos 800 millones de dólares en oro (…); en Toronto (Canadá) tenemos 381 millones de dólares desde 1992, y desde 2004 en un banco de Francia tres toneladas de oro, 184 millones de dólares”, informó Chávez.

El presidente del BCV, explicó que el oro que está en el exterior será traído a Venezuela “progresivamente” pues se trata de barras físicas del mineral “que son las que se llevaron en aquel entonces” y hay que “verificar que son las mismas”.

Nacionalización del oro
“Vamos a nacionalizar el oro y vamos a convertirlo, entre otras cosas, en reservas internacionales”, aseguró Chávez más temprano en una comunicación telefónica transmitida durante un acto militar de entrega de 324 misiles y 25 tanques adquiridos a Rusia.

Chávez aprobará la reglamentación sobre la nacionalización del mineral en el marco de la llamada Ley Habilitante que le fue otorgada en diciembre pasado y que le permite legislar sin el consentimiento del Parlamento.

El mandatario dijo que gracias a esta ley será el Estado quien tendrá el control de la exploración, explotación del oro y todas las actividades conexas que se realizan para tomar control de una zona en la que todavía persisten mafias que extraen las riquezas y se las llevan del país.

En mayo pasado Chávez afirmó que la producción nacional de oro bordea en la actualidad las 11 toneladas anuales y que una cifra similar sale de contrabando hacia otros países.

Detalló que en la zona del arco minero de Guayana, en el estado del mismo nombre (sureste) se encuentran, además, yacimientos de piedras preciosas, bauxita y hierro.

La economía venezolana se recupera de una recesión de casi dos años, pero la inflación sigue siendo la más alta del continente y Chávez necesita fuertes sumas de dinero para costear su campaña a las presidenciales del 2012 donde tentará un nuevo mandato.

Empresas en vilo
La mayor exportadora de oro que opera en Venezuela es la ruso-canadiense Rusoro, que ha manifestado su descontento con la legislación local que limita sus exportaciones auríferas, a pesar de que el Gobierno aseguró que no modificará la norma.

Fuentes de la firma que cotiza en la Bolsa de Toronto dijeron a Reuters que en los próximos días emitirán un comunicado comentando la decisión de Chávez.

El Grupo Agapov, accionista mayoritario de Rusoro, está presente en Venezuela a través de diversas empresas mineras con participación estatal.

Venezuela tiene grandes yacimientos de oro sin explotar en el sureste del país y la zona es rica, además, en otros minerales como hierro, bauxita y diamantes.

Uno de los mayores yacimientos sin explotar son Brisas y Las Cristinas, con unas 30 millones de onzas de reservas estimadas, donde tenían contratos las canadienses Gold Reserve y Crystallex hasta que fueron echadas del país.

La producción estatal de oro en Venezuela se redujo en un 57 por ciento en el 2010 a 1,8 toneladas desde las 4,2 toneladas del 2009.

Constantes problemas laborales y desinversión han hecho que las denominadas “empresas básicas”, incluidas en la Corporación Venezolana de Guayana (CVG), produzcan por debajo de su capacidad instalada y presenten constantes paradas.

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¿Qué pasa con las reservas internacionales en Venezuela?
El análisis Asdrubal Oliveros

(Especial para Infolatam).- “…Hoy podemos decir, sin temor a equivocarnos, que no solo somos vulnerables a los precios petroleros, sino también a los vaivenes en el precio del oro. Incluso, es claro que la revalorización de este metal en los últimos meses ha permitido amortiguar la caída de las reservas internacionales e inflar las utilidades cambiarias y de operación del BCV por entregar al Fisco.”

A propósito del supuesto traspaso de reservas: ¿Qué pasa con las reservas internacionales en Venezuela?

En Venezuela, acostumbrados al escándalo, se han encendido nuevamente las alarmas ante la supuesta intención del Ejecutivo Nacional y el BCV de trasladar las reservas internacionales operativas a países “amigos” como China, Rusia y Brasil y el traslado al país del oro.

En lo que va de año, las reservas internacionales han descendido más de US$1.500 millones, a pesar de que en el mismo período los precios petroleros han aumentado más de 12%. Esto ha generado preocupación en diferentes ámbitos, tanto locales como extranjeros. Ahora, también tendremos que preocuparnos por los que manejan nuestros recursos externos.

Desde 2004 el actual Gobierno ha hablado sobre el concepto de reservas óptimas. Para los funcionarios del Gobierno de aquella época, el argumento era que se puede hablar de reservas en términos excedentarios, de cualquier stock o de cualquier flujo, siempre y cuando podamos hablar también de un nivel óptimo. En la medida en que se hable de un nivel óptimo, se puede definir un concepto de déficit y de excedente en cualquier categoría económica.

De esta manera, y con cambios legales a lo largo de estos años, el Ejecutivo se ha apropiado de una cantidad significativa de divisas que, en el marco legal anterior, hubiesen ido a parar a las reservas internacionales. Lo que está implícito, en esencia, es: las reservas internacionales se fijan en un nivel que permita al Ejecutivo atender principalmente los compromisos de importaciones y pago de servicio de deuda pública. El resto entra en una estructura paralela de gasto manejada discrecionalmente por el Ejecutivo Nacional.

Así, entre 1998-2004, Pdvsa entregó al BCV un promedio trimestral de 74,0% de sus divisas por exportaciones. Luego, entre 2004-2010 el promedio se ubica en 54,0%, lo cual indica el cambio legal y de paradigma.

