O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 13 de novembro de 2011

A imbecilizacao da educacao brasileira: um processo irremediavel?

Respondo pela afirmativa, com agravantes. Sim, acredito, não por uma crença pessoal, subjetiva, mas por conhecimento próprio, objetivo, que a educação brasileira, em todo e qualquer nível, e quanto mais alto pior, está, sim, em sério, acelerado e dramático processo de deterioração.
Não se trata apenas de mediocrização, o que já vinha ocorrendo antes que companheiros debilóide assumissem o comando da máquina de imbecilização social que constitui o MEC e outras agências da educação pública (mas que influenciam poderosamente o ensino privado, também).
O processo é muito pior, mais preocupante, perfeitamente dramático, totalmente previsível, infelizmente irrecorrível e aparentemente permanente: sim, estamos caminhando para a imbecilização completa da educação brasileira.
Nunca antes, tantos idiotas ocuparam tantos cargos nas instituições públicas de ensino, aquelas que determinam os padrões de ensino, que escolhem os livros que os estudantes vão ler (suponho) e aprender (aí já é uma hipótese), que nomeiam os outros idiotas que dirigem departamentos, secretarias e outras seções que dão as diretrizes para a implementação de programas idiotas, racistas, classistas e imbecilizantes -- como a obrigatoriedade de cursos dispensáveis em vários níveis, a exemplo de estudos afrobrasileiros e espanhol no primário e sociologia e filosofia no médio -- e que confirmam a continuidade da (de)formação de professores inúteis para uma educação medíocre que promete infernizar a vida dos alunos, de todos os alunos, pelo futuro previsível, e que deve continuar afundando intelectualmente o Brasil até onde a vista alcança e mais além. 
O que vai reproduzido abaixo é apenas uma pequena parte desse processo de imbecilização, e talvez não o mais importante ou dramático, pois conforma apenas um exame.
Alunos espertos podem entender o que os idiotas que formularam as perguntas querem que eles respondam e se conformar perfeitamente ao padrão imbecil pelos poucos minutos que vão estar envolvidos no exame idiota, responder o que se espera, e depois esquecer.
Muito mais grave é todo o processo de formação de professores -- com a pedagogia imbecilizante baseada em teorias idiotas, e manias ultrapassadas como Paulo Freire -- e de pedagogas ativas, as novas saúvas do Brasil, que preservam todo o conteúdo inútil que é servido muito mal a todos os alunos.
Grave também é a máfia sindical dos professores que ficam lutando por isonomia e benefícios materiais perfeitamente simétricos e sem qualquer conexão com o desempenho do professor e a perfomance geral do curso em causa.
Também grave é o culto das ideologias esquerdizantes, das concepções racistas sobre nossa formação étnica, do socialismo mais primário e rastaquera que possa existir, o que denota, mais do que militantismo político apenas ignorância e intolerância.
Enfim, tudo está errado na educação brasileira e vai demorar muito tempo para começar a consertar, se concertar...
Depois escrevo mais a respeito.
Paulo Roberto de Almeida 
PS1: Por ter lido alguns comentários a este post no avançado da noite no iPhone, sempre limitado em sua tela, acabei clicando errado num deles, o do Cristiano, colocando Recusar, em lugar de Aceitar (o espaço é diminuto). Depois não deu para consertar, pois o sistema do Blogger é implacável. Vou colocá-lo manualmente, desculpando-me pelo fato de aparecer sob meu próprio nome, e não no de seu autor legítimo, a quem agradeço e peço desculpas pelo ocorrido.
PS2: Os aliados dos idiotas que formularam essa questão imbecil nesta prova -- que deve se apresentar como eminentemente técnica em sua maior e essencial parte -- podem escrever, se desejarem, para este post, para protestar contra minhas palavras acima, exageradamente ofensivas, concordo, com muitos adjetivos e poucos argumentos substantivos, para dizer porque considero a educação brasileira em processo completo de imbecilização acelerada. Podem existir alguns visitantes deste blog que concordam, no essencial, com o que se está fazendo atualmente na educação brasileira (inclusão social, redução das desigualdades, correção do "neoliberalismo", etc). Sim, eles também têm direito à expressão neste blog, desde que venham com argumentos a favor legítimos, não com xingamentos contra este blogueiro. Eu me reservo esse direito...


Reinaldo Azevedo, 12/11/2011

A grande obra deste lamentável Fernando Haddad no Ministério da Educação é a ideologização do ensino e dos exames de proficiência em qualquer nível. O Enem, nas áreas antes chamadas “humanidades” e “comunicação” (rebatizaram tudo, com uma linguagem pseudo, como diria Tio Francis…), é, antes de mais nada, uma peneira ideológica.
Inexiste autonomia universitária no Brasil no que diz respeito ao pensamento. É permitido divergir desde que seja “no campo da esquerda”. Esses vagabundos que rejeitam a PM na USP, por exemplo, querem “autonomia” pra fumar maconha, não pra pensar. Nessa área, eles acreditam já ter descoberto a verdade.
A estupidez se espalha. Enviam-me o exame para residência médica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (íntegra aqui). Demorei um pouquinho para voltar ao blog porque estava lendo a estrovenga. Há coisas próprias da área, sobre as quais não tenho a menor idéia. Mas há outras que conheço bem. Tomo como exemplo a questão 82. Há tempos não vejo nada tão estúpido. Vou expondo a questão para vocês aos poucos, em vermelho, comentando em azul.

82 - A respeito das influências do neoliberalismo sobre a Saúde, considere as seguintes afirmativas:
Bem, temos já uma questão na largada. “Neoliberalismo” é uma palavra que indica uma escolha ideológica. É uma leitura feita pelas esquerdas sobre um momento da economia mundial, que trouxe, entre outros “desastres” para a humanidade, a moderna economia da informação… Mas vamos lá. O candidato a residente já sabe que tem de aceitar que há “influência do neoliberalismo sobre (sic) a saúde”. Vamos seguir.

1 - Têm gerado um processo de competição ilimitada, que promove uma espécie de guerra de todos contra todos à custa da saúde dos trabalhadores.
Competição de quem com quem? Entre os planos de saúde, por exemplo? Quer dizer que a competição capitalista, positiva no mundo inteiro, seria ruim só no Brasil, é isso? Os trabalhadores que têm plano privado de saúde estariam mais mal assistidos hoje do que estavam há 20 anos, quando só os endinheirados tinham essa possibilidade? Mais: o “neoliberalismo”, segundo os esquerdopatas, teria triunfado nas década de 80 e 90, certo? Foi justamente nos anos 1990 que o Brasil estruturou as bases do SUS. O serviço é deficiente, sim, mas muito melhor do que dos anos 80 para trás (piorou nos governos petistas). O estudante informado, racional, que sabe onde tem o nariz, concluiu que a afirmação está errada. PORQUE ESTÁ ERRADA! Prossegue o examinador. Vamos à segunda proposição.
2. Constituem um modelo de competição que é cego para suas consequências sociais, ao promover competição ilimitada, a aceitação da injustiça, da violência e do sofrimento no trabalho.
Uau! Notem que essa alternativa tem rigorosamente o mesmo conteúdo da anterior, só que com outras palavras. Quem fez a prova achou que não tinha sido contundente o bastante na censura ao “neoliberalismo”. E o que dizem na 3?
3. Impondo como premissa das reformas que preconiza a redução dos gastos públicos, conduz os governos a economizar à custa do sofrimento da Nação, deixando de investir em práticas sociais como Educação e Saúde.
Como se vê, já se extrapolou da saúde para as outras áreas. O Brasil tem, à diferença do que sustenta o pilantra que redigiu a questão, um alto desembolso com saúde e educação. O problema é de outra natureza: ineficiência. Reparem na linguagem: “sofrimento da nação”… Chamar educação e saúde de “práticas sociais” é coisa de analfabeto sociológico fazendo sociologice. A esta altura, o estudante informado está escandalizado. Mas também já ligou o desconfiômetro: “Espere aí: as três afirmações têm o mesmo conteúdo; são só variações em torno do mesmo tema.” Então ele saltou para a quarta suposta conseqüência.
4. Preconiza a parceria público-privada, na qual a relação do público com o privado acentua a dívida do Estado com a maioria da população e ao mesmo tempo favorece a esfera privada e a acumulação do capital.
Heeeinnn? Deu pra entender que, no fim das contas, quem enche o rabo de dinheiro é o “porco capitalista”. Em suma, não fosse o capitalismo, a saúde seria supimpa, como na China, por exemplo, onde não existe um sistema universal de atendimento. Reitero: o SUS foi estruturado na vigência do que esses ignorantes chamam “neoliberalismo”. Mas vamos à 5ª.
5. As reformas instituídas na formação dos profissionais de saúde procuram adaptá-la às necessidades atuais do capital, tendendo a reduzir os conteúdos e priorizar o alcance de determinadas habilidades e atitudes.
Quais reformas? Do que falam esses brutos? Bem, o candidato já percebeu que, segundo o examinador, esse neoliberalismo é muito mau, odeia o trabalhador e os pobres e não produziu nada de bom
ATENÇÃO, MEUS CAROS! TODAS AS AFIRMAÇÕES, MERAS VARIAÇÕES EM TORNO DO MESMO TEMA, SÃO FALSAS PORQUE A PREMISSA ESTÁ ERRADA. Mas chegou a hora de o aluno responder.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
b) Somente a afirmativa 5 é verdadeira.
c) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5 são verdadeiras.
Parece piada, não? O examinador quer apenas a adesão do candidato a seu ponto de vista. Numa questão vigarista, em que todas as assertivas são falsas, é preciso dizer que todas são verdadeiras. É um troço orwelliano, é a “novilíngua”; o sentido está sempre pelo avesso: “liberdade é escravidão”.
Essas distorções estão em todo canto, em todas as provas, em todos os cursos — chegam também ao ensino privado de todos os níveis. Parece que o Brasil será o último país do mundo a abandonar esse submarxismo chulé, que vive mandando prender “os culpados de sempre”.
O que vai acima reflete um conjunto formidável de mentiras. A saúde privada precisa é de mais competição. A exemplo de qualquer outro setor, quanto mais se disputam os clientes, mais benefícios eles recebem. É por isso que há mais telefones do que brasileiros hoje; antes da privatização, tratava-se de um serviço de luxo.
É claro que, fosse levada a sério a Justiça, a questão deveria ser impugnada. Ela não testa um conhecimento objetivo; cobra do candidato um alinhamento ideológico, uma adesão a um valor triunfante entre os examinadores, o que jamais pode ser um critério de verdade.
É um escândalo político, moral e ético.

