O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

China a 'Precocious' Superpower? - Arvind Subramanian


China a 'Precocious' Superpower?
by Arvind Subramanian, Peterson Institute for International Economics
Op-ed in Business Standard, New Delhi
October 26, 2011 

Can a country that is not amongst the richest in the world and also not at the economic and technological frontier be a superpower? That is one of the most common questions raised against the central assertion in my recent book that China's economic dominance is more imminent, broader in scope, and greater in magnitude than is currently imagined.
My projections suggest that by 2030, China will not be poor; indeed, its per capita GDP (in purchasing power parity [PPP] terms) will be more than half that of the United States and certainly greater than the average per capita GDP in the world.
China's economic dominance will still be unique, because historically, the dominant powers (the United Kingdom and United States) have been rich, indeed amongst the richest relative to their competitors, when they have been dominant. In China's case that will not be so. But neither will it be a case of a poor country wielding power. China will be a middle-income or upper-middle-income country. So, perhaps China's future economic dominance should more aptly be described as that of a "precocious" rather than "premature" superpower as Martin Wolf of the Financial Times has described China.
But is precocious superpowerdom even possible? History is clearly on the side of those who believe that dominance requires a high standard of living. Why might this be the case?
First, a poor country might be inwardly focused because the tasks of maintaining internal stability and achieving a higher standard of living are the government's major if not exclusive preoccupation. In this case, projecting power internationally will have to be subordinated to addressing more pressing domestic challenges. Internal fragility sits uneasily, or is just downright incompatible, with external dominance.
Second, a poor country might not be able to raise the resources—at least on a sustained basis—for the projection of power internationally. The classic example is military resources. These will have to be financed. But the poorer a country, the more difficult it might be to tax the people to raise resources. For example, tax revenues generally rise with the level of development. Russia sustained military dominance for some time beyond its underlying economic potential, but eventually economics caught up with geopolitics. North Korea is a more extreme example of external power being incommensurate with internal stability and wealth. North Korea can be a nuisance, a country that can cause trouble, but hardly one that can exercise international dominance.
A third reason why a poor country cannot project dominance is that it may not have the "soft power" attributes—such as democracy, open society, and pluralistic values—for dominance. Put differently, the leadership that comes with dominance is only really possible if it inspires followership. And followership comes when the dominant country stands "for" something that commands universal or near-universal appeal.
The fourth reason, related to the previous attribute, is that only a rich country—which by definition is at the frontier of economic and technological possibilities—can be a fount or source of ideas, technology, institutions, and practices for others to follow and absorb. A poor country is less likely to be such a model worthy of emulation and an inspiration to follow.
So, clearly, dominance is inconsistent with being extremely poor, but if one reflects on these points, it is worth noting that with some exceptions, neither does dominance necessarily require being among the richest countries. There is, for example, no reason why internal cohesion, the ability to raise resources for external purposes, the possibility of being democratic, or possessing some emulation-worthy national narrative or values or ideals is inconsistent with being a middle-income power, as China is likely to be by 2030.
Moreover, China's current low standard of living is entirely consistent with different forms of the exercise of dominance. For example, China has used its surpluses to provide aid to and finance investments in Africa, extracting in return the closure of Taiwanese embassies. It has used its size to strengthen trade and financial relationships in Asia and Latin America. (China's offer to build an alternative to the Panama Canal to boost Colombia's prospects is one dramatic illustration of this phenomenon.) More recently, it is to China that the world will have to turn should things turn ugly in Europe and should additional resources be required to bail out some of the faltering European economies. ("China is Spain's best friend," effused Spanish Prime Minister José Luis Rodríguez Zapatero in April 2011, on the occasion of the Chinese president's visit.)
Most strikingly, China has been following an exchange rate policy that has adversely affected not just the United States and Europe but a number of emerging markets that compete with China, including Brazil, Mexico, India, Turkey, Vietnam, and Bangladesh. But the rest of the world has been powerless to change China's policies. If this is not dominance, what is?
Even the mighty United States has repeatedly threatened action against China but has not been able to carry it through. It barks but cannot bite. The shift in the balance of power in the US-China relationship is especially striking given that it was only about a decade ago that the United States was able to muscle China into radically opening its agriculture, goods, and services market as part of China's accession to the World Trade Organization.
So two possible conclusions suggest themselves. A form of dominance that naturally inspires followership and which might be necessary to create or build systems and institutions—as the United States did after World War II—might possibly elude China for some time, especially if it is unable to make the political transition to democracy. But other forms of dominance—to change the policies of other countries and resist change to its own in a way that can result in systemically negative externalities—are already being exercised by China at low levels of income. As China becomes considerably bigger and richer over the next two decades, what should we expect?

O Brasil no novo Indice de Desenvolvimento Humano (2011)


HUMAN DEVELOPMENT REPORT 2011
BRASIL OCUPA 84ª POSIÇÃO ENTRE 187 PAÍSES NO IDH 2011 
ESTUDO DE QUALIDADE DE VIDA VOLTOU A MUDAR DE METODOLOGIA NESTE ANO. 
SEGUNDO CÁLCULO ATUALIZADO, PAÍS MELHOROU 1 POSIÇÃO DESDE O ANO PASSADO. 

O relatório do Desenvolvimento Humano 2011, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), classifica o Brasil na 84ª posição entre 187 países avaliados pelo índice. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil em 2011 é de 0,718 na escala que vai de 0 a 1. 
O índice é usado como referência da qualidade de vida e desenvolvimento sem se prender apenas em índices econômicos. O país com mais alto IDH em 2011 é a Noruega, que alcançou a marca de 0,943. Os cinco primeiros colocados do ranking são, pela ordem, Noruega, Austrália, Holanda, Estados Unidos e Nova Zelândia. Segundo o Pnud, o pior IDH entre os países avaliados é o da República Democrática do Congo, com índice 0,286. Os cinco últimos são Chade, Moçambique, Burundi, Níger e República Democrática do Congo.