En lo que va de año, las reservas internacionales no han subido. Esto es particularmente resaltante dado el incremento de los precios petroleros. Peor aún, las reservas han caído.

Más allá de esto, yace un problema de fondo: el 95% de nuestras divisas las aporta Pdvsa y la industria petrolera viene atravesando serios problemas de operatividad. Es decir, no solamente Pdvsa entrega menos divisas porque se queda con una proporción importante de ellas, sino también porque hay problemas en la producción de crudo.

En Ecoanalítica opinamos que las reservas internacionales no subirán de forma significativa. Cada dólar que entra al BCV, entra en el ciclo de lo que pudiésemos llamar la estructura formal presupuestaria, con todas las rigideces que esto implica para un Gobierno del estilo del presidente Chávez. La tentación de manejar las divisas con total discrecionalidad en los fondos paralelos (especialmente el Fonden) es muy grande, y más a las puertas de una campaña electoral. Por esa forma, este Gobierno solo traspasará al BCV las divisas necesarias para abastecer Cadivi y pagar el servicio de la deuda. El resto será manejado por fuera.

Ahora, dado que el Ejecutivo busca traspasar las reservas líquidas y el oro, según denuncia un diputado opositor en Venezuela es conveniente tener presente que la gestión de reservas por parte del Banco Central conlleva una diversidad de riesgos operativos y financieros. De esta forma deben establecerse parámetros para:

Mantener la diversificación de riesgos y condiciones de liquidez
Manejar el riesgo cambiario y una “óptima” combinación de monedas con límites claros y aceptables.
Disponer de requisitos de duración que limiten el riesgo de tasas de interés y precios de mercado.
La literatura económica moderna ha evolucionado respecto al llamado nivel “óptimo” de reservas desde la función de mantener un fondo de precaución para reducir la vulnerabilidad externa hacia una relación con el régimen cambiario y los movimientos de capital. En Venezuela tenemos que agregar nuestra naturaleza de economía petrolera.

Para una economía como la venezolana, el indicador de cobertura (el equivalente de las reservas internacionales en meses de importaciones) es importante. El mismo ha pasado de 16,3 meses de importaciones en 2004 a 9,7 en 2010. Como puede verse, el deterioro es evidente. Si bien no existe acuerdo en la literatura ni entre economistas sobre cuál es el nivel óptimo de este índice, para Ecoanalítica debería ubicarse entre 18 y 24 meses de importaciones. Hoy estamos lejos de eso.

En el año 2004, el entonces ministro de Finanzas, Tobías Nóbrega, señalaba, con respecto a las reservas internacionales, que en el mediano o largo plazo se debía generar una rentabilidad razonable de los fondos invertidos. Esto incluso ha sido un punto de honor para el actual presidente del BCV, quien ha afirmado que las reservas deben invertirse en instrumentos que den rendimientos significativos; por supuesto, los mismos estarían asociados a un nivel mayor de riesgo.

Hoy día, y según el citado Punto de Cuenta, la mayor proporción de las reservas están en oro (62,9%) y apenas 21,6% en reservas operativas. Al cierre de 2004 está proporción se distribuía de la siguiente manera: títulos valores 71,0%, divisas 5,0%, oro 22,00% y otros instrumentos 2,0%. Mientras que en 2009 se ubicaba así: títulos valores 48,0%, divisas 3,0%, oro 38,0% y 11,0% en otros instrumentos. El cambio es sustancial.

Aunque el oro ha tenido un desempeño favorable desde hace un tiempo, nos parece extremadamente alta la proporción de reservas internacionales que el BCV mantiene en este metal. Hoy podemos decir, sin temor a equivocarnos, que no solo somos vulnerables a los precios petroleros, sino también a los vaivenes en el precio del oro. Incluso, es claro que la revalorización de este metal en los últimos meses ha permitido amortiguar la caída de las reservas internacionales e inflar las utilidades cambiarias y de operación del BCV por entregar al Fisco.
La prudencia hace que los países tiendan a acumular niveles adecuados de reservas internacionales de acuerdo con su estructura; y esos niveles se determinan según la experiencia que esos mismos países hayan tenido. En Venezuela es relevante dada nuestra dependencia petrolera, que se ha exacerbado, y un historial significativo de episodios de crisis.

El funcionamiento normal de la economía venezolana requiere altos niveles de reservas internacionales debido a que somos una economía pequeña, poco diversificada y dependiente del más volátil de todos los commodities; además, las cuentas de capital y financiera de la balanza de pagos son muy inestables con una marcada dicotomía entre la cuenta corriente del sector público, que es superavitaria, y la del sector privado, que es deficitaria.

Para cerrar, estas fueron parte de las palabras de Tobías Nóbrega en una sesión especial de la Asamblea Nacional en 2004 respecto a este tema:

""Alcanzar ese nivel óptimo de reservas no significa, como se ha pretendido trivializar a través del debate politizado y manipulado de los medios, echarle mano a las reservas que custodia el BCV. Se trata de crear los mecanismos institucionales y legales para que no se generen mayores perturbaciones monetarias y reales… “

Imprensa 7 x Governo 0; calma, calma, so quero saber quem sera o proximo...