sábado, 12 de novembro de 2011

O pelotao da economia mundial: Brasil na frente? - Merval Pereira


Brasil no G-6
Merval Pereira
O Globo, 12/11/2011

Ao mesmo tempo que somos afetados pela crise internacional que se agrava a cada dia, ameaçando reduzir nosso crescimento a níveis medíocres, somos beneficiários dela e da transformação do quadro de relações de poder e de interesses globalizados num mundo multicêntrico que a duras penas vai abrindo caminho para os países emergentes que têm sua melhor expressão nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e a recém-chegada África do Sul, o S de South Africa), acrônimo criado por um banco de investimento para facilitar a compreensão das transformações que ocorriam no mundo e que se tornou quase que uma instituição de vida própria.
Mesmo crescendo a apenas 3% ao ano, o PIB brasileiro aumentará mais que o dos países europeus e o dos Estados Unidos nos próximos anos, o que colocará o país no G-6 da economia mundial, à frente da França e da Inglaterra.
Mas crescerá menos que emergentes como China e Índia. Brasil e Índia, devido ao baixo índice educacional e à falta de infraestrutura, crescerão em velocidade menor que Rússia e China nos próximos 20 anos, segundo estudo da Goldman Sachs, criadora dos Brics.
Mas, mesmo a lista das dez maiores economias do mundo devendo ser bastante diferente da de hoje nos próximos anos, há um detalhe fundamental: as maiores economias, medidas pelo Produto Interno Bruto (PIB), provavelmente não serão as mais ricas em termos de renda per capita.
Pelas projeções, os cidadãos dos Brics continuarão sendo mais pobres na média que os cidadãos dos países do G-6 de hoje, com exceção talvez da Rússia. O Brasil, se conseguir manter uma média de crescimento do PIB de 3,5% ao ano, chegará a 2050 com uma renda per capita de US$26.500, próximo do que já têm hoje França e Alemanha (cerca de US$23 mil), menos do que o Japão e os Estados Unidos hoje (cerca de US$33 mil).
Para se ter uma ideia de como a evolução dos países não se dá de maneira uniforme, basta lembrar que o Brasil já teve crescimentos sustentados do PIB de níveis asiáticos: de 1950 a 1959, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de 6,12%; e, de 1970 a 1979, de 8,78%.
Até 1980, o Brasil cresceu mais que a média mundial: de 1900 a 1980, a renda per capita brasileira cresceu em média 3,04%, enquanto a renda mundial cresceu 1,92%.
O período de maior crescimento foi o de 1950 a 1980, quando o país cresceu em média 4,39% sua renda per capita, para um crescimento médio mundial de 2,83%.
Nesse período, o Brasil figurou entre os dez países mais dinâmicos do mundo. O PIB per capita do Brasil em 1980 equivalia a 30,5% do dos Estados Unidos e, em 2009, era de 22,7%.
No mesmo período, a Coreia do Sul, que tinha PIB per capita menor que o do Brasil, foi de 18,8% para 60% do PIB per capita dos EUA.
Mesmo que chegue a ser a 6ª economia de um mundo conturbado, o país continuará tendo desvantagens competitivas sérias.
Os países que fazem parte da OCDE, os mais avançados do mundo, aplicam cerca de 7% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil não passa de 1%, sendo suplantado largamente por Coreia do Sul e China, países que estavam atrás de nós nesse setor nos anos 1980.
Em 1960, a Coreia tinha escolaridade média superior à do Brasil em 1,4 ano de estudo, e essa diferença já está em mais de 6 anos.
A participação brasileira na produção mundial caiu de 3,1%, em 1995, para 2,9%, em 2009. No mesmo período, a China saltou de 5,7% para 12,5%, e a Índia foi de 3,2% para 5,1%.
O embaixador Marcos Azambuja, que já representou o Brasil em diversos organismos internacionais, inclusive em relação aos Brics, considera que o acrônimo foi “uma invenção necessária”, menos talvez para a China e para a Rússia, que, como grandes vitoriosas na II Guerra Mundial, já tinham espaço assegurado no sistema das Nações Unidas, mas, sobretudo, para a Índia, a África do Sul e o Brasil, as três potências às quais se aplica com maior propriedade, segundo ele, o rótulo de “grandes emergentes”.
Quando se assinou a Carta da ONU, lembra Azambuja, a Índia ainda não era sequer independente e apenas uma joia na coroa do Império Britânico; a África do Sul ainda montava o regime do apartheid isolada e depois enfrentada com a África pós-colonial que começava a nascer.
O Brasil, na sua análise, pesava muito menos do que hoje, e nossa contribuição na guerra para a causa aliada, embora certa e valiosa, foi menos importante do que pretendíamos então e pretendemos hoje.
A reivindicação de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, além dos aspectos objetivos do lugar que o país ocupa hoje na nova ordem mundial, tem um lado histórico pouco conhecido, já tratado aqui na coluna, que reforça tanto a aspiração brasileira quanto a ideia de que a importância estratégica do Brasil desde a origem foi minimizada pelas grandes potências vitoriosas.
Como único país da América Latina que lutou na Segunda Guerra Mundial ao lado das forças dos Aliados, o Brasil teve no presidente Roosevelt, dos Estados Unidos, um defensor de sua participação no Conselho, mas na reunião de Dumbarton Oaks a proposta encontrou resistências da Grã-Bretanha e da URSS.
A própria delegação americana recomendou que Roosevelt desistisse da ideia. Tanto britânicos quanto soviéticos eram refratários a aumento no número de assentos permanentes além dos cinco já definidos — EUA, Rússia, China, França e Reino Unido —, alegando que, se fosse expandido, o conselho poderia ver sua eficácia comprometida.
Churchill e Stalin tampouco veriam com simpatia a hipótese de permitir o ingresso de mais um “voto certo” para os Estados Unidos.
O presidente Franklin Roosevelt, que se havia empenhado pessoalmente em favor da China, era quem melhor poderia levar adiante sua intenção de criar mais uma cadeira permanente, mas sua morte, pouco antes da Conferência de São Francisco, eliminou em definitivo essa possibilidade.
Quando Truman assume, não era mais imperativo cultivar a amizade de Getulio Vargas ou tolerar abusos de seu regime autoritário.

Universidade Privada do MST (com o nosso dinheiro, claro...)

A matéria abaixo é mais uma demonstração como certos ministérios brasileiros -- suponho que aprovados pela mais alta cúpula do governo que nos desgoverna -- chamam a todos nós de idiotas, se apropriam do nosso dinheiro para fins privados e considera que todos os brasileiros, mesmo os que não fizeram nenhum tipo de faculdade, devem pagar para que alguns militantes de causas esclerosadas possam se beneficiar do dinheiro público duplamente.
O ministro da Saúde está nos chamando de idiotas.
Como eu não aceito a condição, eu devolvo a designação: idiota é aquele que pensa que somos idiotas. Aliás, pior que idiotas, são desonestos e prevaricadores, ao usar dinheiro público para causas privadas.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil terá 'cursinho' gratuito para médicos brasileiros formados em Cuba