METODOLOGIA.
A metodologia usada pelo Pnud para definir o IDH passou por mudanças desde o relatório divulgado em novembro de 2010. O índice que se baseia em dados como a expectativa de vida, a escolaridade, a expectativa de escolaridade e a renda média mudou a fonte de alguns dos dados usados na comparação. A expectativa é ter os mais recentes dados comparáveis entre os diferentes países. No ano passado, o Brasil aparecia classificado como o 73º melhor IDH de 169 países, mas, segundo o Pnud, o país estaria em 85º em 2010, se fosse usada a nova metodologia. Desta forma, pode-se dizer que em 2011 o país ganhou uma posição no índice em relação ao ano anterior, ficando em 84º lugar.

DESENVOLVIMENTO HUMANO ELEVADO. 
O Pnud não soube indicar o que motivou a mudança de classificação do Brasil. Mas, analisando os indicadores avaliados – expectativa de vida, anos médios de escolaridade, anos esperados de escolaridade e renda nacional bruta per capita – dois tiveram mudanças: expectativa de vida e renda nacional bruta. 
O Brasil aparece entre os países considerados de "Desenvolvimento Humano Elevado", a segunda melhor categoria do ranking, que tem 47 países com "Desenvolvimento Humano Muito Elevado" (acima de IDH 0,793), além de 47 de "Desenvolvimento Humano Médio" (entre 0,522 e 0,698) e 46 de "Desenvolvimento Humano Baixo" (abaixo de 0,510). 
De acordo com os dados usados no relatório, o rendimento anual dos brasileiros é de US$ 10.162, e a expectativa de vida, de 73,5 anos. A escolaridade é de 7,2 anos de estudo, e a expectativa de vida escolar é de 13,8 anos. O cálculo de IDH alterou neste ano a fonte de informação sobre renda dos países. O dado agora passou a ser alinhado ao Relatório do Banco Mundial. O problema é que o dado dessa fonte é mais antigo (de 2005) do que o usado no relatório IDH de 2010 (que era de 2008). 
Os números foram ajustados e a comparação possível é que passamos de uma renda nacional bruta per capita de US$ 9.812 , em 2010, para US$ 10.162  em 2011.  No material divulgado pelo Pnud é possível comparar as tendências do IDH de todos os países por índice e por valor total desde 1980. 
O destaque no caso brasileiro é para a renda, que aumentou 40% no período. No mesmo tempo, a expectativa de vida aumentou em 11 anos; a média de anos de escolaridade aumentou em 4,6 anos, mas o tempo esperado de escolaridade diminuiu.

NOVOS ÍNDICES. 
Além do valor usado tradicionalmente para indicar o desenvolvimento humano de cada país, o relatório deste ano apresenta novos índices: IDH Ajustado à Desigualdade, Índice de Desigualdade de Gênero e Índice de Pobreza Multidimensional. O IDH ajustado à desigualdade faz um retrato mais real do desenvolvimento do país, ajustando às realidades de cada um deles. Com isso, o IDH tradicional passa a ser visto como um desenvolvimento potencial. Levando a desigualdade em conta, o Brasil perde, em 2011, 27,7% do seu IDH tradicional. 
O componente renda (dentre renda, expectativa de vida e educação) é que mais influi nesse percentual. No índice de desigualdade de gênero, o Brasil fica em patamar intermediário quando comparado com os BRICS. O índice brasileiro é de 0,449. Rússia tem 0,338; China, 0,209; África do Sul, 0,490% e Índia, 0,617. 
Já o Índice de Pobreza Multidimensional é uma forma nova, mais ampla, de verificar quem vive com dificuldades. No lugar da referência do Banco Mundial, que considera que está abaixo da linha de pobreza quem ganha menos de US$ 1,15 por dia, o novo índice aponta privações em educação, saúde e padrão de vida. 
Segundo o Pnud o índice pode não ser tão importante para a situação do Brasil quanto para a de países da África, pois, no Brasil, quem tem renda pode ter o acesso facilitado à qualidade de vida. Em alguns países, porém, esse acesso não depende exclusivamente de recursos financeiros (às vezes, o país tem infraestrutura precária demais, por exemplo). Essa nova medida é uma forma interessante de avaliar as políticas de transferência de renda e verificar se essas ações realmente estão mudando a vida da população mais necessitada.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre idiotas e outros personagens pouco frequentáveis...

Frequentadores frequentes (se me permitem a quase redundância), aficionados, passantes ao acaso, visitantes ocasionais, navegadores erráticos ou até mesmo alguns habitués deste blog -- sem nenhuma dúvida, masoquistas --  costumam reclamar que eu chamo muita gente de idiota (não tanto quanto deveria, acho eu, sinceramente). Para eles eu seria arrogante, no mínimo, desrespeitoso, certamente, e talvez mesmo mais um desses idiotas criticados.
Pode ser, mas que culpa tenho eu se o número de idiotas anda aumentando muito no mundo, ou se o mundo das comunicações livres oferece oportunidades únicas para os idiotas se expressarem e aparecerem, até mesmo fazer algum sucesso momentâneo?
Reconheço que o mundo seria um lugar bem melhor com um pouco menos -- bastante menos -- de idiotas e outros assemelhados e equivalentes funcionais, mas em nome da democracia e dos direitos humanos temos de deixar os idiotas disputar o mesmo espaço público do que seres bem pensantes, ou até mesmo pessoas medianamente constituídas, bem informadas e suscetíveis de trazer algumas bondades adicionais ao mundo como ele é (cheio de idiotas).
No passado, inspirado no "minitratado" seminal -- a expressão é minha, não dele -- do genial historiador italiano Carlo Maria Cipolla (sim, cebola), Le leggi fondamentali della stupidità umana, eu cheguei a escrever um pequeno ensaio perguntando se, por acaso, estaria aumentando o número de idiotas no mundo: 
Está aumentando o número de idiotas no mundo?
Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 72, maio de 2007; ISSN: 1519-6186) 
(procurem no meu site que deve estar por lá).
Eu argumentava que sim, e não, ou seja, ambas as tendências: sim, estava aumentando o número de idiotas, cada vez mais idiotas e disseminando suas idiotices fundamentais com a ajuda de todos os meios modernos de comunicação, mas que, no fundo, isso não era grave, pois o número reduzido de não idiotas conseguia administrar a situação, para o maior benefício de todos, inclusive dos idiotas.