Não, ainda não tenho o nome do sétimo personagem do governo a ser demitido pela imprensa, depois que o governo várias vezes declarou "total confiança" no dito personagem, para logo depois aceitar sua "demissão" a contragosto e disfarçadamente. Patética situação, em todos os casos, pois mesmo no caso do ministro que escolheu ser "demitido", ele o fez (e buscou ativamente) que o processo fosse feito através da imprensa. A imprensa fica, portanto com seis pontos a zero contra o governo. No infográfico abaixo, do Estadão, está faltando o nome do vice-ministro (SG) da Agricultura, que já tinha sido "demitido" pela imprensa, e que neste caso equivale por um ministro. Sim, também tem o caso do vice-ministro do Turismo, que se "demitiu" depois de ser preso pela Polícia Federal (sim, devemos dar um ponto à PF, contra o seu próprio governo, no que ela tem meus cumprimentos).
Bem, vamos agora esperar o sétimo personagem. Aposto como vem em menos de um mês. Vale um livro?
(Bem, eu ja sei quem é, mas vou deixar a "surpresa" para a imprensa, que merece mais um ponto.)
Paulo Roberto de Almeida

Wagner Rossi (PMDB-SP) entregou carta de demissão e se disse vítima de um 'complô político'
Na carta, ministro disse que 'a imprensa solenemente ignorou' suas explicações para as denúncias
João Domingos, de O Estado de S.Paulo, e Célia Froufe, da Agência Estado
17 de agosto de 2011 | 19h 26

Após demissão de Rossi, Temer indica Mendes Ribeiro para Agricultura

BRASÍLIA - Pressionado por denúncias de corrupção, tráfico de influência e desvio ético, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB-SP), pediu demissão na noite desta quarta-feira, 17. Na carta que entregou à presidente Dilma Rousseff, o peemedebista alega ser vítima de um complô político cujo objetivo seria atingir a aliança PMDB-PT, sobretudo em São Paulo. Para não mexer no loteamento da Esplanada, Dilma delegou ao PMDB a escolha do substituto. Ainda na noite de quarta, o vice-presidente Michel Temer sugeriu o nome do líder do governo no Congresso, deputado Mendes Ribeiro (RS), para o cargo.

Na carta de demissão entregue à presidente Dilma Rousseff, Rossi diz que nos últimos 30 dias tem enfrentado diariamente "uma saraivada de acusações falsas", acrescentando que, até o momento, não houve provas. "Nenhuma delas indicando um só ato meu que pudesse ser acoimado de ilegal ou impróprio no trato com a coisa pública". O ministro diz ainda que respondeu a cada acusação, com documentos comprobatórios "que a imprensa solenemente ignorou". "Mesmo rebatida cabalmente, cada acusação era repetida nas notícias dos dias seguintes como se fossem verdades comprovadas", afirma o ministro na nota.

Ele atribuiu as acusações a uma tentativa de "destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo, onde já perceberam não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seus desígnios". Depois, Rossi diz que deixa o governo agradecendo a confiança de Dilma, Temer e o ex-presidente Lula.

Veja também:
Rossi é o quarto ministro a deixar o governo Dilma em oito meses
Ministro da Agricultura fez viagens particulares em jatinho de US$ 7 mi
Saída de Rossi não deve esgotar apuração, diz tucano
PF vai investigar relação de Rossi com lobista e propina na Agricultura

Debate sobre politica industrial - artigos de Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli

Artigos que trazem um pouco de luz ao pífio (e medíocre) debate (se o nome se aplica) político-econômico sobre a propalada desindustrialização brasileira, sobre a trajetória recente da participação da indústria na formação do PIB e sobre suas consequências estruturais ou sistêmicas para a economia brasileira, para seu desenvolvimento econômico e social e para o futuro da nação.
Paulo Roberto de Almeida

Crescimento com ou sem exclusão
Pedro Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico – 22 de julho de 2011