12 de novembro de 2011 | 3h 00


LÍGIA FORMENTI / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O governo vai bancar uma espécie de cursinho para que médicos formados em Cuba possam atuar no Brasil. A ideia é facilitar a revalidação dos diplomas, oferecendo um reforço gratuito em universidades brasileiras com assuntos que não foram abordados na graduação cubana, como noções do Sistema Único de Saúde (SUS). O curso seria dado antes da prova para reconhecimento de diploma. Sem a validação, profissionais não podem trabalhar no Brasil.
Atualmente, para ter autorização de exercício profissional, médicos formados em outros países precisam passar por um exame organizado nacionalmente, o Revalida, ou se submeter a provas feitas por algumas universidades federais, que não aderiram ao exame nacional.
O processo, no entanto, não é fácil. Este ano, dos 677 inscritos no Revalida, 65 foram aprovados. Em 2010, quando a prova foi lançada, os resultados foram muito mais baixos: dos 628 candidatos, apenas 2 tiveram permissão para trabalhar no Brasil. Com o curso de reforço, médicos brasileiros formados em Cuba teriam mais chances de serem bem-sucedidos no exame de validação.
Assinado em setembro durante uma visita do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a Cuba, o acordo entre universidades estaduais e a Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), de Cuba, permite ainda que, durante o período de aperfeiçoamento, profissionais trabalhem, numa espécie de estágio.
A Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, já prepara os detalhes do curso. Além das aulas teóricas e práticas, os formados receberiam, no período de dez meses do curso, uma espécie de bolsa de ajuda de custo, no valor de R$ 1.240.
O reitor da universidade, Joaquim Bastos, prevê que, além dos R$ 2 milhões para bolsas, seriam necessários recursos para pagamento de cerca de 15 professores que ficariam responsáveis pela formação dos médicos. Ainda não se sabe, no entanto, quem vai pagar a conta.
"Mas tenho certeza de que isso se resolve. O projeto tem todo empenho da Secretaria de Saúde, simpatia do governo do Estado e do ministro, como ficou claro na visita a Cuba", disse Bastos.
Oficialmente, no entanto, ninguém assume a responsabilidade. O Ministério da Saúde, por meio da assessoria de imprensa, afirmou que o projeto tem todo apoio de Padilha. Mas não há previsão de oferta de recursos, nem de envolvimento da pasta no projeto. O secretário de Saúde da Bahia, Jorge Solla, um entusiasta da iniciativa, avisou também que por enquanto não há nada definido. Terça-feira, em Brasília, Solla disse que os projetos estão avançados, mas admitiu haver preconceito em relação ao curso feito em Cuba. "Mas o nível do ensino é muito bom", garantiu.
Mesmo sem saber de onde o dinheiro virá, Bastos recebeu a recomendação de preparar um curso já para o próximo ano. "Isso não será uma iniciativa eterna. A ideia é fazer dois, três cursos", contou o reitor.
Pelas contas de Solla, existem cerca de 500 brasileiros formados em Cuba que poderiam se beneficiar da parceria com a Elam no processo de revalidação.
Durante a visita em setembro, Padilha afirmou que a parceria poderia ampliar o número de médicos nas regiões onde há carência de profissionais, como municípios do interior ou nas regiões pobres das grandes cidades.
Críticas. Mal foi lançada, a ideia já desagrada ao Conselho Federal de Medicina (CFM). "Não entendo essa lógica de mobilizar uma estrutura pública, com salas e professores, para um grupo pequeno de brasileiros", disse o vice-presidente da entidade, Carlos Vital. Para ele, no entanto, o que mais surpreende é o pagamento de uma "ajuda de custo." "Isso é tirar de dentro de casa para se dar o que não tem. Por que esses alunos merecem um privilégio como esse?", pergunta Vital.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Crise Financeira na Europa: Italia para nao-italianos...

European economies

Europe's deepening crisis

Nov 10th 2011, 17:48 by The Economist online
THE interactive graphic above (updated November 10th 2011) illustrates the depth of the problems that the European economy faces. The euro-zone crisis reached a critical stage when Italy joined the seven per-cent club, the group of euro-zone countries whose borrowing costs (as measured by ten-year bond yields) have gone above 7% and stayed there. It public debts are close to 120% of GDP. Only Greece has a greater burden. Ireland’s is lower but it has a large budget deficit so is adding to its debt at a rapid pace. So is Britain but it has benefited from being a non-euro haven and can still borrow very cheaply.
Italy’s situation is not yet critical because the government does not have to refinance all its debts quickly at punishing interest rates. The average maturity of its public bonds is around seven years. Only in Austria and Britain is it longer.
GDP grew in most countries in the first half of 2011, though there were marked differences in performance. Germany was sprightly. So were the countries around with which it trades most heavily. By contrast GDP in Greece and Portugal has crashed under the weight of austerity. More recently, the crisis has sapped the strength of even the so-called “core” euro-zone countries. The strains of the euro area’s sovereign-debt crisis make a recession in the early months of 2012 likely.
In many countries unemployment has not gone up by as much as one might expect given the depth of the 2008-09 crisis. Germany has lower unemployment than it enjoyed in the boom years. The worst-affected countries include Ireland and Spain, where a collapse in construction has swollen the dole queues. Youth unemployment is especially high in Spain, prompting protests. Britain has fared better because its tight planning laws limited the growth of its construction sector during the global housing boom. But sluggish growth and the prospect of renewed recession mean that joblessness is rising again in Britain as well as in Germany.
AUDIO: Edward Carr, our foreign editor, explains why understanding the crisis in the euro zone requires a look at the unresolved nature of what it means to be European

George Kennan, biography by John Lewis Gaddis - Henry Kissinger

The New York Times Review of Books, November 10, 2011

The Age of Kennan

GEORGE F. KENNAN:An American Life
By John Lewis Gaddis
Illustrated. 784 pp. The Penguin Press. $39.95.