Pois bem, não vou fazer nenhum novo minitratado sobre a idiotice humana, mas como eu contemplo idiotices todos os dias, em todos os lugares, como leio nos jornais, escuto na rádio e vejo diretamente idiotices perpetradas em todos os quadrantes -- e imagino que existam zilhões de outras mais espalhadas sem que eu possa ver pelos quatro cantos de nosso planetinha redondo -- fico imaginando se não seria possível dividir os idiotas em categorias bem determinadas, em classes, ou espécies, quem sabe até famílias?, enfim (enfins, como diria uma professorinha da UnB), em tipos diferentes de idiotas, de maneira a melhor poder enfrentar esse flagelo da humanidade.


Ainda não cheguei a alguma conclusão científica, e pretendo aprofundar minhas pesquisas, mas pelo que constatei até aqui, talvez se pudesse dividir os idiotas em duas categorias fundamentais: 


1) Os "idiotas idiotas", ou seja, os apenas ingênuos, que acreditam que estão fazendo o bem, ou o melhor que podem, e que acreditam sinceramente nas idiotices que defendem e que disseminam. Eu diria que eles estão entre os 99% da humanidade que simplesmente existe, com aspirações diversas, e que pede para que suas concepções seja também aceita pelo resto da humanidade, sobretudo o resto dos 1% que exibem outras concepções do mundo. Conheço muitos, mas prefiro não indicar agora nenhum nome em especial para não receber um convite para algum duelo fatal... Ou talvez, sim, eu possa dar um nome: por exemplo, esse primeiro ministro grego que depois de mais de um ano de negociações difíceis com seus colegas europeus, conseguiu chegar a um compromisso aceitável para aplicar um calote bem dado em banqueiros e outros credores, e que agora pretende submeter esse acordo a um referendo nacional, que provavelmente vai rejeitar o acordo, tendo em vista os milhares de idiotas que manifestaram durante todo esse tempo contra as medidas de ajustes e outros remédios ao problema grego. Esse primeiro-ministro só pode ser um idiota completo, mas da primeira categoria, ou seja, dos ingênuos.
Idiotas ingênuos são também esses que marcham contra a especulação, a austeridade, o capitalismo, os mercados, e que pedem um outro mundo possível e slogans do tipo "o povo primeiro, as finanças depois", e que não sabem bem o que propor. São idiotas ingênuos, pois querem sinceramente o bem da humanidade.


2) Os "idiotas sem caráter", ou seja, aqueles que mesmo sabendo que seus argumentos, posições e propostas são inexequíveis, ineficientes e até contraproducentes, ainda assim pontificam nesses mesmos meios pregando as mesmas bobagens que encantam os idiotas da primeira categoria. Os primeiros eu até respeito, por achar que eles têm direito de defender, sinceramente, ideias idiotas, mas os segundos não contam com minha condescendência, pois eles são profundamente desonestos e fraudadores. Conheço vários nessa categoria, embora não conviva com esse tipo de gente, claro, mas sei que na academia, na vida pública, no jornalismo, no mundo em geral, eles existem e até tripudiam sobre a idiotice dos primeiros para prevalecerem sobre todos os demais.


Enfim, ainda tenho de escrever um minitratado sobre a idiotice e os idiotas.
Virá, um dia...
Paulo Roberto de Almeida 

Livro sobre transportes regionais no Brasil - Paulo Roberto Cimó Queiroz e Alcides Goularti Filho

Um registro digno de ser feito: 


28 de outubro de 2011

Professor da UFGD lança livro sobre transportes na USP

“Transportes e formação regional: contribuições à história dos transportes no Brasil”, coletânea recém-publicada pela Editora da UFGD sob a organização dos professores Paulo Roberto Cimó Queiroz (FCH/UFGD) e Alcides Goularti Filho (UNESC, Santa Catarina), foi lançada na última quarta-feira (26), na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP).
O lançamento, realizado no prédio 2 da FEA/USP, ocorreu durante um dos Seminários em História Econômica que, sob a coordenação do Prof. José Flávio Motta, são promovidos regularmente pelo grupo de pesquisa Hermes & Clio com o apoio da FEA. Na ocasião, o Prof. Alcides expôs o sentido geral da coletânea e o Prof. Paulo apresentou brevemente o capítulo de sua autoria incluído na coletânea (intitulado “Caminhos e fronteiras”: vias de transporte no extremo oeste do Brasil).
Estiveram presentes vários pesquisadores da área da História Econômica, aí incluídos o autor da Apresentação, Prof. Flávio Saes, e os autores de alguns dos capítulos.
O livro é constituído por 14 capítulos, cujos autores – pesquisadores universitários ligados às mais diversas instituições brasileiras e com larga experiência no campo abordado – pertencem, em sua maioria, ao grupo de pesquisas intitulado “Formações econômicas regionais, integração de mercados e sistemas de transportes”, cadastrado no CNPq e liderado pelos organizadores da coletânea.
Segundo os organizadores, a obra busca contribuir para o entendimento da importante questão da integração de mercados regionais – sendo essa problemática “encarada não apenas pela óptica da História Econômica, mas levando em conta também, entre outros aspectos, os importantes contornos políticos das diversas experiências e tentativas de integração – contornos esses associados por exemplo às idéias de ‘ocupação’ e controle dos ditos ‘sertões interiores’ do país”. Os organizadores salientam ainda o caráter abrangente da coletânea, na medida em que são abordadas experiências de todas as regiões brasileiras, do norte-nordeste ao centro-sul.
A apresentação do livro é assinada pelo Prof. Flávio Saes, professor (hoje aposentado) da FEA/USP e conhecido estudioso da história ferroviária brasileira.
O livro está disponível no link


Editora da UFGD

Ir para a página
TRANSPORTES E FORMAÇÃO REGIONAL: contribuições à história do transporte no Brasil (Alcides Goularti Filho e Paulo Roberto Cimó Queiroz - orgs.)