Há por parte de alguns economistas e políticos de esquerda uma nostalgia dos anos dourados do crescimento brasileiro, que iria do pós-guerra até o fim dos anos 70. O crescimento acelerado nestes anos leva muitos a separarem as escolhas econômicas do ambiente político e do quadro social, e olhar como altamente positivo o resultado final das políticas nacional-desenvolvimentistas. Diferentemente do ocorrido naqueles anos, o crescimento atual se dá em regime democrático e com melhoria da distribuição de renda.
A persistência da atual retomada, entretanto, exige um diagnóstico racional dos erros e acertos do passado, para que não se cometam no presente os erros que podem levar a frustrações no futuro.
Entre 1950 e 1979, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a mais de 7% ao ano, ou 4,4% em termos per capita. No período, a renda média do brasileiro aumentou três vezes e meia. A base produtiva diversificou-se de forma expressiva permitindo que uma nação que antes da guerra tinha mais de 60% de sua mão de obra no campo, chegasse em 1980 com metade dessa figura e produzindo os mais diversos tipos de produtos industriais.
Esse o lado bom: crescemos muito. Para atingirmos isso, além de um cenário internacional altamente favorável, contamos com uma série de agressivas políticas econômicas. Entre elas a substituição de importações, que se iniciou com bens de consumos duráveis, mas nos anos 70 se estendeu para bens de capital e intermediários. Além disso, houve uma participação decidida do estado na economia, com produção direta em setores considerados estratégicos, gigantescos investimentos em infraestrutura e financiamento subsidiado ao investimento privado.
Fim da inflação, educação e políticas sociais agressivas explicam grande parte das melhorias sociais
Essa estratégia de crescimento ignorou ou deu baixíssima prioridade à educação. Suas políticas sociais eram quase inexistente e por falta de foco não atingiam os pobres. Esse o lado ruim do Nacional Desenvolvimentismo: os benefícios do alto crescimento não chegaram ao grosso da população brasileira. Em 1970, 33% dos adultos brasileiros não sabiam ler (54% no Nordeste!) e a média de escolaridade da população adulta era de 2,4 anos de estudo, sendo que em 13 estados essa média não passava de dois anos. O percentual de pobres na população era de 67%, isto é, dois em três brasileiros. A mortalidade infantil no Nordeste era de 180 mortos por mil nascidos, quando a média na América do Sul era menos da metade dessa cifra e nos Estados Unidos exatamente um décimo.
O lado ruim não fica por aí. Segundo dados do Centro de Políticas Sociais da FGV, entre 1960 e 1970, a renda dos 5% mais ricos aumentou 75%, mas a da metade mais pobre somente 15%. A desigualdade de renda que já era alta experimentou no período sua maior deterioração decenal em todos os tempos.
Hoje já está bem estabelecido que fatores ligados à educação são os principais determinantes da pobreza e da distribuição de renda. Assim, por trás desse trágico quadro de exclusão e miséria observado durante o período Nacional-Desenvolvimentista estão as escolhas de política econômica, que basicamente privilegiaram o investimento em capital físico e ignoraram o capital humano, a educação e políticas compensatórias.
O reconhecimento da ligação entre nossa pobreza e as políticas de crescimento "estruturalistas" do passado seria fundamental para ordenar o debate atual sobre nossas escolhas de política econômica. Ao separar um assunto do outro - como se indicadores sociais tivessem vida independente e não fossem influenciados pela economia - economistas dessa corrente, muito deles em posições chaves no atual governo, defendem ou implementam políticas semelhantes àquelas do passado sem atentar para o caráter altamente regressivo e conservador das mesmas.
O Brasil vive nos últimos 15 anos um período único de crescimento com redução de pobreza. É verdade que o crescimento está abaixo do observado entre 1950 e 1980, mas ainda assim acima da média histórica dos países ricos: nos últimos 16 anos crescemos a 2,7% ao ano em termos per capita e quase 3% durante o governo Lula. Ao mesmo tempo, as medidas de desigualdade nunca estiveram tão baixas e a pobreza vem caindo aceleradamente, cerca de 68% desde o Plano Real e 16% somente em 2010. Embora ainda não haja consenso sobre as causas da queda da pobreza, parece certo que o fim da inflação, o aumento da educação e políticas sociais agressivas explicam grande parte das melhorias sociais.
Esse quadro deveria ser o nirvana dos economistas desenvolvimentistas e de esquerda. Entretanto, em sua grande maioria teimam em defender políticas concentradoras de renda ou repetir um mantra estruturalista altamente excludente, que é reproduzido por alguns desavisados e por muitos interessados. Como por exemplo, a desvalorização cambial a qualquer custo e subsídios ao investimento do grande capital para a formação de grandes grupos nacionais. Seria mais sensato que defendessem políticas realmente progressivas, como educação de mais qualidade, saneamento universal e fim dos subsídios, de forma que o benefício do crescimento atingisse ainda mais os pobres.

Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas.
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O fantasma dos anos cinquenta
Pedro Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico – 30/05/2011