While writing this essay, I asked several young men and women what George F. Kennan meant to them. As it turned out, nearly all were essentially oblivious of the man or his role in shaping American foreign policy. Yet Kennan had fashioned the concept of containment in the name of which the cold war was conducted and won and almost concurrently had also expressed some of the most trenchant criticism of the way his own theory was being implemented. To the present generation, Kennan has receded into a vague past as has their parents’ struggle to bring forth a new international order amid the awesome, unprecedented power of nuclear weapons.
For the surviving participants in the emotions of that period, this state of affairs inspires melancholy reflections about the relevance of history in the age of the Internet and the 24-hour news cycle. Fortunately, John Lewis Gaddis, a distinguished professor of history and strategy at Yale, has brought again to life the dilemmas and aspirations of those pivotal decades of the mid-20th century. His magisterial work, “George F. Kennan: An American Life,” bids fair to be as close to the final word as possible on one of the most important, complex, moving, challenging and exasperating American public servants. The reader should know that for the past decade, I have occasionally met with the students of the Grand Strategy seminar John Gaddis conducts at Yale and that we encounter each other on social occasions from time to time. But Gaddis’s work is seminal and beyond personal relationships.
George Kennan’s thought suffused American foreign policy on both sides of the intellectual and ideological dividing lines for nearly half a century. Yet the highest position he ever held was ambassador to Moscow for five months in 1952 and to Yugoslavia for two years in the early 1960s. In Washington, he never rose above director of policy planning at the State Department, a position he occupied from 1947 to 1950. Yet his precepts helped shape both the foreign policy of the cold war as well as the arguments of its opponents after he renounced — early on — the application of his maxims.
A brilliant analyst of long-term trends and a singularly gifted prose stylist, Kennan, as a relatively junior Foreign Service officer, served in the entourages of Secretaries of State George C. Marshall and Dean Acheson. His fluency in German and Russian, as well as his knowledge of those countries’ histories and literary traditions, combined with a commanding, if contradictory, personality. Kennan was austere yet could also be convivial, playing his guitar at embassy events; pious but given to love affairs (in the management of which he later instructed his son in writing); endlessly introspective and ultimately remote. He was, a critic once charged, “an impressionist, a poet, not an earthling.”
For all these qualities — and perhaps because of them — Kennan was never vouchsafed the opportunity actually to execute his sensitive and farsighted visions at the highest levels of government. And he blighted his career in government by a tendency to recoil from the implications of his own views. The debate in America between idealism and realism, which continues to this day, played itself out inside Kennan’s soul. Though he often expressed doubt about the ability of his fellow Americans to grasp the complexity of his perceptions, he also reflected in his own person a very American ambivalence about the nature and purpose of foreign policy.
When his analytical brilliance was rewarded with ambassadorial appointments, to the Soviet Union and then to Yugoslavia, Kennan self-destructed while disregarding his own precepts. The author of trenchant analyses of Soviet morbid sensitivity to slights and of the Kremlin’s penchant for parsing every word of American diplomats, he torpedoed his Moscow mission after just a few months. Offended by the constrictions of everyday living in Stalin’s Moscow, Kennan compared his hosts to Nazi Germany in an offhand comment to a journalist at Tempelhof airport in Berlin. As a result, he was declared persona non grata — the only American ambassador to Russia to suffer this fate. Similarly, in Belgrade a decade later, Kennan reacted to Tito’s affirmation of neutrality on the issue of the Soviet threat to Berlin as if it were a personal slight. Yet Tito’s was precisely the kind of neutralist balancing act Kennan had brilliantly analyzed when it had been directed against the Soviet Union. Shortly afterward, Kennan resigned.
Nonetheless, no other Foreign Service officer ever shaped American foreign policy so decisively or did so much to define the broader public debate over America’s world role. This process began with two documents remembered as the Long Telegram (in 1946) and the X article (in 1947). At this stage, Kennan served a country that had not yet learned the distinction between the conversion and the evolution of an adversary — if indeed it ever will. Conversion entails inducing an adversary to break with its past in one comprehensive act or gesture. Evolution involves a gradual process, a willingness to pursue one’s ultimate foreign policy goal in imperfect stages.
America had conducted its wartime diplomacy on the premise that Stalin had abandoned Soviet history. The dominant view in policy-making circles was that Moscow had embraced peaceful coexistence with the United States and would adjust differences that might arise by quasi-legal or diplomatic processes. At the apex of that international order would be the newly formed United Nations. The United States, the Soviet Union and Great Britain were to be the joint guardians. (China and France were later additions.)
Kennan had rejected the proposition of an inherent American-Soviet harmony from the moment it was put forward and repeatedly criticized what he considered Washington’s excessively accommodating stance on Soviet territorial advances. In February 1946, the United States Embassy in Moscow received a query from Washington as to whether a doctrinaire speech by Stalin inaugurated a change in the Soviet commitment to a harmonious international order. The ambassador was away, and Kennan, at that time 42 and deputy chief of mission, replied in a five-part telegram of 19 single-spaced pages. The essence of the so-called Long Telegram was that Stalin, far from changing policy, was in fact implementing a particularly robust version of traditional Russian designs. These grew out of Russia’s strategic culture and its centuries-old distrust of the outside world, onto which the Bolsheviks had grafted an implacable revolutionary doctrine of global sweep. Soviet leaders would not be swayed by good-will gestures. They had devoted their lives (and sacrificed millions of their compatriots) to an ideology positing a fundamental conflict between the Communist and capitalist worlds. Marxist dogma rendered even more truculent by the Leninist interpretation was, Kennan wrote, “justification for their instinctive fear of the outside world, for the dictatorship without which they did not know how to rule, for cruelties they did not dare not to inflict, for sacrifice they felt bound to demand. In the name of Marxism they sacrificed every single ethical value. . . . Today they cannot dispense with it.”
The United States, Kennan insisted (sometimes in telegramese), was obliged to deal with this inherent hostility. With many of the world’s traditional power centers devastated and the Soviet leadership controlling vast natural resources and “the energies of one of world’s greatest peoples,” a contest about the nature of world order was inevitable. This would be “undoubtedly greatest task our diplomacy has ever faced and probably greatest it will ever have to face.”
In 1947, Kennan went public in a briefly anonymous article published in Foreign Affairs, signed by “X.” Among the thousands of articles produced on the subject, Kennan’s stands in a class by itself. Lucidly written, passionately argued, it elevated the debate to a philosophy of history.
The X article condensed the Long Telegram and gave it an apocalyptic vision. Soviet foreign policy represented “a cautious, persistent pressure toward the disruption and weakening of all rival influence and rival power.” The only way to deal with Moscow was by “a policy of firm containment designed to confront the Russians with unalterable counterforce at every point where they show signs of encroaching upon the interests of a peaceful and stable world.”
So far this was a doctrine of equilibrium much like what a British foreign secretary in the 19th century might have counseled in dealing with a rising power — though the British foreign secretary would not have felt the need to define a final outcome. What conferred a dramatic quality on the X article was the way Kennan combined it with the historic American dream of the ultimate conversion of the adversary. Victory would come not on the battlefield nor even by diplomacy but by the implosion of the Soviet system. It was “entirely possible for the United States to influence by its actions” this eventuality. At some point in Moscow’s futile confrontations with the outside world — so long as the West took care they remained futile — some Soviet leader would feel the need to achieve additional support by reaching down to the immature and inexperienced masses. But if “the unity and efficacy of the Party as a political instrument” was ever so disrupted, “Soviet Russia might be changed over night from one of the strongest to one of the weakest and most pitiable of national societies.”
No other document forecast so presciently what would in fact occur under Mikhail Gorbachev. But that was four decades away. It left a number of issues open: How was a situation of strength to be defined? How was it to be built and then conveyed to the adversary? And how would it be sustained in the face of Soviet challenges?
Kennan never dealt with these issues. It took Dean Acheson to translate Kennan’s concept into the design that saw America through the cold war. As under secretary to George Marshall, Acheson worked on the Marshall Plan and, as secretary of state, created NATO, encouraged European unification and brought Germany into the Atlantic structure. In the Eisenhower administration, Secretary of State John Foster Dulles extended the alliance system through the Baghdad Pact for the Middle East and SEATO for Southeast Asia. In effect, containment came to be equated with constructing military alliances around the entire Soviet periphery over two continents.
The practical consequence was to shelve East-West diplomacy while the positions of strength were being built. The diplomatic initiative was left to the Soviet Union, which concentrated on Western weak points, or where it calculated that it had an inherent advantage (as in the exposed position of Berlin). Paradoxically containment, while hardheaded in its absolute opposition to the further expansion of the Soviet sphere, failed to reflect the real balance of forces. For with the American atomic monopoly — and the huge Soviet losses in the world war — that actual balance was never more favorable for the West than at the beginning of the cold war. A situation of strength did not need to be built; it already existed.
The most illustrious advocate of this point of view was Winston Churchill. In a series of speeches between 1946 and 1952, he called for diplomatic initiatives to produce a European settlement while American strength was still preponderant. The American policy based on the X article appealed for endurance so that history could display its inevitable tendencies. Churchill warned of the psychological strain of a seemingly endless strategic stalemate.
At the same time that Churchill was urging an immediate diplomatic confrontation, Kennan was growing impatient with Washington’s tendency to equate containment with a largely military strategy. He disavowed the global application of his principles. As he so often did, he pushed them to their abstract extreme, arguing that there were some regions “where you could perfectly well let people fall prey to totalitarian domination without any tragic consequences for world peace in general.” We could not bomb the Soviets into submission, nor convince them to see things our way; we had, in fact, no direct means to change the Soviet regime. We had instead to wait out an unsettled situation and occasionally mitigate it with diplomacy.
The issue became an aspect of the perennial debate between a realism stressing the importance of assessing power relationships and an idealism conflating moral impulses with historical inevitability. It was complicated by Kennan’s tendency to defend on occasion each side of the issue — leading to incisive and quite unsentimental essays and diary entries analyzing the global balance of power, followed by comparable reflections questioning the morality of practicing traditional power politics in the nuclear age.
Stable orders require elements of both power and morality. In a world without equilibrium, the stronger will encounter no restraint, and the weak will find no means of vindication. At the same time, if there is no commitment to the essential justice of existing arrangements, constant challenges or else a crusading attempt to impose value systems are inevitable.
The challenge of statesmanship is to define the components of both power and morality and strike a balance between them. This is not a one-time effort. It requires constant recalibration; it is as much an artistic and philosophical as a political enterprise. It implies a willingness to manage nuance and to live with ambiguity. The practitioners of the art must learn to put the attainable in the service of the ultimate and accept the element of compromise inherent in the endeavor. Bismarck defined statesmanship as the art of the possible. Kennan, as a public servant, was exalted above most others for a penetrating analysis that treated each element of international order separately, yet his career was stymied by his periodic rebellion against the need for a reconciliation that could incorporate each element only imperfectly.
At the beginning of his career, Kennan’s view of the European order was traditional. America should seek, he argued, an equilibrium based on enlightened self-interest and sustained by the permanent introduction of American power. “Heretofore, in our history, we had to take the world pretty much as we found it,” he wrote during the war. “From now on we will have to take it pretty much as we leave it when the crisis is over.” And that required “the firm, consistent and unceasing application of sheer power in accordance with a long-term policy.”
In pursuit of that European equilibrium, Kennan urged Washington and its democratic allies to oblige the Soviet Union to accept borders as far east as possible. In 1944, he proposed that Poland be placed under international trusteeship to prevent its domination by the Soviet Union. But when this was rejected by Roosevelt, who did not want to risk alienating Moscow in the last phase of the war, Kennan adjusted his view to the new realities as he saw them. If the United States was unwilling to force the Soviet Union into acceptable limits, “we should gather together at once into our hands all the cards we hold and begin to play them for their full value.” That meant dividing Europe into spheres of influence with the line of division running through Germany. The Western half of Germany should be integrated into a European federation. He called this a “bitterly modest” program, but “beggars can’t be choosers.”
Six years later, Acheson was building an Atlantic partnership in essentially the manner Kennan had proposed. But Kennan rejected it for three reasons: his innate perfectionism, his growing concern about the implications of nuclear war and his exclusion from a role in government.
The irony of Kennan’s thought was that his influence in government arose from his advocacy of what today’s debate would define as realism, while his admirers outside government were on the whole motivated by what they took to be his idealistic objections to the prevalent, essentially realistic policy. His vision of peace involved a balance of power of a very special American type, an equilibrium that was not to be measured by military force alone. It arose as well from the culture and historical evolution of a society whose ultimate power would be measured by its vigor and its people’s commitment to a better world. In the X article, he called on his countrymen to meet the “test of the overall worth of the United States as a nation among nations.”
Kennan saw clearly — more so than a vast majority of his contemporaries — the ultimate outcome of the division of Europe, but less clearly the road to get there. He was too intellectually rigorous to countenance the partial steps needed to reach the vistas he envisioned. Yet policy practice — as opposed to pure analysis — almost inevitably involves both compromise and risk.
This is why Kennan often shrank from the application of his own theories. In 1948, with an allied government in China crumbling, Kennan — at some risk to his career — advanced the minority view that a Communist victory would not necessarily be catastrophic. In a National War College lecture, he argued that “our safety depends on our ability to establish a balance among the hostile or undependable forces of the world.” A wise policy would induce these forces to “spend in conflict with each other, if they must spend it at all, the intolerance and violence and fanaticism which might otherwise be directed against us,” so “that they are thus compelled to cancel each other out and exhaust themselves in internecine conflict in order that the constructive forces, working for world stability, may continue to have the possibility of life.” But when, in 1969, the Nixon administration began to implement almost exactly that policy, Kennan called on me at the White House, in the company of a distinguished group of former ambassadors to the Soviet Union, to warn against proceeding with overtures to China lest the Soviet Union respond by war.
So emphatically did Kennan sometimes reject the immediately feasible that he destroyed his usefulness in the conduct of day-to-day diplomacy. This turned his life into a special kind of tragedy. Until his old age, he yearned for the role in public service to which his brilliance and vision should have propelled him, but that was always denied him by his refusal to modify his perfectionism.
A major element in this refusal was Kennan’s growing repugnance at the prospect of nuclear war. From the beginning of the nuclear age, he emphasized that the new weapons progressively destroyed the relationship between military and political objectives. Historically, wars had been fought because the prospect of accommodation seemed more onerous than the consequences of defeat. But when nuclear war implied tens of millions of casualties — and arguably the end of civilization — that equation was turned on its head.
The most haunting problem for modern policy makers became what they would in fact do when the limit of diplomatic options had been reached: Did any leader or group of leaders have the right to assume the moral responsibility for taking risks capable of destroying civilized order? But by the same calculus, could any leader or group of leaders assume the responsibility for abandoning nuclear deterrence and turn the world over to groups with possibly genocidal tendencies? Acheson chose the risk of deterrence, probably convinced that he would never have to implement it. Kennan abandoned deterrence and the nuclear option, at one stage even seeking to organize a no-first-use pledge from American policy makers and musing publicly in an interview whether Soviet dominance over Western Europe might not be preferable to nuclear war.
When Kennan was operating in the realm of philosophy, he tended to push matters to passionate and abstract conclusions. Yet under pressure of concrete events, he would swing back to the role of a hard-nosed advocate of specific operational policies. After the Chinese offensive across the Yalu in 1950, he overcame his distaste for Acheson’s more militant policy to urge him to refuse any attempt at diplomacy with the Communist world and instead adopt a Churchillian posture of defiance. Similarly, in 1968, his decade-long advocacy of military disengagement in Europe did not keep him from urging President Johnson to respond to the Soviet invasion of Czechoslovakia by sending another 100,000 troops to Europe.
It was my good fortune to know both Acheson and Kennan at or near the height of their intellectual powers. Acheson was the greatest secretary of state of the postwar period. He designed the application of the concepts for which Kennan was the earliest and most eloquent spokesman. The growing estrangement between these two giants of American foreign policy was as sad as it was inevitable. Acheson was indispensable for the architecture of the immediate postwar decade; Kennan’s view raised the issues of a more distant future. Acheson considered Kennan more significant for literature than for policy making and wholly impractical. Kennan’s reaction was frustration at his growing irrelevance to policy making and his inability to convey his long-term view.
On the issues of the day, I sided with Acheson and have not changed my views in retrospect. If Europe was to be secured, America did not have the choice between postponing the drawing of dividing lines or implementing a diplomatic process to determine whether dividing lines needed to be drawn at all. The application of Kennan’s evolving theories in the immediate postwar decades (particularly his opposition to NATO, his critique of the Truman doctrine and his call for a negotiated American disengagement from Europe) would have proved as unsettling as Acheson predicted.
At the same time, Kennan deserves recognition for raising the key issues of the long-term future. He warned of a time in which America might strain its domestic resilience by goals beyond the physical and psychological capacity of even the most exceptional society.
Kennan was eloquent in emphasizing the transient nature of a division of the world into military blocs and the ultimate need to transcend it by diplomacy. He came up with remedies that were both too early in the historical process and occasionally too abstract. He at times neglected the importance of timing. Gaddis quotes him as pointing out that he had problems with sequencing: “I have the habit of seeing two opposing sides of a question, both of them wrong, and then overstating myself, so that I appear to be inconsistent.”
In a turbulent era, Kennan’s consistent themes were balance and restraint. Unlike most of his contemporaries, he applied these convictions to his side of the debate as well. He testified before the Senate Foreign Relations Committee against the Vietnam War but on the limited ground that there was no strategic need for it. He emphasized that the threat posed by Hanoi was exaggerated and that the alleged unity of the Communist world was a myth. But he also warned elsewhere against “violent objection to what exists, unaccompanied by any constructive concept of what, ideally ought to exist in its place.” He questioned the policy makers’ judgment but not their intent; he understood their dilemmas even as he both criticized and sought to join them.
Oscillating between profound perceptions of both the world of ideas and the world of power, Kennan often found himself caught between them. Out of his inward turmoil emerged themes that, like the movements of a great symphony, none of us who followed could ignore, even when they were occasionally discordant.
s time went on, Kennan retreated into writing history. He did so less as a historian than as a teacher to policy makers, hoping to instruct America in the importance of moderation in objectives and restraint in the use of power. He took as an example the collapse of the European order that led to the outbreak of World War I. He produced two works of exemplary scholarship and elegant writing, “Russia Leaves the War” and “The Decision to Intervene.” He published a book of lectures and essays about the making of American foreign policy in the first half of the 20th century, “American Diplomacy: 1900-1950,” which remains the best short summary of the subject.
Yet Kennan did not derive genuine satisfaction from the accolades that so fulsomely came his way from the nonpolicy world. His partly self-created exile from policy making was accompanied by permanent nostalgia for his calling. In his diary he meticulously recorded the tribute that was paid to him by the American chargé d’affaires at an embassy dinner in Moscow in 1981, noting that no secretary of state had ever paid him comparable attention.
Policy makers, even when respectful, shied away from employing him because the sweep of his vision was both uncomfortable (even when right) and beyond the outer limit of their immediate concerns on the tactical level. And the various protest movements, which took up some of his ideas, added to his discomfort because he could never share their single-minded self-­righteousness.
Dean Acheson wrote that separation from high office is like the end of a great love affair — a void left by the disappearance of heightened sensitivities and focused concerns. What is poignant about Kennan’s fate is that his parting came before he reached the pinnacle. He spent the rest of his life as an observer at the threshold of political influence, confined to what he called “the unbroken loneliness of pure research and writing.”
Though he lived until the age of 101 (dying in 2005) and saw many of his prophecies come into being, even the collapse of the Soviet Union did not confer on him the elation of vindication. Rather, it marked in his mind the end of his literary vocation. The need for his influence on policy making had irrevocably disappeared. “Reconcile yourself to the inevitable,” he confided to his diary, “you are never again, in the short remainder of your life, to be permitted to do anything significant.” He put aside the third volume of his majestic history of pre-World War I diplomacy. He had no further lessons to teach his country.
We can be grateful to John Lewis Gaddis for bringing Kennan back to us, thoughtful, human, self-centered, contradictory, inspirational — a permanent spur as consciences are wont to be. Masterfully researched, exhaustively documented, Gaddis’s moving work gives us a figure with whom, however one might differ on details, it was a privilege to be a contemporary.
Early in his career, Kennan wrote that he was resigned to “the lonely pleasure of one who stands at long last on a chilly and inhospitable mountaintop where few have been before, where few can follow and where few will consent to believe he has been.” Gaddis had the acumen to follow Kennan’s tortured quest and to convince us that Kennan had indeed reached his mountaintop.