TRANSPORTES E FORMAÇÃO REGIONAL: contribuições à história do transporte no Brasil (Alcides Goularti Filho e Paulo Roberto Cimó Queiroz - orgs.)

A história dos transportes no Brasil é um tema relevante em termos não apenas acadêmicos como também políticos. Vivemos um momento em que se discute no Brasil a implantação ou ampliação de diversas rotas e eixos viários – caso, por exemplo, das ferrovias Transnordestina, Norte-Sul e Ferroeste, das hidrovias Tietê-Paraná e Paraná-Paraguai e outras. Os autores reunidos nesta coletânea oferecem uma contribuição à problemática da integração de mercados regionais, encarada pela óptica da História Econômica e levando em conta também, entre outros aspectos, os importantes contornos políticos das diversas experiências e tentativas de integração – contornos esses associados, por exemplo, às ideias de “ocupação” e controle dos ditos “sertões interiores” do país.
Sobre os organizadores:
Paulo Roberto Cimó Queiroz: licenciado em História pelas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso, de Campo Grande; especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; mestre em História pela UNESP/Assis e doutor em História Econômica pela USP. Desde janeiro de 2006 está vinculado à Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), onde trabalha nos cursos de Graduação e Pós-Graduação em História (mestrado e doutorado) e coordena o Centro de Documentação Regional, da Faculdade de Ciências Humanas. Publicou 2 livros, vários capítulos e diversos artigos em periódicos científicos nacionais e estrangeiros.
Alcides Goularti Filho: graduado em Economia pela Universidade do Sul de Santa Catarina; mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas. É professor do curso de Economia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) desde 1994. Pesquisador Produtividade do CNPq. Atualmente desenvolve projetos de pesquisa nos seguintes temas: transportes e formação regional, complexo ervateiro, marinha mercante, construção naval e SUDESUL. Publicou 2 livros – com destaque para Formação Econômica de Santa Catarina – e organizou outros 3.
 Baixar versão em PDF da Obrahttp://www.ufgd.edu.br/editora/catalogo/transportes-e-formacao-regional-contribuicoes-a-historia-do-transporte-no-brasil-alcides-goularti-filho-e-paulo-roberto-cimo-queiroz-orgs./at_download/pdflivro

Brasil protecionista onde menos se espera: agropecuaria...

Os sentimentos protecionistas no Brasil são tão arraigados que eles costumam surgir onde menos se espera, ou seja, no poderoso, forte, robusto, competitivo setor agropecuário brasileiro.
Assim como os corruptos já não têm vergonha de ser corruptos no Brasil, os protecionistas já não têm qualquer constrangimento em expor seu protecionismo rústico.
Paulo Roberto de Almeida 



A "desagropecuarização" silenciosa do Brasil
Roberto Simões
Valor Econômico, 31/10/2011

A evolução das condições macroeconômicas do Brasil fez surgir, nos últimos meses, a discussão sobre uma iminente "desindustrialização" do País, ou seja, a perda de competitividade da indústria nacional frente a similares importados, levando ao fechamento de empresas, mudança ou terceirização da produção em outros países e, consequentemente, à perda de postos de trabalho. As justificativas principais são a valorização do real frente ao dólar e a falta de uma política de apoio à indústria nacional.

A sombra do mesmo processo paira sobre a agropecuária brasileira. No nosso caso, há um fator agravante às questões econômicas e estruturais: a diplomacia brasileira e as negociações comerciais danosas envolvendo alguns produtos agropecuários, a maioria sensível à concorrência desigual entre países, cuja importação, consequentemente, tem crescido em detrimento da produção nacional.

Silenciosa e continuamente, o governo federal vem normatizando a importação de produtos de diversos países. Somente entre 2008 até os primeiros oito meses de 2011, considerando-se apenas os produtos agrícolas nos quais o Brasil é autossuficiente, foi normatizada pelo Ministério da Agricultura a importação de 21 itens, entre eles café, cebola, cenoura, castanha de caju, laranja, mandioca, vagem, pimentão e folhas de fumo. A banana e outros hortícolas provenientes do Equador estão na fila de espera para regulamentação.

A origem desses produtos inclui países de duvidosa importância comercial para o Brasil, como os africanos Guiné Bissau, Nigéria, Benin, Gana e Costa do Marfim; países latino-americanos, como México, Bolívia e Peru; europeus, como Portugal e Itália; além dos parceiros do Mercosul.

O caso mais recente dessa política brasileira foi a negociação comercial com o Uruguai, no final do governo Lula, que abriu o mercado brasileiro à importação de lácteos provenientes daquele país, em troca de uma cota de exportação de 150 mil toneladas anuais de carne de frango.

A primeira pergunta é: se nos foi imposta uma cota, por que a reciprocidade brasileira é ilimitada? Os impactos já são sentidos no mercado interno e a produção uruguaia cresce à taxa superior a 15% em um ano. Já a produção brasileira deve crescer menos do que em 2010, quando aumentou cerca de 7%.

Nos primeiros sete meses deste ano já entraram no Brasil 50 mil toneladas de leite em pó, aumento de quase 70% em relação a 2010. Se o ritmo permanecer o mesmo até o final deste ano, as importações alcançarão mais de 85 mil toneladas. Este volume equivale a cerca de 880 milhões de litros de leite in natura, o correspondente ao processamento anual da quarta maior empresa de laticínios instalada no País.

Também preocupa os nossos produtores a recente promessa brasileira em reabrir o mercado para a banana equatoriana, fechado desde o início dos anos 90 por questões sanitárias. A cadeia produtiva da banana no Equador, totalmente voltada para exportação, é controlada por multinacionais norte-americanas, que têm pesada estrutura para distribuir em todo o mundo as frutas que produzem no Equador e em outros países da América Latina. Com essas "gigantes" na coordenação da cadeia produtiva local, é significativamente restringida a participação dos produtores locais na cadeia de valor da banana. No Brasil, a presença da banana importada nas grandes redes de varejo pode levar um grande número de produtores a abandonar a atividade.