Neste momento em que a indústria brasileira passa por mares revoltos devido à crescente valorização cambial, mais do que nunca seria oportuno uma reflexão sobre a estratégia nacional de apoio à industrialização. Entre a década de 1950 e o início da década de 1990, o país experimentou de tudo em matéria de proteção à indústria: barreiras tarifárias, taxas de câmbio múltiplas, lei de similaridade nacional, reserva de mercado no setor de informática, crédito subsidiado, além da ação direta do Estado em setores intensivos em capitais ditos "estratégicos".
A teoria que fundamentou a política industrial brasileira foi desenvolvida na década de 1950. Ela baseava-se na premissa de que, a longo prazo, os preços internacionais dos produtos primários estavam fadados a uma inexorável desvalorização em relação aos dos industrializados. Segundo a teoria, os países industrializados aprimoravam continuamente suas técnicas de produção, o mesmo não acontecendo nos países subdesenvolvidos que produziam produtos primários. Assim, enquanto o aumento da produtividade sancionava elevação dos salários nos países industrializados, a estagnação tecnológica aliada ao acelerado crescimento populacional forçava a queda de salários nos países produtores de bens primários. Países com pouco capital e mão de obra não especializada, ao permanecerem exportadores de bens primários, estariam condenados ao subdesenvolvimento. O problema era agravado pelo fato de Europa, Japão e EUA protegerem seus setores agrícolas.
Não é mais sensato investir na produção daquilo que outros países não podem fazer por insuficiência de dotações?
A premissa da desvalorização dos preços dos bens primários em relação aos bens industriais não encontra suporte empírico no mundo atual. Após abandonarem as fracassadas experiências socialistas e as estratégias de desenvolvimento autárquico, países da Europa Oriental, China e Índia se juntaram decididamente às economias de mercado. Junto com eles, trouxeram uma gigantesca oferta de mão de obra que antes vivia na agricultura de subsistência. Essa transformação teve dois impactos gigantescos sobre os mercados de produtos industriais e primários. O primeiro é que os milhões de trabalhadores que abandonaram a agricultura se direcionaram para a indústria dispostos a trabalhar por salários baixíssimos; o segundo é que essa imensa população passou a importar os bens agrícolas que, bem ou mal, antes produzia em regime de subsistência.
Como se trata de populações imensas, suas ações alteraram significativamente os preços internacionais. O resultado são preços internacionais de bens industriais declinantes, acompanhados de preços de bens primários crescentes. Exatamente o oposto do que diziam as teorias da década de 1950. O problema é agravado pela alta taxa de poupança nesses países que lhes permite manter uma taxa real de câmbio desvalorizada, sem grandes pressões inflacionárias.
Também a hipótese de estagnação da tecnologia de produção de bens primários não encontra suporte na atualidade. Na agricultura, a revolução produtiva gerada pelas pesquisas da Embrapa fala por si só. Na extração de recursos naturais, a evolução tecnológica permite a extração de petróleo e outros minerais a profundidades inconcebíveis há apenas uma década.
Foi-se o tempo em que o que tinha valor era necessariamente produzido na indústria. No pragmático mundo do pós Guerra Fria, qualquer país com macroeconomia estável, mão de obra barata em relação a sua qualificação e direitos de propriedade razoavelmente confiáveis atrai indústrias de média tecnologia. Esse tipo de indústria gera empregos locais, mas não embute gordas margens. Por exemplo: o valor adicionado domesticamente às exportações de computadores chineses é menos que 5% do valor adicionado total. Por exigência da competição nos mercados internacionais, os salários pagos nesse tipo de indústria tendem a se igualar aos baixos salários recebidos por chineses.
Após meio século de política industrial, com sucessos em poucas áreas e fracassos em muitas outras, o Brasil encontra-se diante de um novo paradigma que parece não ter sido corretamente compreendido pelos formuladores de suas estratégias. Não apenas se insiste na formula de meio século atrás, como se está dobrando a aposta, conforme atestam as recentes capitalizações bilionárias do BNDES. Persiste-se no modelo de fortes subsídios creditícios à indústria - distribuídos segundo critérios obscuros que privilegiam grandes empresas - num mundo onde sequer está claro que a indústria continue a ser a fonte da prosperidade. Há que se levar em conta, por exemplo, que nas economias avançadas mais de 70% do PIB é gerado no setor de serviços.
Dado o estágio de industrialização já alcançado pelo Brasil, qual é hoje o caminho da prosperidade? Produzir domesticamente o que qualquer país pode fazer, igualando os salários dos brasileiros aos dos chineses? Fabricar o que poderia ser comprado a baixo preço no exterior? Ou aprofundar a produção daquilo que outros países não poderão fazer por insuficiência de dotações? A política econômica recente tem privilegiado a proteção à industria a qualquer preço; está na hora de repensar esse modelo e partir para uma estratégia mais equilibrada e racional, abandonando uma visão obsoleta onde o Estado escolhe os vencedores e campeões.

Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas.
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Desindustrialização e o Pato Donald
Pedro C. Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico – 03/09/2010

Não será advogando políticas que só beneficiam a indústria que se conseguirá acelerar o crescimento do país