Henry A. Kissinger’s latest book, “On China,” was published in May.

A crise europeia e seus efeitos no Brasil - Ricardo Amorim


Entrevista do economista Ricardo Amorim sobre como se preparar para os efeitos da próxima crise no Brasil (11/2011)
Revista Combustíveis & Conveniência
11/2011
Por Rosemeire Guidoni
O economista Ricardo Amorim foi um dos poucos que anteciparam a crise elétrica brasileira de 2001, a bolha imobiliária norte-americana de 2008 e a crise européia de 2010.
Em 2008, inclusive, Amorim deixou Nova York (EUA) e retornou ao Brasil, apostando que as dificuldades dos chamados países ricos seriam persistentes e as oportunidades de negócios no Brasil, mais interessantes. Assim, em 2009, após quase vinte anos de carreira no mercado financeiro internacional atuando nos EUA, Europa e Brasil – ele montou sua empresa, a Ricam Consultoria (www.ricamconsultoria.com.br), que presta assessoria econômico financeira, de investimentos e de estratégia para clientes no Brasil e no exterior.

Um timing, sem dúvida, muito bom. E agora, mais uma vez, o economista prevê um momento de crise global, desencadeada pela situação europeia. “Mas os impactos desta vez serão menores no Brasil.

Deveremos ter dois trimestres ruins, seguidos de recuperação”, disse ele, durante entrevista concedida à Combustíveis & Conveniência. Na avaliação de Amorim, a situação na Europa deve piorar, mas causará reflexos menores do que a crise de 2008. O preço dos combustíveis (tanto do petróleo quanto do etanol) cairá em um primeiro momento, mas deve voltar aos patamares atuais no final do ano que vem.

Amorim, que é formado em economia pela Universidade de São Paulo, com pósgraduação pela ESSEC de Paris, é também colunista da Revista IstoÉ e, desde 2003, um dos apresentadores do programa Manhattan Connection, do canal Globonews.
Além de palestrante renomado, entre um compromisso e outro dessa extensa agenda, Amorim conversou com a Combustíveis & Conveniência, antecipando tendências e mostrando sua visão sobre o que pode acontecer a este Questão de timing.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Combustíveis&Conveniência: Diante dos sinais de agravamento da crise externa, que reflexos podem ser esperados para o Brasil?
Ricardo Amorim: A crise deve trazer alguns impactos para o Brasil. E, provavelmente, terá uma amplitude muito maior. Estamos em um momento equivalente a setembro de 2008. Havia uma crise imobiliária nos Estados Unidos, que até então era específica do mercado norte-americano. O que aconteceu em meados de setembro, quando o banco Lehman Brothers quebrou, foi que, o que era uma crise imobiliária norte-americana, se transformou em uma crise global. E é provável que ocorra um processo parecido agora na Europa, com calote de alguns países europeus. A Grécia provavelmente será o primeiro, causando quebras bancárias desta vez na Europa.
A partir do momento que temos quebras bancárias, acontece uma forte contração de crédito em todo o mundo. Quando os bancos perdem muito dinheiro e são forçados a cortar o crédito a todos, incluindo a bancos brasileiros e empresas brasileiras, isto atinge a economia de forma negativa.
Um segundo impacto atingirá mais especificamente os exportadores brasileiros: o setor de agronegócios, de commodities em geral e o setor industrial. À medida que esta crise lá fora leva a uma recessão profunda, o consumo despenca; quando o consumo despenca, são compradas quantidades muito menores de produtos, inclusive do Brasil; e os preços acabam caindo também.