Um exemplo claro de substituição da produção interna pela importação em condições desiguais de competitividade foi a abertura do mercado brasileiro ao alho chinês, na década de 90. Até então, a produção nacional de alho abastecia 90% da demanda interna. Em 2010, de um consumo estimado de 240 mil toneladas do bulbo no País, 63% foram importados, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Alho. Até agosto de 2011, o Brasil já gastou R$ 417 milhões em compras de alho e também de cebola. Como consequência, a produção nacional de cebola deve cair 7% em relação a 2010, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Os produtores brasileiros já são diuturnamente desafiados a sobreviverem em condições as mais adversas, com logística cara e ineficiente, carga tributária proibitiva, taxas de juros e prazos de pagamento incompatíveis com a atividade, frágil política de seguro rural e falta de assistência técnica, dentre inúmeros outros entraves. Mesmo assim, fazemos a mais importante e eficiente agropecuária tropical do planeta. Dentro da porteira vimos demonstrando nossa capacidade e aprendemos a lidar com a competição das commodities nos principais mercados do mundo.

Mas, os pequenos e médios produtores voltados para o abastecimento interno não estão preparados para uma competição internacional sob condições desiguais. Não se trata de pedir protecionismo, contra o qual lutamos nos principais mercados para os quais exportamos. Trata-se de pedir condições iguais de competição, sob pena de termos à mesa apenas alho chinês, banana equatoriana e leite argentino e uruguaio.

Roberto Simões é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG) e do Conselho Deliberativo do Sebrae Nacional (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Brasil protecionista recai no ultraprotecionismo... - Valor Econômico

Não vamos nos iludir: o Brasil SEMPRE foi protecionista, sempre, desde o início, até hoje. Os momentos de protecionismo reduzido foram raros, tímidos, quase inexistentes.
Os empresários e os burocratas brasileiros são instintivamente protecionistas, atavicamente protecionistas, e posso provar por dados muito claros, relativos à proteção aparente e explícita, tarifária e para-tarifária.
Então não devemos nos surpreender com este tipo de matéria. 
Não é de hoje que o Brasil é protecionista.
Paulo Roberto de Almeida 



COMÉRCIO EXTERIOR
Protecionismo do Brasil começa a preocupar membros da OMC
Assis Moreira
Valor Econômico, 31/10/2011

O Brasil passou a ser um dos países a sofrer mais vigilância entre os 151 membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) por suspeita de crescente protecionismo, num cenário de tensão causado pela queda da demanda global.

     "O Brasil corre o risco de virar a "Geni" do comércio internacional, levando bordoadas de todo lado", disse um importante observador próximo da OMC, resumindo a situação atual e comparando o país à personagem da música "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque.

      Relatório da OMC para os líderes do G-20 diz que a Índia, o Brasil e Rússia foram os países do grupo que mais impuseram novas medidas restritivas ao comércio nos últimos meses, embora os três tenham também adotado várias ações de liberalização.

      A OMC tem um novo mecanismo para monitorar de perto os países e pede aos governos a confirmação de medidas comerciais, sem porém fazer comentário sobre a compatibilidade ou não com as regras internacionais. Nos últimos tempos, a lista sobre o Brasil não cessa de aumentar, indo de aplicação de licença não automática a importação, passando por preferência nacional nas licitações, subsídios no crédito e aumento de tarifas.

      Em outro relatório, a União Europeia aponta a Argentina e o Brasil como os dois maiores usuários de medidas protecionistas recentemente. Em comparação com 2009-2010, os europeus dizem que o Brasil está agora "ativamente" acelerando para alcançar o vizinho com "medidas inquietantes que impactam sobre o comércio e o investimento". Além de se queixar de uma série de restrições, a UE acusa o Brasil de ter começado a aumentar tarifas de importação, independentemente da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, vendo uma tendência que "vai continuar no futuro próximo".

      Uma "preocupação crescente" específica dos europeus é de que o Brasil siga a Índia e aplique taxa de exportação sobre minério de ferro, afetando o suprimento do produto e fazendo o preço aumentar nos próximos meses.

      Para parceiros, as restrições ao comércio por parte do Brasil se tornaram ainda mais relevantes diante da conjuntura frágil da economia internacional. Mas também levando em conta a posição agressiva até recentemente do país com vitórias contra os Estados Unidos no caso do algodão e da União Europeia no caso do açúcar.

      Quando as medidas de política industrial começaram a tomar contornos mais comerciais, incluindo reforço da defesa comercial e mais agilidade para encurtar o prazo de investigações sobre importações ditas desleais, o país passou a ser suspeito de enveredar o caminho do protecionismo.

      As medidas eram consideradas, porém, da "área cinzenta". Os parceiros reclamavam sem excesso e o Brasil podia justificar com ou menos dificuldade. Porém, a alta do IPI para carros importados, em setembro, rompeu completamente a barreira. O consenso na área comercial em Genebra é de que o país dessa vez sequer teve a sutileza de esconder a inconsistência com as regras da OMC e atropelou duas delas de uma só vez, sobre benefícios vinculados a desempenho exportador e conteúdo nacional.

      O Japão e a Coreia do Sul começaram o ataque contra a alta do IPI no Comitê de Acesso ao Mercado. Mais queixas virão em outros comitês e dessa vez o Brasil não poderá escapar com argumentos de procedimento e precisará dar explicações. O passo seguinte pode ser o questionamento diante dos juízes da OMC, o que pode conduzir à retaliação mais tarde.

      Outra medida que "acendeu a luz" de parceiros foi a nova margem de preferência de 25% que o governo Dilma Rousseff dará para as empresas nacionais nas compras governamentais. A UE anunciará em dezembro uma nova legislação sobre compras governamentais, visando sobretudo o Brasil, China e Rússia. Vai exigir reciprocidade ou do contrário também fechará seu mercado a empresas brasileiras no setor.