A despeito da celeuma recente sobre uma suposta desindustrialização do país, não há evidência forte de que isso venha ocorrendo. Ao contrário, a indústria nacional tem crescido a taxas bastante altas. Isso não impediu aqueles que sempre preconizaram a desvalorização cambial como estratégia para combater os efeitos nefastos da desindustrialização de insistirem nos mesmos argumentos, agora como medida de combate aos supostos efeitos negativos da "re-primarização" da pauta de exportações.
Os efeitos presumidamente negativos das exportações de commodities sobre a economia brasileira carecem de base empírica e teórica, bem como agridem o bom senso. Não há estudos relevantes estimando o efeito da composição da pauta de exportação sobre crescimento. Pode-se identificar a origem dessa ideia na tradição do pensamento dito "desenvolvimentista". A premissa - ou dogma - é que a indústria seria (sempre) o setor mais dinâmico da economia, aquele onde se daria a adoção e criação de novas tecnologias, o setor que puxa a reboque os outros. Uma vez aceita essa hipótese, segue-se como prescrição de política econômica que qualquer fator que pareça prejudicar a indústria - valorização cambial, abertura comercial, juros elevados etc. - deveria ser "corrigido" o mais rapidamente possível, independentemente dos custos implicados por tal decisão sobre o resto da economia.
A ênfase excessiva na industrialização ignora dois fatos importantes. O primeiro é que inovação tecnológica não é prerrogativa do setor industrial. Numa semente de soja produzida no Cerrado há embutidos bilhões de dólares em pesquisa desenvolvida pela Embrapa e empresas privadas. A tecnologia gerada por essas pesquisas foi responsável por um espetacular aumento de produtividade de muitas outras culturas no país, bem como da agroindústria. As exportações agrícolas dispararam não só porque a demanda externa cresceu, mas porque o Brasil tornou-se tecnologicamente avançado e altamente competitivo.
O segundo fato ignorado é que, ao longo de suas trajetórias de crescimento, os países sofrem uma transformação estrutural em que o trabalho é inicialmente realocado da agricultura para indústria - tal como na China atual, e no Brasil dos anos 1950 a 1970 - e, posteriormente, da indústria para os serviços. Na Espanha, por exemplo, entre 1960 e 2000, o emprego na agricultura caiu de 42% do total para 7%; na indústria, de 34% para 30%; enquanto no setor de serviços, saltou de 24% para 63%. Na Bélgica, no mesmo período, o emprego na agricultura caiu de 29% do total para 2%; na indústria de 28% para 23%; enquanto nos serviços cresceu de 43% para 75% do total. Números semelhantes se observam nos países mais avançados do planeta.
Há cerca de 20 anos, as ações da U.S. Steel foram substituídas pelas da Walt Disney no índice Dow Jones. Isso não significa que, para a economia americana, uma chapa de aço seja menos importante que o Pato Donald ou o Buzz Lightyears. Mas constitui um sinal da influência do setor de entretenimento e, de forma mais geral, do setor de serviços no PIB americano.
Uma inexorável consequência do crescimento do setor de serviços é o fato aritmético de que a produtividade média da economia, bem como sua taxa de crescimento, serão largamente influenciadas, senão determinadas, pelo que ocorre nesse setor. O desempenho da indústria continuará a impactar positivamente muitos subsetores do terciário, mas é pouco provável que um setor que tende a recuar para 20% da economia determine o desempenho agregado.
Aqui se encontra um grave problema brasileiro: nos anos recentes, o setor terciário cresceu a uma taxa muito baixa, tanto em comparação com outros países quanto com outros setores domésticos. No início dos anos 1950, segundo dados do Groningen Growth and Development Centre, a produtividade do setor de serviços (excluindo setor público) no Brasil era de cerca de um quarto do observado nos EUA. Se isto já era ruim, em 2005 a situação tornou-se bem pior: a produtividade média caiu para cerca de um décimo da americana! Em termos relativos, andamos para trás, pois enquanto a produtividade no setor terciário americano aumentou 250%, no período, aqui cresceu menos de 20%.
Em resumo, como em todos os países de renda média e alta, o Brasil tende a se tornar uma economia com predominância do setor de serviços, mas é justamente nesse setor que a produtividade está quase estagnada. Os economistas brasileiros não têm se dedicado ao estudo do setor terciário com a mesma intensidade que estudam a indústria e agricultura. Não será advogando políticas que somente beneficiam a indústria, ou criando falsos problemas como a "re-primarização" da pauta de exportações, que se conseguirá acelerar o crescimento futuro do país. É preciso identificar o que fazer para que, em alguns anos, o Cebolinha e a Turma da Mônica façam parte do Ibovespa, isto é, como aumentar o dinamismo e a produtividade dos setores de entretenimento, comércio, transporte, turismo, entre outros.

Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas
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Por que subsidiar o capital?
Pedro C. Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico – 22 de julho de 2010

Em artigo anterior (Valor 28/05/10), argumentamos com dados que a maior parte do atraso brasileiro em relação aos países mais ricos deve-se à ineficiência geral da economia e à baixa escolaridade da população. Juntos, os dois fatores explicam cerca de 85% da diferença entre a renda per capita do Brasil e a dos EUA; os 15% restantes se devem à insuficiência de capital. Entretanto, mesmo não sendo a insuficiência de capital o principal entrave ao avanço do país, as políticas de promoção do crescimento em vigor teimam em repetir a mesma estratégia adotada nas décadas de 1950 a 1970, priorizando volumosos - e custosos - financiamentos à acumulação de capital.
Em artigo recente, Mansueto Almeida, economista do IPEA, estimou em cerca de R$ 10 bilhões o volume anual de subsídio concedido pelo BNDES a empresas. Só para efeito de comparação, o programa Bolsa Família, que atende 12 milhões de famílias pobres, custa R$ 13 bilhões anuais. O subsídio é caracterizado pelo fato de que o financiamento da dívida do governo federal - único acionista do BNDES - gira em torno da taxa Selic (10,25% ao ano ontem), enquanto o banco empresta às firmas a TJLP (6% ao ano).
Em contraste com os critérios transparentes adotados pelo governo federal na concessão da Bolsa Família, o BNDES, ao definir quais setores e empresas terão acesso a seus créditos subsidiados segue critérios obscuros. Dado que os principais beneficiados dos empréstimos são grandes conglomerados, trata-se de uma brutal transferência de recursos de todos os brasileiros para os acionistas destas empresas. Os financiamentos a TJLP constituem hoje um Bolsa Família às avessas, e as recentes capitalizações do banco - R$ 180 bilhões - indicam que a benesse para poucos tende a se expandir.
Subsídios creditícios a grandes conglomerados, além de contribuírem para agravar a má distribuição de renda, desestimulam o desenvolvimento do mercado de capitais e geram pouco incentivo a investimentos em aprimoramento tecnológico, pois a defasagem tecnológica que reduz a rentabilidade é compensada pelo subsídio. Não há evidência de que empresas "campeãs", escolhidas por sábios tecnocratas ou grandes oligopólios, sejam mais eficientes do que empresas menores.
Ao contrário, a evidência mostra o oposto. Causa surpresa, portanto, que economistas supostamente progressistas insistam em defender políticas ineficazes para promoção do crescimento e que transferem renda aos mais ricos.
Uma boa política econômica precisa ponderar custos e benefícios ao estabelecer suas prioridades. Se, por exemplo, o objetivo é a geração de empregos, deve-se verificar se o número de postos de trabalho a serem criados pelo subsídio supera o de postos destruídos pela tributação que custeia os subsídios. A tolerância - ou até mesmo simpatia - da sociedade em relação ao crédito público subsidiado decorre do fato de que os empregos criados são facilmente observáveis, pois concentram-se no setor escolhido pela tecnocracia, ao passo que os empregos destruídos são de difícil identificação, pois estão dispersos nos setores onerados pelo imposto que financia o subsídio.
A pesada estrutura tributária brasileira, com seu cipoal de impostos e contribuições sobre as mais diversas bases de incidência, inviabiliza hoje incontáveis empreendimentos. Ela é responsável, em larga medida, pelo tamanho exagerado da economia informal no país. Firmas informais tendem a ser menos produtivas, pois não têm acesso a crédito, o que as impede de investir em avanços tecnológicos, além de sofrerem com a alta rotatividade da mão de obra. No caso das empresas grandes, a tributação excessiva incentiva a concentração em poucas companhias, cujo poder de mercado permite a convivência com a exação fiscal. A menor competição desestimula os ganhos de produtividade.
O caminho para o crescimento está no foco em políticas que visem aumentar a eficiência geral da economia e que atinjam os agentes econômicos de forma mais equânime. São medidas institucionais de micro (e algumas macro) reformas voltadas para a redução de distorções. Exemplos urgentes são a redução da tributação sobre a folha salarial e sobre investimento, bem como eliminação de impostos em cascata. Uma estrutura tributária mais enxuta e menos distorcida incentivaria o investimento e a formalização. O resultado seria maior crescimento, com a vantagem que todas as empresas, de todos os setores, se beneficiariam, e não um grupo específico escolhido segundo critérios questionáveis.
É curioso que a mesma tributação elevada que contribui para que muitas empresas se mantenham na informalidade seja usada para subsidiar as grandes. Tira-se de quem não tem para se dar a quem tem. Será que isso é que se entende por ideias desenvolvimentistas?

Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli são professores da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV

Semana de Economia: textos importantes...

Transcrevo um simples post informativo do blog do economista do Ipea Mansueto Almeida (no kinship or relationship), mais importante pelas referências de leitura do que pela simples informação relativa a esse encontro de economia em Ribeirão Preto.
Já participei uma vez dessa semana de economia, ou pelo menos de um encontro de economia em RP, onde falei sobre Mercosul, integração e temas correlatos. Saí com excelente impressão, dos alunos e dos professores.
O tema da educação, que reputo importantíssimo, junto com a questão fiscal, para o Brasil de hoje (e de amanhã, infelizmente o de ontem já passou, sem...), e que vêm sendo, ambos, mal tratados, desprezados, torturados, pelos governantes e pela sociedade. Infelizmente, por causa disso mesmo, o Brasil vai continuar crescendo pouco e sendo um país desigual.
Transcrevo abaixo meus comentários a este post do Mansueto Almeida.
Paulo Roberto de Almeida

III Semana Acadêmica de Economia USP-Riberão Preto
Blog do Mansueto (de Almeida), 17/08/2011

Na próxima semana volto, depois de mais de dez anos, a Riberão Preto para participar como palestrante na III Semana Acadêmica de Economia. Recebí hoje a programação que me parece ser muito boa (clique aqui) e com bons palestrantes para tratar de temas que estão longe de serem triviais.

A mesa de abertura vai tratar do tema educação que para mim é um dos temas mais importantes para o futuro do Brasil. Parte dos avanços recentes nesta área deve-se ao trabalho de um dos palestrantes, Reynaldo Fernandes, que passou pelo INEP e melhorou o sistema de avaliação daquele órgão. Hoje, há no Brasil um grande debate sobre (1) modelos alternativos de gestão escolas e promoção de competição; (2) modalidades diferente de currículos para ensino médio; (3) avaliação de professores e mecanimos de incentivo à eficiência, etc.

O debate sobre qualidade de educação envolve tudo isso e um dos temas mais polêmicos é justamente a questão do ensino médio que no Brasil segue um modelo único voltado para a universidade. Há um grupo de pesquisadores que defende que deveríamos adotar não um, mas vários modelos de escola média, inclusive um voltado para o mercado de trabalho para aqueles que não querem ingressar na universidade. É claro que o problema desse modelo, que funciona bem na Alemanha, é que forçamos um adolescente a tomar uma decisão difícil muito cedo — seguir com os estudos voltado para universidade ou para o mercado de trabalho.

Uma boa leitura sobre esse debate são os capítulos da parte 3 do livro Brasil: A nova Agenda Social, 2011, organizado por Edmar Bacha e Simon Schwartzman. No caso específico do ensino médio sugiro também o curto artigo do Claudio Moura Castro publicado recentemente no Estado de São Paulo (clique aqui).

Há vários outros paineis interessante. O painel que participo vai tratar do tema espinhoso da especialização, doença holandesa e o papel das commodities na economia. Há hoje um quase consenso entre economistas que o Brasil tornou-se um país caro para se produzir manufatura. O que não está claro é como lidar com o problema ou mesmo se isso é um problema.

O argumento daqueles que acham que a perda de participação na indústria no PIB é um problema pode ser resumido neste artigo do Dani Rodrik reproduzido no Valor Econômico (clique aqui). E para aqueles que não acham que isso seja um problema recomendo os vários artigos anexos do Pedro Cavalcanti e do Renato Fragelli da FGV-RJ (clique aqui).