C&C: E isso deve afetar de alguma forma o mercado de combustíveis?
RA: O setor de combustíveis será atingido sim, mesmo que de forma indireta. Um dos impactos que a crise deve causar será uma queda muito forte dos preços internacionais dos combustíveis, o que implica uma redução inicialmente do preço do petróleo, muito significativa no mercado internacional. Isso pode levar a um impacto até positivo para o setor de combustíveis no Brasil, já que pode provocar uma queda no preço dos derivados aqui. O etanol deve ser negativamente impactado, seja por conta da queda do preço internacional do petróleo, seja por causa da queda do preço do açúcar no mercado internacional.

C&C: Falando em preços dos combustíveis, em outubro, o governo reduziu o percentual do etanol anidro na gasolina C e, com isso, a Petrobras terá de importar mais gasolina. Com maior porcentagem de gasolina na mistura, o combustível se tornaria mais caro para o consumidor, mas, para contornar este problema, o governo reduziu também a Cide. Como o senhor avalia a decisão?
RA: Poderia ser um problema se os preços, tanto do etanol quanto da gasolina, continuassem aumentando. Mas o que deve acontecer é que o agravamento da crise nos próximos meses vai fazer com que o preço dos combustíveis caia. Isso deve ocorrer tanto no caso do petróleo no mercado internacional, quanto em relação aos preços do açúcar e, por consequência, do etanol.

 C&C: Mas o governo tem um prejuízo de arrecadação por conta da redução da Cide e, ao mesmo tempo, a Petrobras paga mais caro pela gasolina importada do que vende no mercado interno. Isso não está gerando uma bolha de inflação prestes a explodir?
RA: A redução da Cide é momentânea. Do ponto de vista da arrecadação, não tem problema nenhum, pois ela está forte. E há grandes chances de reverter esta medida brevemente. Não vejo como problema fiscal para o governo, nem como medida que será necessária por um período muito longo.
Com a queda do preço internacional do petróleo, esta disparidade entre os preços lá fora que subiram, que é custo para a Petrobras, e preços internos estáveis, que é a receita da Petrobras, deixará de existir. O que aconteceu nos últimos meses foi que a margem da Petrobras foi corroída por estes problemas. É fato que isso prejudicou investimentos da empresa, como a construção de novas refinarias e o pré-sal, mas é algo momentâneo. A crise internacional vai passar, e a condição estrutural do mercado é de mais demanda por energia, vindo da Índia, Brasil e China, os grandes emergentes. É provável que, já no segundo semestre do ano que vem, o petróleo volte a subir e aí voltamos gradualmente à mesma situação que temos agora.

C&C: Se a demanda por combustíveis crescer muito mais rápido do que a oferta, que reflexos isso pode ter para o mercado?
RA: Este aumento de demanda já vem acontecendo desde a virada do milênio. Em 2001, o petróleo custava US$ 8 o barril e chegou a US$ 150 em 2008, retornou a US$ 40 e voltou a subir. Vamos ter o mesmo processo: este movimento estrutural de aumento de combustíveis, de tempos em tempos com crise eles caem, depois voltam a subir e oferta e demanda se equilibram. A crise reduz a demanda temporariamente, aí os preços caem. Existem políticas especulativas no mercado, que precisam ser revertidas quando os preços começam a cair.

C&C: Com a redução de preços dos combustíveis e o maior número de veículos em circulação, não existe uma tendência de aumento de demanda?
RA: Um dos reflexos da crise, primeiro, será a forte desaceleração de vendas de veículos por algum tempo, como aconteceu no último trimestre de 2008 e início de 2009. A venda de veículos depende muito de crédito e, sem crédito, deve ocorrer uma queda. Mas será temporariamente, pois esta redução de crédito deve durar de três a seis meses.

C&C: Mas nos últimos anos o número de veículos já aumentou significativamente. Em sua avaliação, a atual demanda por combustíveis no Brasil deve se manter ou haverá algum tipo de queda?
RA: A frota já cresceu, é fato, e isso explica o atual aumento de vendas dos postos. Mas a frota vai temporariamente crescer em ritmo mais lento e, em momentos de crise mais aguda, poderá haver uma substituição. Tem gente que usa hoje o carro para tudo, mas poderá optar por transporte coletivo ou esquemas de caronas, ou mesmo reduzir o ritmo de viagens e deslocamentos em geral. Tudo isso leva a algum impacto, embora limitado. O setor de combustíveis será impactado pela crise que vem aí, mas, por uma série de razões, como a expansão da frota, que já aconteceu, e o consumo, que não depende de crédito, esta atividade será pouco impactada no Brasil.

C&C: O novo IPI sobre os veículos importados deve contribuir para elevar a frota de veículos flex no Brasil. Que reflexos isso deve ter no mercado de combustíveis, neste momento em que o país tem uma queda na produção de etanol e até recorre à importação de gasolina?
RA: Provavelmente isso vai estimular o crescimento do setor de etanol. Mas é importante observar que a diferença do carro flex é a flexibilidade que ele permite ao consumidor. Ou seja, uma parte maior da frota poderá optar pelo combustível mais atraente, seja etanol ou gasolina. Não necessariamente o flex vai significar aumento de demanda de etanol, isso depende de preços.

C&C: Os produtores de etanol afirmam que a crise que o setor enfrentou este ano, e ainda enfrenta, tem várias causas. Além do fator agrícola em si, eles relatam a crise financeira do fim de 2008 como um dos motivos para a queda da produção neste ano. Diante da perspectiva de uma nova crise no crédito, quais as chances deste segmento se recuperar?
RA: De 2008 até agora, o setor sucroenergético passou pelas maiores chacoalhadas que provavelmente qualquer outro segmento sentiu. O preço do açúcar, que é o que determina este mercado, em 2008 estava no nível mais alto dos 30 anos anteriores. Quando veio a crise, o preço caiu para o mais baixo, também em 30 anos. Com isso, o produtor que plantou antes, com uma expectativa de preço mais alto, teve de vender mais baixo e se descapitalizou. Ao mesmo tempo, se somou a isso uma forte restrição de crédito e, basicamente, houve uma série de usinas com problemas financeiros graves. O que mudou de lá pra cá foram duas coisas: primeiro o preço voltou a subir e atingiu o patamar mais alto de toda a história, ultrapassando inclusive aquele nível de 2008, o que ajudou a melhorar a rentabilidade do negócio.
Em segundo lugar, boa parte das empresas que estavam com dificuldades foram compradas por empresas estrangeiras. Houve uma entrada muito grande no setor de empresas norte-americanas, francesas, chinesas, o que significa que a situação de capitalização do setor hoje é bem diferente do que era em 2008. Agora, este mercado deve ser temporariamente impactado por uma crise bem severa.

C&C: A maior demanda por energia pode trazer também um aumento da procura por biocombustíveis. Isso pode acarretar outros reflexos ao mercado, como elevação do preço de alimentos?
RA: Sim, pode trazer alguns reflexos. Porém, já temos aumento no preço dos alimentos, independentemente dos biocombustíveis. A demanda por alimentos cresceu no mundo, os países pobres estão melhorando e as pessoas passaram a comer melhor. Existe uma demanda maior por energia, mas também por alimentos.
A produção de biocombustíveis pode levar a um afastamento das culturas de alimentos, o que pode encarecer os alimentos por conta dos fretes. Mas, por outro lado, há locais que saem ganhando com a chegada de plantações. Na média, pode até contribuir para o encarecimento dos alimentos, mas as plantações voltadas para biocombustíveis não constituem o principal fator.
No caso dos Estados Unidos ou Europa, que produzem etanol a partir de grãos, a demanda por energia é somente mais um fator do encarecimento. Mesmo sem biocombustíveis, os alimentos iam aumentar, como ainda tem a questão dos biocombustíveis, aumenta mais ainda.

C&C: Esta perspectiva de crise deve significar algum tipo de perda para o varejo de combustíveis? É o momento de adiar investimentos?
RA: Definitivamente, investimentos que estão sendo feitos com financiamento de curto prazo devem ser adiados. Não é hora de assumir dívidas que terão de ser renegociadas daqui a seis meses ou um ano, já que existe uma possibilidade de menor disponibilidade de capital neste período. Ou seja, quando as empresas forem rolar a dívida, vão encontrar financiamentos mais desfavoráveis. Para evitar este risco, há duas soluções: ou tomar financiamentos com prazos maiores agora, para daqui a dois ou três anos, ou adiar investimentos. Para investimentos não fundamentais, adiar é a melhor alternativa.

C&C: E no caso de investimentos que não podem ser adiados, como reformas para adequação ambiental, necessárias para o licenciamento dos empreendimentos? Quais seriam as alternativas seguras hoje?
RA: Se o investimento não pode ser adiado, é interessante recorrer a financiamentos mais longos. Normalmente as linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são as mais longas para este setor. Quem precisa de crédito tem de alongar os financiamentos agora, enquanto o crédito ainda está farto e disponível, pois pode ser que daqui a alguns meses não existam mais opções. Quem não precisa, não é o momento para se alavancar. Tente não se endividar neste momento.

C&C: E se o crédito encurtar, o que fazer?
RA: Se o posto tiver um problema de crédito, provavelmente terá de fazer uma rolagem da dívida e, se as condições de mercado estiverem parecidas com as atuais, ele fará mesmo com custos mais altos. O problema é se somar à situação dele um problema de crédito de todo o mercado. Ou seja, não haverá quem faça o empréstimo, e esta empresa pode se transformar na “presa” a ser abocanhada por alguém mais capitalizado no momento.
Aliás, para empresas que conseguirem se capitalizar agora, o que vai acontecer é que durante a crise vão surgir as melhores oportunidades de investimento, quando se consegue comprar por preços mais baratos. Para quem compra, é o melhor investimento. Para quem tem dinheiro, a hora é de ser cauteloso e esperar o momento de alguns terem dificuldades para conseguir fazer investimentos de expansão, para compra de concorrentes a custos muito mais favoráveis.