      A credibilidade brasileira está sendo afetada em várias áreas na cena comercial. O país, antes reclamante, passou a ser questionado nos comitês de diferentes temas na OMC. O peso de seus argumentos também mudou para menos, nas discussões de preparação da conferência ministerial de dezembro e sobre o futuro das negociações da Rodada Doha.

      Outra constatação repartida por vários negociadores na cena comercial é de que a proposta brasileira para a OMC discutir impacto do câmbio no comércio, apresentada em maio, está mais comprometida. Não há a menor chance de o país conseguir tão cedo apoio para levar a OMC a abrir negociação do impacto de câmbio sobre o fluxo comercial.

      A ideia de antidumping cambial, para impor tarifa adicional na importação originária de parceiro com câmbio desvalorizado, não tem como decolar tão cedo. Tudo isso é visto no momento na OMC como pretexto para o Brasil impor novas medidas protecionistas.

O Estado brasileiro em estado kierkegaardiano (ou seja, angustiado)

 O Estado brasileiro em estado kierkegaardiano (ou seja, angustiado)

Paulo Roberto de Almeida

Recebi neste dia 1o. de Novembro de 2011, a seguinte mensagem, abaixo transcrita, de funcionários dedicados da Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, certamente preparada por pessoas dotadas de boas intenções, funcionários públicos de carreira, empenhados em fazer do Estado brasileiro uma “máquina” (se o termo se aplica) um pouco mais racional e eficiente do que ele consegue ser, atualmente, quando o vejo como um ogro famélico pelos recursos produzidos pelo setor privado para alimentar sua própria fome de recursos em benefício dos que o controlam, atualmente.
Vou primeiro transcrever a mensagem recebida, que reputo eivada de boas intenções – que denota um fundo de frustração por terem os envolvidos nessa área seu trabalho interrompido (e espero que para coisa melhor do que tivemos até agora) – fazendo-a seguir de meus comentários pessoais, que remeti aos expedidores (gespublica@planejamento.gov.br), mesmo tendo plena consciência de que escrevia inutilmente.
Em todo caso, não deixo de firmar posição e de manifestar minha contrariedade com o que vejo (e pago) em favor de um Estado que NÃO reconheço como meu – ou seja, jamais seria o Estado que eu ajudaria a construir para o povo brasileiro – esperando que, ao menos, alguns dos que receberem minha mensagem possam refletir um pouco sobre os pontos nela tocados. Meus argumentos são exclusivamente meus, e não pretendem refletir posições de qualquer grupos ou castas aos quais eu possa involuntariamente pertencer, como servidor público federal da carreira diplomática.
Paulo Roberto de Almeida 

Primeiro, a mensagem recebida em minha caixa pessoal:
On 01/11/2011, at 01:26, gespublica@planejamento.gov.br wrote:
Prezado(a) colaborador(a),
A Secretaria de Gestão, coordenadora do Programa GesPública, está sendo reestruturada para assumir, de forma integrada, as responsabilidades pela condução das políticas de gestão pública e de gestão de pessoas, no âmbito do Poder Executivo Federal.
A mudança é estratégica, ante a necessidade premente de estender, à gestão de pessoas, as diretrizes de inovação e melhoria que vêm sendo traçadas para a gestão pública. Entende-se que, para alcançar o objetivo de implantar no País um modelo de gestão pública democrática, fundado na participação e no controle social da ação governamental e direcionado para a obtenção dos resultados sociais e econômicos esperados pela Sociedade Brasileira, é fundamental dar foco especial ao agente público e garantir que as políticas de desenvolvimento e gestão de pessoas estejam em total sintonia com as estratégias de fortalecimento da capacidade de governança dos órgãos e entidades estatais.
Nesse contexto, o Programa GesPública tem posição e papel especiais, ante a sua vocação para a promoção da excelência na gestão pública, seja por meio da concepção de novos modelos, métodos e ferramentas gerenciais; pela orientação e disseminação desses modelos ou pela formação de servidores públicos e colaboradores em agentes de mudança.
E é dentro desse espírito de continuidade e de conquista de novos patamares de atuação para o Programa que Secretaria de Gestão compartilha com os integrantes do GesPública, o principal desafio que se impõe no momento. É indispensável ajustar as estratégias e linhas de atuação do GesPública à nova Agenda de Gestão do Governo Federal, proposta para os próximos quatro anos e constante do Programa Democracia e Aperfeiçoamento da Gestão Pública, do Plano Plurianual 2012-2015.
A nova Agenda impõe seis objetivos estratégicos:
1.              fortalecer a governança e ampliar a capacidade institucional da Administração Pública, visando a melhor organização e funcionamento do Estado (OBJETIVO: 0579);
2.              ampliar a oferta de serviços públicos de excelência ao cidadão, às empresas e às demais organizações da sociedade, mediante a melhoria dos marcos legais, dos processos de trabalho e da tecnologia da informação (OBJETIVO: 0605);
3.              aperfeiçoar a gestão de pessoas na administração pública federal, orientada por competências e pela democratização das relações de trabalho, visando aumentar a capacidade do governo na implementação de políticas públicas (OBJETIVO: 0606)
4.              aperfeiçoar o processo de alocação e de gestão dos recursos públicos mediante o fortalecimento e a integração das funções de planejamento, orçamento, execução, monitoramento, avaliação e controle de políticas públicas.( OBJETIVO: 0607);
5.              fortalecer a relação federativa de forma a promover maior cooperação e ampliar a capacidade técnica, gerencial e financeira do Estado, visando otimizar os resultados produzidos para a sociedade (OBJETIVO: 0608);
6.              ampliar o diálogo, a transparência e a participação social no âmbito da Administração Pública, de forma a promover maior interação entre o Estado e a sociedade (OBJETIVO: 0609).
Para que a Coordenação do GesPública possa elaborar e propor uma nova agenda estratégica para o Programa, que preserve as suas linhas originais mas se alinhe, de forma clara e direta, aos objetivos e projetos estratégicos do Governo da Presidente Dilma Roussef, [sic] impõe-se, no momento, suspender, temporariamente, o atendimento às demandas ao GesPública, que envolvem a oferta de cursos, a assessoria e orientação a processos de auto-avaliação e implantação de cartas de serviços; a participação em eventos externos; dentre outros.
Na medida do possível, esperamos que a suspensão não afete o funcionamento dos Núcleos Regionais do Programa, que poderão continuar atendendo às organizações adesas.
A suspensão limitar-se-á aos meses finais de 2011 - período necessário para que a equipe de Coordenação possa elaborar propostas de reorganização e apresentá-las às considerações e contribuições da Rede Nacional de Gestão Pública. Nesse período, convidamos aos que quiserem e puderem colaborar, a enviarem suas críticas e sugestões sobre as formas de atuação do Programa, para o e-mail gespublica@planejamento.gov.br
A partir de 2012, levaremos ao conhecimento da Rede a proposta da nova agenda estratégica, para discussão e validação. 
Agradecemos a compreensão e a colaboração de todos
Secretaria de Gestão 
=========
Minha mensagem expedida em 1/11/2011, 01:00h: 