A única certeza que tenho neste debate é que: (1) a tendência do Brasil é sim que a indústria perca competitividade e diminua sua participação no PIB. O Brasil tornou-se um país caro espremido entre os baixos salários da China (e outros países Asiáticos) e os altos salários, mas elevada de produtividade de países como Alemanha; e (2) não vejo espaço fiscal sendo criado para desonerar seletivamente a indústria e modificar preços relativos. Esse é um debate que está em aberto no Brasil.

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Paulo Roberto de Almeida [Comentário ao post acima]

O Brasil tem enormes problemas de governança econômica e enormes problemas estruturais, sistêmicos, Entre os primeiros eu colocaria o desgoverno fiscal atual, que me parece uma pesada bola de ferro grudada na perna dos empresários a impedi-los de serem competitivos externamente e internamente e de obterem ganhos de produtividade em vista da enorme porção de seu faturamento que vai direto para as burras do tesouro (nunca um nome foi tão apropriado). Sem falar, claro, nas distorções do mercado de crédito, no mercado de capitais, que estão diretamente vinculados à baixa taxa de poupança voluntária (ou privada) no Brasil (sim, por que a compulsória atinge níveis quase chineses, mas não é “desviada” para fins produtivos), e consequentemente à pífia taxa de investimento. O Estado é não apenas um despoupador líquido como um deformador absoluto do ambiente de negócios no Brasil.
Entre os problemas estruturais mais relevantes eu colocaria o da educação. Sei que muitos economistas não atribuem um papel tão relevante para a educação no processo de transformação produtiva e de ganhos tecnológicos, achando que se pode fazer muito com ilhas de excelência e alguma importação de know-how, mas a educação de base é fundamental para a melhoria da produtividade como um todo e para a distribuição de renda.
Infelizmente, o Brasil está fazendo TUDO (e eu sublinho TUDO) errado em matéria de educação, sobretudo na formação de professores, terreno no qual predominam as novas saúvas do Brasil, as pedagogas freirenas. Se o Brasil tomasse consciência do que vem fazendo de errado e começasse a corrigir esses problemas AGORA, ainda teria tempo de consertar alguma coisa no espaço de 15 anos (SIM, sublinho novamente, 15 anos) e aproveitar o bônus demográfico para ficar um pouco mais rico e pagar pelos velhinhos que vão comprimir a PEA dentro de mais 20 a 25 anos. Infelizmente isso não vai acontecer e vamos perder boa parte do bônus demográfico com as mesmas bobagens freireanas que devastam, aniquilam a educação brasileira na atualidade (e desde os últimos 40 anos).
Sou moderadamente pessimista quanto à marcha geral da economia brasileira, mas sou absolutamente pessimista quanto aos problemas fiscais e educacionais. Enfim, esqueço a corrupção por enquanto.
Mil desculpas por ser pessimista, e a despeito de encontrar excelentes nomes nessa semana de economia em RP, sinto que são (e serão, por muito tempo) poucas vozes clamando no deserto.
Infelizmente o retrocesso econômico no Brasil é muito grande, e ele é muito mais mental do que material…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Afirmacoes que serao desmentidas em breve...

Adivinhem quem disse o que vai abaixo?

Sobre a eleição presidencial em 2014

• "O Brasil terá uma candidata em 2014 chamada Dilma Rousseff". Não pretendo voltar à Presidência. Acho que já cumpri com a minha tarefa para esse país.

• Só existe uma hipótese de Dilma não se candidatar a reeleição em 2014. "Ela não querer".

• Dilma será minha candidata em 2014′, disse em 27 de de 2010.

• “Estou interessado em passar um processo de desencarnação. Vou passar um tempo sem me meter na política, sem dar palpite... Só não disse quanto tempo. Alguns segundos, provavelmente.

• Dilma será candidata à reeleição em 2014 - 29 de Julho de 2011 - na Escola Superior de Guerra (ESG).

• "Essa coisa (disputar eleição), se tiver de acontecer, a conjuntura do momento vai indicar. Até porque quero dar um exemplo de ex-presidente: quero deixar a Presidência e não vou virar palpiteiro".

• Trabalho "com a ideia fixa de que a companheira Dilma (Rousseff) será outra vez candidata à Presidência da República".

Bem, acho que serão desmentidas antes que você possa aprender o significado de "saperlipopete".
(Uma dica: busquem nos livros antigos...)

Armas de destruicao (financeira) em massa: o terceiro maior perigo

Capitalistas sempre sabem do que falam, quando tratam de ativos (os seus ou o dos clientes, que eles tratam menos cuidadosamente):

From the Editors of American Banker
BankThink: Data Insecurity Is a Systemic Threat
August 17, 2011

"The FBI rates cyber attacks as the third greatest threat to U.S. security behind only nuclear warfare and weapons of mass destruction," writes columnist and former comptroller of the currency Eugene Ludwig. He notes the Financial Stability Oversight Council's mention of data security weakness as a potential systemic threat and explains that as an information business, the financial industry is especially prone to harm from hackers.
Go to BankThink.com to read the rest of Ludwig's column.

Enfim, entre mortos e feridos, o que sempre ocorre é um pouco de "redistribuição de renda" (forçada neste caso)...