C&C: Que opções de investimento financeiro hoje podem ser consideradas seguras?
RA: É hora de ser defensivo, o que significa investir em renda fixa, ou basicamente em coisas líquidas, que permitam o saque do dinheiro logo, porque vão surgir ótimas oportunidades causadas pela crise. O capital deve ficar disponível caso o empresário queira aproveitar uma oportunidade para comprar um concorrente que passa por dificuldades, ou queira fazer outros investimentos, como em ações, que devem ficar muito baratas.

C&C: Para os postos de combustíveis, o cartão de crédito sempre foi considerado um problema, por conta das altas taxas. Diante de uma perspectiva de crise econômica, vale a pena renegociar algum tipo de dívida ou suspender parcerias?
RA: Seria o caso de negociar, mas aí entra a questão de quem depende mais de quem. O poder de barganha dos postos talvez não seja grande. A dificuldade que existe é de que, a menos que se tenha uma cadeia enorme de postos negociando de forma conjunta, e um faturamento tão grande que faça diferença para a administradora de cartões, um dono de posto que se recuse a aceitar cartões pode perder vendas, o que não vai fazer grande diferença para o cartão. O melhor caminho é os postos criarem algum tipo de associação ou cooperativa que negocie coletivamente. Enquanto as negociações são individuais, não têm força com as administradoras de cartões.

C&C: É um bom momento para se renegociar um contrato de locação de um posto? Você acredita que pode haver uma forte queda do mercado de locações vis a vis uma forte queda no preço dos imóveis, ou os imóveis permanecerão em patamares parecidos, em especial os comerciais em áreas metropolitanas?
RA: Não acredito que os preços dos imóveis ou os valores de locação sofrerão grandes mudanças nos próximos meses. Em particular, ficaria surpreso se houvesse quedas significativas tanto de preços de imóveis quanto de aluguéis. Portanto, não acredito que será possível renegociar contratos de locação.

C&C: Pode ocorrer um aumento da inflação estrutural no Brasil, ou seja, inflação advinda da falta de infraestrutura, em especial nas áreas metropolitanas?
RA: O mais provável é que a inflação caia de forma significativa, nos próximos trimestres, devido a um arrefecimento da demanda e a uma maior oferta de produtos no Brasil devido à recessão na Europa e nos Estados Unidos. A inflação só continuaria nos atuais patamares bastante elevados se, de uma hora para outra, a crise na Europa e o risco de recessão nos Estados Unidos deixassem de existir, o que até pode acontecer, mas é bastante improvável.

C&C: O que um posto de combustíveis pode fazer para reduzir seus custos de operação? Soluções como a permissão de abastecimento no sistema selfservice podem ser uma alternativa para isso?
RA: Sou completamente favorável ao self-service neste segmento. Historicamente, faltava emprego e sobrava gente pra trabalhar. Então, se criaram situações e legislações para gerar e garantir empregos, até mesmo em casos de necessidades bastante relativas – como é o caso dos postos de combustíveis. Hoje a realidade do país é diferente, existe uma grande demanda por mão de obra. Ou seja, no passado foi criada uma legislação com o intuito de preservar empregos, que hoje não é mais necessária. A legislação gerou empregos, mas gerou também custo para as empresas. O Brasil hoje está do lado contrário: falta mão de obra.
O país cresce muito e vai voltar a crescer após a crise e, por isso, não há mais necessidade de lei para preservar os empregos. Acho que pode haver uma legislação que permita a escolha para os postos, o self-service deveria ser opção.
O país terá como absorver estas pessoas em outros setores, como na construção civil. Mas, provavelmente, o momento desta medida não é agora, com a perspectiva de uma crise, pois traria impactos como o desemprego. Mas, daqui a um ano, o país teria todas as condições para isso.

A "concorrencia predatoria" dos chineses: um estimulo aos protecionistas nacionais

Na verdade, não é predatória, pois isso ocorre no mundo inteiro, e não imagino as empresas chinesas fazendo "bondades" aos consumidores mundiais, ou tendo prejuízos contínuos durante anos seguidos.
Apenas isto: elas fabricam mais barato, ponto.
Durma-se (ou não) com um barulho desses...
Paulo Roberto de Almeida 

Sérgio Lamucci, de São Paulo
Jornal "Valor Econômico", 09/11/2011

Preço garante à China 84% da importação de alguns bens  

A fatia chinesa nas importações brasileiras de manufaturados ganha terreno rapidamente, chegando em alguns produtos à casa dos 70% ou 80%. De janeiro a setembro, as compras de celulares da China responderam por 70% das importações desses produtos. Nos nove primeiros meses de 2002, o Brasil não havia comprado nenhum celular do país asiático. A China também domina com folga o mercado de importação de outros manufaturados, com 72% dos tecidos de fibras têxteis, sintéticas ou artificiais e 84% dos aparelhos eletromecânicos ou térmicos de uso doméstico (aspiradores de pó e enceradeiras). A fatia total nas compras de manufaturados é mais modesta, de 17%. Um dos motivos é que o Brasil importa muitos automóveis - bens com peso significativo na pauta - da Argentina, México e Coreia do Sul

A participação da China nas importações brasileiras de vários produtos manufaturados disparou nos últimos anos, atingindo em alguns casos proporções muito elevadas. De janeiro a setembro de 2011, as compras de celulares chineses representaram 70% do total importado pelo Brasil desses bens, uma alta forte em relação aos 55% do mesmo período de 2010. Nos nove primeiros meses de 2002 nenhum celular adquirido pelo Brasil do exterior viera da China.

O país asiático também domina com folga o mercado brasileiro de importação de outros manufaturados - a fatia é de 72% nos tecidos de fibras têxteis, sintéticas ou artificiais, de 81% nos brinquedos, de 84% nos aparelhos eletromecânicos ou térmicos de uso doméstico (aspiradores de pó e enceradeiras) e de 53% nas máquinas automáticas para processamento de dados. Já a participação da China no total das compras de manufaturados é mais modesta - ficou em 17,2% de janeiro a setembro deste ano. Os números são do Departamento de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), elaborados com informações do Ministério do Desenvolvimento.

Com o câmbio valorizado por aqui e depreciado por lá, uma mão de obra ainda barata e grandes vantagens de escala, a China consegue vender produtos como esses a preços muito atraentes. De janeiro a setembro, o preço de bombas e compressores chineses ficou 64% abaixo do valor médio de importação desses produtos de outros países. Os motores, geradores e transformadores elétricos da China ficaram quase 40% mais baratos.

O diretor de relações internacionais e comércio exterior da instituição, Roberto Giannetti da Fonseca, diz que a competição chinesa se torna muitas vezes "irresistível", devido à combinação de incentivos fiscais, tributários e financeiros promovidos pelo governo, num cenário marcado por uma moeda artificialmente desvalorizada.

O avanço rápido da fatia chinesa nas importações de alguns produtos impressiona. De janeiro a setembro de 2001, menos de 5% das compras externas de máquinas automáticas para processamento de dados (como caixas de supermercado) vinham da China. No mesmo período deste ano, o percentual chegou a 53%. No caso de tecidos de fibras têxteis, sintéticas e artificiais, o pulo foi de 4% em 2001 para 72% em 2011. Um ponto importante é que muitas empresas de outros países - como dos Estados Unidos, Europa ou Japão - usam a China como plataforma exportadora, dados os baixíssimos custos de produção do país.

O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, aponta três motivos para o aumento forte da China na pauta de importações de manufaturados. "O primeiro é sem dúvida a questão do câmbio", diz ele. "Outro ponto importante é o financiamento aos importadores de produtores chineses, o que ganha relevância quando se negociam produtos de maior valor agregado." Para completar, está em curso um processo de internacionalização das empresas chinesas. Há muitas companhias do país asiático se instalando por aqui, o que eleva a compra de componentes e produtos acabados da China, afirma Sarti.

Ele destaca ainda que, no pós-crise, os fabricantes chineses passaram a olhar o mercado brasileiro com ainda mais atenção, porque o consumo por aqui cresce a taxas bem mais expressivas do que em tradicionais clientes do país asiático, como Estados Unidos e Europa.

Para Sarti, o forte aumento das importações indica que o Brasil está perdendo a oportunidade de aproveitar o dinamismo do mercado interno para "melhorar e adensar a estrutura de suas cadeias produtivas". O mau desempenho da indústria, que pode crescer apenas 1% em 2011, espelha esse fenômeno, segundo ele.

O economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, diz que o aumento avassalador da participação de produtos chineses nas importações de alguns manufaturados está longe de ser um fenômeno exclusivamente brasileiro. "Há uma tendência de a China ser o grande produtor de manufaturados no mundo", observa ele, destacando que os pesados custos que recaem sobre a indústria brasileira, como a alta carga tributária, as deficiências de infraestrutura e uma mão de obra mais cara, afetam a competitividade do país. "O câmbio é mais um detalhe."

De janeiro a setembro, a fatia chinesa no total de importações de manufaturados foi pouco superior a 17%, bem menos que os 70% a 80% de alguns produtos. Um dos motivos é que o Brasil importa muitos automóveis da Argentina, do México e da Coreia do Sul, bens com grande peso na pauta. Além disso, o país também compra grandes volumes de óleos combustíveis no exterior, produtos com características de commodities, mas classificados como manufaturados. De qualquer modo, a participação chinesa no total desses bens tem crescido com força - em 2001, era de 2,5%.