Minha única recomendação, ou se desejarem, minha exclusiva sugestão, não vai ser implementada, uma vez que as mesmas forças que comandam o processo de gestão pública, nos mesmos setores que são supostamente responsáveis pela mensagem recebida, atuam para preservar seu poder arbitrário, determinando que a gestão pública se faça, não em função dois interesses do público, ou da sociedade, em seu conjunto, mas em função do monopólio do poder por um partido, de vocação claramente autoritária, quando não totalitária, como se constata atualmente.
Em todo caso, mesmo sabendo que minha recomendação, ou sugestão, não vai ser seguida, ou sequer considerada, preservando-se o blá-blá-blá insosso que se vê em todo discurso governamental, aqui vai ela, uma síntese de procedimentos de racionalização administrativa que, volto a dizer, NÃO VAI SER IMPLEMENTADA: 
DIMINUIR o número absurdo de cargos de confiança que caracterizam o aparato estatal brasileiro, REDUZIR drasticamente os cargos de livre nomeação que são designados politicamente, e que são usados pelos partidos e pelos políticos para fins pouco republicanos, e na verdade com o objetivo de obter vantagens partidárias e muito frequentemente de ampliar benefícios pessoais, mesmo de forma ilegal e até criminosa. 
Por outro lado, REVISAR drasticamente a selva salarial que caracteriza atualmente a estrutura de cargos e funções no setor público, e seu respectivo leque de remunerações, uma verdadeira anarquia de vencimentos (e prebendas continuamente acrescentadas), que foi sendo composta de forma corporativa, resultando no triste espetáculo que se constata atualmente, que é o verdadeiro assalto aos recursos públicos por castas de mandarins e marajás do serviço público, organizados sindicalmente (ou até clandestinamente) com esse mesmo objetivo, ou seja, preservar privilégios, e ampliar ganhos, numa total DESPROPORÇÃO entre sua produtividade relativa e a estrutura das remuneração que prevalece no setor privado, que é quem, finalmente, SUSTENTA o mandarinato do serviço público.
Por último, REDUZIR como um todo o peso do setor público na repartição funcional da economia brasileira, pois é desse peso excessivo que vem o EXCESSO DE TRIBUTAÇÃO – e, portanto, a diminuição das taxas de poupança e de investimento – e, em decorrência, o triste ESPETÁCULO DA CORRUPÇÃO que caracteriza hoje o Brasil, ademais dos terríveis constrangimentos ao setor privado.
Quando é que a sociedade brasileira vai entender que o Estado brasileiro, de promotor, no passado, do processo de desenvolvimento econômico e social, se tornou, atualmente, o mais formidável OBSTRUTOR do desenvolvimento, ao sugar recursos vivos da nação e ao promover o mais triste espetáculo da corrupção de que se tem notícia em toda nossa história?
Aí figuram, portanto, minhas recomendações, que formulo com total realismo e ceticismo. Não existe NENHUMA CHANCE, no futuro previsível, de que elas sejam implementadas, ou sequer consideradas.
Boa sorte a todos vocês, nesse descanso remunerado que agora atravessam, e que vocês possam dormir com a consciência tranquila...
---------------------------
Paulo Roberto de Almeida

Curso rapido (presencial e a distancia) de corrupcao pelo metodo mais rapido, pratico e eficaz

Raras vezes se tem um depoimento tão eloquente, tão sincero, tão direto sobre como fazer desvio de dinheiro, roubalheira declarada, falcatruas, enfim (uma professorinha da UnB diria enfins) corrupção direta.
Quase como um "Idiot's Guide to Brazilian Corruption", ou então "Corruption for Dummies in Brazil".
Nada como aprender com profissionais:

http://www.istoe.com.br/reportagens/172411_O+ESQUEMA+DE+AGNELO?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

Sem mais comentários.
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Brasil-Argentina: Hermanos, pero no mucho - Marcelo de Paiva Abreu

Deve ser duro assistir impassível a tantas "guevadas" -- não vou traduzir -- sendo produzidas, disseminadas, repetidas e elogiadas em cada uma das duas margens do Prata, mais especificamente entre esses dois grandes pirralhos...
Paulo Roberto de Almeida 


“Eu sou você amanhã” de novo?
Marcelo de Paiva Abreu *
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 31.10.2011

         Mesmo que haja significativa assimetria entre as economias do Brasil e da Argentina, o que ocorre no vizinho pode ter repercussões importantes sobre o Brasil. Os desdobramentos da recente consagração nas urnas do "cristinismo" devem, portanto, merecer atenção.