Brasil constroi o Estado policial: candidate-se a delator - O Estado lhe pagara por isto...


Bárbara Pombo, de São Paulo, 
Jornal “Valor Econômico”, 08/11/2011

Os Estados de São Paulo, Mato Grosso e Espírito Santo podem instituir a delação premiada para casos de sonegação fiscal. Três projetos de lei idênticos que tramitam nas Assembleias Legislativas desses Estados determinam o pagamento de um prêmio em dinheiro ou isenção de impostos para aqueles que denunciarem empresas suspeitas de cometerem crimes contra a ordem tributária. Pelas propostas, o valor da remuneração seria de 1.000 unidades padrões fiscais (UPFs), o que em SP e ES representa cerca de R$ 17,5 mil. No MT, R$ 36 mil. O delator forneceria as informações sigilosamente para um disque-denúncia, a ser disponibilizado pelas Secretarias Estaduais da Fazenda.

Em São Paulo, o projeto já tem parecer favorável do relator na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), deputado André Soares (DEM). A votação da proposta pode ocorrer na sessão de amanhã. A Procuradoria-Geral do Espírito Santos já aprovou a proposta, seguindo uma norma do regimento interno. Agora, o texto passa a tramitar no legislativo capixaba. No Mato Grosso, a proposta ainda será analisada pela Comissão de Fiscalização e Acompanhamento da Execução Orçamentária.

Pelas propostas, as despesas com as recompensas seriam custeadas com o dinheiro arrecadado a partir da execução fiscal originada pela denúncia. "O valor só seria repassado ao denunciante quando o Estado receber o imposto devido", diz o autor do projeto de lei em São Paulo, deputado Cauê Macris (PSDB). Ele afirma que apresentará, nesta semana, uma proposta de emenda para deixar a condição clara no texto e para propor uma mudança quanto ao valor do prêmio: ao invés de 1.000 UPFs, 25% do valor da dívida descoberta pela denúncia. "No momento de apresentar a proposição não me atentei que poderiam existir débitos inferiores ao valor da recompensa previamente estabelecido", diz Macris.

Segundo os autores dos projetos, que apresentaram justificativas iguais nas proposições, a medida é um incentivo para o cidadão ajudar os órgãos fiscalizadores na apuração de crimes tributários, além de contribuir para a "valorização dos bons contribuintes em detrimento dos aproveitadores". Para o deputado Marcelo Santos (PMDB), autor da proposta no Espírito Santo, atualmente há incentivo ao ato ilícito a partir da disseminação de uma "cultura da sonegação". "Há a ideia de que pagando os impostos em dia o empresário não consegue o lucro necessário para manter seu estabelecimento. Isso é uma inverdade", diz.

Para os deputados, a delação premiada ainda poderia ajudar a reduzir a taxa de sonegação de impostos nos Estados. De acordo com o último estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) sobre a sonegação fiscal nas empresas brasileiras, R$ 200 bilhões deixaram de ser recolhidos, em 2008, principalmente em contribuições previdenciárias, ICMS e Imposto de Renda (IR). Segundo o IBPT, a indústria lidera a lista do setor devedor de impostos.

Na opinião de advogados, no entanto, a gratificação aos denunciantes não teria efeitos na arrecadação ou melhorias na educação fiscal dos contribuintes. Para Rodrigo Rigo Pinheiro, do Braga & Moreno Advogados & Consultores, a proposta geraria uma "guerra" para a obtenção de isenções tributárias. "A empresa denunciante também pode ser devedora. Seria um verdadeiro canibalismo", diz.

Para o tributarista Jorge Henrique Zaninetti, do Siqueira Castro Advogados, o crescimento do número de denúncias não implicará aumento da fiscalização, já que a estrutura de agentes fiscais permanecerá a mesma. "Haverá perda de foco da fiscalização. Por mais que temam a concorrência desleal, as empresas não vão aderir porque o mundo corporativo sabe que denúncias sem provas podem gerar ações judiciais", diz.

Algumas Secretarias de Fazenda e a Receita Federal possuem canais abertos para receber denúncias sem, entretanto, conceder incentivos. A ouvidoria da Receita Federal em São Paulo (8ª região fiscal) contabilizou, até 31 de outubro, 829 denúncias de irregularidades. A Secretaria da Fazenda do Espírito Santo recebeu, neste ano, cerca de 290. Os órgãos, porém, não souberam informar quantas denúncias geraram fiscalizações.

Responsabilidade ao Proteger: a nova proposta da diplomacia brasileira

Mais ou menos isto: esgote todas as possibilidades de estudo e exame das consequências teóricas, potenciais, possíveis, hipotéticas ou até mesmo prováveis que poderiam ocorrer com a população civil que está sendo massacrada pelo seu próprio ditador, antes de mandar os navios e aviões da OTAN bombardear as tropas do déspota massacrador.
Ou seja, em vez de keep walking, keep talking.
Johnny Walker também aprovaria, desde que com um copo na mão, nos salões acarpetados da ONU em NY. Bonne chance...
Paulo Roberto de Almeida
Retirado de um blog militante pelas boas causas: Palavras Diversas:
http://palavras-diversas.blogspot.com/2011/11/o-novo-protagonismo-da-diplomacia.html


QUINTA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2011


O novo protagonismo da diplomacia brasileira

Acordo histórico: Brasil e Turquia costuraram acordo de paz para o Irã,vencendo o belicismo dos EUA
A agenda política que a imprensa brasileira solenemente ignora, dá de ombros e não publica.
É preciso recorrer aos sítios da imprensa estrangeira para veicular informações que são escondidas nos escombros da pauta oportuna às corporações brasileiras, em geral, editoras a serviço da oposição.

O Brasil que cresce comercialmente e também na diplomacia mundial precisa ser informado a sociedade.
O país apresenta, em meio a reais possibilidades de uma nova guerra no Oriente Médio, um conceito de intervenção baseado na proteção de civis e no esgotamento dos canais diplomáticos para gerir crises que possam provocar ações militares.

Desta maneira o Brasil tenta convencer a comunidade internacional do papel relevante que vem desempenhando nas relações multilaterais e se credencia como importante candidato ao Conselho de Segurança da ONU, pleito cada vez mais viável, pois, de acordo com os posicionamentos recentes da diplomacia brasileira, em defesa da paz e da soberania dos povos, esta proposta "deve aumentar ainda mais o status do Brasil entre os países do mundo em desenvolvimento, que estão cada vez mais frustrados com as intervenções unilaterais da Otan (a aliança militar ocidental) e dos Estados Unidos em países como a Líbia", segundo declaração do diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, Riordan Roett.

Você já leu?
Confira o que a imprensa conservadora faz questão de não veicular:

De olho em vaga na ONU, Brasil apresenta 'conceito' para nortear intervenções
O conceito de "responsabilidade ao proteger", apresentado pelo Brasil às Nações Unidas, pode ser a nova arma do país em sua campanha para conquistar uma vaga permanente no Conselho de Segurança.

Ao propor medidas para evitar que intervenções militares acabem provocando mais danos à população civil que deveriam proteger, o Brasil não apenas explica o seu padrão de votações recentes no Conselho de Segurança, como também tenta aumentar sua influência entre os países emergentes e em desenvolvimento.

"Não há dúvida de que é um sinal muito positivo com respeito ao contínuo interesse do Brasil em se tornar membro permanente do Conselho de Segurança", disse à BBC Brasil o diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, Riordan Roett.

"(A responsabilidade na proteção de civis) é uma questão muito importante e pouco polêmica, e o fato de o Brasil tomar a dianteira nesse tema faz muito sentido do ponto de vista de Brasília", afirma.

O Brasil ocupa um dos 10 assentos rotativos do Conselho de Segurança, mas seu mandato no órgão termina em 31 de dezembro. A conquista de uma vaga permanente, com poder de veto, é uma ambição antiga do governo brasileiro.
Sul-Sul

Já mencionado pela presidente Dilma Rousseff em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, o conceito de "responsabilidade ao proteger" foi proposto nesta quarta-feira em um documento circulado pela delegação brasileira durante debate sobre proteção de civis em conflitos armados.

A embaixadora Maria Luiza Viotti, representante do Brasil junto às Nações Unidas, leu o discurso preparado pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota – que cancelou a viagem a Nova York por motivos pessoais – sobre a "nova perspectiva" na questão da proteção de civis.

A proposta é apresentada como um avanço no conceito de "responsabilidade de proteger", incorporado pela ONU em 2005, que permite que a comunidade internacional recorra a ação coletiva, em situações excepcionais, para garantir a proteção de civis.

Entre as sugestões do Brasil estão a de que o uso da força para a proteção de civis só seja aceito após esgotados todos os recursos diplomáticos e depois de uma análise detalhada das possíveis consequências, que a ação, quando autorizada, seja limitada estritamente aos objetivos estabelecidos pelo Conselho de Segurança, e que a interpretação e a implementação das resoluções autorizando o uso da força sejam monitoradas.

Segundo Roett, a nova iniciativa é parte da política externa implementada pelo Brasil nos últimos anos, com foco na diplomacia Sul-Sul, entre países em desenvolvimento e emergentes, como os Brics (grupo também formado por Rússia, Índia, China e África do Sul), e também reflete o papel ativo desempenhado pelo país em missões de paz da ONU, como no Haiti.

"Deve aumentar ainda mais o status do Brasil entre os países do mundo em desenvolvimento, que estão cada vez mais frustrados com as intervenções unilaterais da Otan (a aliança militar ocidental) e dos Estados Unidos em países como a Líbia", afirma Roett.


Alessandra Corrêa / BBC Brasil