Os dois vizinhos mantêm, desde a independência, relações nem sempre marcadas por sintonia. 
       Mas, entre estereótipos preconceituosos que incluíam macaquitos e milongueiros, as relações amadureceram, culminando no Mercosul. Em certa medida, isso resultou de mudanças de longo prazo nas percepções recíprocas. Por muito tempo o Brasil foi rival menor da Argentina. Afinal, o PIB per capita argentino, quase o dobro do brasileiro após a guerra do Paraguai, alcançou, depois do boom pré-1914, patamar (mantido até 1930) quatro vezes maior que o PIB per capita brasileiro. 
        No meio século seguinte o Brasil recuperou boa parte do terreno: em 1980, o PIB-PPC per capita brasileiro era 75% do argentino; hoje está pouco abaixo disso. Ou seja, num período em que a economia brasileira estagnou por mais de 20 anos, o desempenho argentino foi apenas marginalmente melhor e caracterizado por volatilidade muito maior. 
        O tamanho relativo das economias mudou também como consequência do aumento relativo da população brasileira, hoje cinco vezes maior que a argentina: era menos de três vezes maior no final dos anos 20. Disso resultou espetacular alteração na importância relativa das duas economias: em 1930 o PIB argentino era cerca de 1/3 maior do que o brasileiro - hoje, é menos de 1/3 do PIB brasileiro. 
         É neste contexto que devem ser considerados os comentários de analista argentino que, algo melodramaticamente, se perguntava, com os EUA em mente, se a Argentina seria o Canadá do Brasil ou o México do Brasil.

No terreno da formulação de políticas econômicas, todavia, a Argentina pode ter importante influência sobre o governo brasileiro. Há registro de manifestações de altos funcionários brasileiros demonstrando preferência pelas políticas argentinas quando contrastadas ao que consideram excesso de ortodoxia brasileiro.

Na década de 1980, uma campanha publicitária de vodca ficou famosa: um homem se olhava no espelho e seu reflexo, bastante amarrotado, lhe dizia "eu sou você amanhã". A sugestão era de que a ressaca poderia ser evitada, caso fosse consumida a marca anunciada. 
           O efeito Orloff se popularizou com aplicação à tradicional propensão brasileira de repetir políticas econômicas adotadas na Argentina. Em meados da década de 1980, o exemplo notável foi a tentativa fracassada do Plano Cruzado, na esteira do também fracassado Plano Austral.

Desde o início dos anos 90 os caminhos divergiram. A estabilização do Brasil em 1993-1994 mostrou-se bem-sucedida e duradoura. O desempenho em termos de crescimento foi modesto, mas bem menos volátil do que no vizinho. A Argentina teve sucesso na estabilização dolarizada em 1991 e bom desempenho em termos de crescimento até o final da década, mas seguiu-se grave crise com abandono da conversibilidade, calote da dívida externa e queda significativa do nível de atividade. 
          A partir de 2003, partindo de uma base deprimida, o crescimento do PIB foi em torno de 8% ao ano.

Há dúvidas crescentes quanto à possibilidade de manutenção desse desempenho. A condução da política econômica sob o "kirchnerismo" em seus vários matizes foi marcada pela sistemática intervenção do governo por meio de um leque de subsídios e "retenções". Os subsídios têm como alvo manter estáveis os preços de energia ao consumidor, cujo aumento é considerado oneroso politicamente. As "retenções" são impostos de exportação sobre os produtos agrícolas, hoje de até 35%. Essa persistente interferência nos preços básicos da economia tem como pano de fundo significativa aceleração inflacionária, escamoteada de forma sistemática e truculenta pelo governo. Essas políticas públicas geram ineficiência e perigo de recrudescimento inflacionário numa economia com história marcada por alta volatilidade. Tudo em meio a controvérsias quanto à generalização de práticas corruptas. 
         A recente fuga de capitais em meio ao processo eleitoral indica a vulnerabilidade do "modelo" pós-2003.

O efeito demonstração do modelo argentino sobre as autoridades econômicas brasileiras não deve ser subestimado. O terreno é fértil, como indicam decisões recentes que desafiam o bom senso, a análise econômica elementar e maculam a reputação brasileira em foros internacionais, em particular na OMC. Medidas protecionistas primitivas, como o aumento seletivo do IPI e a desoneração fiscal seletiva em benefício dos setores automotivo e eletrônico, indicam regressão a desastres passados. 
           Decisões agora coroadas com a estapafúrdia prorrogação por meio século (!) da Zona Franca de Manaus, instituição emblemática do cartorialismo tupiniquim. E, pelo rodar da carruagem, o febeapá está longe de acabar.

Com base nesse retrospecto de inépcia nas políticas "microeconômicas" e de redução da prudência macroeconômica, aumentam as preocupações com o uso que o governo fará da bonança do pré-sal. Será toda desperdiçada?

* Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC- Rio.

Estado brasileiro: campeão de investimentos...

...calma!
Campeão de investimentos em si próprio...
Paulo Roberto de Almeida 



Érica Fraga
 Folha de S.Paulo, 31/10/2011

Uma fatia pequena do aumento expressivo da carga tributária ocorrido desde meados da década de 90 se traduziu em novos investimentos públicos no Brasil. De cada R$ 100 a mais em impostos arrecadados entre 1995 e 2010, apenas R$ 8,6 foram direcionados para elevar investimentos feitos pelo governo, como construção de escolas e hospitais, ampliação de portos e aeroportos e melhorias em estradas. A conta é do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. A elevação significativa da carga tributária nos últimos anos serviu principalmente para sustentar o aumento dos gastos correntes do governo, que incluem benefícios sociais e salários de funcionários públicos. “Nós aumentamos a carga tributária para gastar mais”, afirma Schwartsman.
Os investimentos da chamada administração direta (incluindo governos federal, estaduais e municipais) cresceram R$ 56,9 bilhões entre 1995 e 2010, descontada a inflação. Esse aumento equivale a 8,6% dos R$ 661,6 bilhões a mais arrecadados. “O governo está tomando muitos recursos sob a forma de impostos e retribuindo muito pouco em investimentos”, diz o economista Marcelo Moura, do Insper. Moura ressalta que, em 2010, quase metade das despesas do governo federal foi direcionada a gastos sociais (como os programas de transferências de renda e a previdência social). Outros 25% cobriram gastos com servidores públicos e 6,8% se converteram em investimentos.